Utópico. escrita por DihDePaula


Capítulo 35
Capítulo 35 - Cintilante




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Aparentemente o quarto de Luna havia se transformado na nova base de operações daquele grupo improvável, porque novamente os cincos estavam reunidos ali. Luna estava encostada na sacada com os braços cruzados e encarava o céu noturno em silêncio, enquanto pensava sobre os eventos que ocorreriam em poucas horas. Sebastian estava ao seu lado, mas virado para frente com os braços apoiados no parapeito. Enquanto Abi, Luce e Pablo estavam sentados nas cadeiras ao redor da mesa que eles haviam utilizado para o café naquela manhã.

— Capitão Fletcher disse que o horário mais seguro para a travessia será por volta das 2:00 da manhã. Durante a troca da guarda, ele vai guiá-los direto por um túnel perto do portão oeste. — Disse Pablo quebrando o silêncio.

— Conheço os túneis e o Bunker, eles estarão seguros lá! — Complementou Sebastian.

Luna estava preocupada e todos já haviam percebido, não gostava da ideia de arriscar a vida de seu povo dessa forma, principalmente sabendo que seu irmão estaria naquele grupo. Mesmo que sua família fosse um pouco disfuncional, eles eram a coisa mais preciosa de sua vida e não conseguia evitar o medo de perdê-los.

— Andei pensando sobre uma coisa. — Disse Pablo. — E se eu fizer o juramento essa noite?

Aquela fala chamou a atenção da jovem e ela encarou seu amigo, ela ainda não havia pensado nessa possibilidade. Quando encarou os olhos castanhos, não precisou de mais do que alguns segundos para entender o que se passava na cabeça de Pablo.

— Não é uma má ideia, ainda temos algumas horas antes de que você vá encontra-los. — Luna desencostou da sacada e deu alguns passos a frente ainda com os braços cruzados. — E além do mais, qualquer força extra será útil amanhã.

— Força extra? O que isso tem haver com um juramento? — Perguntou Luce confusa.

Um pequeno sorriso se estendeu nos lábios de Luna, ela já estava se acostumando com as perguntas frequentes dos outros três. Principalmente de Luce, já que a mais jovem era extremamente curiosa e odiava ficar sem entender. Ela olhou para Pablo e assentiu.

— Vamos para a segunda parte da nossa aula de lobos de hoje. — Disse Pablo de forma descontraída e Luna não pode conter uma risada.

— Realmente estou me sentindo na escola. — Resmungou Luce arrancando mais risadas dos dois.

— Por que lobos vivem em alcateias ou clãs e não sozinhos? É simples, quando estamos juntos nossas forças aumentam, como mágica. — Disse o moreno. — Quanto maior for a alcateia, quanto mais membros juramentados, maior é a força do alfa. Porque de alguma forma muito bizarra, cada vez que um lobo faz um juramento a um alfa. Esse alfa se torna mais poderoso, mais forte e mais rápido.

— Não só o alfa, mas o lobo também. Quanto maior for a força do alfa, maior vai ser a força dos membros da alcateia individualmente e consequentemente a força conjunta também vai aumentar. — Completou Luna.

Eles dois deixaram os três absorverem aquelas informações, haviam muitas coisas para serem explicadas e ensinadas. Não adiantaria eles tentarem passar anos e anos de costumes, ensinamentos e lendas de uma única vez.

— Então, se ele fizer o juramento você vai ficar mais poderosa e consequentemente ele também? — Perguntou Sebastian, que agora estava com as costas apoiadas no parapeito encarando os demais.

— Basicamente isso, se fosse lua cheia com certeza seria uma quantidade maior de poder, mas ainda sim pode ser feito hoje a noite. — Disse o moreno enquanto ficava de pé. — O juramento não vai estar completo, porque só o homem irá se submeter, como ela já disse nós respeitamos demais nossos lobos e eles também precisam se submeter a alfa. Meu lobo só pode sair para brincar na próxima lua cheia, então para ter força total vamos precisar esperar.

— Mesmo que não seja transmitido o poder total, qualquer quantidade a mais vai ser bom. — Disse Luna. — Afinal, estamos indo para uma guerra amanhã e talvez seja preciso iniciar um motim, qualquer força a mais é útil.

— Se for um juramento de sangue vai ser mais eficaz. — Disse Pablo. — Sabemos que o juramento de sangue é mais poderoso que o juramento convencional.

Pablo já havia se colocado de pé e agora estava parado de frente para Luna, a mulher moveu a cabeça de forma sutil indicando o melhor local que ele deveria ficar. Não demorou muito para ele se afastar e ficar no espaço aberto da varanda, ela ainda estava debatendo se deveria concordar com o juramento de sangue.

— Também é mais perigoso, se você descumprir você morre, Pablo. — Disse Luna, não gostando daquela ideia.

— Só vou morrer se eu trair você e se eu fizer isso, é realmente melhor morrer do que viver com essa vergonha. — Disse o homem dando ombros. — Eu quero fazê-lo, se vou fazer isso, eu vou fazer direito.

— Abi, pode pegar uma garrafa de vinho e um copo pra mim, por favor? — Disse Luna enquanto se posicionava na frente de Pablo e soltava um longo suspiro.

Abigail rapidamente entrou no quarto, Sebastian havia caminhado para o lado de Luna e a fitava preocupado. Ao perceber isso, um pequeno sorriso se estendeu pelos lábios da mulher, ergueu sua mão direita e acariciou a face do homem que amava.

— Vou ficar bem, não se preocupe. Você e Luce deveriam ficar dentro do quarto com Abigail, por precaução, hum? — Ela disse de forma tranquila.

— Não gosto dessa ideia, prefiro ficar aqui com você. — Disse ele de forma firme.

Abigail havia voltado com uma garrafa de vinho já aberta e uma taça na outra mão, ela estendeu para Luna. Ela pegou a garrafa e virou o líquido no copo o enchendo até um pouco abaixo da metade. Logo depois devolveu a garrafa para Abi, antes de pegar o copo das mãos dela.

— Não é querendo ser chato, mas se você ficar aí, principezinho. É capaz das coisas se complicarem somente pela sua presença. — Disse Pablo de forma sarcástica.

— Ele está certo, o juramento é um momento muito delicado. E se você fizer um movimento errado, ele pode te ver como uma ameaça e ataca-lo. — Luna olhou para Sebastian e sorriu. — Está tudo bem, posso facilmente controlá-lo, mas me sentiria mais confortável se vocês três estiverem fora de alcance.

Sebastian soltou um suspiro frustrado e concordou, ele sabia que aquele era um mundo que ele desconhecia e precisava confiar em Luna. Então, logo ele se juntou a Luce a Abi dentro do quarto, mas os três ficaram nas portas por precaução. Estavam a alguns metros de distância de Luna e com uma distância ainda maior entre eles e Pablo. ]Sebastian podia entender porque Luna havia pedido para eles ficarem naquele lugar. Para chegar até eles, Pablo precisaria passar por Luna e pelas conversas entre eles dois, aquilo não seria uma tarefa fácil.

— Talvez vocês não queiram ver isso. — Avisou Luna.

Nenhum dos três se moveu ou desviou seu olhar. A mulher simplesmente deu ombros, ela deu alguns passos para perto do parapeito e apoiou a taça ali. Logo em seguida ela estendeu a mão direita sobre a taça e sua mão esquerda havia começado a mudar. A mão ainda parecia delicada, mas agora tinha uma aparência extremamente mortal, já que as afiadas garras negras haviam substituído as unhas pintadas de vermelho. Ela escutou um arfar delicado vindo da direção das portas, assim que começou a deslizar as garras afiadas pela palma da mão direita.

Um corte não muito profundo havia se formado na palma direita e agora o sangue pingava dentro do copo. Luna se virou um pouco bloqueando a visão deles utilizando o próprio corpo e delicadamente lambeu sua ferida, a saliva deles tinha propriedades curativas. Então, eles às vezes lambiam a ferida para ajudá-la a fechar mais rápido, mas não queria assustar os humanos.

No momento que o sangue estancou, sua mão esquerda já havia voltado ao normal. Ela segurou a taça e caminhou até Pablo entregando a mesma para ele. Luna se afastou novamente e ficou parada na frente do homem com uma postura altiva.

— Eu, Pablo Gusmão, juro perante a deusa da Lua que nos presenteou com nossos dons e nossos lobos. Proteger, ser leal e me sacrificar por, Luna Mary Deverpolt. — Pablo fez uma careta e deu um grande gole no líquido que estava na taça. — Eu, a escolho como minha alfa, sua alcateia será minha alcateia, suas guerras serão minhas guerras e minha vida será para servi-la.

— Tem certeza disso? — Ela perguntou mais uma vez.

— Sim, Alfa. — Exclamou o homem de forma séria.

O Pablo brincalhão e sarcástico não estava ali naquele momento, tudo que podiam ver era um homem sério e determinado. Ele ergueu a taça até os lábios e com uma pequena careta sorveu o restante do líquido que estava na taça, logo em seguida ele se abaixou como havia feito pela manhã. Ele pousou a taça no chão e se arrumou na posição correta. Seu joelho direito estava no chão, sua mão direita estava fechada em punho sobre seu coração e a parte superior do seu corpo estava curvada para frente.

— Eu, Luna Mary Deverpolt, aceito seu juramento. — Disse Luna em um tom solene. — Prometo guiá-lo para um futuro próspero como membro dessa alcateia, prometo dar-lhe proteção e cuidado de acordo com as leis de nosso povo.

Naquele momento o vento atravessou a varanda, não era um vento gélido e sim um vento quente. Que parecia abraçá-los e confortá-los, em meio a tensão daquela situação e imediatamente os olhos de Luna brilharam em dourado. Pablo ergueu sua cabeça e fitou Luna por alguns segundos e seus olhos também haviam adquirido o mesmo tom e brilho dourado.

— Os céus aceitaram nosso juramento. Levanta-se. — Murmurou Luna.

Pablo maneou a cabeça de forma afirmativa e um sorriso descontraído se estendeu por seus lábios enquanto ele começava a se levantar. Um suspiro de alívio havia escapado dos lábios de alguém dentro do quarto novamente e Luna até pensou em rir. Mas ao encarar os olhos de Pablo ela franziu o cenho, escutou um movimento como se alguém fosse vir para a varanda e estendeu a mão.

— Não venha! Pablo, você ainda está ressoando. — Ela disse séria.

Assim que as palavras saíram de sua boca um grunhido escapou dos lábios de Pablo, enquanto seu corpo tombava no chão. Ele agora estava apoiado sobre ambos os braços e joelhos, era nítido que ele estava sentindo dor. Sua cabeça agora estava abaixada e ele parecia conter o gemidos de agonia que insistiam em escapar.

— Pablo! — Exclamou Abigail assustada enquanto entrava na varanda.

— Não venha! — Gritou Luna e Pablo ao mesmo tempo.

Sebastian agarrou os ombros da loira e a puxou para dentro novamente, ele e Luce seguraram Abil por precaução. Mas os olhares assustados e confusos dos três era a última preocupação de Luna naquele momento. Quando Pablo ergueu o rosto para gritar com Abi para ela não vir, Luna percebeu que o dourado estava ainda mais cintilante e as feições de seu amigo começaram a mudar de forma lenta.

— Como eu odeio as primeiras transformações. — Resmungou o homem.

— O que está acontecendo? — Gritou Abigail.

— Se acalme ou saia daqui, Abilgail. — Exclamou Luna de forma firme sem desviar seus olhos de Pablo. — Ele está se transformando, a primeira transformação depois do juramento é como a primeira transformação quando atingimos a idade certa. Ela é lenta e dolorosa, não temos controle sobre nossas ações ou lobos.

— Por que isso está acontecendo? Era pra ser assim? — Perguntou Sebastian em um tom preocupado.

— Não sei e não. Agora eu preciso que vocês fiquem quietos ou saiam daqui. — Disse Luna em um tom mais calmo, porém firme.

Luna não fazia ideia porque diabos Pablo estava assumindo sua forma lupina, nunca havia escutado algo sobre um juramento de sangue a um alfa causar esse efeito. Assim, como ela não sabia o porque estava acontecendo, ela também não sabia o nível de descontrole que Pablo atingiria, quanto menos aqueles três se mexessem melhor.

Depois de alguns minutos que pareciam agonizantes para todos os que estavam presentes a situação havia mudado. No lugar de Pablo um grande lobo com uma pelagem caramelo estava sobre as quatro patas e encarava Luna com os olhos cintilantes.

— Pablo? — Perguntou Luna.

O lobo a encarou por alguns segundos e depois bufou, os olhos giraram levemente pelas orbes. Luna estreitou os olhos diante daquela cena, ao menos o homem parecia estar totalmente consciente dentro do lobo. Ele se sentou de forma calma e encarou os três na porta que tinham os olhos arregalados naquele momento, o lobo moveu um pouco os lábios mostrando os dentes, no que Luna julgou ser uma tentativa de sorriso e com isso ela não conseguiu conter uma risada.

— Não tente sorrir assim, vai assustá-la mais do que tranquiliza-la. — Disse Luna tentando se conter. Ela entendeu as intenções de Pablo, de alguma forma ela sabia o que ele queria. — Vamos terminar logo com isso e aí você volta a forma humana.

O lobo maneou a cabeça como se concordasse com aquelas palavras e se colocou de pé sobre as quatro patas. Luna havia voltado a sua posição séria e altiva enquanto encarava o lobo a sua frente, quando o olhar dela caiu sobre ele o lobo imediatamente abaixou a cabeça.

O grande lobo caramelo curvou a parte da frente do seu corpo e abaixou a sua cabeça, quase a deixando tocar o chão. Enquanto uma das patas dianteiras estava curvada um pouco dobrada. O cintilar dos olhos de Luna ficou mais forte naquele momento e outra rajada daquele vento estranho correu pela sacada.

— Eu aceito sua reverência e juramento. — Disse Luna. — Levante-se.

Naquele momento o lobo começou a se erguer, mas os olhos de Luna estavam arregalados e provavelmente de todos os outros também. Uma fina e semi transparente aura parecia rodar ao redor de Pablo e Luna, eram duas cores diferentes e visíveis até mesmo para os olhos dos humanos presentes. A aura que se desprendia de Pablo e ia na direção de Luna tinha um tom amarelado, enquanto a que se desprendia de Luna era prateada.

— Nunca a troca havia sido vista a olho nu. — Exclamou Luna maravilhada.

Quando o juramento era concluído as correntes de troca de poderes eram sentidas pelo alfa e pelo membro que estivesse fazendo o juramento, isso todos eles sabiam e em algum momento sentiriam. Mas novamente, naquela noite estranha algo inédito havia acontecido pela segunda vez.

O lobo estava sentado observando as cores cintilando ao redor, mas da mesma forma que apareceu aquela aura havia desaparecido. Pablo e Luna se encararam tentando entender o que estava acontecendo, porque estava sendo tão diferente daquela vez.

"Que merda é essa que está acontecendo?" — Naquele momento a voz humana de Pablo soou dentro da cabeça de Luna.

"Isso acabou de ficar ainda mais estranho." — A voz de Luna soou na mente de Pablo com aquelas palavras.

Naquele momento, o lobo se assustou com aquilo e ao tentar se afastar acabou tropeçando nas próprias patas de forma desengonçada. As orbes douradas estavam arregaladas e encarava a mulher à sua frente como se ela fosse uma alucinação.

— O que está acontecendo? Ele está bem? — A voz de Abigail soou preocupada.

Ao ouvir aquela voz o lobo recuperou o controle de seu corpo e agora estava de pé com a cabeça erguida, como se não tivesse acabado de cambalear feito um filhote assustado. Luna ergueu uma das mãos na frente dos lábios e tentou conter uma risada.

"Não sei o que é tão engraçado!" — Reclamou Pablo.

"Você! Tentando agir feito um lobo feroz, logo depois de fazer papel de bobo." — Respondeu Luna mentalmente.

O lobo bufou e voltou a se sentar sobre as patas traseiras enquanto encarava os humanos. Se tivesse sobrancelha, Pablo provavelmente estaria franzindo ela naquele momento, porque a cara de assustados dos três era engraçada.

— Está tudo bem, ele está lúcido e não é perigoso vocês se aproximarem. Acho que essa noite não consegue ficar mais estranha. — Disse Luna enquanto cruzava os braços. — Precisamos arrumar roupas para você.

— Roupas? — Perguntou Sebastian assim que parou ao lado de Luna.

Ele havia sido o primeiro a se mover e em pouco passos parou ao lado dela, Luce se moveu logo depois de forma mais cautelosa ainda encarando o lobo com um pouco de medo. Afinal, aquele bicho era enorme e o tamanho daquela boca era realmente impressionante.

— Vocês acham que as roupas humanas sobrevivem depois dele ter se transformado em um lobo gigante de 1,60m? — Perguntou Luna com a sobrancelha franzida.

— Eu trouxe algumas roupas, estão na bolsa lá dentro. — Disse Sebastian. — Deve caber nele.

Abigail diferente dos outros havia se aproximando lentamente de Pablo, mas ela ainda estava a uma distância que humanos deveriam considerar seguras. Luna sabia que com um salto o lobo poderia alcançar a mulher, mas não estava preocupada. Sabia que Pablo estava consciente e ele nunca machucaria Abigail.

— Ele é um cachorro bonzinho agora, pode se aproximar dele, Abi. — Disse Luna de forma implicante. — Gostamos de carinho atrás da orelha.

O lobo bufou enquanto a encarava e logo em seguida sacudiu a cabeça antes de voltar a fitar a mulher loira, que ainda estava se aproximando dele um pouco menos receosa. Pablo achou melhor não se mover para não assustá-la, então decidiu esperar que ela viesse até ele.

— É tão bonito. — Murmurou Abi enquanto estendia a mão de forma insegura na direção dos pelos caramelos.

Um brilho divertido surgiu nos olhos dourados do lobo e quando a mulher parou a mão poucos centímetros de sua pelagem, ele se moveu. O grande lobo simplesmente colocou a língua para fora e lambeu a mão da mulher a deixando em choque, enquanto soltava um barulho abafado. Luna não conseguiu se conter e começou a rir da cara que Abigail estava fazendo.

A mulher olhava sua mão que havia acabado de ser lambida e depois encarava o lobo com os olhos arregalados, antes de fitar a mão novamente. Os outros dois acabaram se rendendo à situação e estavam rindo de forma mais discreta que Luna, enquanto o lobo tinha uma expressão estranha, mas dava para perceber o divertimento na mesma.

— Po-or que ele me lambeu? — Perguntou Abigail.

"Para te provar, antes de te devorar." — Disse Pablo mentalmente.

— Deusa! Eu não precisava ouvir isso, guarde seus pensamentos para você, Pablo! — Exclamou Luna.

O lobo bufou novamente, mas logo voltou a encarar a loira enquanto deixava a cabeça um pouco tombada para o lado. Já Luna, não tinha certeza se deveria rir ou chorar naquela situação.

— Espera! Você pode ouvir os pensamentos dele? — Perguntou Luce com os olhos arregalados.

— Essa é uma noite totalmente fora do comum, mas sim eu posso ouvi-lo. — Reclamou Luna. — Volte logo para a forma humana.

— Era para isso acontecer? — Perguntou Sebastian.

"Preciso de roupas, eu não me incomodo de ficar pelado. Mas sabe como são os humanos." — Reclamou o lobo.

— Certo, alguém pega uma toalha ou roupas para ele ? — Pediu Luna.

Luce entrou no quarto novamente e algum tempo depois voltou uma das grandes toalhas brancas do banheiro. Ela se aproximou do lobo com os olhos curiosos, mas logo depois ela ficou de costas para Pablo com a mão direita cobrindo os próprios olhos, enquanto a esquerda estendia a toalha para trás, na direção do lobo.

Não demorou muito para as coisas mudarem, Abigail pareceu acordar de seu transe quando viu o corpo nu de Pablo curvado no chão e se virou de costas rapidamente, assim como Luce havia feito. Pablo pegou a toalha que foi estendida por Luce e amarrou a mesma ao redor de sua cintura. Se cobrindo da melhor forma que podia e seu olhar desviou para os trapos que um dia foram as suas roupas, que estavam rasgados e espalhados pelo chão.

— O que diabos aconteceu? — Perguntou Pablo encarando Luna.

— Eu não sei, realmente não sei. Você não deveria ter se transformado e eu não deveria ser capaz de me comunicar telepaticamente com você. E com toda certeza não deveríamos ver a magia daquela forma. — A expressão que estava no rosto de Luna, era uma expressão confusa.

Naquele momento todos estavam em silêncio, os irmãos Campbell encaravam Luna em busca de respostas e Abigail parecia querer olhar para qualquer lugar que não fosse o torso exposto de Pablo.

"Não faça nada usando seu sangue de forma leviana, principalmente um juramento, só faça isso com aqueles que confia. Você não sabe o que isso causaria." — Disse Pablo. — Aquela bruxa sabia que isso podia acontecer, por isso nos disse aquilo.

Os olhos de Luna haviam voltado para o tom azulado a algum tempo, mas naquele momento eles brilharam em compreensão. Então, qualquer pessoa que fizesse o juramento de sangue com ela poderia se transformar livremente, assim como ela.

— Acha que se você quiser se transformar agora, consegue? — Perguntou Luna enquanto se aproximava de Pablo.

— Sim, eu sinto meu lobo na superfície. Me sinto da mesma forma que fico na lua cheia, mas agora é constante. — Resmungou o homem.

— Quando a guerra acabar, vamos precisar controlar o seu comportamento e tente não matar ninguém até amanhã a noite. — Ordenou Luna.

— Se foi o seu sangue que causou isso tudo, pode ser perigoso para você, não? — Questionou Sebastian depois de um tempo.

Pablo estava impressionado que ele havia ligado os pontos tão rapidamente. Se aproximou dos dois com os braços cruzados na frente do corpo e com um sorriso maroto em seus lábios. Luna ergueu a sobrancelha enquanto o fitava e Sebastian o encarava com uma expressão séria.

— Não vai ser perigoso, porque um juramento do sangue só pode ser completado se for por livre e espontânea vontade. — Explicou o jovem. — Se alguém for obrigado ou tentar fazer o juramento com dúvidas, a magia de ligação não funciona e a mesma volta para os dois. Poderia ser doloroso, mas não perigoso.

— Então, esse tipo de juramento só pode ser feito se você quiser e estiver disposto verdadeiramente. — Completou Luna. — Se retirarem meu sangue à força ou tentarem me obrigar a aceitar, o juramento vai falhar.

Sebastian ficou em silêncio e encarou os dois enquanto maneava a cabeça em concordância, não era algo tão complicado afinal. Havia uma frase que os antigos diziam e naquele momento se mostrava certa, "A que a natureza sempre arrumava uma forma de equilibrar as coisas". Deram um poder à Luna maior do que o previsto, mas esse poder não poderia ser tomado à força, só poderia ser dado se fosse de bom grado. Luna havia sido escolhida pela própria deusa para ter aquelas habilidades, é claro que havia uma forma de se proteger, uma forma totalmente natural e dentro das leis de seu povo.

— Arrume algo para vestir, você deve encontrar com o Capitão para garantir que todos estejam bem. — Disse Luna em um tom calmo.

— Vou pegar algumas roupas para ele. — Disse Sebastian antes de sumir dentro do quarto.

Luce e Abigail haviam se sentado nas cadeiras que haviam na sacada, a jovem Campbell ainda encarava Pablo com o cenho franzido, como se esperasse que ele fosse voltar à sua forma lupina a qualquer instante. Já Abigail estava com o rosto corado e olhava na direção oposta do jovem lobo.

— O que foi pequena, demônia? O lobo comeu a sua língua? — Disse Pablo de forma provocativa.

— Seu descarado! Em vez de ficar conversando deveria se vestir. — Exclamou Abigail irritada enquanto o fitava.

— Sabe, nós lobos estamos acostumados e não temos vergonha de nossa nudez. Não é como se conseguíssemos roupas na velocidade da luz, depois de voltarmos à forma humana. — Respondeu o homem.

Luna revirou os olhos e voltou a se encostar no parapeito com os braços cruzados enquanto esperava eles dois terminarem de discutir. Pablo tinha um ponto, ela já havia ficado em situações que na visão dos humanos seria constrangedoras, mas realmente não se incomodava com aquilo. Havia se tornado tão natural quanto respirar, depois que voltavam a forma humana tinham que se levantar e caminhar até onde haviam deixado as roupas de qualquer forma, sempre acabavam vendo os corpos um dos outros e simplesmente ignoravam isso.

— Acho que essas roupas servem. — Exclamou Sebastian voltando à sacada.

Pablo pegou a pilha de roupas e entrou no quarto para se vestir, ao menos teve um pouco de pena das jovens senhoritas e se comportou de forma decente. Luna foi obrigada a suprimir uma risada enquanto encarava Abigail.

— Abi, ele está certo. Se nós fossemos nos importar com esse tipo de coisa seria ainda mais constrangedor. Eles estão acostumados a mudar somente na lua cheia, mas para mim foi diferente. — Começou a explicar Luna. — Eu podia me transformar se eu quisesse ou se eu tivesse com os sentimentos descontrolados. Quando eu conseguia me acalmar e voltar à forma humana, a última coisa que passava pela minha cabeça era a minha nudez.

Os três a encararam em silêncio enquanto absorviam aquelas palavras, não demorou muito para Pablo voltar. Ele estava vestindo uma camiseta preta que parecia ser menor que a ideal para ele, consequentemente o tecido se agarrava ao seu corpo deixando cada músculo em evidência. Mas ao menos as calças pareciam ser do tamanho adequado.

— Depois de um tempo, nós sempre andávamos com uma bolsa com roupas extras para ela. Era mais fácil do que andar nua o caminho de volta todo, quando não tínhamos roupas extras ela tinha que permanecer como loba até chegarmos perto do acampamento, mas nem sempre era conveniente. — Complementou o jovem. — Falando nisso, as bolsas para amanhã já estão prontas e a capa também.

Luna o encarou e balançou a cabeça concordando. Ela estava preocupada com tanta coisa que nem havia pensado muito sobre isso, se tivesse que se transformar só faria e pronto, se sobrevivesse poderia se preocupar com roupas.

— Para amanhã? Capa? — Perguntou Luce confusa.

— É uma guerra, somos mais fortes e mais rápidos em forma lupina. Ela é a única que pode se transformar, o plano é usar isso ao nosso favor. — Explicou Pablo, aparentemente ele estava gostando de seus momentos de professor. — Ela tem uma capa que é grande o suficiente para jogarmos sobre as costas da loba e quando ela voltar a forma humana vai cobri-la.

— Bom, eu era a única que podia me transformar. Se eu fosse você, acrescentaria uma muda de roupa em cada bolsa. — Disse Luna de forma debochada.

— Ah, verdade. Bem lembrando. — Resmungou Pablo. — Ainda temos duas horas antes de eu ir me encontrar com o capitão.

— Vamos nos preparar, essa noite ainda está longe de acabar. — Disse Luna enquanto caminhava para dentro do quarto e revirava os olhos.


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