Bulletproof Grower escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 1
Copiadores de estrelas


Notas iniciais do capítulo

Adivinha quem disse que não faria mais extras e mudou de ideia? Sim, EU. Já rolaram muitas "continuações" na minha cabeça, e eu não sei porque resolvi escrever dessa vez. Talvez porque esta fic tenha ficado bastante fofa. Como está na sinopse, ela vai ser mais soft, ninguém morrendo (tá todo mundo morto, vocês sabem), nenhum inimigo que quer destruir o mundo nem nada disso. Vai ser apaixonante!
Não tenho certeza sobre a frequência ainda, porque estou no começo ;-;
Mas decidi postar pra vocês irem vendo como estão as coisas!
Boa leitura!



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Começou no dia 23 de julho. O ano não importava, já que o tempo passava rápido em um lugar onde se tinha a eternidade. O que importava era que era 23 de julho, aniversário de casamento de Jungkook e Yumi. Datas importantes como aquela sempre deixavam Sunghee meio emotiva. Ela meio que era a única a ligar para essas coisas, então não tinha festa nem nada; ela tinha que "comemorar sozinha". Naquele ano, decidiu vasculhar os registros do casamento dos pais.

A quem possa interessar, Sunghee era uma crescente. Isso significava que ela crescia, o que não deve ser grande coisa para você, mas normalmente não se cresce no Segundo Mundo. Sua idade corporal permanece sempre a mesma desde quando você morre. Sunghee era um caso raro: sua mãe morrera quando estava grávida dela, e quando seu pai já estava morto. Seguindo as regras do Segundo Mundo, isso significava uma gravidez normal para Yumi, um nascimento normal para Sunghee e a habilidade extraordinária de crescer corporalmente até 15 anos. É, a carinha de 15 anos de Sunghee não devia denunciar muito que ela já estava em seus 25 anos de existência (ela achava que era alguma coisa assim) ou que ela era casada com Min Yoongi. De qualquer modo, ela já tinha se acostumado a ter 15 anos, o que a deixava um pouco curiosa com as imagens de quando ela nem existia.

A pesquisa dela durou um pouco mais que o esperado. Se perdeu nas lembranças de tempos tão distantes, e nas conversas sobre o Primeiro Mundo, onde a idade corria normalmente para todos, assim como corria para ela. Ela sabia muito sobre o Primeiro, graças aos estudos com Namjoon, tinha feito até poucas visitas em espírito, mas nunca tinha estado efetivamente lá.

Ela tentou esquecer aquele assunto; sabia que era impossível. Se quisesse reencarnar, teria que deixar sua família, coisa que ela nunca faria. Mesmo assim, continuou pensando. Descuidada, acabou perdida enquanto estava em sua sacada, que dava para um jardim interno onde Jimin e Jungkook passeavam. Para a sorte dela (ou não), Jungkook era um pai extremamente preocupado com o bem-estar e a felicidade dela. Assim que notou seu ar pensativo à distância, questionou Jimin, de quem não era possível esconder nada.

— Hyung, o que houve com a Sunny? Por que ela tá com essa carinha?

Jimin olhou de Sunghee para Jungkook, de Jungkook para Sunghee, e parou nele, incrédulo.

— Cara, você não tem mesmo nenhuma noção de privacidade? Precisa saber TUDO o que está acontecendo com a sua filha?

— Eu só quero…

— Que ela fique bem, blá-blá-blá... Casada, 26 anos na cara, e você ainda precisa ficar em cima?

Jungkook abriu a boca para falar, mas Jimin tinha ficado realmente irritado, além de não precisar que ele falasse para saber.

— Tá, tá, você não vai parar de me enjoar enquanto eu não disser. Eu sei. A sua sorte é que não é nada demais, então não vejo problema em dizer dessa vez. Ela só está pensando em como gostaria de estar no Primeiro de verdade.

— No Primeiro? Mas... aqui é tão melhor…

— Ela acha injusto. Todos nós estivemos no Primeiro e no Segundo, mas ela só tem acesso efetivo a este mundo. Pode até ter visitado como espectro, mas… Não é a mesma coisa, entende? Você sabe, ela é meio cientista, ela quer uma experiência.

— Acho que podemos fazer algo a respeito.

Jimin revirou os olhos e continuou andando. Jungkook às vezes parecia não bater bem da cabeça. Para começar, não tinha motivo para fazer simplesmente tudo o que a Sunghee quisesse. Além disso, era loucura cogitar reencarná-la.

— Tira isso da sua cabeça.

— Posso até fazer isso... Mas só quando tiver certeza de que é impossível.


— É impossível — disse Namjoon. — Se ela reencarnar, não poderemos vê-la por muito tempo, e isso apagaria todas as suas memórias. Só para lembrar, ela é casada e tem trezentos filhos adotivos.

— Mais de trezentos — ressaltou Jin, sempre presente com o marido.

— Péssima ideia — continuou Namjoon. — Mesmo que oferecêssemos essa opção, ela nunca aceitaria. Ela só quer experimentar o Primeiro, não ter uma vida toda. Imagina, outra memória, outra mãe, outro pai, outra família, outra vida.

— Fora que o Bambam tá na fila há meses — murmurou Jin.

— Não é bem isso o que eu estava pensando — revelou Jungkook. — Minha ideia era criar uma forma de reencarnação temporária, como uma projeção.

— Projeção — repetiu Hoseok, o dono das projeções. Na verdade, ele era o mais conectado ao oráculo que as fazia, Eva, então ele entendia mais, motivo pelo qual havia sido convocado para aquela reunião. — Isso não daria certo. Imagine: uma pessoa brota do nada no primeiro, já crescida, e depois desaparece. As pessoas iam notar, pode até virar caso de polícia.

— Polícia não é boa ideia — confessou Jungkook, lembrando-se que da policial mais próxima deles, a única mulher que Yoongi tinha amado além da Sunghee.

— Isso seria uma zona completa — explicou Namjoon. — Mexeria com todo o equilíbrio do mundo. Pode até ser uma experiência válida, mas não dá pra afetar um mundo inteiro por causa de uma reencarnação temporária. Não temos esse direito. As pessoas estão ali para viver suas vidas normalmente, de preferência sem a presença de um alien.

— Mas e se não estivessem? — questionou Jungkook.

— Ih, pirou — murmurou Jin. — Como assim, criatura?

— O mundo foi feito dessa maneira... Para as pessoas viverem normalmente... Mas se nós mesmos criássemos um mundo poderíamos escolher a finalidade dele…

— Um mundo novo só para a Sunny encarnar temporariamente — compreendeu Hoseok. — Tá, como que se faz um mundo?

— Tá perguntando pra mim? — Jungkook deu de ombros. — Pergunta pro dono da verdade.

— Não sei nada que vocês não saibam, e me ponham fora dessa — Jimin já estava na defensiva.

— Então pergunta pro dicionário ambulante.

— Pode parar de chamar a gente de nomes estranhos? — irritou-se Namjoon. — Olha, eu nunca vi nada sobre isso na biblioteca.

— Mas deve ter alguma coisa. Os mundos não surgiram do nada. Quem criou deve ter anotado algo. Pode procurar, Namjoon?

É, depois de alguns anos eles se acostumaram com o tratamento em ordem de morte, e não de nascimento. Não por isso, Namjoon suspirou. Cogitou perguntar a Jimin se Jungkook o deixaria em paz algum dia, mas sabia que a resposta seria não.

— Não vou pesquisar sozinho. Hoseok Hyung, pergunta pra ela. E se ela me vier com "Não é tudo que se pode saber", eu só espero encontrar algum livro que me diga como fazer o Jungkook Hyung parar de ter ideias idiotas.

Namjoon e Hoseok pesquisaram separados, mas descobriram mais ou menos ao mesmo tempo que era possível criar um mundo copiando estrelas... E que isso era muito difícil.

Os universos paralelos (frequentemente chamados apenas de paralelos) estavam espalhados pelo multiverso (um grande nada). Cada um deles tinha o formato de uma folha de papel tremulante; de um lado da folha, era o Primeiro Mundo, e do outro o Segundo. As folhas se dispunham sequencialmente em órbitas espirais que às vezes bifurcavam, formando uma complexa rede de possibilidades. O que definia os acontecimentos, as pessoas, os lugares, era uma fórmula gigante inscrita nas estrelas de cada alternativo. Diâmetro, temperatura, cor, intensidade e até a idade de uma estrela podiam significar algo importante acontecendo na Terra, e sua posição definia o espaço e o tempo.

O trabalho de Namjoon e Hoseok era básico: escolher as estrelas certas e reproduzi-las em um paralelo vazio até ele estar pronto para ser inserido em uma espiral, o que o faria “funcionar”. Parecia fácil, mas não era tanto. Reproduzir uma estrela não demorava mais do que dois minutos, mas ela definiria no máximo a cor do pelo de um cachorro no período de uma hora. A próxima estrela poderia definir a raça, também no período de uma hora. Isso porque a folha dimensional tinha o eixo horizontal-espacial e o eixo vertical-temporal, que transformava aquilo num plano cartesiano gigante. Todas as estrelas que definiam o cachorro, que deviam ser umas dez, formavam a constelação “cachorro” em algum ponto do eixo espacial. Cada ponto dura uma hora, então, se quisessem que o cachorro permanecesse no espaço por mais três horas, deveriam reproduzir a constelação três vezes mais, em três pontos vizinhos verticalmente.

Felizmente, Eva tinha desenvolvido todo um aparato holográfico-sensorial que facilitaria o trabalho. Incluia a visualização do paralelo de origem, estudo preciso das estrelas (com medições e anotações) e um sistema avançado estilo Windows Explorer que separava todas as informações em pastinhas bonitinhas, organizadas já do jeito certo para inserir na folha de rascunho. A mulher ainda tratou de ir ajudando os coitados com conselhos preciosos do tipo "Não, não saiam copiando estrelas avulsamente! Só copiem as que vão precisar." Foi assim que eles descobriram que o mundo requeriria um roteiro: quanto tempo vai durar? Quanto espaço estará disponível? Ah, sim, isso daria uma grande vantagem... Reproduzir um paralelo inteiro? Sem condições. Mas uma parte de um paralelo e uma parte de tempo não seria tão difícil. Depois de discutirem, os três decidiram que dariam a ela um dia. Um dia seria trabalhoso, porém suficiente. Pensando melhor, cortaram as seis horas de sono iniciais e deram a ela 18 horas, o que lhes pouparia, talvez, um mês de trabalho. Além disso, definiram uma rotina que colocaria Sunghee em lugares específicos em horários específicos. Dessa forma, eles só precisariam reproduzir os espaços que ela estivesse usando. Muito menos trabalho!

A parte mais legal foi criar uma persona para Sunghee e uma para Yoongi. Sim, Yoongi. Imagina uma menina que só conhece o Segundo Mundo tentando pegar ônibus sozinha! Não daria certo. Por isso, Yoongi também reencarnaria provisoriamente. Criar uma situação de vida para Sunghee (já que ela não tivera uma) não seria apenas trabalhoso: exigiria muitas informações que eles não tinham. O jeito mais fácil era copiar uma persona, ou seja, uma vida pronta. Nome e aparência — ainda bem — iriam automaticamente mudar com a reencarnação. Eva deu de presente uma estrela configurada para isso, e ainda manteria a memória intacta. Depois de mais algum tempo de conversa, eles decidiram criar os perfis de projeção para os viajantes a partir de

É, eles tomaram a liberdade de não contar a ninguém.



Finalizado todo o roteiro, que incluía duas personas e uma rotina em conjunto, foi calculado que o tempo para finalizar o projeto seria de mais ou menos sete meses, terminando a um mês do aniversário de Sunghee. Eles poderiam usar esse mês para fazer testes e correções, e claro, também podiam usar para nada. Tudo para que a reencarnação temporária fosse um presente de aniversário.

Já fazia anos que as datas comemorativas eram ignoradas ou lembradas apenas na hora do jantar. De fato, ninguém pensou muito no dia 20 de março, exceto os dois caras que estavam ansiosíssimos para ver a reação da mais nova aos seus sete meses de trabalho intenso.

No começo do jantar, Jin já fez questão de anunciar, como sempre fazia nos aniversários, que o jantar teria um cardápio especial pela ocasião, fazendo alguns mais desavisados se lembrarem. O não-lembrar não era falta de consideração, era apenas a consequência de um Juízo tão grande e com tantas obrigações diárias em um mundo onde não se conta o passar do tempo com tanto afinco (não há muitos calendários em Omelas). O próprio Taehyung, que fazia questão de se considerar irmão mais velho de Sunghee, teve que fingir que tinha lembrado, para não correr o risco de levar uma surra da irmã adotiva. Pasme, às vezes até Jungkook esquecia.

O jantar aconteceu normalmente, sem nenhuma grande homenagem ou cantoria (coisa que adoravam fazer naquela casa). Lá pela hora da sobremesa, os dois levantaram. Como estava acostumado, Namjoon tomou a palavra.

— É… Então. Estamos há um tempo considerável aqui no Segundo e nos desacostumamos com comemorações anuais. Não tem tanta graça contar os anos quando sabemos que eles nunca acabam. Não temos mais o costume de fazer festas, cantar parabéns, assoprar velinha, nem mesmo de dar presente… Mas esse ano nós fizemos um presente. Eu e o Hoseok. Claro, créditos ao mala do seu pai pela ideia estúpida… — um chute de Jin por baixo da mesa — Digo, maravilhosa — disse torto.

Hoseok riu.

— Foi uma ideia maravilhosa mesmo, só… Deu um pouco de trabalho, mas acho que valeu à pena. Eu acho que vai ser legal pra você. É algo muito simples e banal para qualquer um de nós, mas muito precioso para você. Foi por isso que o seu pai insistiu muito por isso, então mesmo que ele não tenha movido um dedo pra ajudar a fazer o presente, a ideia foi dele sim, e não teria rolado se ele não fosse tão chato, então obrigado por sua chatice, Jungkook.

— Parem de enrolar, eu tô ficando ansiosa! — disse ela, meio pulando na cadeira.

— É, é, tá certo — disse Hoseok, enclinando-se risonho para entregar a pequena caixinha vermelha.

Sunghee a pegou e a abriu logo. Havia duas pílulas alvi-rubras. O primeiro pensamento dela foi irônico: Uau. Pílulas. Depois, ela se lembrou das coisas incríveis que as pílulas do Hoseok-ajussi faziam. Uau! Pílulas!

— E o que elas fazem? — perguntou, igualmente ansiosa.

Hoseok olhou para o Namjoon, incrédulo. Namjoon ficou pensando, sem entender.

— Ah — murmurou, quando finalmente lembrou do envelope em suas mãos. Entregou para Sunghee. Ela o abriu e leu em voz alta.

— “Parabéns, você ganhou uma viagem de 18 horas ao Primeiro Mundo com acompanhante!” AAAAAAHHHH QUE LEGAAL! Recomponha-se, Min Sunghee, até parece que você tem sete anos. Gente, mas como assim?! Não tô acreditando! Como fizeram isso?

— Não importa — garantiu Namjoon, que finalmente sentiu-se recompensado. — Queremos que você o Yoongi Hyung se divirtam.

— Ah, eu não posso escolher o acompanhante?

—  Por quê? Ia escolher alguém que não fosse eu, é?

— Não, mas… Talvez eles, né, eles disseram que trabalharam nisso e…

— Ah, não, valeu, depois de tanto trabalho o que eu quero é distância do Primeiro Mundo — garantiu Hoseok.

— O que eu ia fazer lá? Levar mais choques? Ah, valeu, tô bem aqui. E não, você não pode escolher, ou vai estragar tudo.

Na verdade, mesmo que eles tivessem programado para o Yoongi, ela podia escolher, desde que fosse homem. Jimin sabia disso, e que ela estava entre Yoongi e Jungkook. Mas sabia também que os copiadores eram espertos demais para começar mais uma treta familiar por causa de uma viagem com acompanhante.


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Notas finais do capítulo

Ah, essa viagem promete, é claro!



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