De pé sobre as terras alaranjadas do deserto, Victor estava totalmente preparado para o confronto. Vestia um blusão elástico e preto para aquela ocasião, junto com uma folgada calça branca. Pelo entardecer da noite, fortes ventanias zumbiam sobre os céus e arrastavam seus médios cabelos negros. Algumas poucas montanhas se estendiam ao longo. O local era amplo e aberto, tratava-se do deserto do Arizona.

Glayan estava de frente para ele, sozinho, com vestimentas leves e um gorro na cabeça, olhos altivos voltados ao seu próprio líder. A sua arrogância era transparente em seu semblante.

— Victor, a cada dia eu venho descobrindo uma habilidade nova. Eu preciso ser justo e lhe dizer que estou em outro nível, você não pode me vencer. Mas não precisa se preocupar, quando eu acabar com você, terei a humildade de arrastar o seu corpo daqui para Ryan.

Os olhos de Victor eram de descontentamento. Ele considerava tudo aquilo uma traição. O único sentimento pior do que esse era o ódio mortal ao qual sentia pelos quatro vampiros: os assassinos dos seus pais.

— Bem que eu desconfiei. Eu deveria ter dado mais ouvido a Ryan. O poder está fazendo você perder a cabeça – disse Victor.

— Está enganado, sempre fui o mesmo. O problema aqui é você! Tem que parar de ser inocente e infantil! Dá nojo olhar para essa sua face de coitado. Criou um grupo para matar vampiros... então, cadê eles? Já matou algum? Os vampiros são seres de outro mundo. Eles aparecem uma vez no ano em qualquer lugar deste planeta. Mal sabemos onde eles irão aparecer novamente. – Glayan fez uma expressão de ódio mostrando o punho – Eu quero purificar esse mundo podre, isso sim. Acabar com todo mundo que se opuser à minha ideologia... Justiça, paz, leis? Isso tudo é algo relativo, pouco me importo com essas besteiras...

— Eu tenho meu foco, minha visão. Nada vai me parar. Não irei abrir mão dos meus objetivos.

Glayan respirou fundo em um tom que parecia de agrado e orgulho.

— Serei líder dessa equipe ao qual você nomeou de Hunter. Basta eu derrotar você aqui... 

— Não queria ter de encará-lo como adversário, mesmo depois da sua rebeldia. Ainda tem tempo de voltar atrás! Caso contrário, tente a sorte.

Glayan partiu para cima sem pestanejar, com o seu braço direito ligeiramente já coberto de pedra rochosa. Então, ele usou da energia em técnicas para se locomover em alta velocidade para o lado direito de Victor. Se agachou um pouco e utilizou o punho de pedra para tentar desferir um golpe frontal na cintura do seu próprio líder.

Apesar de surpreso com a velocidade do seu ex-companheiro, Victor não foi atingido pela cintura de um modo tão fácil assim. Ele também possuía a habilidade de se locomover rapidamente e, para melhorar a sua situação, poderia proteger seu corpo inteiro cobrindo-o com um metal impenetrável e, até então, indestrutível. Foi daí que conseguiu se proteger sem muito esforço, utilizando o seu braço direto, já totalmente revestido de metal. O punho rochoso que revestia a mão de Glayan fora destruído no impacto contra o metal, restando apenas sua mão natural.

Victor girou o corpo e tentou aplicar um golpe lateral de calcanhar direito. Glayan sentiu o perigo e se afastou dando um mortal de costas. E, no momento exato que ele pisara os pés no chão, seu único oponente partiu rapidamente na direção dele para acertá-lo com um golpe certeiro. Se aquele braço metálico acertasse o jovem loiro de gorro, ele certamente iria ser impulsionado para longe. Mas conseguiu evitá-lo, desviando o seu corpo para trás.

Os dois se afastaram consideravelmente. A ventania continuava intensa, e zumbia em seus ouvidos. Próximo da terra firme, havia um garoto flutuando no ar. Pelo visto, parecia que ele já conhecia Victor de algum lugar. Parecia também que ele estava em dúvida se desceria ou não para separar aquele confronto intenso. Mas nada o fez até então.

Victor o reconhecera logo depois de avistá-lo. Era um dos alunos da Escola Center Tecnology que sempre andava ao lado de outro aluno moreno. Nunca havia falado nada com ele. Conhecia-o apenas de vista.

O garoto prosseguiu ao seu destino, preferiu não se intrometer.

Ao voltar sua total atenção para Glayan, estendeu seu braço direito e fez um sinal de arma na sua mão. Dois dedos apontados na direção do seu oponente.

Quando ele dobrou seu polegar, um filete d´água altamente pressurizado foi disparado. Depois, vários deles surgiram na direção de Glayan, em alta velocidade. Projéteis d´água sucessivos lançados daquela distância ao seu oponente. Seguidamente, Victor formou uma esfera média de água, poucos centímetros acima da sua mão. A esfera tinha o tamanho de uma bola de handebol.

Glayan teve de tomar bastante cuidado para não ser perfurado com os projéteis que fora disparado em sua direção. O seu movimento foi rápido. Conseguiu se desviar dos três filetes consecutivos de forma bem ágil. Quando a esfera veio em sua direção, foi mais fácil ainda se esquivar. A esfera passou do lado direito do seu ombro.

Victor parecia ter gostado do que vira.

— Isso. Ele caiu — sussurrou para si, fechando a mão e a abrindo rapidamente.

Aquele volume de água em forma de esfera se dispersou. Várias gotas para lados diferentes. Glayan sentiu seu ombro molhar, junto com o braço e a parte lateral da barriga.

Victor sorriu depois de fazer uns movimentos com as mãos. As partes do corpo atingidas no seu rival começaram a congelar logo em seguida. Os filetes de água foram dissipados no próprio ar, assim que foram evitados. 

Glayan restringiu sua atenção somente a sua carne gélida, sendo repentinamente roubado todo calor dos locais atingidos. Estava congelando cada vez mais.

Victor tirou proveito de toda a situação e se movimentou rapidamente na direção do seu adversário. No momento que o alcançou, seu braço foi continuamente sendo transformado em metal mais uma vez, até que tentara investir em um ataque considerável para desequilibrar mais ainda o duelo. Afinal, Glayan parecia indefeso, olhando para baixo, segurando seu braço congelado, concentrado apenas nisso.

O que parecia vantagem, acabou sendo frustração. Alguma força misteriosa impactou Victor de um jeito. Isso fez ele ser empurrado para longe. Se chocou com a primeira montanha atrás dele. Foi uma batida forte. Seu corpo se afundou em meio àquela imensa rocha.

Victor não conseguiu compreender o que acabara de ocorrer, mas ele foi impulsionado longinquamente porque, Glayan, em transe, concentrou um campo magnético em volta de si. Uma esfera invisível, ao redor dos dois, o repeliu daquele local de onde ele estava. Dentro daquela barreira, era impossível não ser arremessado ao longe.

Foi aberto um pequeno talho na cabeça de Victor logo depois de se chocar contra a rocha atrás dele. Pingava um pouco de sangue naquele local. Seu braço retornou ao estado original também, instantes depois do choque. Glayan conseguiu se livrar do congelamento parcial do seu corpo, apenas tocando nos lugares atingidos pela água; tratava-se de uma outra habilidade dele, a termocinese (Controle de temperatura).

Glayan gritou:

— ACABOU! AGORA VOCÊ JÁ ERA! — Se concentrou profundamente ao fechar os olhos. E Três cópias dele aparecera ao lado do seu próprio ser, eram clones perfeitos.

Victor teve de impulsionar seu corpo a frente para sair daquela rocha. Ao se livrar dela, criou uma lança metálica. Os três clones de Glayan correram atrás daquela montanha. O original deles manteve-se distante em uma posição flutuante, sentado, altamente concentrado, com a mão esquerda aberta e erguida para cima. Era possível visualizar pequenas faíscas sendo produzidas acima da sua palma.

Não foi muito difícil em lhe dar com três cópias de Glayan. Victor pôs sua base antes deles o alcançarem.

 Eles eram lentos, foi fácil se esquivar dos socos dos três. Apesar de achar que teria problemas, gritou para Glayan ouvi-lo de longe:

— VAI PRECISAR MAIS DO QUE ISSO PARA ME DERROTAR! — E se desviou de mais um golpe, quando finalmente resolveu contra-atacar. Pegou um deles pelo pescoço e enfiara-lhe a média lança metálica no meio da barriga. Muito sangue foi derramado naquela terra alaranjada.

Jogou o corpo falso sobre um outro clone, fazendo-o tombar e cair. O terceiro foi derrubado apenas com um golpe perfeito na nuca. Pegou a lança de volta e perfurou o ombro dos dois clones que estavam aparentemente bem, ainda. Depois, as três cópias desapareceram numa explosão de luz azul.

Victor, desta vez, converteu completamente o seu corpo em metal. Aquela armadura cobria até suas próprias roupas. Então, se preparou para arremessar sua lança com força, focando a atenção para o ombro do seu oponente.

Glayan parecia estar pronto. Acima da palma de sua mão, havia uma esfera de fogo misturada com raios. Demonstrou satisfação ao dizer, suavemente e para si:

— Bola de electrofogo. — E a arremessou na direção de Victor, no mesmo instante que aquela lança metálica se aproximava cada vez mais do seu ombro, em alta velocidade.

Era um fato notar o proveito de Victor no momento exato que seu oponente se encontrava com a guarda baixa, concentrado apenas em arremessar aquela esfera de fogo e raios. Tal ato foi decisivo para obter êxito. A lança perfurara o ombro de Glayan, até atravessar completamente. Dessa vez, foi o sangue do verdadeiro corpo que estava sendo derramado ali, naquela alaranjada terra.

A esfera de electrofogo só atingiu Victor porque ele não se preocupou em se desviar. Estava totalmente coberto de metal. Nada podia o atingir nessa forma. Os raios percorreram seu corpo todo, mas não o machucou. O fogo nada podia fazer diante da indestrutível armadura. Sendo assim, tanto o fogo quanto os raios se extinguiram, sendo dissipados com o tempo. E Victor recompôs o seu corpo ao normal.

Glayan tinha desabado de costas, enquanto que o seu rival caminhava lentamente em sua direção. Deitado, sangrando, quase derrotado, colocou a mão no chão e pareceu esperar o momento certo para surpreender. Por algum motivo desconhecido, Glayan estava sorrindo. Parecia que ele estava ganhando aquele duelo, o que não chegava nem perto da realidade naquele instante. O seu ombro não parava de doer e ele sangrava sem parar. Se continuasse daquela forma, poderia morrer ali mesmo, prostrado sobre a terra alaranjada no deserto do Arizona.

Seu sorriso só fez sentido quando uma imensa mão de pedra surgira saindo da terra e indo atrás de Victor. Glayan estava investindo no que aparentava ser o seu último ataque. Foi um gasto enorme de energia para formar um longo braço saindo continuamente da terra.

Victor voou e disse bem alto, para Glayan escutá-lo :

— JÁ CHEGA, GLAYAN! ESTÁ GASTANDO ENERGIA À TOA.   

Outra mão de pedra foi estendida, só que dessa vez, na frente de Victor. O erro dele naquele momento foi estar olhando para trás tentando se afastar ao máximo da primeira mão que o perseguia. O resultado foi óbvio: se esbarrou de cara com o obstáculo que crescia defronte. Ele foi pego.

Glayan que estava controlando aquelas duas mãos. Ele fez com que elas retornassem a terra, levando consigo o corpo de Victor. Com isso, preso, não podia mais escapar, estava deitado ali, coberto por uma grande mão que o pressionava contra a terra cada vez mais. A única solução foi tentar usar a pouca energia que ainda restava para proteger parcialmente o seu corpo.

Victor estava sendo esmagado cada vez mais, porém, Glayan tinha acabado de perder suas forças e, aquelas mãos, foram desfeitas em seguida. Victor estava a salvo, mas pouco conseguia se mexer. Os dois não tinham mais condições nenhuma de lutarem.

Somente ao passar de cinco minutos, que os outros membros da equipe Hunter apareceram, voando. Era possível ver ao longe a presença de um corte nos lábios de Ryan, sua boca sangrava muito.