Nada está certo. Nada. Não...Não. Não! Não era pra ser assim. Não era. Olhei para o céu escurecido. Procurei alguma luz, alguma explicação, mas até a lua se escondeu atrás das nuvens com vergonha, não havia estrelas, não havia nada. Minhas pernas ficaram bambas e eu cambaleei sem rumo. O ar não entrava nos meus pulmões. Uma dor dilacerava meu peito. Era pior do que qualquer coisa que eu já havia sentido. Senti a vida esvair-se do meu corpo, senti a luz apagar-se. Não deveria ser assim... Olhei para o meu vestido já sem brilho e cai de joelhos no chão. Eu me sentia tão distante de tudo, como se o tempo tivesse parado, como se aquele ja não fosse o meu corpo. As sensações eram estranhas, incompletas, irreais de uma maneira que eu não conseguia compreender.

As pedrinhas da calçada machucaram meus joelhos e minha vista ficou embaçada. Enquanto minha visão saia e entrava em foco e minha respiração sófrega ecoava nos meus ouvidos tentei olhar ao redor, mas não havia mais ninguém por perto que pudesse ajudar. Não havia nada que pudesse ser feito. Pensei em chamar por ajuda, mas não arranjava forças. Grossas lágrimas rolaram pelo meu rosto enquanto eu puxava o ar com força. Apoie minha mão no chão, curvando-me tentando controlar os soluços que ameaçavam irromper da minha garganta, era como se um monstro terrível tentasse sair do meu corpo me dilacerando no meio do caminho. Não era assim que deveria terminar, nós iriamos nos casar, ser felizes...

Aquilo parecia rídiculo até mesmo para mim, mas sim por algum tempo me deixei levar pela fantasia. Não, isso não faz o menor sentido. Isso não é real, não é. É um sonho, ou melhor: Um pesadelo! Vou acordar a qualquer instante gritando, como sempre. Sim, é isso. A dor estava ficando pior e meus olhos não queriam acreditar no que viam. Me arrastei pelo chão sujando minhas mãos e arrastando meu vestido claro pela lama. Parecia tão absurdamente claro contra o sangue espesso que quase reluzia. Tentei negar o que via, tentei controlar o choro, mas a dor estava grande demais, eu não podia suportar. Um grito fino ecoou cortando o silencio. Demorei algum tempo para perceber que era meu próprio grito. Era o fim.

Olhei para o sangue que empapava o meu vestido e se misturava aos poucos à lama e à fina chuva que aumentava aos poucos. Eu tremia incontrolavelmente enquanto as gotas fustigavam meu rosto. Olhei novamente para baixo para me certificar de que era real. Um longo grito rasgou minha garganta, como um animal ferido, um som desolado misturado ao choro que eu nem mesmo conseguia saber se era real ou apenas a chuva.

Olhei ao longe as luzes do meu aniversario piscarem distantes. Via a agitação tomar conta da rua da minha casa. Via as pessoas andarem apressadas na minha direção. Parecia uma cena em câmera lenta, os vestidos caros e esvoaçantes, os saltos finos ecoando no asfalto, o som da água sendo espalhada. Alguns corriam em minha direção, mas nada importava eu mal conseguia ver seus rostos, já era tarde demais. Ouvia meu nome ecoando ao longe, mas eu já estava longe, estava num lugar só  meu... Um lugar só nosso.

E pensar que tudo começou com um sonho...Não, com um pesadelo.