As coisas estavam maravilhosas, incríveis. Era assim que Rebecca poderia descrever a sua vida nas últimas semanas, já haviam começado as gravações do primeiro álbum de sua banda. A Stone Sound estava disposta a investir em uma turnê que provavelmente se iniciaria no prazo máximo de um ano e a expectativa de Rebecca estava no topo. E ainda tinha o fato de que eles se apresentariam em pelo menos dois shows na Europa em um festival feito pela Stone Sound, seria a oportunidade perfeita para apresentar a banda ao mundo.

Ela também não poderia esquecer do namoro com Eric, ou seja, lá o que for que estava acontecendo entre os dois. Já havia se passado três semanas desde a festa na casa de Michael e o fogo que tomou conta daquela noite só parecia ficar mais intenso cada vez que eles transavam, não tinha hora, momento ou lugar. Já haviam feito certas coisas em lugares inusitados, Becca não costumava fazer esse tipo de coisa antes.

Ela transava com alguém geralmente depois de uma festa, ou de um show. Nunca pensou que seria tão prazeroso fazer isso durante a festa, ou de um show, ou de alguma aula. Ela mordiscou os lábios lembrando da última aula de Educação física, se aquele vestiário falasse os dois teriam sérios problemas.

Estava sentada em um dos bancos que ficava na frente da escola esperando Eric sair, ele tinha ido resolver algo sobre um trabalho com Charles. Pelo que Rebecca entendeu os dois idiotas não entregaram e agora estavam tentando convencer a professora a aceitar atrasado. Estava tão distraída que se assustou quando o celular tocou.

— Alô. — Disse Rebecca

— Boa Tarde, Srta. Sarcoriezzi. É a Dominic, da Stone Sound. — Disse uma voz feminina familiar.

— Boa tarde Domi! Algum problema? — Questionou a loira.

Rebecca estava distraída encarando as portas que provavelmente os dois patetas sairiam a qualquer momento. De forma descontraída estava enrolando uma mexa loira em seu indicador.

— Mais ou menos. O Sr. Stone constatou que você ainda não apresentou o seu passaporte, como pretendemos fazer alguns shows com vocês em um dos festivais que teremos fora do país, como já foi conversado. Você precisa apresentar o passaporte para que possamos tirar uma cópia e resolver alguns assuntos sobre a viagem. — Disse a mulher de forma calma.

— Sem problema, vou ir buscar hoje e assim que eu puder eu deixo aí. Tudo bem? — Disse a loira soltando um pequeno suspiro.

— Claro, querida. Até mais! — Disse de forma simpática.

— Até. — Rebecca desligou o telefone e soltou m longo suspiro

Ficou encarando a tela do telefone de forma pensativa. Só ia até à cobertura para pegar roupas e uma vez ou outra acabava dormindo por lá, por sorte quase não cruzava mais com Charlotte. E o máximo de contato era uma mensagem por semana que a mulher mandava perguntando se ela estava viva. Geralmente Rebecca colocava um joinha e nada mais, depois de a última discussão que tiveram logo após a festa de Michael estava evitando contato.

Acabava sempre intercalando entre dormir na casa de Michael ou de Eric. Os Torres até sugeriram ela se mudar para lá de vez, mas provavelmente Charlotte congelaria suas contas, não que isso importasse. Já que ela abriu uma nova e estava depositando todo o dinheiro referente a música ali. Mas ainda sim, preferia evitar o atrito.

Estava tão distraída que não percebeu que alguém se aproximava por trás dela. Sentiu mãos fortes envolvendo sua cintura e lábios tocando seu pescoço, um arrepio correu por sua espinha, mas não era um arrepio bom.

Rebecca se levantou bruscamente e tentou se afastar da pessoa, mas ele a prendeu usando os braços mais fortes para mantê-lá na mesma posição. Não precisou se virar para saber de quem se tratava.

— Me solta, Dimitri! — Exclamou Rebecca tentando afastar seu corpo do dele.

— Senti sua falta, Becca. — Disse em um sussurro afundando o rosto no pescoço da loira.

Rebecca então ergueu o pé e o abaixou de forma rápida e forte. Deixando o salto de sua bota se enterrar no pé de Dimitri. Rapidamente ele a soltou e Becca aproveitou isso para se afastar e o encarou furiosa. Estava xingando baixo, mas depois ele se ergueu e encarou a loira com um sorriso nos lábios.

— Sempre arisca, é isso o que mais gosto em você. — Disse ele com um sorriso um tanto perturbador. — Imagino como deve ser na cama, uma pena você ainda não ter me dado esse prazer.

A loira soltou uma gargalhada irônica e puxou sua bolsa e jogou a mesma sobre um dos ombros. Deu alguns passos para trás se afastando dele, que continuou parado a encarando com um sorriso nos lábios.

— Nem dei e nunca vou dar. Qual é a porra do seu problema? Por que simplesmente não me deixa em paz? Eu não te dei a menor liberdade de chegar me agarrando daquela forma. — Disse a loira de forma exasperada.

— Eu sei que sente minha falta também, que só está com aquele mané para me deixar doido. Mas logo vai voltar correndo para mim. Sei que também gosta de mim. — Dimitri proferiu aquelas palavras e piscou.

Rebecca explodiu em uma gargalhada e maneou a cabeça negativamente. Ela não podia acreditar que estava ouvindo tal sandice. Tinha passado muito tempo depois de toda aquela confusão no bar e Dimitri ainda continuava com aquela ideia surreal de Becca sentia algo por ele.

— A única coisa que sinto por você é pena e nojo, A única coisa que quero de você é distância. — Disse ficando séria.

Com passos firmes ela se virou e começou a caminhar na direção das portas da escola. Preferia ficar la dentro esperando por Eric em um dos corredores do que ficar na insuportável presença de Dimitri. Sentiu a mão dele segurando seu braço e o puxão brusco que obrigou Becca e se virar de frente para ele, manteve uma expressão séria e a cabeça erguida. Ela não tinha medo dele.

— Não contaria tanto com isso Becca, você vai ser minha outra vez. É só questão de tempo. — Murmurou ele se aproximando.

Dimitri a puxou para si e segurou o rosto dela com brutalidade entre a mão, quando ela percebeu os lábios dele se aproximando e soube o que ele ia tentar fazer, Becca não hesitou. Rapidamente a loira ergueu seu joelho com força acertando o meio das pernas dele, naquele momento Dimitri exibiu um gruindo de dor e se curvou. O rosto adquiriu uma cor avermelhada, fosse pela raiva ou pela dor, ela não se importava.

Tentou puxar seu braço, mas mesmo assim ele manteve o aperto mais firme, agora começando a machucá-la. Ele tentou puxá-la novamente, mas ela não permitiu. Continuava a encará-lo sem medo algum e com o queixo erguido, não deixaria ele intimidá-la.

— Eu não tenho medo de você Dimitri, deixa de ser patético e vai arrumar o que fazer! — Ela puxou o braço com força, quando ele não soltou ela simplesmente cravou suas unhas na mão dele até que viu um filete de sangue escorrer.

Ele ficou fazendo uma careta tentando conter a dor, mas por fim acabou soltando o braço dela. Rebecca deu alguns passos para trás e o encarou furiosa, ele era louco e ela estava começando a ficar receosa com aquele tipo de atitude dele.

— Becca! O que está acontecendo aqui? — Ao ouvir a voz de Eric ela respirou aliviada.

Não demorou meio segundo para o loiro se posicionar na frente dela de forma protetora e ela não pode conter um pequeno sorriso por conta disso. Charles apareceu em seguida ficando ao lado de Eric, os dois encaravam Dimitri com uma expressão nada amigável.

— Só estávamos tendo uma conversa. Que foi? Não confia no seu taco? — Perguntou Dimitri rindo.

— Eu confio na Rebecca, mas não confio em você. É um lunático e sabe lá o que pode tentar fazer com a minha garota. — Disse Eric em um tom firme.

— Sua garota? — Dimitri riu. — Até onde me disseram nem estão namorando, provavelmente é mais um casinho seu e daqui a pouco você vai enjoar. Então estarei aqui de braços abertos para consolá-la.

Dimitri abriu os braços e soltou uma pequena risada enquanto começava a se afastar. Todos o encaravam em silêncio, Becca soltou um suspiro de alívio. Mas pelo visto havia sido cedo demais. Dimitri parou no portão e se virou encarando eles com um sorriso em seus lábios.

— Sabe onde me encontrar, Becca. Estarei te esperando. — Disse ele.

— Espera sentado, babaca! — Disse Rebecca em alto bom som.

Assim que Dimitri atravessou os portões e sumiu do campo de visão deles todos respiraram mais aliviados. Eric se virou para Rebecca e colocou às duas mãos sobre a face da loira fazendo uma pequena concha. Os olhos azuis a encararam com um misto de ternura e preocupação e ela teve que se obrigar a não sorrir diante daquilo.

— Você está bem, marrenta? — Perguntou ele.

— Sim eu estou, ele é um idiota. — Murmurou a loira.

De forma repentina Eric a puxou para um abraço, Becca ficou parada por alguns instantes sem reação. Mas logo permitiu seus braços envolverem o corpo de Eric e deixou sua cabeça pousar sobre o peitoral dele, sentiu ele dar um pequeno beijo no topo de se sua cabeça conforme a apertava mais contra si. As mãos deslizavam pelas costas da loira em uma pequena carícia para tentar confortá-la, ele havia se tornado bastante atencioso e carinhoso nas últimas semanas.

A última vez que alguém havia cuidado de Rebecca daquela forma, com tanto carinho e tanta devoção, tinha mais de 10 anos. Seu Babbo, sua família de parte de pai, foram as últimas pessoas que cuidaram dela, daquela forma.

Aquela era uma semana difícil para Rebecca, havia escondido de todos e proibiu Michael de falar algo. Faria 11 anos da morte de seu pai e no próximo mês seria seu aniversário de 20 anos. 11 anos que a sua vida havia virado um completo inferno.

Quando ela proibiu de Michael falar sobre isso ele questionou o por quê? E Becca disse que era a primeira vez em 11 anos que estava feliz, não deixaria aquilo estragar sua felicidade. Podia ouvir a voz de seu Babbo a proibindo de ficar triste novamente e era isso que estava dando forças a ela naquela semana.

— Acho que ele ta precisando de outra surra. Dessa vez eu vou bater antes do Arthur. — Disse Charles de uma forma descontraída.

Eles soltaram uma pequena risada e ela maneou a cabeça negativamente. Tinha coisa demais para pensar, principalmente como pegar seu passaporte. Soltou um pequeno suspiro e se afastou de Eric com um pequeno sorriso.

— Tenho que ir à casa da bruxa pegar meu passaporte, mas não quero ir sozinha… — Disse Becca encarando ele com um pequeno sorriso.

— Eu vou com você, sem problema. — Disse Eric se inclinando e desferindo um pequeno beijo na testa de Becca.

— Meu Deus! Vocês dois estão um nojo só, parecendo aqueles filmes água com açúcar. — Disse Charles fazendo uma careta e depois um gesto com o dedo indicando vomito.

— Extremamente maduro isso, uau. O dia que você também estiver apaixonado por alguém eu vou me lembrar disso. — Disse Eric de forma distraída.

Rebecca ficou em silêncio com aquela declaração martelando em sua mente, foi de forma tão espontânea que Eric de imediato não havia percebido o que havia dito. Charles estava com um sorriso maroto em seus lábios enquanto encarava os dois, intercalando o olhar de um para o outro.

— Quer dizer que está apaixonado, Eric? — Questionou o moreno rindo.

Parece que naquele momento havia caído a ficha de Eric sobre o peso de suas palavras. Becca observou ele engolir a e seco e encarar o nada por alguns segundos. Respirando fundo ele olhou para Rebecca com um certo receio no olhar. Pelo visto ele estava pensando que ela daria a louca por ter escutado aquelas palavras.

Mal sabia ele que ela sentia o mesmo, só não conseguia verbalizar aquelas palavras. Becca sustentou o sorriso nos lábios e depois sorriu para ele, não demorou para a expressão de Eric suavizar e ele retribuir o sorriso.

— Então, Eric? — Charles parecia estar se divertindo coma situação.

— Vamos, Becca? Temos que passar lá na sua mãe antes do jantar, se você não for eu acho que minha mãe vai ter um treco. Ela estava toda animada quando falei que você ia jantar lá hoje. — Disse Eric dando ombros.

— Becca janta lá pelo menos 3 vezes na semana, no mínimo. Nunca vi essa animação toda quando eu ia lá. — Resmungou Charles cruzando os braços. — Tudo bem que eu não sou nora ou genro. Mas sou o melhor amigo, poxa.

Becca já havia percebido que Roxanne era a mãezona do grupo, paparicava a todos o tempo inteiro. O que as vezes deixava os próprios filhos com ciúme e arrancava boas risadas da loira.

— Aceita que dói menos, Charles. — Disse Rebecca rindo e dando ombros. — Vamos logo Eric, quanto antes entrarmos naquela casa mais rápido saímos

O loiro maneou a cabeça positivamente e sorriu envolvendo um de seus braços por cima dos ombros de Becca. Conforme caminhavam para fora da escola ambos se despediram de Charles e foram na direção de onde estava a moto de Eric.

— Quer conversar sobre o que rolou? — Questionou Eric um pouco tenso.

Ela sabia que ele não estava se referindo a Dimitri e sim ao fato dele admitir estar apaixonado por ela, mesmo de forma indireta. A loira soltou um suspiro e deu ombros enquanto Eric lhe estendia o capacete e ela colocava.

— Sim, mas só depois do jantar quando estivermos sozinhos no seu quarto. — Disse de forma tranquila.

— Mas estamos bem… né? — Perguntou Eric receoso.

— Claro que estamos, Eric. Deixa de ser bobo. — Disse ela rindo e dando um pequeno beijo nos lábios dele.

Não demorou muito para ambos estarem sobre a moto indo na direção da cobertura de Charlotte. Talvez ela fosse malvada por deixar ele dessa forma, mas a verdade era que ela estava criando coragem para dizer que sentia o mesmo. Nem parecia que já se conheciam a quase um ano, mesmo aos trancos e barrancos.

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   Eric ainda estava um pouco nervoso com a gafe que tinha cometido. Ele imaginou várias vezes de várias formas diferentes aquela situação, dele admitir em voz alta e para ela que ele estava apaixonado. Quando ele percebeu o que havia dito ficou com receio da reação dela, mas tudo que encontrou foi uma Rebecca sorrindo de uma forma diferente.

Ele realmente esperava que aquilo fosse algo bom, estavam em silêncio enquanto o elevador subia. Eric ficou encarando o painel em silêncio. Quando o elevador finalmente parou Becca entrou no apartamento e foi direto na direção que ficava o seu quarto, Eric somente a seguiu em silêncio.

Ficou observando ela pegar algumas coisa e colocar em uma mochila bem grande, ela estava sempre evitando ficar aqui. Agora que eles conversavam um pouco mais ela já havia contado como realmente era a relação de Charlotte com Rebecca, era pior do que ele imaginou. Agora entendia porque no começo ela era fria, distante e desconfiada.

Hoje ele podia dizer que conhecia uma Rebecca quase que diferente, claro que quando se irritava ainda era um poço de ignorância, ironia e sarcasmo. Mas na maior parte estava rindo, cantando e fazendo piada sobre algo idiota, ele descobriu que tudo aquilo era mais uma máscara para manter as pessoas afastadas. E quando você olhava por trás da máscara, era impossível não se apaixonar.

— Ta, chega. Isso está começando a me irritar. O que foi? — Ela jogou a bolsa sobre a cama e virou para Eric.

Ele estava encostado na mesa que tinha no quarto com os braços cruzados e ficou o tempo inteiro a observando em silêncio. Ele sabia que ela gostava de silêncio, mas também sabia que aquele silêncio já estava ficando constrangedor. A culpa era dele por estar surtando por dentro sobre o que havia acontecido e para não surtar por fora resolveu ficar em silêncio.

— Você já disse que conversamos depois, então. — Ele deu ombros de forma desanimada.

— Sim, conversaremos sobre o que você deu a entender lá no pátio. Mas isso não significa que tem que ficar com essa cara como se eu fosse surtar e te chutar pra fora da minha vida a qualquer segundo. — Disse a loira soltando um suspiro.

Eric ergueu a mão sobre os cabelos e deslizou pelos mesmo bagunçando sem se importar muito e, ao mesmo tempo soltou um pequeno suspiro. Ele encarou Rebecca e mirou aqueles olhos azuis, que pareciam ter tirado toda a sua sanidade.

— Desculpa, eu só percebi o que havia falado depois do comentário do Charles. — Ele mordiscou os lábios. — Só não quero que as coisas fiquem estranhas entre a gente, você não tem que dizer que sent…

— Pode parar aí. Primeiro para de se desculpar, é isso que você realmente sente? — Questionou ela e Eric assentiu. — Então não tem que se desculpar por dizer que está apaixonado por alguém e muito menos se for por mim.

— Claro que é por você, Rebecca! Por quem mais seria? — Disse Eric irritado

A loira acabou soltando uma risada o que deixou ainda mais irritado, ela maneou a cabeça negativamente ainda rindo e se aproximou dele. Prendeu o rosto dele entre suas mãos o obrigando a olhar em seus olhos, de forma automática as mãos dele envolveram sua cintura.

— Talvez tenha me expressado errado, eu sei que é por mim. E você deve ser burro, não é? — Ela disse rindo, fazendo com que ele fechasse a cara. — Eu também estou apaixonada por você, seu idiota.

Naquele momento Eric sentiu como se um peso saísse de seus ombros e, ao mesmo tempo sentiu seu coração transbordar de alegria. Em um movimento rápido ele a apertou mais contra si e selou seus lábios aos dela de forma voraz.

Uma das mãos saiu da cintura e se encaixou entre o pescoço e o rosto da loira enquanto aprofundava ainda mais o beijo. O braço dele envolveu a cintura de Rebecca a prendendo a si enquanto suas bocas se mexiam de forma intensa e cheia de paixão.

Não demorou para Eric as mãos de Rebecca deslizando por sua pele, uma se prendeu no pescoço dele o puxando ainda mais para o beijo e ele se deixou ser levado. A outra deslizou por dentro da camisa de Eric deslizando a ponta das unhas pelo corpo quente do loiro. Sua excitação já estava perceptível por conta da proximidade, da intensidade do beijo e por conta do último ato da loira. Rebecca sabia o quanto os arranhões dela o excitavam.

— Vocês dois, podem parando aí! Minha casa não é motel não, se quiserem se prestar esse papel vai ser fora daqui. — Uma voz feminina e enjoada invadiu o quarto.

Eles se afastaram o suficiente somente para encará-la. Rebecca agora estava com uma expressão séria e Eric também. O rapaz envolveu seus braços ao redor da cintura da loira e ficou sustentando o olhar de Charlotte.

— Se o seu namorado não te da uns beijos gostosos, não desconte a sua frustração sobre os outros, Charlotte. — Disse Rebecca com um sorriso provocativo.

— Fique quieta garota insolente! Minha vida com o Christian não é da sua conta. Eu não quero vocês transando aqui na minha casa, é uma casa de respeito. De Família! — Disse a mulher ficando vermelha.

Rebecca soltou uma gargalhada alta e se contorceu nos braços de Eric. Já Eric tentava prender o riso para não irritar Charlotte ainda mais. A mulher estava com o rosto vermelho e com uma raiva visível estampada em sua face.

— Você nem sabe o que são essas duas palavras, mas não se preocupe só viemos pegar algumas coisas antes de irmos para o jantar na casa do Eric. — A loira sorriu de forma debochada e disse. — Lá sim é uma casa de família, de respeito e com uma mãe adorável.

Charlotte ergueu o queixo e simplesmente saiu do quarto. Os dois ficaram em silêncio escutando os saltos batendo contra o piso e depois sumir. A loira soltou um pequeno suspiro e se apoiou em Eric, ele se inclinou e deu um pequeno beijo em sua testa.

— Deixa pra lá, Beccs. Não vale a pena. — Disse Eric.

— Eu sei, foi até bom. Que ai eu sei que ela saiu e posso pegar meu passaporte no quarto dela! — Disse a loira se afastando e olhando pela porta.

Eric franziu o cenho confuso, sem entender porque o passaporte estaria com Charlotte. Becca se virou e começou a revirar algo em sua bolsa e puxou o que parecia ser um passaporte o que deixou Eric ainda mais confuso. Becca percebendo isso soltou um pequeno suspiro e fez sinal para que ele esperasse. Ela saiu do quarto e voltou pouco tempo depois.

— Fui conferir se ela tinha ido. — Disse Becca dando ombros e o puxando pela mão.

— Por que seu passaporte está com ela? — Perguntou ele.

— Quando eu tinha 15 anos eu tentei fugir para Itália, fiz um documento dando permissão para que eu viajasse. Botei bem no meio dos papeis da escola, já que ela só assinava e nunca lia. — Disse Becca soltando um suspiro enquanto entrava no quarto. — Peguei o passaporte, a declaração, dinheiro que eu tinha guardado ou de coisas que eu tinha vendido e comprei a passagem. Mas antes de eu embarcar ela descobriu e me impediu, depois disso confiscou meu passaporte e até hoje não devolveu. Se por algum motivo eu preciso dele, ela simplesmente vai junto apresenta e traz de volta. Como eu não tinha precisado dele até agora não tinha o porque pegar.

— Entendi, mas por que do passaporte falso? — Perguntou ele.

O quarto de Charlotte era bem maior do que o de Rebecca, com uma grande cama no meio, um divã, uma penteadeira que daria para pelo menos três mulheres usarem ao mesmo tempo. Com uma decoração exagerada em relação à peças de obras de arte, seja estatuas ou quadros. Era muita informação para um quarto.

Rebecca abriu uma porta e não demorou para acender a luz e ir até o final do mesmo. Eric a seguiu em silêncio, tinha um quadro de tamanho médio. Rebecca então levou a mão até o quadro e o puxou, logo atrás dele estava um cofre preto com senha.

— Para ela não saber que eu mexi aqui, só vai saber que vou para fora do país quando eu já estiver lá. — A loira soltou uma pequena risada e deu ombros.

— Você disse que um dos shows é na Itália, vai tentar falar com sua família de lá? — Perguntou Eric de forma cautelosa.

Sabia que falar sobre a família de lá, sobre seu pai era difícil para Rebecca. Mas também não conseguia deixar de lado essa ideia, pelas conversas deles já pode perceber que ela sentia falta e por algum motivo que ele não entendia continuou se mantendo afastada. Becca soltou um pequeno suspiro e se virou para encara Eric.

— Depois que viemos para cá, várias vezes eu tentei entrar em contato. Mas Charlotte sempre proibiu e me dizia que eles não queriam saber de mim porque eu lembrava o meu pai e isso era muito doloroso para eles. — Disse a loira dando ombros. — Mesmo assim eu tentei fugir para lá, eu lembro o nome da cidade que nos morávamos e todos conheciam meu Babbo e meus Nonnos. Então, não seria difícil.

Ela soltou um pequeno suspiro e levou as mãos aos cabelos loiros os prendendo em um coque desajeitado. E respirou fundo para continuar.

— Quando tentei fugir assim que voltamos ela ligou para Itália para eu falar com eles e eles disseram para eu não procurar eles nunca. Que eles não queriam saber de mim, porque era minha culpa ele ter morrido. — Disse Rebecca soltando um pequeno suspiro.

Eric se aproximou e a abraçou assim que viu as pequenas lágrimas acumuladas em seus olhos. A loira deixou elas descerem de forma silenciosa e ficou encarando o peitoral de Eric, sem realmente prestar atenção. Ele se perguntava o por que seria culpa dela, parecendo adivinhar os pensamentos dele, Becca continuou.

— Ligaram para ele avisando que eu estava doente. Ele estava viajando a trabalho, estava em Pegli, fica na costa de Gênova e a forma mais rápida de chegar até Nervi, que era onde morávamos era de barco. Então ele pegou o iate que tinha o apelido estúpido que ele me chamava. "Piccola Ciliegia" — Ela acabou rindo de forma amarga em meio ao choro. — Mas uma tempestade o atingiu e o barco afundou, nunca acharam o corpo. Provavelmente a correnteza levou para longe.

Disse a loira dando ombros com as lágrimas ainda descendo por seu rosto. Eric a apertou mais forte contra si, uma das mãos ele começou a deslizar pelos cabelos loiros. Ele não sabe ao certo quanto tempo ficaram ali daquela forma, mas em algum momento Rebecca parou de chorar e se afastou enxugando a face.

— Melhor sairmos daqui logo, antes que ela volta. — Murmurou Rebecca enquanto digitava a senha.

— Obrigado por confiar em mim, sabe por se abrir comigo. — Disse Eric sorrindo. — E não foi sua culpa, foi uma tempestade e se ele largou tudo para voltar pra você. Isso só mostra o quanto ele te amava.

O cofre se abriu fazendo um clique e Becca respirou fundo, maneando a cabeça positivamente. Provavelmente ela não queria mais falar sobre aquilo e Eric iria respeitá-la. Quando ela se sentisse pronta, voltariam nesse assunto. Eric observou o cofre, continha alguns maços de dinheiro, algumas caixas de veludo que provavelmente eram joias. Uma pequena caixa de sapato, o que Eric achou estranho.

— A louca guardou um sapato aqui dentro? Meu deus! Deve ser de ouro. — Falou Rebecca rindo. — E pelo visto está em cima dos documentos, que merda. Segura Eric.

Ela pegou a caixa e entregou para Eric. Ele observou a mesma de forma curiosa, parecia ser um tanto antiga e não imaginou por que Charlotte guardaria algo assim, mas como Rebecca disse a mulher era louca, melhor nem contrariar.

— Achei! — Disse Becca puxando o passaporte, consequentemente algumas coisas caíram. — Droga!

— Assim vai ser impossível ela não desconfiar. — Disse Eric rindo.

Rebecca começou a catar as coisas em silêncio e tentou organizar da melhor forma, Eric estava rindo baixo daquilo. Ela maneou a cabeça negativamente e colocou os papéis de volta da forma que estava antes, agora só faltava a caixa que estava com Eric.

— Quero ver que sapato é esse, talvez ele arrebente da próxima vez que ela usar. — Disse Rebecca com um sorriso maldoso.

Eric jogou a cabeça para trás e riu balançando a cabeça negativamente. Era uma ideia convidativa até mesmo para Eric, ele também não suportava aquela mulher. Então, seguindo o raciocínio de Rebecca ele segurou a caixa e apontou com o queixo.

— Faça as honras! — Disse rindo.

Becca rapidamente puxou a tampa, mas quando abriu não havia nenhum sapato e sim papeis. Franzindo o cenho a loira pegou uma das cartas e quando leu o remetente levou a mão aos lábios com uma expressão de tristeza e confusão. Naquela altura Eric já não entendia mais nada, estendeu a mão para um cartão postal e começou a ler.

— Quem é Vitto Moretti Sarcoriezzi? — Perguntou ele, devolveu aquela e pegou uma que, na verdade era uma foto.

— Meu Nonno. — Sussurrou Rebecca.

Era uma foto com uma grande família no que parecia ser o natal. Ao virar a foto Eric começou a ler o que estava escrito e arregalou os olhos.

"Piccola Ciliegia,

Já fazem 9 anos que o seu Babbo partiu e que aquela mulher levou você. Espero que ela ao menos esteja cuidando de você direito. Nessa foto realmente só está faltando você Cilliegia, quando você quiser e puder sua família estará aqui te esperando. Não esqueça o quanto te amamos.

Mille baci e con amore, nonno e nonna."

Eric estendeu aquela foto para Rebecca, ela colou a carta de volta na caixa. E começou a ler o que estava escrito e depois virou, ficou encarando a foto em silêncio antes de as lágrimas irromperem novamente, mas diferente de antes que o choro era contido dessa vez Rebecca soluçava.

Eric apoiou a caixa em uma prateleira e rapidamente abraçou Rebecca. A poucos minutos ela disse que sua família a abandonou alegando que a culpa da morte do pai era dela e agora Rebecca achava cartas, fotos, cartões postais da sua família para ela. Se Eric estava confuso, ele não imaginava como realmente estava a cabeça de Rebecca.

— Ela… ela me disse que eles não me queriam! — Gritou Rebecca se afastando. — Ela disse, ela ligou para o meu Nonno!

— Calma meu amor, calma! — Eric acariciou a face de Rebecca. — Ela mentiu para você, provavelmente não foi nem com o seu avô que você falou aquele dia. Aquela foto ali é de depois de você tentar fugir.

— Me tira daqui Eric, eu não quero ficar aqui. — Disse Rebecca de forma desesperada.

— Eu vou tirar calma, me da o seu passaporte. — Pediu Eric.

Rebecca entregou o passaporte a ele e Eric o colocou dentro da caixa e depois fechou a mesma. Enquanto isso a loira fechou o cofre e colocou o quadro no lugar, soltando um forte suspiro ela encarou Eric ainda com lágrimas nos olhos. O loiro então pegou a caixa com uma das mãos e a outra mão entrelaçou com a dela.

Caminharam para fora do quarto de Charlotte e ao chegarem dentro do quarto de Rebecca a loira tirou a caixa de suas mãos, ele percebeu que as mãos dela tremiam enquanto levava a mesma até a mochila.

Na caixa estavam vários anos de mentiras contadas por Charlotte, anos de amor familiar que ela achou que não existia. Quando ela terminou de arrumar tudo ele perguntou se faltava algo e ela negou com a cabeça, então ele começou a conduzi-la para fora da cobertura. Iriam para a casa dele e lá eles veriam o que ela iria fazer com as cartas e com as mentiras de Charlotte. Ele estaria ao lado dela.