Quero. não Quero. talvez Eu Queira. escrita por wateru


Capítulo 1
Quero


Notas iniciais do capítulo

~ A fanfic é Ecchi, mas tem tantas insinuações que você pode acabar imaginando que é um pouco mais. Mas não é.



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Ah, o Gino... Será que ele sente por mim o mesmo que eu sinto por ele? Quer dizer, espero que não literalmente. Eu não gostaria de imaginar que ele sente vontade de dar pra mim. Digo, isso se ele sentir exatamente o que eu sinto, claro. Não que eu esteja querendo dar pra ele, mas... Ah, vá tudo pro inferno! O que eu sinto pelo Gino não é simplesmente uma vontade de dar, acho que é amor mesmo. Ou seja, dar viria como consequência. Ou não.

 

Com quem eu aprendi a pensar tanta coisa feia, hein? Não importa, eu estou apenas pensando e isso não faz mal a ninguém. Acho que é esse o problema da humanidade: querem esconder, de si mesmos, seus desejos íntimos. Isso é impossível. Talvez seja melhor lidar com eles, e não evitá-los. E lá vou eu de novo, tentar justificar meus pensamentos pervertidos para mim mesma. Isso é culpa do que o Gino me disse hoje à tarde. Ou a culpa é minha, por tê-lo visto pelado? Não sei, mas prefiro pensar que a culpa é dele, por ser tão gostoso. Facilita pra mim.

 

Não posso negar que foi bonitinho vê-lo dormindo na aula de Biologia. Odeio aquela professora: por que ela foi acordá-lo? Mas a cara que ele faz quando leva bronca também é fofa. Enquanto ela ralhava com ele, eu o observava, em transe. Ele nem parecia estar lá, ainda bêbado de sono. Que bom que seu castigo foi apenas ter que ir lavar o rosto. Coisa que nem aconteceu, já que o sinal de fim de aula tocou. Eu podia ver, por trás daquela máscara sonolenta, uma expressão vitoriosa.

 

– Mas então... Por que esse sono todo? – perguntei, enquanto ele arrumava os livros que estavam em cima da mesinha. Lógico que eu sabia a resposta, mas queria arrumar alguma coisa para puxar assunto.

 

– Fiquei até tarde acordado, pra conseguir terminar o trabalho de Física a tempo. – Ele dizia enquanto guardava o último caderno na mochila recém-chegada da Europa. O Gino odeia aquelas pastas que os japoneses usam.

 

Sei bem que trabalho é esse, pensei comigo. Se, agora, Reuniões Secretas dos Knights of Rounds são chamados de trabalhos de física, ele não estaria me enganando. Fiquei tão empolgada em tê-lo pego na mentira, que acabei soltando:

 

– Como se eu não te conhecesse... – Ele sorriu quando falei. Ai, que sorriso lindo... Tão lindo que tive de me recompor para continuar – A quem você quer enganar? Desencana, só estamos nós dois aqui. Até a professora já foi embora.

 

Enquanto eu o provocava, ele colocava a mochila nas costas, dando um suspiro que indicava um cansaço profundo. Ele inclinou a cabeça para o lado, com aquele sorriso de canto de boca, fazendo um movimento pendular com o corpo enquanto me rebatia.

 

– E o que você acha disso? – ele perguntou, me interrompendo. De início eu não entendi, mas vi que, talvez, ele estivesse falando sobre a reunião, ou sobre a dancinha que ele estava fazendo. Mas, como não tinha certeza, perguntei:

 

Disso o quê?

 

– Do fato de estarmos sozinhos na sala de aula. – Disse, com um olhar que parecia dizer “o que mais poderia ser?”.

 

Não entendi o que ele quis dizer com aquilo. Era um convite para algo? Bem que eu queria... Mas não me rendi àqueles olhos azuis, e pensei rapidamente em algo para falar:

 

– Realmente, poderemos nos complicar se ficarmos aqui por mais tempo. – Saí andando a passos largos, abraçada em meus livros e olhando para baixo, como se ignorasse sua presença ali. Rapidamente alcancei o corredor que dava para o pátio, e pude sentir que ele vinha logo atrás, mas não sem antes desligar as luzes da sala e fechar a porta. Ele com aquele jeito educado e certinho de sempre...
– Não entendi muito bem esse seu jeito de agir, mas acho que você está certa. É bom não nos atrasarmos para a cerimônia.

 

Ah, é, a bendita cerimônia mista. A coroação da Nunnally como imperatriz da Britannia e a missa de sétimo dia do Lelouch. Não poderia faltar ao evento nem que quisesse. Mas, por um lado, é bom saber que essa seria a primeira vez, em muito tempo, em que nenhum dos lados entraria em ação. Cavaleiros Negros e Knights of Rounds presenciariam o evento apenas como espectadores. Estava tão concentrada em pensar isso que nem notei o Gino ao meu lado, falando algo. Pude pegar apenas as últimas palavras: alguma coisa relacionada ao medo de que o sono o atrapalhasse na hora da cerimônia. Dei apenas um sorriso torto, indicando que ouvia o que ele dizia. Já estávamos chegando ao pátio, quando Gino avistou Suzaku, digo, Takeshi – eu não consigo me acostumar com essa nova identidade dele... Mas que mal faz, não é? Estou apenas pensando! Falando nisso, ele ficou irreconhecível depois das cirurgias... Culpa dele, que resolveu fingir a própria morte... – e algumas garotas conversando. Ele acenou e foi em direção ao grupinho, virando-se para mim na metade do caminho.

 

– A gente se vê na festa? – Ele perguntou, com cara de culpado por ter esquecido algo.

 

– Não acho que seja uma festa, mas pode contar com minha presença.

 

– Desculpe, não queria dizer isso – Colocou a mão direita atrás da cabeça, e veio, hesitante, em minha direção. O que ele queria? – Então tá. Até mais. – Me deu um beijo no rosto. Quase não acreditei. Na verdade, sinto vergonha até agora pela cara de idiota que devo ter feito enquanto ele se afastava. Todo mundo estava olhando, e beijos no rosto não são muito comuns no Japão. Droga, mesmo assim eu devia ter retribuído o gesto... Mas agora não é tempo de se lamentar. É bom que eu mantenha meu jeito sonso, mesmo.

 

O que achei realmente estranho foi o que Gino fez ao falar com Suzaku: fiquei observando de longe, mas vi quando ele pediu licença para as garotas e tomou o Takeshi emprestado por um momento. Os dois foram até um local meio escondido e conversaram por um ou dois minutos. Aquilo pareceu tão... Sei lá... Gay! Seus rostos estavam tão próximos um do outro... Eca! Nossa, acho que nada poderia ser mais gay do que aquilo... Talvez um lemon, mas... Bem, não vem ao caso. Eu fiquei preocupada, na verdade, com o possível conteúdo daquela conversa. Qualquer diálogo entre os dois maiores knights of rounds, na véspera da posse da nova imperatriz da Britannia, poderia ser perigoso para a segurança do Japão. Eu tinha que investigar.

 

Foi por isso que fui até o vestiário masculino (N/A: Sei. Pra mim, foi uma desculpa esfarrapada para bisbilhotar nas coisas do Gino). Eu sabia que seria fácil encontrar o armário do Gino – aquele que tivesse um monte de rabiscos de várias cores, deixados pelas fãs enlouquecidas que invadiam o vestiário sorrateiramente para deixar o telefone ou uma foto seminua. Eu que nunca teria coragem de fazer isso – mas vontade não me falta, admito. Não sei se adiantaria. Quero dizer, tenho certeza que não adiantaria.

 

E quem dera tivesse sido tão fácil como eu pensei: já conseguia ver o pequeno armário amarelo rabiscado ao longe, quando ouvi a porta de entrada do vestiário ranger. Alguém estava entrando, e assobiava uma musiquinha irritante, que parecia ópera. Nos primeiros segundos, não sei o que passou na minha cabeça. Eu só sabia que ainda estava ali, parada, no meio de um corredor de armários, em um vestiário masculino, com alguém vindo em minha direção. Logicamente, eu conseguiria uma ótima desculpa para estar ali, mas teria que sair imediatamente, e isso estragaria meus planos. Esconda-se em qualquer lugar, pensava, tentando encorajar a mim mesma.

 

Não achava meus instintos em lugar nenhum, e nem aquela sempre bem-vinda descarga de adrenalina. Estava congelada, inerte. O que eu faria? Eu podia ouvir o som de cada passo, cada desafinação do assobio, um instante seguido do outro, até que tudo ficou em silêncio. Imaginei, por um momento, que ele pudesse estar atrás de mim, fazendo uma cara de espanto ou qualquer coisa do tipo. Mas não: tudo que ouvi foi um rangido metálico breve, seguido de um som de água caindo. Quem quer que fosse, foi direto pro banho. Falei um merda bem baixinho, enquanto despertava da minha dormência. Fui direto para o armário do Gino, pronta para acabar com tudo aquilo antes que o homem misterioso saísse do banho. E não é que o desgraçado desligou o chuveiro antes que eu conseguisse abrir a portinha? Dei um grunhido tão abafado que mais parecia um pigarro. Mas foi nesse mesmo som que eu expressei toda a minha raiva por não conseguir me mexer, novamente. E agora? Definitivamente, estava perdida! O cara viria na minha direção, só de toalha, e eu aqui, parada de novo, e na frente do armário do Gino!

 

O chuveiro ligou de novo. Caramba, estava tão nervosa que não pensei na possibilidade de ele ter desligado o chuveiro para fazer qualquer coisa – passar o sabonete ou procurar o xampu – como eu sou idiota! Tratei logo de procurar um local para me esconder, e resolvi que só sairia quando a roupa estivesse seca (N/A: essa é uma gíria dos elevens de 2018. É o mesmo que dizer “a barra tá limpa”. Soa estranho, mas, para eles, é normal). À primeira vista, a estante de toalhas parecia ser o local mais apropriado. Ficaria bem protegida, e poderia esperar o tempo que fosse necessário. Talvez isso realmente acontecesse, se a estante não fosse feita de aglomerado e o homem misterioso fosse qualquer outra pessoa, menos aquela.

 

Eu já estava me acomodando atrás de todas aquelas toalhas brancas, quando ouvi novamente o chuveiro sendo desligado. Já estava protegida (pelo menos era o que eu pensava). E, pelo mover da sombra, vi que a pessoa se dirigia ao corredor do armário de Gino. Ai, que momento mágico foi aquele... Apavorante, mas não deixou de ser mágico. Um homem alto, com traços másculos, vindo em minha direção. O corpo ainda molhado, eriçado pela água gelada... Mas a mágica todinha desceu pelo ralo quando eu vi quem era: Gino Weinberg. Peladão, com as tranças balançando pra lá e pra cá (prefiro me lembrar apenas das tranças. As outras coisas que também balançavam me deixaram assustada), a toalha e as roupas sobre o ombro esquerdo... Era a cena que eu sempre quis ver, mas notei que ainda não estava preparada para presenciar aquele filho adolescente de deus grego nuzinho na minha frente. E, enquanto ele abria a porta do armário, eu ia pensando em outras coisas. Não, não isso que você está pensando (você quem? Com quem eu estou falando?): na verdade, lembrei de um boato que corre pela escola desde que ele veio estudar aqui. Dizem as más línguas que, quando não tem ninguém olhando, o Gino tira um segredo do fundo do armário, e esse segredo é o fator responsável pelos delírios das garotas. Não estava ali para descobrir que segredo era esse, mas seria um bom prêmio de consolação, se tudo mais desse errado.

 

Ele continuava abatido pelo sono. Mesmo depois de uma ducha gelada, ele tentava forçar o assobio para se manter em pé. Eu só pude vê-lo destampar um frasco, colocar um ou dois comprimidos na boca e mastigar. Ele devia estar bem atordoado mesmo: colocou o vidro destampado dentro do armário e acabou esbarrando nele quando foi pegar um livro que estava no fundo. Ele resmungou alguma coisa parecida com “baralho”, não entendi direito, e tampou o frasco. Eu me divertia com aquela cena: Gino Weinberg, pelado e molhado, lutando contra o sono e um frasquinho que não queria ser fechado. Logo ele desistiu, jogando o vidrinho de qualquer jeito dentro do armário. Eu ria baixinho, feliz por não ser vista – antes de toda a estante desabar, é claro.

 

Não sei o que deu em mim para escolher um lugar como aquele (uma estante fina de serragem prensada) o que eu queria? Era óbvio que toda a estrutura cederia! Mas agora era tarde. Estava eu, caída no chão entre toalhas e pedaços de madeira, aos pés de um homem pelado que eu amava. Agora só faltava ele olhar pra mim e dizer oi.

 

– Oi. – Ele disse, ainda sorridente, enquanto eu me levantava. Pronto, agora não faltava mais nada. Ah, faltava sim.

 

– Oi – respondi – É... Você não está nem um pouco... Tímido com essa situação?

 

Gino olhou para baixo, para a região em questão, e sorriu francamente.

 

– O certo era que eu estivesse, não é? Mas acho que já deu tempo suficiente pra você observar tudo, então, não há necessidade que eu saia correndo com as roupas tampando a parte da frente e a toalha tampando a parte de trás. Não concorda? É, eu sei que isso é embaraçoso, mas agora não adianta mais nenhuma reparação. Aliás... O que você faz aqui? – Falou enquanto terminava, calmamente, de enxugar os cabelos. Ele articulava tão naturalmente... E eu fiz um esforço danado para me manter olhando em seus olhos – não olharia para baixo nem sob tortura. Já havia olhado demais. Então, retruquei apenas para não deixá-lo falando sozinho:

 

– Eu que pergunto: o que você faz aqui?

 

Ele já estava todo vestido, faltando apenas fechar o zíper da blusa, quando olhou para mim e respondeu:

 

– Bem, este é o vestiário masculino. Geralmente, os rapazes vêm aqui para tomar banho. Eu sou um rapaz, e vim tomar banho. – Sorriu. Ah... Que ódio eu tinha daquele sorriso que me fazia querer tirar a roupa todinha e pular no colo dele... – Agora tenho que ir, senão vou me atrasar para a cerimônia. Você sabe, a comitiva de recepção da imperatriz não pode chegar tarde.

 

Gino guardou o restante das roupas no armário, fechou a porta e saiu, acenando. E eu lá, entre estantes quebradas, toalhas de banho e um rangido de porta. A porta do armário de Gino, que ele havia se esquecido de fechar. É, parece que ele também estava apavorado por dentro. A diferença é que ele consegue disfarçar bem por fora. Nem tanto, já que nem se lembrou de perguntar novamente o que eu fazia ali. Mas acabou sendo uma coisa boa: eu nem precisei testar minhas habilidades para abrir o armário. Que não tinha muita coisa interessante, admito.

 

Algumas roupas suadas, livros e um frasco – a única coisa relevante ali. Eu nunca iria imaginar que todo aquele segredo se resumia a um frasco de pastilhas para hálito. Era um produto bastante caro, e não se vendia no Japão. Além de deixar um aroma gostoso na boca, as pastilhas ainda serviam para clarear os dentes e deixá-los mais brilhosos (talvez por isso seja tão caro). E, na confusão, ele acabou deixando que todas as pastilhas caíssem para fora do vidrinho. Coitado, deixou tudo espalhado...

 

Por impulso, acabei pegando duas e jogando na boca. Aquela sensação de formigamento nas gengivas, enquanto eu mastigava, era realmente refrescante. Ele nem vai dar falta das pastilhas, saiu de lá tão atordoado que se esqueceu até de fechar o armário!

 

Nem deu tempo de esperar as pastilhas se dissolverem totalmente. Me lembrei que, em poucos minutos, os portões do colégio se fechariam para o resto do fim de semana. Não seria legal que as câmeras vissem uma Kallen frágil e debilitada pulando o muro para sair. Teria que achar o caminho mais rápido para fora da Ashford.

 

Bem, acabei encontrando uma, e agora estou aqui. Sentada no banco de uma igreja gigantesca e intimidadora. Do meu lado esquerdo, uma gorda enorme que solta pum o tempo todo e acha que ninguém ouve nem sente o cheiro. À minha direita, um homem barbudo que pega no sono e se encosta no meu ombro a cada cinco minutos. À minha frente, uma coroa funerária ornada de peônias e uma faixa com o nome Lelouch Lamperouge. E a única pessoa que poderia me confortar, o Gino, está lá em cima, no altar da igreja, com outros cavaleiros, reverenciando a nova imperatriz. Ele bem que poderia estar aqui, me abraçando, em vez dessa gorda fedida ou desse velho babão. Só assim eu conseguiria ficar menos triste com a morte do Lulu. Ai, essa gorda não pára de peidar!


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Notas finais do capítulo

O que acharam da segunda fic da trilogia? =D
RE-VI-EEEEWS! plz.



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