Quer casar comigo? escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 21
Não




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756923/chapter/21

NÃO

SEGUNDO ANO DE NAMORO

Julie esticou os pés.

Puxou-os de volta.

Esticou-os novamente.

Mexeu os dedos, tentou fazer aquilo que se fazia com um teclado, tocando cada tecla uma depois da outra... com os seus dedos. E os ouviu estralando.

—Você vai parar? - questionou Asher.

Julie apenas sorriu, perguntando-se se eles estralariam de novo ou se era apenas uma vez por dia. Ou mais do que alguns. Dias. Para acontecer. A mágica.

—Você está feliz - comentou Asher.

Julie cutucou-o com a ponta dos dedos.

Sim.

Sim, sim, ela estava. Isso era o que chamavam de calma antes das tempestades, era o que ela chamava de felicidade depois da tristeza, em que qualquer coisa a fazia feliz, que o simples fato de estar viva e ter um mundo de possibilidades a sua frente... era bom.

—Por que você está feliz?

Julie hesitou.

—Você sabe - começou.

—Eu não sei.

—Eu conheci uma garota.

—Ai. Meu. Deus. - Asher sentou-se no sofá, suas costas tensas, seus olhos se arregalaram. - Você me traiu e está feliz desse jeito na minha frente? Julie! Você devia... você devia...

—Você está chorando? - questionou Julie.

—Eu não estou!

Ele fungou.

Ash fungou.

Asher Iffigen fungou.

—Talvez eu esteja - desafiou ele, passando a mão no nariz. Julie esperou. - Ok, tudo bem, eu estou. Você acha o quê, Julie? Que eu vou ficar feliz por você ter conhecido uma garota? Que eu vou ficar feliz por você está feliz? Quer dizer, eu fico feliz quando você está feliz, mas não quando é em cima da minha felicidade!

—Posso falar?

Asher balançou a cabeça, negou, não disse nada, esfregou os olhos que queimavam. Uma queimação rápida e então algo lento, constante, persistente. Era assim que pensava em Julie. persistente. E ela estava traindo-o.

Talvez, tecnicamente, não.

Julie podia não ter feito nada.

Julie podia apenas ter olhado para essa garota, qualquer que fosse essa garota que dava em cima de alguém que tinha namorado, um namorado fixo, e que se sentia bem fazendo o coração delas bater acelerado... O coração de Julie batia acelerado?

Asher sentia-se traído mesmo assim, porque o simples fato dela não gostar mais dele...  era traição. Não era? Era. O fato de se sentir traído era comprovação o suficiente para ele.

—É alguém do seu curso? - Ash conseguiu perguntar, as palavras pulando da sua boca. Ele lembrava-se de Julie...

Julie balançou a cabeça, negou.

—Eu não gosto de ninguém no meu curso. Todos só ficam falando de livros antigos e clássicos e... Eu não gosto desses livros.

—Você leu Orgulho e Preconceito.

—Porque era obrigada.

—Você gostou - lembrou Ash. Tranquilizar Julie era maior do que... era sua segunda natureza. - E você leu também Maquiavel. E Hobbes. E...

—Obrigação anula o fato de eu ter gostado - interrompeu Julie. - A menos que eu não tenha gostado, o que só comprova porque eu não queria ler e precisava ser obrigada a ler. De qualquer jeito, não, ela não estuda comigo. Ela nunca estudou. Ela só tem três anos.

Asher abriu a boca...  e nenhuma palavra saiu.

— Julie! - exclamou.

—Nem diga isso - avisou ela, levantando o dedo.

—Isso é pedofilia - ele disse mesmo assim.

Julie revirou os olhos.

—Eu sou voluntária num orfanato, você sabe...

—Eu odeio quando você diz "você sabe" - resmungou Ash.

—Mas você sabe.

—O que aconteceu?

Julie sorriu.

—Eu conheci Beatrice e me apaixonei por ela - provocou. - Ela é simplesmente - Julie suspirou, esticando seus dedos e mexendo-os... e os ouviu estralar; e sorriu, satisfeita - perfeita.

—Você não está... substituindo... - Ash se encolheu com suas palavras, temendo arruinar com aquela felicidade. Que aparentemente não era em cima dele.

—É claro que eu estou - interrompeu Julie. - Foi o que eu fiz com você, quando perdi...  - Ela parou, franzindo a testa. - Isso não está certo.

—Obri...

—Eu não perdi o papai, ele morreu. Aí eu reencontrei você e eu provavelmente estava procurando alguém para colocar no lugar. Ainda não decidi.

—Obri...

—Mas você foi uma boa escolha, caso contrário não estaríamos assim. Você era num pouco idiota, mas era quente. - Julie parou, observando-o, dando tempo a ele. - Você não vai agradecer?

—Não. Você não está falando do quão quente eu sou. Nessa época, você era, é, eu não entendo muito bem, assexual.

Julie sorriu.

—Estou tão orgulhosa de você. E o que eu mais gosto da sexualidade é isso, a fluidez – refletiu ela. - Eu não preciso me concentrar no futuro, apenas agora, porque, se mudar, eu não vou estar mentindo, apenas... mudando. - Julie deu de ombros. - Eu era assexual, não sou mais. Simples assim.

—Ao menos sua crise serviu para algo - resmungou Ash, revirando os olhos. - Podemos voltar para a questão principal? Que você quer adotar e só tem 18 anos?

—Eu não... - Julie parou de negar e voltou para a questão principal. - Nós estamos nos conhecendo.

—É?

Julie sorriu, sem perceber o tom dele - o tom de puro ciúme, que se perguntava como não sabia disso antes, como ela não tinha dito ou estado tão apaixonado por ele como parecia estar por aquela garotinha.

—Ela tem os mesmos olhos que os meus. - comentou Julie, orgulhosa. Como uma mãe orgulhosa. - Olhos. Grandes.

Asher retribuiu o sorriso, não aguentando não participar daquela felicidade. Ele mal podia esperar para conhecer a garota que disputava o coração de sua amada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É bem isso, ser obrigada a algo te deixa sem gostar mesmo que você goste. Eu mesma estou sendo obrigada a assistir Matrix para a faculdade, se eu não estivesse sendo, talvez, talvez, eu gostasse, mas... não.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quer casar comigo?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.