Shadowhunters: Cidade das sombras escrita por Vickysmeow


Capítulo 17
Capítulo 15: Pandora




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Gabriel dormiu assim que se sentou em uma das poltronas da sala aquecida e aconchegante de Orion. Quando acordou, desejou não ter feito, pois qualquer coisa podia ter acontecido enquanto ele se dava ao luxo de descansar as horas que lhe faltavam de sono.
Ele olhou ao redor e o fogo crepitava na lareira. Charlotte estava adormecida no divã debaixo da janela com cortinas fechadas impedindo o sol, os cabelos loiros cobrindo uma parte do rosto delicado e imortal, os cílios fazendo sombra em suas bochechas e os olhos se movendo levemente debaixo das pálpebras pesadamente fechadas. Ele sempre achou que vampiros não precisavam dormir, mas Lotte provava o contrário.
O caçador de sombras se levantou e alguns ossos estralaram causando um incômodo maior do que o normal, os músculos também doíam, mas não havia tempo para mais marcas angelicais. Ele tinha que encontrar sua irmã e Julieta. Pelo anjo, onde aquele feiticeiro havia se metido?
O corredor era enorme e estava completamente iluminado pela luz do sol que entrava pelas altas janela de vidro e aço. Gabriel continuou com passos lentos demais para seu gosto por causa da dor no copo e do despertar recente. Entrou em uma porta semi aberta, em um cômodo redondo e amplo com prateleiras de livros e caixas de vidro, vitrines guardando objetos e algumas ervas que ele não conhecia. Um piano de calda longo preto, se encontrava no meio da sala sobre um tapete de pelos brancos.
O tamanho, as cortinas pesadas, o lustre enorme de cristal empoeirado pendurado no teto o lembrado do instituto.
— Procurando alguma coisa?
Uma voz aveludada, quase infantil. Se Gabriel não tivesse se virado naquela hora, pronto para se defender de alguma ameaça como fora treinado para fazer, ele jamais associaria aquela voz a uma garota jovem. Dezesseis anos no máximo. Porém, de uma beleza imensa. Ele pensou se não estava frente a frente com uma fada. Mas, a Corte  Seelie nunca deixa seu povo por aí sozinho.
Os cabelos ruivos como os últimos raios do sol ou a primeira faísca de uma chama caiam como uma cachoeira pelos ombros e colo, compridos e ondulados, terminando em cachos singulares nas pontas. A pele extremamente branca ressaltando a cor azul dos olhos. Azuis como no momento em que a linha do mar e do céu se encontram no horizonte ao anoitecer, quase violetas. Essa era cor do delicado vestido de seda que usava: Violeta.
O tecido caia sobre o corpo dela perfeitamente, como se tivesse sido feito somente para ela, modelando a cintura fina, arrastando no carpete vinho da sala onde estavam. Mas, os olhos de Gabriel pararam repentinamente no decote que seria sútil e inocente se a garota não tivesse seios fartos.
Os olhos dela fisgaram os dele. Um sorriso delicado se formou nos lábios rosados dela.
— Minha irmã... Melissa...- Gabriel respondeu entorpecido. - Quem é você?
A ruiva estendeu a mão a ele numa postura incrivelmente ereta. Ela tinha graça, doçura e por menos que pareça, inocência.
— Perdoe a minha falta de educação. - Disse num sorriso - Sou Pandora. Irmã do Orion.
O caçador de sombras não apertou a mão dela por alguns motivos. Um, tinha medo de que se encostasse nela, ela quebraria como cristal. Dois, tinha medo de que algo dentro dele no momento em que a tocasse, fizesse coisas das quais poderia se arrepender. Três, ele não conseguia se mover, apenas olhá-la.
Pandora deixou o braço cair ao lado do corpo, desta vez com um sorriso apenas nos cantos dos lábios e as bochechas rosadas.
— Sua irmã, então. - Disse unindo as mãos paralelas ao corpo magro. - Venha comigo.
Foi difícil de obrigar seus pés a se moverem, mas ele a acompanhou pelo mesmo corredor em que viera. Apenas sua respiração e seus passos eram audíveis. Pandora se movia com toda a graça de um gato, sem barulho, e respirava lentamente, sem nenhum ruído.
— Eu sei que não é do costume dos caçadores de sombras confiar em pessoas como nós, mas, estão gostando da estadia? - Pandora perguntou enquanto subiam as escadas duplas para um segundo andar que não existia quando se via a casa por fora. Bem, a casa era outra por dentro e totalmente diferente por fora. No interior, uma mansão. No exterior, um chalé perdido na floresta.
— Achei que fosse pior. - Respondeu e se flagrou encarando os olhos profundos dela quando ela o olhou confusa. - Eu quiz dizer, parecia um tanto pequena do lado de fora.
Pandora sorriu.
— É um simples encanto de dimensão. - Explicou seguindo pelo corredor. Era difícil para ele acompanhar os pequenos e calmos passos dela. - Me dê uma caixinha e eu te coloco lá dentro em uma mansão.
— Isso parece divertido. - Ele comentou conseguindo finalmente, desviar os olhos dos dela. Mais passos e mais do silêncio incômodo entre eles. Gabriel limpou a garganta. - Orion não disse que tinha irmã.
— Ele nunca diz. - Pandora devolveu prendo-o com o olhar novamente. O peito subindo e descendo dentro do vestido, fazendo a mente do garoto viajar além do que devia, tirando sua concentração. Ela podia ser nova e ter um que de inocência. Mas, Gabriel estava começando a achar que havia mais coisa. Um quê de provocação, mesmo não intencionalmente, misturado a um outro quê de mistério e desejo.
— Ele é obsessivo e gosta de me manter em segredo. Escondida do mundo e das pessoas lá fora.
— Sério? - O garoto ergueu uma sobrancelha repuxando os cantos dos lábios em um sorriso desentendido. - Nem imagino o por quê!
Ele imaginava sim. Na verdade, tinha certeza. 
— Aqui.
Eles param em frente a uma porta no meio do corredor. Gabriel deu um passo já com a mão na maçaneta, mas algo o fez paralisar. Um toque quente que deixou uma sensação de formigamento em sua mão e que enviou uma corrente elétrica por seu corpo. Olhos azuis o encaravam.
— Não a acorde. - Pandora disse. - A magia nela é uma das mais poderosas que já senti.
— Conseguiu curá-la? - O caçador de sombras perguntou. A palpitação na veia do pescoço havia aumentado. Esperança e ansiedade.
O sinal em concordância da garota foi o suficiente para ele abrir a porta no mesmo instante e adentrar o cômodo. As cortinas estavam fechadas, bloqueando a luz do sol, apenas abajures iluminavam o quarto e formavam a sombra na parede de quem dormia.
Gabriel correu para a irmã, adormecida sobre lençóis claros e travesseiros macios. Os cabelos envolta da cabeça como uma Auréola angelical. Os ferimentos não estavam mais lá, nem ao menos uma cicatriz. Sua respiração estava normal e continua e o rosto corado novamente.
Ele se sentou no espaço da cama ao lado de Melissa e a observou, evitando toca-la. Pandora estava em pé do outro lado da cama.
— Seria muito doloroso, então eu a fiz dormir.
O garoto a olhou com um brilho nos olhos.
— Ela vai ficar bem? - Perguntou tomado de preocupação.
— Eu não sei. - Ela respondeu e ele se levantou tão rápido, que a assustou.
— Você disse que tinha curado! - Gabriel quis gritar, mas se conteve. Ele havia chego em segundos perto dela e percebeu o quanto Pandora era pequena e que a assustou. Naquele momento, o garoto se arrependeu de ter sido tão brusco. 
— Somos seres mágicos. Até mesmos vocês caçadores de sombras. - Disse a garota, os braços envolvendo o próprio corpo. - Mas também somos humanos e mesmo com as suas marcas angelicais, o corpo dela precisa de tempo.
Gabriel tinha que olhar para baixo a fim de olhar nos olhos dela. 
— Está me pedindo para esperar? - Questionou. A voz um tanto irritadiça.
— Se quiser ter a sua irmã como ela era antes, então sim, vai esperar. Vai esperar o quanto ela precisar! - Ela respondeu.
Gabriel não recuou, mas estremeceu. A ordem e a força com a qual aquelas palavras foram ditas, mostrou a ele que Pandora era muito mais forte do que parecia, e tinha um poder de persuasão imenso.
Foram instantes demais. Segundos demais encarando aqueles olhos azuis hipnotizantes que faziam com que Gabriel desejasse puxa-la e afundar em um beijo longo e cheio de desejo. Era errado, sabia disso também. E tinha certeza de que faria aquilo, se o chão não tivesse tremido abaixo de seus pés.
Ele a segurou, envolvendo-a com os braços, como se pudesse protegê-la com o corpo. Terremotos eram raros naquela região e aquilo com certeza não foi um.
Parou. Parou como se nunca tivesse começado. O caçador de sombras até cogitou que pudesse ter sido uma loucura de sua cabeça, mas percebeu ao olhar para a expressão preocupada no rosto da garota, que não era imaginação.
— O que foi isso? - Ele perguntou olhando para ela. A testa franzida e os músculos tensos.
— Não saia daqui! - Ela ordenou.
— O que...? - Gabriel começou, mas era tarde.
A porta do quarto bateu e Pandora evaporou em uma nuvem de fumaça branca, pouco densa e quase cinza.
O garoto olhou para irmã, temendo que tivesse acordado, mas Melissa continuava dormindo. Havia sobrado apenas o cheiro do perfume de Pandora. Doce. Uma mistura de cereja, pêssego e champanhe? Gabriel podia jurar que sentiu as bolhas da bebida alcoólica na garganta.
Ele não sabia o que estava acontecendo, mas algo dizia que não era nada bom. Foi até a porta, mas a garota havia trancado antes de sumir dali. Ela sabia o que estava havendo e não queria que ele soubesse. Por que?
Mesmo sabendo que podia despertar a irmã, Gabriel investiu contra aporta e chocou-se. A dor do impacto percorreu seu ombro e braço, o jogando para trás. Magia.

~•••~

Pandora se viu no jardim de trás da casa. O irmão estava de costas para ela com os braços para cima. O cheiro de enxofre, ervas e magia entupia os pulmões dela.
A garota se aproximou, cobrindo o nariz com a mão e dissipando a fumaça mal cheirosa da frente dos olhos com a outra.
No chão, um círculo de sal queimado traçado com um pentagrama e velas. Uma enorme rachadura se abrira no chão dentro do círculo, dando espaço a um buraco profundo. O que ela temia havia acontecido. De novo.
— O que você fez?! - Questionou furiosamente o irmão.
Orion se virou, surpreso de ver a irmã. Para ele, Pandora deveria estar em qualquer canto isolado da casa ou tocando partituras sonolentas e tediosas no piano da biblioteca, e não perambulando pela casa onde qualquer um dos presentes ali poderia vê-la.
— O que você está fazendo aqui fora? É perigoso. Entre agora mesmo! - Orion ordenou a puxando pelo braço.
— Quem você enviou desta vez?! - A garota insistiu lutando contra a força do irmão. Seu braço já doía quando conseguiu se soltar bruscamente. - Você prometeu! Prometeu que depois do que houve você nunca mais abriria esse portal! Eu te perdoei e olha o que você fez!
Orion a encarou. Irritado e sem paciência nenhuma para os sentimentos da irmã. Ele sempre a protegeu. A protegeu quando ela se apaixonou por um mortal. Ele o enviou ao demônios. Ela o perdoara por que prometeu que nunca mais enviaria ninguém ao inferno para conseguir favores dos monstros lá de baixo. Ele sempre a protegeu. Agora não seria diferente.
Orion tinha em mãos uma joia. Alguém que Lilith queria há muito tempo. Não podia perder a oportunidade por um capricho da irmã.
— Ele era um mortal, iria morrer de qualquer jeito! Supere isso! - Retrucou partindo para cima dela novamente, afundando os dedos em seu braço. - Vai me agradecer depois que Lilith nos dever um favor por devolver a filha dela!
Pandora congelou no lugar, dando um esbarrão no tórax do irmão. O medo era claro em sua face.
— O que você disse? 
— A garota. A caçadora de sombras. Julieta. - O feiticeiro explicou. - Ela é a filha de Lilith.
— Enviou uma caçadora de sombras?! - Pandora juntou toda a força que tinha e o empurrou para longe. - A clave vai vir atrás da gente! Vão nos matar!
Pandora se encolheu sentindo cada parte do seu copo esfriar. Um calafrio na espinha e o medo acelerando o coração.
Ela pensou em Gabriel trancado no quarto. Pensou em Melissa, fraca. Pensou na vampira dormindo em sua sala. Pensou, em como eles a veriam. Traidora. Descartável. Ela lera histórias de feiticeiros que quebraram os Acordos, e nenhum deles sobreviveu. Ela não queria ser mais uma.
— Se partimos agora, não vão nos achar!
Ódio queimou dentro dela. Pandora sabia que se fugisse seria covarde. Mas ela não era covarde. Podia ser jovem e aparentemente fraca no quesito força corporal, mas não era covarde.
— Não! - Falou firmemente olhando nos olhos do irmão. - Voce não vai fugir dessa vez! Chega de fugir Orion!

~•••~

Charlotte subiu as escadas com sua velocidade sobrenatural. Não acreditou no que sua audição vampiresca lhe permitiu ouvir. O feiticeiro tinha uma irmã secreta. Mas, como ela não ouvira o coração dela antes? Ela pode ouvir todos os batimentos de todos os vivos presentes no ambiente. Por que o da irmã de Orion não?
Ela seguiu o cheiro amadeirado com sabonete do caçador de sombras e abriu a porta do quarto com um chute bem dado. A Madeira estilhaçou e Gabriel se espantou, pronto para lutar.
— Temos que ir! - Ela disse entrando e notando Melissa na cama.
— O que está acontecendo? - Ele perguntou aflito. - Pandora nos trancou aqui e...
— Então esse é o nome da irmãzinha do filho da mãe traidor?
— Do que tá falando? - Gabriel quis saber começando a se irritar sem ter nenhuma resposta.
— Tá legal. - Charlote o olhou e respirou mesmo sem precisar. - Resumindo, Orion é do mal e mandou Julieta direto pra Lilith por um portal no jardim de trás da casa. A irmã não sabia de nada e está tentando impedir que ele de fuja. Então se quer ter alguma chance de parar isso, sugiro que pegue a sua irmã e me deixe dar uns bons tapas naquele idiota!
Então eles correram. Gabriel com Mel em seu colo adormecida e Charlotte ao seu lado, irritada e aflita. Por isso Pandora o trancou. Ela sabia supostamente que havia algo de errado pensar que ela tentou protegê-lo é forçado demais. Mas, de foi essa sua intenção...
Uma explosão de folhas e poeira. Já estavam no jardim e Orion tinha sido arremessado para o outro lado. Ele bateu contra uma das árvores e parecia atordoado.
Tudo aconteceu muito depressa. Gabriel colocando Melissa delicadamente na grama macia, Charlotte congelada observando o círculo de sal e o buraco no chão. Pandora caída do outro lado do jardim com uma das mãos da barriga e a outra apoiando-se na parede, tentando se levantar enquanto tossia sangue escarlate manchando a grama com pequenas gotas avermelhadas.
Gabriel correu a tempo de segura-la. Um bravo ao redor da cintura da garota e o outro, com a mão livre, segurando uma das dela. Ele pode sentir o tremor, ou seria a magia, percorrendo o corpo gelado dela. Haviam marcas rochas em seus braços, dedos devia tê-la apertado com força o suficiente para machucá-la.
— Vocês tem que ir! - Pandora sussurrou enquanto tentava respirar normalmente de novo. O feitiço de Orion tinha atingido seu tronco e a dor junto a magia a sufocaram, impedindo o ar de entrar em seus pulmões.
— Não... - Gabriel Retrucou mantendo os braços firmes ao redor dela.
— Se quer salvar a sua amiga - Ela encontrou os olhos dele, raiva e compaixão dentro deles. - Tem que ir agora.
— Acionei a clave. Não podemos mais esconder isso deles. Foi longe demais! - Charlotte Se aproximou com uma das mãos na cintura e a outra afastando o cabelo do rosto. - Vão chegar em minutos, então é melhor partimos.
Gabriel concordou, mas depois olhou para Pandora e depois para a irmã. Não podia deixá-las ali. Fracas e desprotegidas. Melissa ficaria bem, mas quem sabe o que a clave faria se soubessem de Pandora?
— Absolutamente não! - Lotte se adiantou. - Não vou para o inferno com uma caçadora de sombras impotente e uma feiticeira ferida!  Sem falar nos outros! Jam, o mundano, Julieta... não sabemos como eles estão!
— Ótimo, então você fica! - Gabriel respondeu passando um braço por debaixo das pernas de Pandora e o outro em suas costas, levantando-se com ela no colo.
— Posso saber como vai levar as duas e derrotar inúmeros demônios sem mim? - A vampira Questionou cruzando os braços e observando ele pensar em como realmente faria isso. Ele a olhou erguendo as sobrancelhas e revirando os olhos. - Tá bem! - Charlotte caminhou até Melissa e a pegou da mesma forma que Gabriel fizera com Pandora, que agora estava a ponto de dormir nos braços dele. Os olhos piscavam dura e a respiração diminuía gradativamente.
— Mas se a gente morrer, eu vou fazer questão de reviver nós dois e te picar em pedacinhos, te reviver de novo e te matar, entendeu?
O caçador de sombras sorriu de canto, convencido quando ela passou por ele carregando Melissa e se atirou no portal.
Gabriel olhou mais uma vez ao redor. Orion continuava desmaiado e vozes já eram audíveis. A clave chegara e estava na hora de partir. Estava na hora de salvar seus amigos.


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