É normal os pais chorarem no primeiro dia de aula do filho, isso se o filho tinha cinco e não dezesseis anos, mas a realidade de Luna sempre era diferente do normal. Xenófilio e Liane Lovegood são o que se poderia considerar, pais muito excêntricos. Quando se mudaram para a África com a filha não imaginavam que educar uma criança em outro país seria tão difícil e ao mesmo tempo tão gratificante. Porém era chegada a hora do experimento findar-se e dar início a um novíssimo experimento social. Sua filha já era adolescente e precisava conhecer algo além de seus pais e a selva.

Abraçara a mãe três vezes, mas nem assim ela conseguia controlar as lágrimas. Já o Pai insistia em tirar fotos a todo instante constrangendo-a. Já não bastava o uniforme que não favorecia em nada sua silhueta?

— Não se esqueça do seu almoço. E olhe bem antes de atravessar a rua. Deixei uma lista na sua mochila com todos os números de emergência e tem um casaco extra caso precise.

— Tudo bem Mãe, eu vou ficar bem.

­ – Não fale com estranhos e faça amigos.

— Mãe, mas se eu quiser fazer amigos vou ter que falar com estranhos.

— Liane deixa-a ir. – Disse seu Pai enquanto tirava mais uma foto dela em frente à casa. Ainda haviam caixas do lado de fora sinalizando que a mudança não estava totalmente completada. A visão dos dois, lado a lado, acenando para ela encheu seu coração de sentimentos bons. Mas finalmente era hora de trilhar seus próprios caminhos. Não que aquilo seria necessariamente bom, Luna pensou, conviveu bastante tempo com animais na África para saber que quando o filhote já estava pronto para abandonar seus progenitores estava aderindo finalmente a lei da selva: Matar ou Morrer.  Mas Luna achava que era um filhote forte e foi isso que a deu coragem de enfrentar o que viria a seguir.

Mal havia posto os pés na porta do colégio quando sentiu o impacto e logo em seguida já estava no chão. A seu lado uma garota morena tentava se levantar enquanto era amparada por uma outra garota esta ruiva e usava um boné azul com a aba para trás.

— Olha por onda anda. Esquisitona!

Esquisitona definia bem o que a menina que a derrubou era. Usava óculos de grau de hastes grossas e o cabelo era volumoso e espesso, o uniforme também lhe conferia uma aparecia ainda mais desengonçada pois por cima das meias ela usava coturnos grosseiros e descorados. Já a ruiva a seu lado se não estivesse de saia bem que poderia se passar por um menino. Seus cabelos estavam enfiados em um boné azul deixando apenas alguns fios visíveis, a camisa de uniforme assim como o blazer pareciam um pouco mais largos e ela usava um tênis de skatista.

— Oi? Você se machucou? – Perguntou para a morena que sofrera uma queda pior.

— Não, estou bem e você? – Ela respondeu batendo a poeira da saia e verificando mais uma vez se não existia nenhum trauma maior.

— Estou inteira. Não me machuquei. – Sorria tentando ser gentil.

— Ainda bem que vocês duas estão bem, aquela vaca pôs o pé na sua frente Mione. Por isso você tropeçou e caiu. – A ruiva disse com desprezo olhando para uma garota de olhos azuis que apontava para elas e parecia rir a plenos pulmões.

— Pelo menos não tinha lama em nossa frente, no lugar em que eu morava sempre havia coisas piores do que lama para se cair. –Ela disse se recordando do campo de estudos de elefante que seus pais frequentavam. – Me chamo Luna Lovegood. E vocês são?

— Eu sou Gina Weasley. E esta é Hermione Granger. Somos alunas do segundo.

— Sério? Eu também. –  . Tentou parecer a menos animada possível, mas como não conhecia nada no colégio estava avida por novas amizades e aquelas garotas lhe passavam muita segurança. – Vocês poderiam me acompanhar por favor? Eu não conheço nada aqui.

Elas afirmaram com a cabeça retribuindo seu sorriso e Hermione exclamou feliz.

— Bem-vinda a Hogwarts High School!

— Não sei bem se essa é a saudação correta Hermione, eu diria que está bem mais para: Bem-vinda ao inferno!

Hermione riu infeliz.

— Infelizmente eu tenho que concordar com minha amiga aqui. Luna como é seu primeiro dia me sinto responsável em te pôr a par de tudo ao seu redor. Para sobreviver você deve se lembrar do seguinte: em Hogwarts nós nos separamos em camadas sociais distintas. E sinto lhe informar que acredito que você vai se encaixar na nossa.

— Como assim camadas sociais? – Perguntou confusa.

— Bem basicamente você anda com quem você mais se identifica. Nos agrupamos para nos defender uns dos outros, mas especialmente delas...

— Delas?

— As plásticas. – Gina interrompeu Hermione. – Já ouviu falar em raiz da maldade? É o que elas são. Basicamente todas as garotas do colégio a odeiam, mas a maioria só quer ser como elas, como se elas fossem grande coisa. – Gina disse olhando na direção em que provavelmente elas se encontravam.

Escoradas em uma mureta que dava vista para um amplo jardim Luna as viu.

A Primeira garota tinha um longo cabelo loiro que caia em ondas pelas suas costas ela lixava as unhas de maneira despreocupada parecia estar alheia a tudo ao seu redor. A Segunda garota tinha os cabelos pretos e bem lisos presos em um rabo de cavalo elegante, tinha os olhos negros levemente puxados nas laterais que declaravam sua ascendência oriental, ela falava ao celular com alguém e soltava risadinhas estridentes. A terceira era sem dúvida a garota mais bonita daquele colégio, seus cabelos castanhos caiam em perfeitos caracóis em suas costas, seus olhos azuis brilhavam de malícia enquanto conversava com os rapazes que a cercavam e pareciam adorá-la. Todas as três estavam muito bem maquiadas e pareciam ter customizado os uniformes para que eles parecessem mais chiques e sensuais.

Aquela foi a primeira vez que Luna ouviu falar nas Plásticas, mas aquela não seria a última.

O olhar da morena desviou-se até Luna como se soubesse que alguém estava falando delas seu olhar demorou-se um pouco nela e depois voltou a ignorá-la.

— A loira é Lilá Brow. É a menina mais burra do colégio. – Continuou Gina.

— Ela me pediu para soletrar “ Laranja” na última aula de inglês. – Hermione riu debochada. -Mas Pansy gosta de mantê-la por perto porque ela chama a atenção dos garotos.

— A segunda é a Cho Chang, ela é muito rica, o pai dela inventou aquele doce azul que está na moda que tem sabor de refrigerante. “ Delícia Gasosa “ eu acho. De qualquer forma ela sabe tudo o que acontece na escola. Todas as fofocas, todos os segredos. Tudo.

— Dizem que ela vive no telefone porque tem detetives infiltrados em todos os ambientes para ela saber o que realmente acontece longe delas. – As três se olharam sérias e logo depois todas caíram na gargalhada.

— E finalmente a mais cruel e terrível de todas, Pansy Parkinson. Ela pode só parecer uma perua fria e dissimulada, mas ela é bem pior. Como eu posso descrever Pansy Parkinson? Ela é... O mal esculpido friamente em um corpo gostoso. –  O tom de Gina emanava o pior tipo de desprezo, era como se Pansy não merecesse nenhum tipo de apresentação por pior que fosse.

Os olhos de Luna então se demoraram sobre uma figura que surgira no fim do corredor. Seu coração parecia ter parado quase que instantaneamente quando a figura olhou para ela e sorriu mostrando todos os dentes de uma vez só.

—  Esse é o Draco. – Disse uma Hermione com uma voz bem derretida. – Ele é lindo, não é?

— Draco Malfoy é o garoto mais lindo do colégio. Ele só tem um defeito... – Disse Gina parecendo querer esconder sua voz de profunda admiração.

Draco era um rapaz alto e tinha cabelos loiros e lisos que assentavam perfeitamente em seu rosto esculpido. Dava para perceber seus braços genuinamente fortes e por baixo daquele suéter, Luna tinha certeza, havia um abdômen perfeitamente definido. Ela estancou no corredor quando a figura acenou e ela timidamente retribuiu. Sentiu então alguém a empurrando para o lado.

— Hey!

Pansy Parkinson passou então por elas com olhar de repugnância seguida de perto por suas ajudantes. E quando viu Draco se atirou nos braços dele.

— Ele namora a Pansy.