A Origem escrita por Álex Henrique


Capítulo 9
Capítulo 9 – O Filho Real


Notas iniciais do capítulo

Das maiores honrarias de uma mãe, eis que Athenas dá a luz ao seu primogênito.



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— Viverás meu filho, viverás...!
                Depois de 90 meses nasceu Kêndo, filho de Athenas e de Kendoran, primogênito do trono. Esse período se passou em meio a estudos sobre o mundo depois de tantos acontecimentos que marcaram a vida dos seres. Foi tempo também para os próprios cidadãos construírem uma estátua colossal da Rainha de Todos no alto da montanha em homenagem à própria por tudo que já havia feito para proteger sua civilização; uma honraria que lisonjeava a alteza quando via aquela imensa mulher de pedra segurando o cetro que transformou o universo. No dia em que estava finalizada a estátua, a chuva derramou-se pelo Reino e os heroicos puderam ver a bela paisagem de sua rainha com a cabeça erguida aos céus recebendo as gotas de água ao rosto e em todo o corpo com um semblante nobre e soberano sem perder sua graciosidade e compaixão pelo seu povo; cena marcante para muitos. Porém como Jack acompanhara Estela, o mal acompanhou o bem trazendo ao coração da majestosa um sentimento temente a alguém perto dela, intenso como o ódio de Paradise, silencioso como um assassinato de Devil.
                Kendoran se mostrara disposto a cometer audaciosamente uma atrocidade contra sua esposa, e, para a morte dela, necessitava de uma ferramenta que ultrapassasse a energia da aura protetora e acertasse-a diretamente no ponto fraco: o ombro esquerdo perfurado pela flecha dourada. Perdeu meses de sua vida estudando como implementar em seu instrumento de batalha o poder que a derrotasse. Resultou então uma espada dourada com uma energia resplandecente e obscura vinda das trevas chamada futuramente de Espada da Destruição, mas ainda não era o suficiente, ocultou a espada até poder evocá-la. A sede por poder de Kendoran em consequência de sua inveja pela rainha poderia ser saciada com um único golpe desta lâmina forjada pelo próprio, entretanto a guerreira teria que estar enfraquecida com algo e sua idade ainda não a impedia de lutar. Sendo assim o pós-parto deixaria ela mais vulnerável devido o tempo de gestação e para o rei esse era o plano perfeito, todavia ele viu o pequeno...
                O menino dos olhos de Kendoran, amável e inocente com sua pele lisa. Ao olhar o garotinho, Kendoran se deixara levar pela apaixonante feição infantil do recém-nascido e posteriormente sua ambição se modificou. Pretendia então influenciar o futuro rei a ter o mesmo caráter que ele, com pretensões asquerosas, de modo que ansiou esperar seu crescimento até a juventude onde a personalidade do garoto seria moldada com mais turbulência.
                12 anos se passaram, o príncipe crescia com um físico parecido com o de seu pai quando criança tendo semelhança principalmente em relação ao rosto e cabelo. A idade pesava em Athenas e o pressentimento não havia se dissipado, ao contrário, encontrava-se cada vez mais forte e perturbador fazendo-a ficar atenta a qualquer alteração ao seu redor. Os reis cuidaram de Kêndo, deram-lhe valores, condutas, disciplina, amor, cortesias e tudo o que lhe era necessário para viver dignamente como um heroico, porém sua personalidade não estava totalmente moldada. O majestoso sentia certa ausência sobre a presença de seu filho com ele em comparação com sua esposa:
                 — Por que não deixas o travesso comigo? — questionava o heroico do porquê de sua esposa privá-lo tanto de ver o filho.
                 — Não compreenderás, estou encurralada por um pressentimento detestável, Kêndo pode estar em perigo e eu devo protegê-lo.
                Kendoran estranhou e seu olhar mostrou indiferença acabando por amedrontar Athenas com as seguintes palavras, provocando-a:
                 — Pensa tu que não sou capaz de fazer o mesmo vossa realeza?
                Antes mesmo dela responder, o rei com os olhos cerrados deixava-se expor uma fúria tenebrosa, virou as costas e saiu do castelo. Kêndo assistia tudo ao lado da mãe, sem entender nada...
                A rainha torturada com sua paranoia, tinha receio de estar longe de seu menino em qualquer circunstância, o pai não era exceção, e depois desse diálogo ameaçador, a moça começava a perceber de onde estaria lhe amedrontando o pressentimento ruim: era o ódio de Kendoran.
                Um dia se passou, dentro do castelo a Rainha de Todos e o futuro Rei de Todos conversavam em um cômodo ao alto, ela mostrou a aura protetora na forma de uma energia pequena e magnífica portada em suas mãos como uma benção de Aya:
                 — Estás vendo? O escudo da vida poderá ser seu.
                 — Como posso ser capaz de tal glória mamãe? — Indagava o garoto.
                 — És meu filho, possui minha honra. A aura protege aqueles que purificam a própria alma em prol do bem, teu futuro será esplendoroso e tu precisará ter um coração majestoso para conquistá-la. Se preferires corromper seu corpo com malícias e obscuridades, perderás não só meu respeito e orgulho, como também a dignidade de seu título como um Rei de Todos. A aura só será sua quando seu espírito e coração forem majestosos — dizia a rainha ao filho que ouvia-lhe concentradamente com exímio — e para isso estarei aqui para guiá-lo nessa jornada, és tu meu filho: o futuro Rei de (um barulho atrás dela a interrompe; caem as pedras da parede daquele cômodo que tampavam a vista para fora) ...
                Em 12 anos Athenas não havia sentido o pressentimento maligno tão forte quanto naquele momento ao visualizar o vândalo que invadira o cômodo: seu marido. Portando a infâmia Espada da Destruição na mão direita, Kendoran estaria prestes a atacá-la vendo-a indefesa sem sua aura protetora. A Rainha logo infiltrou a aura em seu filho mesmo que o jovem não conseguisse usá-la. O guerreiro se aproximava lentamente, seu menino se encontrava atrás de sua mãe segurando-lhe as pernas, desconfiado.
                 — Por Aya, o que estás a fazer?! — perguntava a guerreira temente ao marido psicótico.
                 — Dê-me o filho — respondia-lhe com o semblante maligno e pretensioso estendendo a mão esquerda.
                Kêndo com medo, olhava seu pai, não saberia que situação estaria passando, mas compreendia ser algo alarmante. Os reis se encaravam, a alteza estava em guarda já tendo evocado o Cetro do Reino em sua mão direita que até então estava oculto, já a sua mão esquerda restringia o caminho até seu filho em sinal de proteção. Kendoran não iria hesitar, estaria completamente desalmado e a alteza sabia disso.
                 — Não és tão poderosa, querida — dizia ele andando lentamente em direção aos dois -, há tempos tive que suportar minha inferioridade em relação a ti, mas agora temos ele (olhava para Kêndo) e agora será ele minha imagem e semelhança, carregará o meu orgulho. Você é o único impasse entre a nossa glória, oh Rainha de Todos – dizia sarcasticamente.
                Athenas pensava em alguma fuga para aquela situação enquanto o louco discursava, mas nenhuma opção evitaria a batalha, o fogo nos olhos dele só provava que perseguiria a rainha até mesmo se ela usasse o teletransporte. Era iminente, teria de enfrentá-lo. Entretanto, não foi a guerreira que iniciara o combate, em milésimos de segundo, o majestoso chegou pertissimo e girou verticalmente a poderosa espada em direção à sua mulher que se defendeu erguendo o cetro horizontalmente acima de sua cabeça e jogando Kêndo para atrás para não se ferir; este ficou caído à parede da porta assistindo a batalha com espanto. O chão afundara com a pancada interrompida. Em movimentos rápidos, Kendoran pressionou seus ataques à rainha que se via encurralada em meio a luta, seu marido era quem mais sabia suas técnicas e habilidades para gladiar, saberia então qualquer movimento que a donzela fizesse. Ela ainda continha-se muito, não queria machucar seu próprio amado, todavia seu filho corria perigo tanto quanto ela naquele momento, precisavam escapar. Contrariamente o majestoso tinha sede de sangue e só o dela o saciaria. Eis que o ombro esquerdo da guerreira fica à mira da Espada da Destruição onde a ação veloz do rei faz a espada rasgar o acromioclavicular esquerdo de Athenas. Esta reagiu, gritando desesperadamente à dor do corte colocando a mão direita ao membro atingido. Caiu com o joelho direito sustentando-se com o Cetro Real em sua mão e lembrou-se da mesma queda na batalha contra Sky: The Paradise, mas agora a situação era pior e pressionava a majestade a não se render, pelo seu filho, pelo futuro do seu reino. Recordou-se em um ligeiro flashback os sorrisos que Kêndo já havia dado em sua infância, sorrisos como os que seu esposo já dera algum dia apaixonadamente, olhou-o, e aquele à sua frente não poderia ser considerado mais seu marido, “és insano!” pensou ela em definitiva conclusão.
                 — Minhas botas pisarão o rosto que um dia eu beijei — provocou Kendoran cerrando os olhos à Rainha de Todos.
                Ela em seguida franziu as sobrancelhas em contraponto ao olhar do covarde e não pensara mais nada, ergueu-se apoiando no cetro e revelara a brilhante energia emergente na Estrela Maior e a visão do rei ofuscara-se. A alteza recuou perto de seu filho, segurou-lhe o braço direito e correram para fora do castelo passando pelo homem e pelo resto de parede que o soberano outrora havia quebrado. Os dois corriam e saltavam pelas estruturas e colunas antigas do Reino (muito semelhantes às arquiteturas gregas provenientes da Terra) e os céus não eram visíveis pela densa névoa que ocupava a atmosfera em um silêncio profundo onde os sons mais altos partiam-se dos batimentos do coração da rainha e do seu filho. Athenas ainda reagia ao corte profundo que o rei lhe acertara mas não tinha instante para curar-se, a lâmina tinha a energia necessária para enfraquecê-la totalmente, por muito pouco não estava reduzida a uma mera humana; foi o golpe perfeito para Kendoran. A dor do corte espetou-a com mais força e a alteza foi obrigada pelo seu próprio corpo a interromper a fuga com o pequeno em meio à uma estrutura em forma de ponte sustentada por duas colunas retangulares. Foi o ocasião para pensar em tudo, sua cabeça estava conturbada, seu corpo trêmulo e a alma aflita. Para onde iriam? Como seu marido seria parado? Como curaria a incessante dor que lhe fazia gemer constantemente? Kêndo tão confuso quanto sua mãe via-a interrogar-se interiormente com os olhos fechados e o semblante na busca de uma calmaria; respirava fundo. O Cetro do Reino estava oculto novamente pois a mão esquerda segurava o braço de Kêndo firmemente enquanto a direita tampava sem muito êxito o sangramento no ombro. Abriu os olhos, enxergou seu filho à esquerda, ouviu seu coração palpitar com insegurança. Havia de ouvir também a brisa dos ventos naquela névoa constante e a visão do filho se tornava ainda mais prestigiada pelos negros cabelos da rainha indo constantemente para atrás junto à sua capa vermelha. Focou-se então nos olhos de sua mãe e viu ali uma lágrima brotar em um de seus belos olhos azuis. Uma mágoa atingia o garoto.
                 — Por que choras, mamãe? — Perguntou da maneira mais inocente e Athenas não pôde se conter.
                Se derramou em prantos e soltou o filho para enxugar o rosto movimentando o braço para lá e para cá com a cabeça inclinada para baixo. Ao endireitar o olhar, a majestade se deparou com Kendoran saindo da névoa à sua frente indo a passos calados e rosto sério em direção à ela. Agarrou novamente o braço do filho, chegava quase a doer. Não tinha mais escapatória, seu poder estava debilitado e o que lhe restara não podia ser mal usado. A majestade já tinha solução para que o marido não obtivesse o condutor da Estrela Maior, mas primeiramente precisava canalizar sua energia para salvar Kêndo. O heroico andava com cautela e ao olhar para seu primogênito, viu-o brilhar. A guerreira passara-lhe uma energia para ser teletransportado rumo a casa de Kindoran. Soltou-o então. O menino se desesperou quando sentiu-se levitar involuntariamente; brilhava cada vez mais.
                 — Mãe não me deixe! Não me deixe! — gritava o garoto, chorando, tentando alcançar a mãe com o braço direito, em vão.
                Athenas continha-se e não havia tempo para mais lágrimas, o garoto já havia sumido e no mesmo momento o rei se alterou enraivecido e correu para atacá-la com a espada em sua mão direita da maneira mais feroz. Antes disso, a heroica evocou novamente o Cetro Real e jogou-o na frente de Kendoran que parou, ela então rapidamente quebrou a ligação entre o cetro e a Estrela Maior em um movimento cauteloso com as mãos concretizando uma magia única que faria os dois se dissiparem por 3 anos, e só após esse tempo, voltariam na mesma montanha onde a Rainha de Todos concretizou seus feitos e onde agora estaria sua estátua, de maneira que a Estrela Maior estaria expandida para que alguém, com o Cetro do Reino, conseguisse reduzi-la novamente. Finalizado estava a última ação de Athenas em vida e a morte agora já não era mais seu temor, não lhe restava mais que confiar no destino de Kêndo. Por um breve instante, fechou os olhos com a cabeça para baixo suspirando com um certo alívio, entretanto, ao levantar-se, viu instantaneamente o marido em sua direção para encravar a Espada da Destruição em sua barriga. Ouviu por último um forte brado de Kendoran, como se finalmente suavizasse sua alma conquistando finalmente o desejo mais ambicioso que já tivera e a heroica quando pôde sentir algo, sentiu a espada atravessada em seu estômago. Vomitou sangue, o rei a vislumbrou... Athenas, a Rainha de Todos, estava morta.


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Notas finais do capítulo

Leitor, contente-se em saber que Kêndo está vivo... pois sua mãe, não mais está.



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