A Herdeira do Quarto Trono escrita por R31


Capítulo 5
Equilibrium - parte 2: Processo Torturoso.


Notas iniciais do capítulo

Olá, senhoras e senhores, meninas e meninos, guerreiras e cavalheiros!
Bem vindos todos à mais um capítulo desta fantástica aventura!

Gostaram da capa nova da fic? Foi feita por Loren, uma de minhas mais fofíssimas leitoras, e que também agracia esta humilde autora com comentários maravilhosos! Muito obrigada, Loren, você é um anjo! ^^

E só mais uma coisa antes de começarmos: quem por ventura tiver o estômago que se revira diante de cenas violentas, sugiro que pule o meio do capítulo, porque a coisa vai ficar meio sangrenta por aqui...
Agora, sentem-se e relaxem, pois o caminho é longo e o tempo é curto!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756772/chapter/5

 

 

Já é um conhecimento comum que, entre os números 1 e 2, existem infinitos números não inteiros: 0,1. 0,2. 0,3 e assim por diante. Entre a hora 1 e a hora 2, existem limitados 60 minutos, cada um contendo 60 segundos. Esses são dados que qualquer criança do quarto ano já dominam e são fatos tão óbvios para jovens e adultos que estes nem param mais para pensar a respeito.

No entanto, a infinidade é algo que  não cabe na mente humana e isso é algo irônico, considerando que muitos humanos sonham com o infinito (vida infinita, felicidade infinita, dinheiro infinito ou o amor infinito)… mas quando se deparam com ele, o infinito, digamos, por meio de uma brecha no tempo, não sabem o que fazer. E se param para pensar no quanto isso é complexo, são capazes de enlouquecer, tentando entender como é possível tudo no tempo parar, exceto elas.

Mas algumas coisas não foram feitas para serem explicadas, mas sim para serem vividas.

 

 

§

Ansiosa para matar um dragão?

Nem um pouco. Mas isso for necessário mesmo, que assim seja. Eu não aguento mais os rugidos dessa criatura!

—Então, você já sabe o que fazer? -Diz Nathan, verificando se o cinto com a bainha da espada estava firmemente preso em minha cintura. O cinto marcou minha pele por um segundo, quando ele testava a firmeza da fivela.

—Sim, estou pronta para acabar logo com isso. -Respondo, minha voz soou muito mais decidida do que eu realmente me sentia.

—É assim que se fala. -Ele sorri, tocando meu queixo de repente e de relance. -Agora, vamos nos posicionar. Quando estiver pronta, faça um sinal com a lanterna como combinamos.

—Certo... -Respondo simplesmente.

—Tudo bem... -Ele suspira. -Vamos lá.

Trocamos um último e rápido olhar antes de nos separar, indo cada um para o lado previamente definido no plano de Nathan.

Ao me esgueirar pelas estantes em silêncio, percebi que por toda a biblioteca se era ouvido o estalar das chamas, por isso, não me preocupei em fazer pequenos ruídos ao caminhar. Quando me aproximo das estantes mais próximas ao dragão, escolho uma e começo à escalá-la.

Precisei parar algumas vezes para engolir o medo que eu tinha cair dali. As estantes tinham um pouco mais de três metros, mas para mim, elas já eram altas o suficiente para me dar medo. “Mas é muito melhor cair de cima de uma estante do que morrer carbonizada”, lembro a mim mesma.

Assim que alcanço a última prateleira, e chego ao topo da estante, vejo que o dragão estava parado no meio do espaço de circulação aberto do local, onde ficam as mesas. Hora ele erguia a cabeça, prestando atenção à cada ruído, hora ele se inclinava sobre a pata chamuscada e passava a própria língua sobre a ferida. Olhei ao redor com mais atenção e vi Nathan parado atrás do dragão.

As estantes de livros do lado de Nathan tinham sempre uma estátua as antecedendo, eram estátuas de homens e mulheres famosas e/ou importantes para a Inglaterra, se não estou enganada, a mais nova estátua aqui é um busto de sua majestade real, a rainha Elizabeth.

Vejo que Nathan já estava pronto e apenas esperava por um sinal de minha parte.

Coloco-me de pé sobre o topo da estante, me certifico de as estantes ao redor eram próximas o bastante para que eu pudesse saltar de uma para a outra sempre que necessário e tiro o arco que ainda estava preso ao meu tronco.

Que os jogos comecem.

Com a mão livre, seguro a lanterna, ainda presa ao meu cinto, e ligo e desligo a três vezes. Este era o sinal.

Solto a lanterna e minha mão voa direto para a aljava, pegando uma flecha e a posicionando no arco. Nathan, por sua vez, correu pela lateral das estantes, derrubando as estátuas por seu caminho, que caíram sobre o piso com um grande estardalhaço, cada uma quebrando em mil pedaços. Isso chamou a atenção do dragão, que logo se virou naquela direção, deixando as costas desprotegidas. Mirando nas feridas que eu havia visto que eram mais feias e profundas ao dragão, disparo a primeira flecha, esta não se alojou onde eu gostaria, rapidamente, pego outra flecha e a atiro, esta sim atingiu um ponto vulnerável do dragão, que rugiu em resposta.

Nathan começou seu ataque frontal, atraindo o monstro em minha direção. Como Nathan e eu atacamos simultaneamente, era visível que o dragão negro-esverdeado estava ficando cada vez mais furioso e menos cauteloso consigo mesmo.

A primeira parte do plano, que era deixar a criatura desorientada parecia estar dando certo. Quando o monstro estava perto o bastante da estante onde eu estava, algo pareceu dar errado. Não sei o que foi, apenas que, de repente, o dragão se jogou para trás atingindo a estante onde eu me encontrava. Como eu ainda não estava pronta para pular nas costas de monstro, levei um susto e minha reação foi saltar para uma outra estante mais próxima. Corri por toda a extensão da madeira em mogno, tomo impulso e salto para a estante de uma segunda fileira de estantes. Caio sobre a madeira, quase caindo, mas consigo me equilibrar bem na hora, e me viro, a tempo de ver o dragão ainda estatelado sobre as estantes e mais ainda, toda aquela primeira  fileira de estantes caia uma sobre a outra como se fosse uma enorme fileira de peças de dominó.

Olho para Nathan que, mesmo do chão, ainda em guarda, ele olhava aquilo com o mesmo olhar de dúvida que eu.

—Nathan, o que você fez? -Grito. O dragão pareceu ter apagado, por isso, achei que não teria problema.

—Eu estava prestes a perguntar a mesma coisa! -Responde ele. Ele olhou para o dragão, talvez pensando que deveria chegar mais perto para se certificar se o monstro estava ou não morto. Mas ao invés de se aproximar, ele recuou. -Não, não pode ser tão fácil assim, isso pode ser uma armadilha...

Recuo alguns passos para trás, tirando da aljava mais uma flecha. Daqui de cima, vi que de fato, o monstro ainda vivia, vi que o peito exposto do dragão subia e descia, quase que imperceptivelmente, mas ainda assim…

O que está acontecendo?

Depois de vários minutos esperando uma reação do monstro, ele finalmente dá um sinal de vida. Erguendo-se, o dragão sacode a cabeça, bufa, e lança suas chamas para o teto. O dragão cambaleia por um segundo, colidindo contra uma pilastra de sustentação.

Para quem chegara até aqui poderoso e assustador, essa criatura agora mais parecia alguém digno de pena. Olho para Nathan, meu olhar suplicava para que terminássemos logo com isso.

Ele parece ter compreendido e acena com a cabeça um sinal de positivo.

Posiciono a flecha no arco, mirando, agora com mais facilidade, e atiro. A flecha se aloja numa brecha entre as escamas do monstro. O dragão ruge, se virando em minha direção, talvez com a intenção de lançar suas chamas sobre mim. Nathan avançou sobre ele, manejando sua espada e retorna o ataque.

Mesmo com o fato de o dragão estar visivelmente mais fraco, não poderíamos recuar agora. Não podíamos chegar para o dragão perguntar se ele estava bem, isso é algo impensável!

De qualquer forma, seguimos com nosso plano.

Nathan, com pouco mais de dificuldade, obrigou o monstro a recuar em minha direção. Disparo mais algumas flechas, mas quando o dragão estava perto o bastante de onde eu estava, desta vez, não hesitei em deixar o arco de lado.

Dando alguns passos para trás, como fiz antes, corri sobre a estante e saltei, desta vez, para cima da coluna do dragão.

E ali estava eu novamente, me segurando nas asas da criatura... Puxo a espada Eki de sua bainha, me equilibrando com dificuldade, foi nesse momento que ouvi Nathan gritar:

—Agora, Laura!

Desta vez, não houve hesitação, apenas um desejo de acabar logo com isso.

Ergo a espada, meus braços estavam pesados e cansados, mas não falharam no momento de cravar a lâmina exatamente no meio da coluna entre as asas, cravando a lâmina até sua base no local. Eu não tinha como saber, mas quando todo o corpo do dragão se retesou e começou a amolecer sob mim, eu soube que Nathan atingira a garganta da criatura com sucesso.

Me apoiei sobre os joelhos quando senti o dragão oscilar e com um grande estrondo, ele caiu no chão, agora já sem vida. Sob meus pés, pude sentir a criatura dar seu último suspiro de vida.

§

Entorpecida com a morte do dragão e assustada pelo silêncio que se seguiu, olho ao meu redor, ainda de pé sobre o corpo do dragão. As chamas do grande incêndio que vi a poucos segundos, agora se limitavam a pequenos focos de fogo aqui e ali, como se o ar no local tivesse sido totalmente consumido. Se fosse isso realmente, eu não estaria mais de pé respirando. Tudo ao meu redor se escureceu de repente.

Saco a lanterna da minha cintura e a ligo, utilizando-me de sua luz para descer com segurança. Algumas escamas estavam meio soltas e projetadas para fora, afiadas, acabei cortando minha mão numa delas sem querer.

Na base da cauda do monstro, vi que se eu calculasse bem, poderia saltar dali e cair em segurança na mesa onde nossos caríssimos colegas se encontravam, as chamas sobre a mesa já havia se extinguindo a muito tempo. E assim o fiz.

Caminhando sobre as cinzas dos livros sobre a mesa, miro a luz da lanterna em cada um de nossos colegas e um alívio me toma, pois realmente todos pareciam estar bem (mesmo que paralisados pelo tempo). Da mesa, saltei para o chão e corri em direção à Nathan, que tinha acabado de sair da mesma sensação de estupor que eu.

Nathan se levantou, meio tonto do chão, usando a espada Librium para se equilibrar, fora isso, eles estava bem. Foi ali, vendo Nathan, mesmo totalmente fujo de fuligens e sangue que me senti feliz, pela primeira vez, por temos tido de nos unir para derrotar esse dragão.

Nathan vê que eu me aproximava, ele endireitou a postura, mas antes que ele dissesse qualquer coisa, lanço-me sobre ele, dando-lhe um grande abraço pela cintura. O apertei nas costelas com tanta força que ele resmungou, surpreso, mas ele não me afasta de si, pelo contrário.

Ele passa seus braços por meu pescoço e tronco, apertando-me contra si, pousando seu queixo sobre minha cabeça.

Eu tinha que admitir, eu estava muito feliz em ver que ele estava bem. Antes disso tudo acabar aqui, meu estômago se contorcia ao pensar na hipótese de que eu teria de testemunhar sua morte. Graças à Deus isso não aconteceu.

—Estou muito orgulhoso de você, princesa... -Sussurrou ele de repente, e eu me limitei a apertá-lo mais com os braços. Eu estava muito feliz apenas por ouvir a respiração dele.

Não sei quanto tempo ficamos ali, mas por um momento, isso não parecia ter importância. Estávamos vivos. Era só isso que importava.

—Ainda não acabou. O tempo dentro desta brecha está passando. -Sussurrei, de má vontade. Com mais calma, me solto dele e vejo, com o auxílio do brilho da lanterna, que ele sorria.

—Sim. -Ele ergueu a espada Librium e eu segurei o cabo de Eki com mais força.

Damos alguns passos para longe do pescoço do dragão e, com o brilho da lanterna, tentamos decidir como fariamos para decepar a cabeça. Assim que traçamos um jeito de fazer isso, caminhamos lado a lado para perto do monstro. Não muito animados, mas fomos em frente.

Nathan ergueu sua espada o mais alto que podia e eu me agachei sobre os calcanhares. Juntos, penetramos ambas as lâminas nas escamas e, simultaneamente, movemos as lâminas, cortando, dilacerando.

Não vou contar em muitos detalhes como foi (não se sabe se quem está lendo isso está se servindo de seu almoço ou não, por exemplo), mas posso afirmar que foi uma tarefa torturante, em poucos minutos estávamos encharcados dos pés à cabeça do sangue viscoso e fedorento da criatura, a pior parte foi, certamente ter de subir sobre o corpo para separar as costelas e a medula espinhal. Acho que vou ficar um bom tempo sem querer comer carne depois dessa...

Por fim, quando a cabeça estava totalmente separada do corpo, com esforço e muito sofrimento, empurramos a cabeça da criatura por uma distância boa o suficiente para que não houvesse um religamento por regeneração.

Com a tarefa concluída caímos exaustos aos pés de uma estante não atingida. Se eu olhasse para cima, teria visto a ponta do arco se projetando do topo da estante, mas eu estava cansada demais para subir ali somente para buscar o arco.

Sinto o braço de Nathan puxar-me pela cintura para si, pensei em o afastar, mas eu estava tão exausta que acabo por permitindo isso. De repente, estávamos nos apoiando um no outro, cansados, imundos, sem forças para o menor dos movimentos.

Olho para ele, seu rosto estava apoiado em meu ombro, mas ele é mais alto que eu, sua coluna estava toda torta, mas isso não o impedia de manter o braço ao meu redor.

—Nathan…? -Pergunto de repente, tentando escolher apenas uma pergunta das tantas que eu tinha em relação à ele.

—Hum? - Murmurou ele, sem abrir os olhos.

—Você acreditava que um dia algo de Nárnia viria a acontecer conosco?

Nathan não responde de imediato. Achei que ele havia pegado no sono.

—Sim, eu acreditava. -Diz ele, permanecendo do jeito que estava. Eu fitei as pegadas de sangue que deixamos pelo local ao caminharmos.

—Eu achei que nada ia acontecer comigo. -Admito, abaixando os olhos.

Nathan se endireitou, olhando para mim.

—Como é? -Perguntou ele, franzindo o cenho.

—Isso mesmo que você ouviu. Eu pensava que nunca teria a chance de participar de uma aventura de Nárnia…

—Mas... Mas você sempre acreditou... - Diz-me ele, confuso. Dei um sorriso mínimo, mas sem um pingo de humor.

—Sim, mas eu não me considerava digna.

—Você? Não ser digna? Você só pode estar de brincadeira comigo! Não conheço alguém que seja mais merecedora que você! O que eu não acredito é nessa sua falta de fé em si mesma Laura. -Ele se irrita comigo, afastando o braço de mim para então cruzá-lo junto ao outro braço na frente de seu peito. Fico quieta, eu não sabia o que dizer mesmo... Nathan também se cala por um segundo. -Você está mesmo falando sério?

O tom da voz dele se amenizou. Suspiro.

—Sim. Não posso mudar algo que foi um fato em minha vida.

—Por quê?

—Meus tios... Até mesmo o primo deles, o Eustáquio, todos conheceram Nárnia na infância ou já na adolescência. Nenhum deles foi para lá já adultos. Eu tenho 20 anos, Nathan, e nunca tive contato com Nárnia se não pelas histórias. Depois que nossa formatura passou, quando atingimos a maior idade, e nada havia nos acontecido, eu comecei a pensar que nunca veria Nárnia como sempre desejei, pois eu não tinha mais idade de uma criança. Eu já não era mais digna.

Ele me olhou, sua mandíbula e os olhos tensos. Nathan fechou os olhos e, suspirando, disse:

—Ah, entendo… mas se agora isto está nos acontecendo, deve haver uma razão para isso. Aslam não permitiria que lutássemos sozinhos sem um propósito maior. Eu sei que há uma explicação para tudo.

Sorri, apoiando minha cabeça na estante às nossas costas.

—Que luta, heim? -Digo, surpresa com nosso desempenho.

—Você se saiu bem até, para alguém que nunca lutou na vida.

—Obrigada, eu acho... Você também não foi nada mal…

—Vi você dando uma olhada no pessoal do nosso grupo. Como eles estão?

—Bem, todos estão intactos... Bem como Aslam havia dito.

—Isso é bom- ele diz, fazendo um careta- isso nos poupa de muita coisa.

—Certamente -concordo, abraçando meus joelhos e pousando meu queixo sobre eles.

Mas um momento de silêncio se passou.

—Como você está se sentindo? -Perguntou ele, de repente.

—Por que pergunta?

—Bom -hesita ele-, esta é a primeira criatura viva que você já matou, não é?

—Isso não é exatamente verdade... -sorri- já matei muita aranha em meus vinte anos.

Nathan riu.

—É, você está se saindo muito bem mesmo... Ei, você está com sede?

—Com certeza sim.

—Vamos ver se a água também não congelou no tempo nos bebedouros então... -Diz ele se levantando com dificuldade, fiz o mesmo.

Caminhamos num ritmo lento em direção à saída, pois ainda estávamos muito cansados.

—Você acha que veremos Aslam novamente antes que o tempo volte ao normal? -Perguntou Nathan.

Nosso passos faziam ruído irritante e agourento que tentei ignorar para responder.

—Não sei, mas espero que sim. Se não, como vamos explicar uma biblioteca destruída e em chamas e com um dragão morto bem no meio disso tudo?

Caminhamos por mais alguns momentos quando senti a presença de alguém caminhar atrás de nós. Olho para trás, já não assustada. Eu já sabia de quem se tratava.

—Aslam!- Digo, feliz em vê-lo novamente.

—Agiram bem, crianças, mas creio que este é apenas o início de uma longa jornada para ambos. E devo lhes avisar, que vocês podem não ter tudo o que precisam e não posso prometer estar por perto sempre, mas quero que saibam, que estejam onde estiverem, eu sempre estarei vigiando-os, cuidando de vocês... Mas isto são coisas futuras, vamos nos concentrar no agora. -Disse o grande Leão, seu rosto era sério, mas também solene.

—Aslam -hesito por um momento, Ele me olhou, encorajando-me a falar -, pode nos explicar o... A razão disso? Como esse dragão chegou em nosso mundo?

—Ah, sim. Desde a infância, vocês ouviram de homens e mulheres humanos que iam e vinham de Nárnia, mas nunca se perguntaram se era possível que narnianos e os habitantes de seus países vizinhos poderiam fazer o mesmo.

—É verdade... -Murmurou Nathan. -E isso é possível?

—Sim, é possível, mas não acontece com muita frequência por algumas razões. Uma delas é que, quando um habitante de Nárnia vem para este mundo, ele o faz por meios próprios, geralmente por meios que ofendem a lei e a magia profunda de Nárnia. E por isso, aquele que o fizer pagará caro por seus atos...

—Algo como… magia negra? -Questionou Nathan.

—Sim- respondeu Aslam. -Venham comigo.

Aslam deu meia volta, voltando para o local onde o dragão jazia, parando perto do local onde o sangue se espalhava. Eu usava a lanterna para iluminar o local durante todo esse tempo. Sem cerimônias, Aslam assoprou em direção à criatura. Algo começou a acontecer logo abaixo de nossos pés: todo o sangue espalhado pelo local começou a escorrer direção ao corpo inerte do dragão, como se estivesse sendo drenado.

A cabeça do dragão rolou, sozinha, para junto do corpo, quando o sangue entrou totalmente dentro da corpo, a cabeça grudou ao corpo, mas estes permaneciam ainda separados pela fenda. As cicatrizes, ferimentos e flechas permaneceram ali. Foi quando o corpo do dragão começou a diminuir, gradativamente, tomando a forma de um homem morto.

Sem evitar, solto um grito de exclamação e de puro horror.

Aslam olhou para o corpo do homem com muita tristeza e Nathan tinha o rosto tão fechado e impossível de ser lido.

O homem tinha a aparência de um senhor de 40 anos, era totalmente bronzeado, ainda tinha duas flechas fincadas em ambos os olhos, a garganta cortada e seu corpo estava nu, cercado de cicatrizes profundas.

—Este homem é Larash, um traidor da coroa de Arquelândia, mercenário das terras calormanas. Ele foi exilado junto de sete outros mercenários ao deserto ocidental até o fim de suas vidas. Entretanto, um feiticeiro os encontrou, salvou-os e juntos começaram a criar planos para tomar Nárnia, Arquelândia e Calormânia, planos de vingança e planos para impedir que o destino de Nárnia se cumpram. Este homem se voluntariou para vir a este mundo, tentando cumprir seus planos de vingança e, ao mesmo tempo, tentando impedir que a herdeira do quarto trono de Nárnia viva para cumprir seu papel.

Certamente, eram muitas informações a serem digeridas de uma vez só. A herdeira do quarto trono, por pura dedução, acredito que isso se refira à mim, já que minha mãe fora uma rainha de Nárnia, quanto a questão da vingança eu já não sabia dizer.

—Então este homem se ofereceu para nos matar, sendo o portador de feitiçaria pesada? -Pergunto. -É isso mesmo?

—Sim, Laura. Ele tinha um forte desejo de vingança e sua missão era de realmente matar vocês. Eu não poderia interferir, mas paralisei o tempo e trouxe de Nárnia as artilharias usadas por vocês. Assim vocês tiveram chances reais de vencer.

Entendi o que Aslam queria dizer e estremeci ao tentar imaginar uma criatura com aquela aparecer em nosso mundo sem mais nem mesmo. A essa altura estaríamos todos mortos.

—Mas se vingar? Se vingar de quê? De algo que minha mãe ou meus tios fizeram?

Aslam olha para Nathan por um segundo.

—Creio que, quando estiver na hora certa, a pessoa certa terá o prazer de revelar-lhe toda a verdade -Aslam volta a olhar para mim. -Está bem para vocês?

—Sim... -Responde Nathan.

—Claro. Como quiser Aslam. -Respondo, num suspiro.

Aslam sorri para nós, permitindo que nós o tocássemos, eu não hesitei em acariciar sua juba, tão volumosa e brilhante.

—Crianças, devo fazer o tempo voltar à sua normalidade agora, mas antes de ir, deixo-lhes um conselho: Não há força maior que a fé, o amor e a sabedoria juntos para um único propósito. Lembrem-se disso quando a noite estiver mais fria e o mundo pareça mais sombrio.

Nathan e eu acenamos com a cabeça, nos afastando em alguns passos, Nathan passou o braço por meu pescoço, dando me apoio -ele devia sentir o quanto esse momento era difícil para mim-, mas sabemos que isso não era uma despedida, mas sim um até logo.

—Até breve, crianças... -Com isso Aslam soprou em nossa direção. Eu, que me sentia péssima, imunda e cansada até o último fio de cabelo, senti-me mil vez mais limpa, desperta e muito melhor como eu não me sentia a muito tempo, fecho os olhos, aproveitando aquela sensação maravilhosa.

Quando abri os olhos de novo, estava de pé no meio da biblioteca. Aslam havia sumido, junto do homem morto, dos destroços deixados pelo incêndio.

Nathan estava parado à meu lado, suas roupas voltaram ao normal, como se nunca tivessem passado por uma batalha. Seu rosto estava limpo e o cabelo dele estava todo penteado para trás novamente. Olho para mim mesma vejo que eu estava novamente de sobretudo e cachecol, eu me sentia muito mais limpa agora do que antes dessa loucura ter começado.

A biblioteca havia voltando ao que era, os livros e estantes estavam em seus devidos lugares novamente e o fogo na lareira estalava, a neve caia e as vozes em conversas eram ouvidas. As espadas, o escudo, a aljava sumiram.

O tempo voltará ao normal e, com ele todo o resto flui junto.

—Laura? -Perguntou Nathan, de repente. Eu dei um belo sorriso.

—Fora ter matado um homem -o que foi uma verdadeira tortura- transformado em um dragão, essa foi a experiência mais legal da minha vida! Nem acredito que vimos Aslam em pessoa!

—Não era bem isso que eu ia dizer... Mas... -Ele pegou meu braço, erguendo-o. Foi então que eu vi que minha mão segurava um equipamento prateado com força: a laterna! Devo tê-la segurado com tanta força quando tudo voltou ao normal que... ela acabou ficando comigo!

Eu olho, de olhos arregalados para a lanterna e depois para Nathan. Eu queria dizer algo, mas minha garganta se fechou em pura felicidade e encantamento.

Nathan sorriu em resposta, mas antes que pudesse responder algo, a voz de Victor foi ouvida por nós dois, interrompendo Nathan:

—Laura? Nathan? Como vocês saíram daqui tão de repente? Eu nem os vi se levantarem.

—E o que vocês estão fazendo tão próximos? -Perguntou Jessica com um sorrisinho na cara.

Foi aí que me toquei que Nathan ainda tinha um braço ao redor do meu pescoço.

Meu rosto ficou vermelho e saí devidamente de perto de Nathan que riu. Acabei sorrindo e ri também. Tanto faz como parecemos agora -um casal que não quer se assumir, talvez?- aos olhos dos nossos colegas. Ninguém vai me tirar a alegria de ter visto Aslam cara a cara e ainda ter a confirmação final de que Nárnia existe de fato!

—Se contarmos, vocês não iam acreditar. - Dei de ombros e fui me sentar novamente, acompanhada de Nathan, que ainda sorria muito. Guardo com cuidado a lanterna em minha bolsa. Eu sabia que todos estavam nos olhando quando Nathan sussurrou em meu ouvido: “Acho que a princesa acaba de provar que merece seu lugar ao sol de Nárnia”, eu não me importei em rir e ainda respondi, ao pé do ouvido dele: “E a princesa adoraria nomear-te como cavaleiro e conselheiro estrategista de Nárnia”. Ao ouvir isso, Nathan riu.

—Seria uma honra, alteza. -Sussurrou ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bônus 1:

Os dados a seguir são inventados para propósitos desta história e não são oficiais em As Crônicas de Nárnia:

Lúcia Pevensie:
(Título em Nárnia: Rainha de Nárnia; Lúcia, a destemida)
Nascida em 15 de abril de 1932; formou-se em 1954, em literatura inglesa (neste ano, Edmundo se formava na mesma universidade, cursando direito) e, posteriormente se formou em 1960, agora em literatura francesa. Seu primeiro livro é publicado em 1961. Seus maiores sucessos são as obras “O Leão”, “O Trono de Vidro” e o mais polêmico, “A Arte de Acreditar”.
Infelizmente, a escritora morreu num trágico acidente de trem em Londres, deixando duas obras completas sem as publicar, uma obra pela metade e diversos rascunhos e um portfólio completo de obras planejadas pela própria autora.
Os direitos autorais de todas as obras da escritora Pevensie estão divididos entre a família e a editora oficial dos livros publicados até então, conforme determina a lei.
Lúcia não era casada e não possuía filhos. Muitos leitores acreditam que a autora possuía um ex-namorado querido ou um amor não correspondido, não podemos os criticar, pois, em sua obra literária “O Trono de Vidro”, a autora descreve algumas cenas de alegria e de sofrimento amoroso com tantos detalhes ricos que deixa a entender, para qualquer um que o lesse, que nossa escritora querida era totalmente apaixonada por algum rapaz, mas que talvez ambos se achavam indignos, ou qualquer coisa assim, e isso acabava os impedindo de ficarem juntos. Tudo isso se tornou um mistério e podemos afirmar que, se isso era ou não verdade, a escritora guardou tal informação à sete chaves e as levou consigo para dentro daquele vagão de trem.


§
Até mesmo eu, que escrevi isso, ao ler o final da biografia de Lúcia em nosso mundo pensei “Nossa, que pesado”, mas aqui essa é realidade, vou fazer o quê? (Quanto ao segredo dela, nem me perguntem se é verdade ou não, quem é o rapaz e etc., eu mesma tenho um certo medo de descobrir).

§
Bônus 2:

"BBC de Londres, primavera de 1963.
DIGORY E POLLY KIRKE SE MUDAM PARA OS E.U.A.:

Digory Kirke, remomado e muito querido ex-professor universitário e sua esposa, Polly, aclamada ex-diretora do Teatro Municipal de Londres se mudam na próxima sexta-feira para Nova York, para morarem com o filho (Thiago Kirke) e família. A mansão dos Kirkes comtinuaram sob propriedade dos Kirkes, mas sob a tutela da família Pevensie.
Londres agora saúda a família Kirke, sua grande tradição trouxe à nossa cidade um belo show na área da educação e das artes cênicas. É grande respeito e saudades que todos nós, da família BBC, desejamos uma viagem e um boa estadia no Novo Mundo."


§
E então? Gente, eu queria ter escrito um segundo bônus melhor, mas com a aproximação dos feriados foi muito difícil escrever algo decente, mas fiz o que pude.

Ainda assim, comentem! Eu amo saber o que vocês estão achando e se vocês tiverem alguma dúvida, não se acanhem, tirem suas dúvidas, e eu as responderei da melhor forma possível!

Como não tenho mais nada a acrescentar por hoje, só posso dizer espero que tenham tido uma boa Páscoa!!!
Até mais ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Herdeira do Quarto Trono" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.