Julieta precisou piscar algumas vezes para abrir os olhos. Lembrava-se de poucas coisas da noite anterior. Sentiu uma pontada no ombro direito e se recordou do demônio que a machucara e jogara Jordan longe.

A garota sentou-se e esperou a pequena atordoação passar. Observou o cômodo largo e com paredes nuas e brancas. Havia camas enfileiradas e pequenas mesas com medicamentos, cadeiras colocadas ao lado das camas. Grandes janelas com vidraças avermelhadas, vinho e alaranjadas. Os raios do sol entravam no ambiente, coloridos formando uma cortina de pó.

A porta de madeira grossa e com símbolos estranhos entalhados se abriu. Uma mulher de meia idade entrou vestindo um cardigã cinza com uma saia longa e um coque castanhos claro na cabeça preso por uma presilha. Ela trazia roupas nos braços e um par de botas. Sorriu ao perceber a menina acordada.

— Olá Julieta. Sou Anne, diretora do instituto. Você teve uma briga feia ontem. - Ela disse sorrindo. Uma de suas mãos pousou na testa da garota. - Sem febre e curada. Talvez, deva saber que ninguém sai inteira de ataques de demônios maiores. Você e seu amigo tiveram sorte.

— Desculpe, mas, eu não sei do que está falando. - Os olhos da menina procuraram Jordan em uma das camas, mas ele não se encontrava lá.

— Eu sei. Deve estar confusa. Eu também ficaria se descobrisse que era uma caçadora de sombras de um dia para outro...

— Uma o que? - Julie perguntou sem ter certeza se tinha entendido certo. - Não, eu não sou uma... Caçadora de sombras.

— Desculpe discordar, mas eu tenho provas. - Anne falou interrompendo a menina. A mulher apontou para o ombro da garota. Lá, havia um símbolo preto com voltas e linhas retas. Os arranhões estavam curados e não havia nenhuma cicatriz. - Isso, é uma marca. Um dos símbolos do nosso povo que nos ajuda e protege. Esse se chama Iratze, é a marca da cura.

— Mas...

— Vou esperar do lado de fora. Deixar você se organizar.

Anne puxou a cortina em volta da cama para que Julieta pudesse se trocar e depois se retirou do cômodo. A garota esperou até a porta se fechar e tirou as roupas substituindo-as por uma blusa colada vermelha e uma calça preta de couro e uma jaqueta. As botas tinhas um pequeno salto.

Ela caminhou até a porta de madeira e saiu fechando-a atrás de si. Anne esperava de braços cruzados e sorriu quando ela apareceu.

***

Ambas caminhavam pelo instituto. Uma enorme catedral com cinco andares e estrutura antiga. As paredes eram bejes com quadros que mostravam pessoas e um mesmo anjo dando seu sangue aos humanos em um cálice de ouro na frente de um grande lago. Uma espada de prata reluzia em uma das mãos do anjo e suas asas tinhas pequenas figuras parecendo olhos.

A mulher explicara que a raça dos caçadores de sombras nascera quado um anjo; o anjo Raziel dera seu sangue em um cálice, conhecido como O cálice Mortal, para os humanos beberem. Anne contara também que existiam três instrumentos mortais; o Cálice Mortal, a Espada Mortal e o Espelho. Com eles, Raziel criara os caçadores de sombras para matar os demônios que vagavam fora de suas dimensões matando tudo o que viam pela frente e também, para proteger os humanos - mundanos, segundo ela.

Elas haviam chegado na biblioteca do instituto. Dois andares cheios de estantes com livros antigos, escadas em espirais levando ao andar de cima, mesas redondas com cadeiras com livros abertos, caixas de vidros guardando Estelas, que segundo Anne, eram como canetas que desenhavam as marcas nas peles e armas.

Julieta parou os olhos em Jordan que estava sentado em uma das poltronas perto da lareira acesa enchendo Gabriel de perguntas. Um garoto de cabelo castanho conversava com uma menina ruiva. Ambos vestiam as mesmas roupas que ela.

— Julie! - Jordan disse vindo em direção da garota e abraçando-a. Os olhos de todos voltaram-se para os dois amigos.

— Oi. - A menina respondeu. Quando se afastaram, os olhos de Jordan quase pularam para fora dos óculos quando observou direito a amiga. Ele nunca a vira vestida daquela jeito e com roupas tão justas. - Que... Que foi?

— Nada. É que você está...

— Com as minhas roupas! - A ruiva disse interrompendo-o.

— Ah, me desculpe. Eu não... Por isso estão meio apertadas... - Julieta começou, mas a garota ignorou e voltou-se para Anne.

— Anne, o que significa isso?! - A mulher respirou fundo e ajeitou alguns fios de cabelo solto do coque.

— Calma, Mel. Você não precisa delas agora, não é mesmo? E, além disso, são só emprestadas.

Naquele momento, Melissa levara a mão ao seu colar que pulsava. Ela, Gabriel e o outro garoto trocaram olhares sérios e Gabriel soltou um suspiro.

— Mal acabo de matar um, já aparece outro. Odeio demônios. Você não, James? - Resmungou o garoto levantando-se da poltrona.

— Não. Acho eles fascinantes. - Respondeu James olhando para Julie de soslaio. Ela achou ter capitado um minimo sorriso. - Vamos nos preparar!

Melissa lançou um olhar irritado de James para Julieta e depois seguiu Gabriel pela porta da biblioteca a passos largos com os saltos finos e altos de suas botas estalando no chão. Jordan, Julieta e Anne permaneceram na sala. A mulher se virou para ambos e sorriu.

— Gostariam de um chá?