“Eu não me lembro da ultima que vez que dormi uma noite completa” Pensou, enquanto deitado em sua cama em silêncio, apenas encarava o teto de madeira enquanto pela janela ao lado da cama passavam os primeiros raios de sol daquele dia, as olheiras no rosto do homem deixavam claro o quão mal havia dormido nas ultimas noites. Com o passar dos minutos o ambiente foi sendo clareado e então se foi revelando o luxuoso quarto onde o rapaz vivia, sua cama era feita de uma bela madeira escura com um dossel muito bem esculpido no material com cobertores azuis feitos com lã da mais fina qualidade.

                Então o homem se levantou de sua cama, caminhando devagar através do seu grande quarto, chegou então a uma que dava para um ambiente externo, puxando-a lateralmente para abri-la, a luz então invadiu de vez o seu aposento, o fazendo cobrir os olhos até se acostumar com a nova iluminação do local, deu mais alguns passos à frente, chegando a sua varanda de onde tinha uma bela visão de seu reino.

                O vento gélido daquela manhã fez todos os pelos de seu corpo se arrepiarem, ele inspirou e expirou devagar o ar fresco, dali de cima podia ver que os aldeões já estavam em suas atividades domésticas e alguns já iniciavam seus respectivos trabalhos. O homem então retornou para dentro, indo para o banheiro, as paredes eram de uma madeira mais escura e partes do encanamento eram visíveis sobre ela, descendo do teto e alguns canos se ligavam na pia e outros na privada, ele lavou o rosto e se encarou no espelho, possuía a pele parda e olhos castanhos, seus cabelos negros estavam bagunçados e iam até seus ombros, a barba estava mal aparada, havia um tempo que não dava um jeito nisso, mas para ele naquele momento pouco importava.

                Após realizar as suas necessidades e se trocar, desceu as longas escadarias de seu palácio, vestia um kimono totalmente negro, que usava para treinar, chegando finalmente a cozinha, onde cozinheiras preparavam o café da manhã e alguns serviçais pararam para cumprimentá-lo, se curvando.

                “Bom dia, Lorde Nicholas!” Disse um deles em tom de respeito.

                O homem bocejou.

                “Bom dia” Respondeu, sua voz era grossa, intimidante. “Minha mãe já acordou?”

                “Ainda não, senhor, mas se quiser podemos...” O funcionário foi interrompido.

                “Não se preocupe com isso, me arrumem uma carona para o Dojô em cinco minutos.”

                “Tão cedo, meu senhor?”

                “Não era essa a resposta que eu queria.” Falou Nicholas um tom mais sério.

                “P-Perdão senhor!” Ele se curvou novamente, apavorado. “Providenciarei sua carruagem o mais rápido possível.”

                “Ótimo.” Concluiu a conversa.

                “Gostaria de comer alguma coisa, meu lorde?” Uma das cozinheiras parava seu serviço e ia até o rapaz.

                “Um lanche para viajem, por favor.” Nicholas caminhou até o balcão e pegou uma maçã, se sentando no banco ao lado dele, então olhou para o calendário, falando consigo mesmo “É hoje... Já faz dois anos...”

                A cozinheira retornou com um recipiente em mãos onde havia guardado o lanche do imperador, ele pegou, agradeceu e caminhou em direção a saída do palácio, a construção era como um grande tronco em uma floresta de concreto, após a grande revolução industrial ocorrida no país inteiro, às pessoas deixaram de lado as casas de madeira ou de barro e começaram a fazer de concreto e metal, apenas aquele grande palácio no centro de Belo Horizonte era feito de pedra e madeira desde que foi construído há várias décadas.

                A carruagem de Nicholas parava em frente ao Palácio, não era puxada por cavalos, e sim movida a vapor, com o cocheiro na frente conduzindo a direção, o mesmo cumprimentou o imperador e o pediu gentilmente para entrar e logo em seguida foi atendido.

                “Quando paramos de usar cavalos?” Comentou se acomodando no banco da carruagem, olhando pela janela as pessoas trabalhando em seus estabelecimentos.

                “Há cerca de um ano senhor, desde a descoberta do motor a vapor” Respondeu o cocheiro, dando a ignição indo em direção ao dojô.

                Nicholas observava as pessoas lá fora durante o passeio, quando os aldeões notavam a presença dele, eles se curvavam em forma de cumprimento, não era uma obrigação na verdade, mas uma questão de respeito. O dojô ia ficando visível ao longe, também era uma das construções de madeira que haviam permanecido com o passar dos anos.

O imperador possui um dojô próprio dentro do palácio que ficou abandonada após meses sem utilizá-lo, o rapaz passou a frequentar o mesmo dojo que os espadachins da cidade costumavam ir, e isso com certeza aumentou a circulação no local, a presença do imperador em qualquer lugar era algo bastante comentado.

Após o homem descer da carruagem, todos ao redor se curvaram e ele fez um sinal com a mão para todos voltarem a suas atividades, um dos responsáveis pelo dojô se aproximou de Nicholas, era um homem de aproximadamente 40 anos, usava um kimono branco, seus cabelos já haviam deixado sua cabeça, e em seu rosto rugas e marcas de um longo histórico de batalhas.

“Bom dia Imperador, seja bem vindo de volta, eu...” O homem foi interrompido por uma voz mais jovem que vinha do lado de dentro do dojo.

“S-Senhor Nicholas!” Exclamou um jovem garoto de aproximadamente 20 anos, ele correu para onde o homem estava, em uma mistura de nervosismo e empolgação, ele se curvou para o Imperador. “Estava esperando por você”

                O jovem possuía cabelos castanhos e curtos, sua pele era clara, mas bronzeada, tinha olhos castanho escuro, parecia ter entorno de 20 anos, usava uma armadura de couro leve e vermelha que protegia seus ombros, seu peito e suas coxas sobre um kimono de samurai, azul.

“Eu nunca te vi antes, quem é você?” Manteve a expressão séria olhando para o garoto.

“Meu nome é Yuri Sanavio, senhor! Eu vim de muito longe para te encontrar aqui” O garoto estava tão nervoso que falava um pouco mais alto que o normal.

“Desculpe garoto, eu não aceito discípulos” Nicholas começou a andar em direção ao dojo, contornando a dupla em sua frente.

“Eu não vim ser discípulo, senhor, eu vim para ter um duelo amistoso com você!” Aquela ultima frase fez Nicholas parar de andar, permanecendo de costas para Yuri.

                “E por que acha que pode ter um duelo justamente contra mim?”

                “Eu soube que você é um espadachim de talento inigualável, então eu vim testar as minhas habilidades contra o melhor de todos.” Disse ele empolgado e nervoso.

                Nicholas ficou parado por alguns segundos, pensando.

                “Você despertou meu interesse garoto, não me decepcione, eu aceito seu desafio.” Então Nicholas continuou caminhando para dentro do dojo.

                “Sim senhor!” Respondeu, seguindo o Imperador.

As pessoas em volta haviam escutado toda a conversa e uma aglomeração ia se reunindo dentro do dojo para assistir em que resultaria esse duelo entre o grande Imperador e um forasteiro atrevido, a maioria acreditam na fácil vitória de Nicholas, e alguns apostam na empolgação da ‘zebra’ do duelo, de qualquer modo, todos esperam uma grande exibição.