A Herdeira do Quarto Trono escrita por R31


Capítulo 4
Equilibrium - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, senhoras e senhores, meninos e meninas, guerreiras e cavaleiros!!! Bem vindos à esta aventura épica!
Me sinto muito feliz em estar a postar hoje como eu vinha planejado anteriormente.

Agora, para não perder o costume, eu vos digo: sentem-se e relaxem, pois o tempo é curto e o caminho é longo!

Ps: Erros ortográficos podem ter passado despercebidos na hora que revisei o texto para postá-lo, levando em conta que metade do texto foi escrito no celular e a outra metade no computador, eles podem ser comuns, por isso venho a pedir desculpas desde já.



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Nada acontece duas vezes da mesma maneira”.

As Crônicas de Nárnia.

Aslam. O próprio Aslam estava de pé diante de nós, tão majestoso e magnífico quanto sempre imaginei... Sempre tentei imaginar como seria o conhecer de fato. Pena que quando coloquei meus olhos sobre Ele pela primeira vez, não foi nada como eu pensei.

O cenário: chamas, cinzas e neve para todos os lados, a ocasião era sob um ataque de um dragão de fogo; na biblioteca da universidade, o tempo à nossa volta estava, na verdade, congelado e eu estava suja de cinzas, suada, chorando, com medo, jogada no chão ao lado da pessoa que eu mais tentei evitar nos últimos anos da minha vida.

De forma alguma; o encontro mais desejado da minha vida não possui nem dois por cento da dignidade que com a qual eu o imaginei.

Entretando, quando o Grande Leão olhou para mim e para Nathan, nada mais parecia ter importância. Tudo se resumia à Ele e isso bastava.

—Levante-se, Laura, filha de Eva. Levante-se, Nathan, filho de Adão. Estou aqui para ajudá-los, mas  não se esqueçam de que esta luta é de vocês. Vamos, levantem-se!

Com dificuldade, me levantei, o ar estava cada vez mais poluído pela fumaça e só então me permiti olhar para o dragão, que havia recuado diante da presença de Aslam. Recuado, mas não havia fugido. O ser feito de chamas avaliava suas opções com calculada frieza, mas desta vez seu tamanho já não me intimidava.

Nathan, que acabara de levantar segurou minha mão e puxou-me para junto do Grande Leão.

—Aslam, como vamos derrotá-lo sem atingir aos outros? -Perguntou Nathan se referindo ao dragão que rugia e bufava a pouco mais de vinte metros de nós. Aslam olhou para a mesa dos nossos colegas e sorriu. Nesse momento, tive de reprimir a vontade de tocar o rosto e a juba de Aslam. De alguma forma, eu sabia que o momento ainda não havia chegado.

Ah, se minha mãe pudesse me ver agora...

—Estão seguros pelo tempo. O que acontece aqui não os afetará. Agora fiquem atentos e concentrem-se. As coisas vão ficar um pouco complicadas.

Aslam se inclinou sobre as patas dianteiras e rugiu, mais alto do que o dragão e no momento seguinte, várias coisas aconteceram.

Uma janela atrás de nós se quebrou, um vento tão forte quanto o de um furacão entrou por ela carregando muita neve. A lareira se apagou, assim como os lutres no teto e os abajures sobre as mesas. O vento trouxe um ar mais puro e eu, apesar do grande frio, o respirei com vontade. O incêndio que havia se iniciado por causa das labaredas de fogo liberadas da garganta do monstro se apagou.

Mas o mais estranho foi que o dragão, que feito de chamas, recuou sob o vento e as chamas que o compunha foram se apagando também, sumindo como areia no tempo revelando o que havia realmente ali.

Um dragão de escamas negras e esverdeadas, cicatrizes horriveis cobriam mais da matade de seu corpo. Este, tinha metade do tamanho de anteriormente, mas me agora me pareceu ainda mais feroz.

—Era uma... Ilusão óptica? -Perguntou Nathan, me parecendo mais irritado agora.

—Sim -responde Aslam- para que ele parecesse maior do que realmente é.

—Mas por quê?- Pergunto, sem entender a sensação de que eu era a única que não entendia ainda o que se passava.

—No momento certo, Laura, você entenderá.

De repente tudo ali ficou mais escuro. Aslam não estava mais à vista, apesar de eu ainda sentir sua presença fortemente.

Olho para Nathan, vi que ele ainda avaliava o dragão e vi a mandíbula dele se retesar.

—Nathan? -Chamo e ele olhou para mim.

—Aslam ainda está aqui, Laura. Eu sinto isso. Mas como ele disse, essa luta é nossa.

—Sim, eu sei... -Suspiro, passando minha mão no rosto para limpar as lágrimas do medo que eu já não sentia mais. -Mas bem que esse luta poderia ser com um bicho menos feinho…

Nathan ri do meu comentário, mas passando a olhar em volta.

—Hã… O que você está procurando, Nathan?

—Armas, oras. Como vamos derrotar um dragão do ex… er, quero dizer, como vamos derrotá-lo usando cadeiras e estátuas?

Na luz parcial que entrava pelas janelas, vejo que algo mudou no semblante dele. Não era apenas concentração e seriedade, era algo mais profundo do que isso.

Tudo bem, temos de derrotar o bicho, mas em minha mente eu só conseguia vibrar de felicidade.

Eu conheci Aslam! Meus tios estavam certos! Não acredito que minha mãe tentava diminuir e apagar a coisa mais legal que poderia acontecer à alguém! Espere só até ela saber disso! Ah, se ao menos meu pai pudesse ver o que eu vi! Eu vi Aslam, eu vi Aslam!!!!!

Caham, bem, olho ao meu redor, tudo estava mais sombrio, mas se não fosse assim, eu não teria visto uma luz piscando sobre a lareira.

—O que é aquilo? É uma lanterna? -Pergunto. Nathan olhou na mesma direção e seu rosto se iluminou.

—Isso! Vem pro papai coisinhas lindas! –Exclama Nathan, correndo em direção á lareira. Minha sobrancelha se arqueia. O que será que ele viu que eu não vi?

Olho para o dragão, preocupada com um novo ataque, mas pelo fato de que as rajadas de vento de Aslam terem afetado até mesmo seu poder de fogo, o mesmo encontrava-se tossindo e rugindo, como se estivesse engasgado, chegava a parecer engraçado isso. Ao menos, estava explicado por que Nathan correu até a lareira sem se importar de ser atacado ou não.

Resolvo aproveitar a brecha e corro na mesma direção de Nathan e lá, o vejo escalando a lareira, pois a luz a piscar estava presa á um três metros de altura do chão.

—Laura, me ajude... –Chama ele, já com as pernas penduradas no ar, tentando alcançar salgo que estava fora da minha visão.

—Como posso te ajudar? Nem sei o que você está fazendo.

—Só... Segure isto... Argh, vem cá, caramba... –Resmungou ele, tentava alcançar algo ainda. –Só um segundo... Fala sério! Ah, consegui! Laura! Pega aqui!

Aproximo-me mais, Nathan olha para baixo vem onde em me encontrava. Ele puxou o braço para trás, revendo alças de cintos, nesses cintos, encontravam bainhas e em cada uma delas havia uma espada.

—Aqui, toma. –Ele estendeu as espadas, mas como eu não as alcancei de primeira, tive de escalar meio patamar da lareira e finalmente, coloquei minhas mãos sobre ambas as armas. –Cuidado, são pesadas...

—Tudo bem. Pode soltá-las.

E assim ele o fez. As espadas penderam para baixo quase sem controle e assim, eu quase fui junto, mas foi po pouco. Desci ao chão bruscamente, mas ambas as espadas não caíram ao chão (nem eu).

—Está tudo bem? Conseguiu? –Nathan perguntou, por cima do ombro, havia mais alguma coisa, pois ele ainda se esforçava em tentar alcançá-lo.

—Sim. –Digo, olhando para as espadas.

—Espera aí que tem mais... Ah, aqui, segura.

Assim que olhei para cima, Nathan segurava um escudo de prata com um sol de ouro e um leão vermelho desenhado na fronte. Estendi a mão para cima e Nathan o soltou.

Assim que pego o escudo no ar, achei que eu cairia com seu peso, mas pelo contrário; o escudo era mais leve que as espadas, nem parecia que era de verdade.

Cuidadosamente coloco o escudo no chão e, enquanto Nathan bufava para alcançar mais o que quer que fosse sobre a lareira, o dragão rugia e bufava tentando reavivar o fogo em sua garganta. Puxei uma das espadas para fora de sua bainha, seu brilho prateado, mesmo na parca luz era a coisa mais linda que eu já vi. Eu podia sentir o poder de Aslam emanando em sua estrutura, mas seu designer não se parecia em nada com o que tio Pedro descrevera das espadas narnianas, pelo contrário, pareciam ser algo bem diferente, mais simples e ao mesmo tempo... Não sei, exóticas seria a palavra certa?

Demorou alguns segundos, mas de repente, Nathan saltou da lareira, pousando bem ao meu lado num baque surdo, mas com a postura perfeita. Ele exibia um sorriso confiante no rosto, ao seu redor, havia a alça de uma aljava cheia de flechas, um arco numa mão e uma lanterna na outra.

—Tudo isso só para derrotar um dragão? –Questiono.

—Acho que este não é um dragão qualquer... –Esclareceu ele e seus olhos pousaram sobre as espadas em meu poder e se seu rosto ficou indecifrável.

Equilibrium – sussurrou ele, com os olhos fixos nas bainhas.

—O quê? –Pergunto, sem querer, Nathan me olha surpreso, como se fosse pego em flagrante.

Eki... –disse ele, apontando para a espada parcialmente para fora da bainha na minha mão. – E Libriun... – Agora ele apontou para a espada totalmente presa na bainha ainda. Ele me olhou, tirando o arco e a aljava do ombro, esclarecendo-me o significado das palavras. –Equilibrium. São as espadas que, dependendo do grau de habilidade de que as portam, dão a mais perfeita sincronia para aqueles que a manejam, são espadas calormanas e somente duas pessoas tiveram o privilégio de usá-las juntas em batalha até onde se sabe...

Entrego á ele as espadas e recebo em troca o arco, aljavas e a lanterna, estes sim me eram familiares – já ouvi falar tanto nesses objetos que sinto como se eu já tivesse os tocado e usado antes, mas após prender a aljava seguramente no troco e prendido a lanterna na cintura, olho para Nathan, que se concentrava em prender o cinto com as bainhas em sua cintura, franzi o cenho e a pergunta sai de minha boca sem permissão:

—Como você sabe de tudo isso?

Ao contrário do que eu imaginei; Nathan não hesita em me olhar e responder na lata:

—Eu sei disso porque foi seu tio quem me contou. –Ele ajeitou o cinto e as bainhas, puxando a espada Libriun de sua bainha e tirando do chão o escudo de prata. Agora que olhei parcialmente para ambas as espadas, vejo o que as diferenciava: ambas tinha punho dourado, mas os brasões em suas gemas eram de cores diferentes, Eki era branco perolado e de Libriun era preto reluzente.

Eu o encarei, sem saber o que dizer. Ao menos, isso fazia sentido.

Edmundo e Pedro tiveram diversas conversas de homem para homem com Nathan, falavam sobre coisas que eu não tive muito interesse em ouvir porque também gostava de ouvir minha tia Lúcia, gostava de ouvir quando ela falava de sua viagem no navio de guerra narniano, o Peregrino da Alvorada, sendo a única mulher a bordo. Não devia ficar surpresa por ter algo que meus tios disseram à Nathan, mas não para mim. Até mesmo os homens mais honrados possuem segredos.

Mas não tive muito mais tempo para pensar a respeito, pois nossa brecha havia chegado ao fim.

O dragão rugiu, investindo contra nós com suas garras. Nathan se esquivou para a esquerda e eu fui para a direita, escapando por um tris das garras afiadas da criatura. Assim, conosco fora do caminho, o dragão colidiu contra a lareira, o impacto causou rachaduras na parede ao lado da lareira de mármore branco.

—O que mais meus tios te contaram que poderiam ser úteis agora? –Gritei para Nathan, fugindo por um tris da cauda do dragão que havia ricocheteado na parede e na volta quase me atingiu.

—Não sei, deixa-me pensar! –Gritou ele, correndo, fugindo da mandíbula do dragão. Nathan cai escorregando pelo piso liso de baixo de uma mesa desocupada, se levanta e corre para se esconder atrás uma estante. –Espere, eu me lembro de algo: Pedro havia me dito que os dragões no mundo de Nárnia se concentravam em quatro lugares diferentes: os dragões dourados nas Ilhas depois das Ilhas Solitárias, os negros no país dos gigantes, os de fogo de Calormânia e os negros-esverdeados de Arquelândia. A julgar pela cor e pelas grandes cicatrizes em suas escamas, eu diria que este é um dragão de guerra de Arquelândia.

—Um dragão de guerra? Mas se for assim, por que ele não veste armaduras, nem nada? –Desvio outra vez da ponta da cauda do dragão, que desta vez quase me atingira na altura da cabeça. Meu tronco se inclina para trás e uma vez fora de alcance da visão e da cauda do dragão, corro para trás de uma estante da biblioteca.

—A pele dos dragões já são armaduras! – Esclarece Nathan, como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo, mas para mim, não era bem assim. Por um breve momento imaginei que, digamos que Calormânia e Arquelândia entrassem em guerra e ambos os exércitos tivessem dragões em suas tropas, os dragões da Calormânia já não estariam levando vantagem por já serem feitos de fogo?

Acima da estante, vejo a ponta da cauda do dragão passando, e por instinto, me agacho sobre os calcanhares, puxando da aljava uma das flechas e pondo-a sob mira no arco. Minha respiração ficou presa na garganta, parecia que o menor dos movimentos iria atrair a atenção do dragão para mim.

Pela visão periférica, vejo Nathan colar as costas na estante, também agachado sob os calcanhares, o escudo firmemente preso em seu antebraço e a espada em guarda, ele mal parecia respirar.

Aslam tinha razão: as coisas iam ficar um pouco complicadas agora.

Os olhos do rapaz logo adiante recaíram sobre os meus, indecifráveis, mas algo neles captou minha atenção. A coragem que senti com a presença de Aslam ainda estava aqui, mas a vontade de agir só se mantinha porque Nathan também estava ali. Eu não saberia dizer que, se eu estivesse sozinha, eu já não teria fugido da batalha ou não.

De repente, a estante ao lado de Nathan oscila, parecendo que iria cair sobre ele e, de onde eu estava, pude ver que era o dragão se movimentando perigosamente perto de nós, com isso, Nathan sai de trás da estante, o monstro ruge ao vê-lo e lança sobre Nathan uma rajada de fogo, era menor e menos concentrada que antes de Aslam aparecesse, mas ainda assim, era mortal.

Usando o escudo, Nathan se protegia ao mesmo tempo em que avançava para mais perto da criatura. Nunca vi coisa parecida fora dos livros, nem mesmo o cinema de nossa época poderia reproduzir a cena que se seguiu diante dos meus olhos com perfeição.

Como o monstro estava distraído, me permito me aproximar e ver melhor o que estava acontecendo.

Nathan e o dragão travaram uma luta mortal, quando o fogo cessou, Nathan ataca o monstro com golpes precisos e diretos, desviava das investidas das garras e se abaixava nos momentos certos, e eu nem sabia como descrever metade dos golpes que vi de ambos os lados.

Eu não deveria ficar surpresa pela habilidade de Nathan de manejar a espada Libriun, pelo que eu sabia, ele iniciou treinos de espada com meu tio Edmundo e nos anos que se seguiram, ele venceu vários torneios regionais e estaduais de esgrima no colegial, nas modalidades de sabre e florete também; só não se tornou esgrimista profissional porque preferiu cursar a universidade de direito.

—Pela juba do Leão, Laura, vai ficar aí parada? –Grita Nathan furioso, talvez se esquecendo de que eu nunca estive em uma batalha real. –Me ajuda, caramba! –Gritou ele, distraindo-se por um segundo.

Qual é?! A pior briga na qual eu já estive envolvida foi na festa de formatura do colegial há três anos e nem era eu quem estava levando e dando socos e cotoveladas! Então, fora isso, eu sabia, no máximo, desferir um soco decente em alguém!

Entretanto, no segundo seguinte, a pata dianteira esquerda do dragão de Arquelândia se chocou contra o escudo de Nathan, derrubando em seguida. Percebi que se o dragão soltar uma labareda de fogo sobre Nathan daquela distância, não haveria escudo que o salvasse. E era exatamente isso o monstro pretendia fazer!

Senti meu coração palpitando na minha garganta, como se ele estivesse tentando escapar por ali quando vi o dragão puxava ar pela garganta.

—Não... – murmurei, quase sem voz. –Não! –Gritei, como se tivesse acabado de despertar de uma grande onda de estupor, me lembro do arco e da flecha em minhas mãos, já prontos para disparar.

Sem nem parar para pensar em ter cuidado na hora de mirar, ergo os braços, sinto a pressão do cordão do arco sobre a flecha e minha mão, e assim que tive uma boa visão da face do monstro, notei um ponto promissor e soltei a flecha.

Com a flecha no ar, a corda do arco ricocheteia em meu braço, eu solto uma exclamação de dor, mas esta não se comparava ao rugido dragão, que curvou a cabeça para trás e as chamas que saíram de sua garganta foram em direção ao teto.

Eu o acertei? Não acredito!

Eu acertei-o! Bem no olho!

Nathan aproveitou a brecha, se levantando e correndo para estar ao meu lado.

—Bela pontaria, princesa, só que a luta ainda não acabou -ele precisou gritar, já que o dragão rugia de dor e furia, soltando fogo sem nem ver o que atingia. -Mas, não se preocupe, eu tenho um plano! Eu o distraio, você corre pela retaguarda e sobe nas costas dele. Quando você chegar ao pescoço dele, tente chegar à cabeça dele e em seguida, tente ofuscar a visão do outro olho dele… quando fizer isso, tentarei chegar mais próximo da garganta por baixo e ali, tentarei atingi-lo com a espada. Quem sabe eu não apago o foco do fogo desse bicho?

Eu o olho, sem acreditar em como isso me pareceu crueldade.

—É ele ou é nós, Laura -diz ele, vendo a expressão em meu rosto. -Não existe nenhum tribunal que nos julgue por estarmos defendendo nossas vidas.

Engulo em seco e me limito em ascentir com a cabeça. Nathan suspira, segura meu ombro, puxando-me para si. Nathan preciona seus lábios em minha testa -um sinal de respeito e de proteção-, sorrindo para mim em seguida.

—Ânimo, princesa. Estamos vivendo nossos sonhos. -Piscando com o olho esquerdo, Nathan me solta e corre, em direção ao monstro, a espada em posição de ataque. Com um salto, ele toma e impulso, cravando a espada na perna dianteira do dragão.

Balanço a cabeça, sorrindo. Sim, estou vivendo uma parte dos meus sonhos. A parte ruim, mas ainda assim, era parte dos meus sonhos…

§

Olho para a coluna negro-esverdeada na qual eu teria de escalar caso realmente quisesse me sair vitóriosa da minha primeira batalha da minha vida e suspirei, respirando fundo.

Colocando o arco preso ao meu tronco, dou alguns passos para trás antes de tomar impulso numa corrida. Pulo sobre as costas do dragão e minha difícil tarefa se iniciou. Como Nathan encarava o dragão de frente, o monstro não parecia notar que havia alguém subindo suas costas, usando suas escamas. Mas o problema estava justamente neste fato. O monstro não parava quieto, tive de me segurar bem diversas vezes para não cair e, antes mesmo antes de chegar à altura das asas do dragão, meu rosto estava encharcado de suor, meu cabelo, grudado em minha pele e eu me xingava por ainda estar de sobretudo e de cachecol. Minha pele pinicava no pescoço e isso me irritou bastante.

O mais estranho era que eu me sentia numa atividade que misturava um touro mecânico com uma parede de escalada, algo que, pessoalmente, não pretendo me oferecer para fazer de novo.

“Que Aslam me dê forças”, suplico em pensamentos. Tenho que admitir uma coisa: eu estava apavorada, tanto por causa do dragão quanto pelas vertingens que eu sentia ao olhar para baixo. Se tinha um coisa que eu não superei em minha vida, essa coisa é medo de altura.

Obrigando a mim mesma a engolir o medo, sigo em frente, me agarrando em seguida à asa direita do monstro quando este de um pulo para trás e outro para frente. Eu sabia que isso se devia aos golpes de Nathan, mas isso não impediu-me de me sentir tentada a pedir que ele pegasse leve enquanto eu ainda estava pendurada nas costelas e asas da enorme criatura.

Cerrei os dentes e fui em frente. Demorou um bocado de tempo a mais do que eu esperava, mas enfim havia chegado à cabeça do dragão.

Finalmente!

—Ah francamente! -Resmungo em voz baixa, devido a vertingem que fez minha visão se turvar por um momento. Tendo visão das mesmíssimas coisas que o dragão via, tive a ampla visão de como estava progredindo a luta e não gostei nada do que vi. Nathan, que tinha metade do cachecol virado em cinzas agora se esgueirava justamente atrás da mesa onde nossos colegas ainda se encontravam presos no tempo e o dragão lançou suas lanças naquela exata direção.

—NÃO!!! -Grito. Foi por um milagre que o dragão não me ouvira. -Droga, Nathan! – Grito. Posso ver que o dragão acompanha, com o único olho bom, os movimentos de Nathan, que se desviava das chamas sobre a mesa de nossos amigos. O curioso foi notar que as chamas não atingiram as pessoas sentadas à mesa, como Aslam havia previsto e isso me deu um enorme alivio.

Entretanto, assim que vejo que meu objetivo á minha frente, o olho que ainda enxerga do dragão, um aperto se forma em minha garganta. A flecha com a qual o atingi se projetava parcialmente do outro olho do monstro, e de lá saia uma grande quantidade de um líquido escuro, de aparência viscosa e de cheio forte, percebi que isto era o sangue de dragão.

Minha mão foi até a aljava de flechas, mas hesitei.

Eu tinha que admitir, eu não queria fazer isso, não queria tirar a visão total dessa criatura ou mesmo tirar-lhe a vida, mesmo que sua única intenção ao estar aqui é matar a mim e à Nathan. Cogito a hipótese de usar a lanterna para distraí-lo, mas de que isso nos adiantaria; um momento mínimo de distração?

Sim, seria exatamente isso que isso que conseguiríamos.

Mas e depois?

Com um rugir, o dragão lança mais de suas chamas, que passam de raspão em Nathan, mas o calor emitido certamente o afetou, já que o rapaz ofegou de dor, sem se controlar e gritou:

—LAURA!

—Vamos, filha de Eva! Faça o que tem de ser feito! – Sussurro para mim mesma, furiosa por meu medo de agir, e no seguinte momento, tomo minha decisão; a primeira de muitas escolhas complexas que significariam a vida ou a morte para alguém, mesmo que fosse para mim mesma.

Ao respirar fundo e tomar impulso, eu sabia que isso seria algo do qual eu jamais iria conseguir esquecer, mas fui em frente mesmo assim. Elevando os braços acima da cabeça, segurando firmemente a flecha, com a ponta projetada para frente, uso meu impulso e cravo a fecha diretamente na pupila do olho intacto do dragão, de onde logo sairia tanto sangue quanto do outro olho. O dragão deu um gigantesco rugido de dor, labaredas de fogo se ergueram quando ele se retesou de dor para trás, com tamanha violência que fui arremessada.

Minhas costas e pernas se chocaram contra uma estante ainda intacta com força, cai no chão num baque que fez minha cabeça girar, sinto vários livros caírem sobre mim, por sorte, a estante era tão pesada que quando me choquei contra ela, ela apenas oscilou um pouco para o lado e voltou á sua posição original.

Com a cabeça girando um pouco, apoio meu tronco sobre os cotovelos e ergo o olhar para ver como Nathan se saia agora que tinha a vantagem de ver bem sobre o dragão. Agora, praticamente toda a biblioteca estava em chamas, o ar estava carregado e difícil de respirar, logo morreríamos sufocados pela fumaça se isso tudo não acabasse logo ou se não sairmos logo daqui. O pior era que, agora que o dragão não via mais nada, ele lançava sem tréguas suas chamas, para todos os lados, sem saber se atingia ou não algo em seu caminho, Nathan não deixava por menos, ele atacou o dragão, perfurando e arrancando boa parte das escamas negro-prateadas da pata dianteira do monstro que, em puro reflexo, abaixou a cabeça naquela direção, atingindo a própria ferida em sua pata com suas chamas.

Levantei-me com dificuldade e corri para perto de Nathan, o dragão agora havia cessado suas chamas e um som diferente saiu de sua garganta, um gemido de dor, sua pata estava completamente chamuscada.

Quando me aproximei de Nathan e ele me viu, Nathan deu um sorriso meio que de lado e, apontando á criatura na nossa frente, disse:

—Dá para acreditar que essa criatura tola não é imune ao próprio fogo? Que patético...

Eu o olhei, sem acreditar que ele se divertia com isso. Eu sei que essa criatura desejava nos matar, mas agora Nathan não via que isso já passava dos limites?

—Quê que foi? Tá me olhando assim por quê? –A sobrancelha dele se ergue, bufei tentando decidir o que eu deveria ou não fazer. Olho para o escudo chamuscado dele, para a manga arrancada da jaqueta, o cachecol havia sumido de vez e no lugar havia uma queimadura de primeiro grau em seu pescoço. Imaginei o quanto aquilo iria arder quando tudo isso chegasse ao fim. E tentei por um segundo conciliar a visão que eu tinha do cretino que ele era com a nova visão do herói que eu tinha acabado de ver em ação e balanço a cabeça em negação.

Como é possível haver duas personalidades tão diferentes dentro de um mesmo ser humano?

—O que eu fiz desta vez? – Bufou ele.

—O que você está esperando? Será que tanto nós quanto essa criatura á nossa frente já não sofreu de mais? O que você está esperando, Nathan?!

—Será que sofreu mesmo? –Ele resmunga, passando os olhos pela lâmina da espada que carregava e me evitando. Vejo que havia um corte em sua mão. –Não acha que deveria saber o que está acontecendo antes de criticar minhas ações?

Minha voz reagiu antes mesmo da minha mente:

—Eu tento saber o que está acontecendo, mas você nunca quer me contar! – Grito com muita raiva e eu soube que isso foi um erro no mesmo instante. Obviamente, agora o dragão se orientava totalmente pela audição, já que agora estava cego e o ar estava impregnado de fumaça. Assim que ouviu minha voz, o dragão lança chamas em nossa direção. Nathan me puxa para trás com força, tirando-me do caminho.

—Que tal conversarmos sobre isso em outro dia? Já estou ficando farto desse bicho. –Diz ele em um murmúrio irritado, me puxando para trás de várias estantes. –A audição dele é nosso maior inimigo agora, então se concentre em falar o mínimo possível.

Paramos bem ao lado da porta de saída da biblioteca, onde a própria bibliotecária estava parada no tempo. Quando o tempo parou, ela estava limpando uma lente de seus óculos e fazendo um careta de desagrado. Ah, se ela soubesse o que está acontecendo, certamente ela veria que um grupo de alunos jovens é a menor coisa que poderia ocorrer á uma biblioteca de uma universidade. Quem é Mack Salomon perto de um dragão de verdade, afinal?

Não saímos da biblioteca, vi Nathan se sentar agachado sobre os calcanhares, com as costas apoiadas na estante mais próxima e não penso duas vezes antes de fazer o mesmo. Tento acalmar minha respiração, de olhos fechados, apoio minha cabeça nos joelhos e me concentro em apenas respirar, me recusando a lembrar do sangue saindo dos olhos daquela criatura.

—Eu sei como o matar, Laura – sussurrou Nathan de repente, mas não ousei levantar a cabeça apenas para ter de o olhar -, mas para isso, vou precisar da sua ajuda.

Senti vontade de dizer que eu não chegaria mais perto daquele dragão, mas seria algo muito infantil. Não havia a menor chance de acontecer um recuo agora.

—Seu tio Pedro comentou algo a respeito uma vez. –Continuou ele. Eu não queria, mas dessa vez tive de erguer a cabeça e o encarar. Nathan limpava o sangue de dragão na lâmina da espada na barra de sua jaqueta. –ele disse que há três maneiras de matar um dragão, dependendo da origem dele: arrancar a gema na testa ou arrancar as asas deles é duas dessas maneiras. A primeira se deve ao fato de que, atingindo um dragão que carrega uma gema em sua testa, você danifica e elimina o poder mágico que o criou. O segundo, o dragão morre por hemorragia e inflamação, este é um método de morte por causas biológicas. O terceiro, envolve algo mais complexo, digamos assim...

—Meu Deus... – Suspiro, agonizada só de imaginar o que teríamos de fazer.

—Nem me fale... – Diz ele, passando a mão no rosto.

—Pelo menos um de nós estava interessado nessas histórias de guerras e dragões. –Comento, sem querer. Ele sorriu.

—Você estava mais interessada em saber como era ser única mulher num navio de guerra na época em que seus tios me contaram tudo isso. Lembro-me disso como se fosse notem... – Nathan olha para mim, seu rosto sujo de foligens e suor, seu cabelo bagunçado de um jeito meio engraçado. –Você se lembra de que dois anos atrás, eu havia lhe dito que eu estava feliz por seus tios terem morrido? –Meu estomago se retesou no mesmo momento, como num estralo e logo eu lutava contra uma vontade repentina de chorar e de socá-lo ao mesmo tempo.

Não respondi, pois isso apenas me lembrava de uma das razões pelas quais eu o odiava com todas as minhas forças.

— Pois bem – continuou ele quando eu mais desejava que ele apenas calasse a boca –, eu menti. Eu sei que talvez você nunca vá entender, mas eu fiz aquilo, na época, para te proteger. Se sairmos bem dessa, eu gostaria de lhe explicar o motivo de eu ter me tornado um imbecil, se você me der essa chance. Mas por enquanto, eu quero apenas que você saiba que no fundo, eu invejava você, por causa de sua família. Eu nunca tive um tio ou um irmão que tivesse um por cento de qualidades como o que seus tios tinham. Eu sinto falta deles também, eles foram muito mais como pais para mim do que os pais que me geraram... Eu... Eu... Sinto muito, Laura, por tudo...

Eu o olhei, incrédula, sem saber o que fazer.

Nathan olha para mim, diretamente nos olhos, esperando uma resposta.

—Tudo bem... –Murmuro, retribuindo o olhar. –Depois falamos sobre isso... Mas, agora, como matamos essa criatura?

—Atingindo a garganta com espadas, por cima e por baixo.

—Equilibrium? Seria para isso que ambas as espadas vieram?

—Sim: Primeiro, devemos enterrar a espada diretamente na medula espinhal por cima, exatamente entre as asas dele, depois na fonte do fogo por baixo. Isso deve ser feito quase que simultaneamente. E por último, devemos decepar a cabeça e a afastá-lo do corpo, se não ele se regenera... –Diz ele. Emito um som de repulsa com a garganta e ele sorri levemente.

—Eu sei, não estou tão ansioso por isso, mas é a vida, fazer o quê? Os dragões de Arquelândia são os únicos capazes de fazer isso, até onde sei. – Ele se levanta, estendendo sua mão em minha direção, para me ajudar a levantar.

Por mim, eu ficava aqui sentada e descansaria mais um pouco antes de enfrentar o monstro, mas isso tinha que acabar logo, por isso, aceito a ajuda oferecida por ele.

—E como vamos fazer isso? – Pergunto, finalmente tirando o cachecol e a jaqueta, ficando apenas com uma camisa de mangas compridas de cor verde claro que eu usava por baixo. Nathan nem tentou disfarçar o olhar quando me olhou de cima á baixo.

—Sua jaqueta é dessas que retém calor? –Perguntou ele, casualmente. Cruzo os braços na frente do peito, tentando me proteger sua visão maliciosa.

—É sim. – Retruco de mau humor. – E daí?

—Nada. Deixe para lá...  –Ri ele.

Nada”, sei...

Nathan tira a espada que ele não usou de sua bainha e me entregou.

—Você prefere ir por baixo ou ir por cima? –Lá vem ele com aquele sorriso de lado idiota.

Cerrei os dentes, tentado ignorá-lo e tentei apenas  pensar racionalmente: Eu tenho um arco e flechas, mais uma lanterna. O escudo que Nathan usava parecia já ser feito para ele. Não acho que isso era hora para tentar coisas novas. Seguro a espada Eki por seu cabo com força.

—Eu vou por cima. –Decido por fim.

—Essa é minha garota! Então, você já sabe o que fazer?

—Acho que sim. mas mesmo assim, acho que precisamos de um plano…

—Certamente, e eu acho que já sei como vamos fazer isso - diz ele, pegando o escudo que estava no chão.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Curiosidades complementares da fic “A Herdeira do Quarto Trono”. Obs.: Os dados a seguir são inventados para propósitos desta história e não são oficiais em As Crônicas de Nárnia.

Perfil Pevensie:
Edmundo (Título em Nárnia: Rei de Nárnia, duque do Ermo do Lampião, Cavaleiro Nobre da Mesa de Aslam).
*Nasceu em 30 de março de 1930. Cursou universidade de direito, formando-se aos 24 anos. No mesmo dia de sua formatura, sua irmã caçula, Lúcia, se formava em literatura inglesa. Edmundo trabalhou por dois anos como advogado, quando, em 1958 passa a exercer a atividade de juíz desde então.
Foi responsável pelo julgamento de grandes casos, dentre eles, o famoso caso “Holmes versus Estado”. O juíz Pevensie morre aos 35 anos num trágico acidente de trem em Londres, em dezembro de 1965.
A suspeita de o acidente ter sido um crime premeditado se estabeleceu por muitos meses até que uma falha mecânica foi encontrada e a hipótese sabotagem criminosa foi eliminada.
Apesar de rumores de que o juíz tinha uma namorada, tal informação nunca se confirmou, até mesmo porque Edmundo acabou deixando tudo o que possuia, inclusive uma estimada fortuna e uma coleção de trinta e três volumes raros de uma série fictícia desconhecida, para sua única sobrinha até então, Laura Pevensie Willians.
O juíz não era casado e não possuía filhos.

E então?
Que os jogos comecem?



Brincadeira, viu?

Comentem, galera, juro que eu não mordo, mas preciso saber como minha história está sendo recebida e se eu preciso ou não melhorar alguma coisa…
Bem, como eu tenho que ir agora, só me resta acenar e dizer: Até mais! ^^

(Ps.: estou publicando esta história no Spirit, também. Mas calma! Só tô avisando isso para ninguém achar que estou plagiando a mim mesma).

Até o próximo capítulo, que saíra em breve ... Até mais! ^^



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