As Crônicas do Mundo Bruxo: Cinzas do Passado escrita por Ícaro L Nunes


Capítulo 2
Recepção




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O arco do Salão Comunal jazia aberto, receptivo perante os estudantes que o atravessavam. Os múrmuros e gargalhadas logo encheram o recinto, preenchendo-o junto às longas mesas. As tochas presas às paredes despejavam uma estupenda iluminação no local, ressaltando a alegria e o fervor daquele momento. Hogwarts sentia-se plena e completa neste instante, abarrotada de jovens e crianças, que lhe proporcionavam o sentido de sua existência.

Em um palanque lustroso, no centro de uma enorme mesa, encontrava-se uma mulher de mechas rubras e olhar analítico. Tratava-se de Eva Elizabeth Enoch, a Diretora da instituição. Ela estava sentada, uma túnica lilás cobria-lhe a pele, em sua cabeça um modesto chapéu azulado era evidente. Eva contemplava a movimentação a sua frente com um sorriso seco à boca, este seria um ano proveitoso. Ao menos era isto que ela esperava, pretendia deixar sua marca na longínqua história da renomada escola. O ano anterior fora apenas o início, um aprendizado árduo e complicado que a preparara para a atual ocasião.

O plantel acadêmico de Hogwarts estendia-se em suas laterais, homens e mulheres com conhecimentos invejáveis e passados marcantes. Eles dialogavam entre si, partilhando histórias e inspirações. Aquele ambiente agradava a Diretora, a comunicação e a conciliação eram alicerces para uma fundação produtiva.

Além dos professores, os alunos também estavam a se incluir no cenário de boas-vindas. Tanto veteranos quanto novatos sentavam-se lado a lado, unidos por suas cores e estandartes. Os esmeraldinos da Sonserina discorriam a respeito de suas famílias e as férias extravagantes. Corvinal por sua vez possuía uma mesa quieta, com poucos múrmuros e dizeres, que em suma eram diálogos quanto o discorrer do ano em termos acadêmicos. Em contraponto a estas Casas, Grifinória e Lufa-Lufa iniciavam uma tradicional junção estudantil, os alunos destas não se limitavam as suas mesas, trocando falas com colegas rubros e amarelados, sem qualquer distinção.

Ao notar que todos haviam se assentado a ruiva ergueu-se de sua posição e encaminhou-se até o púlpito que jazia a frente de sua longa mesa. Um simplório aceno fora o suficiente para cessar as vozes, o silêncio surgiu repentino e poderoso. Eva ainda se surpreendia com a sua autoridade e o respeito que vinha com a tal. Os orbes discorreram uma analise modesta ao mar de faces, a garganta engoliu em seco e logo sua voz inundou o recinto.

— Sejam bem-vindos, meus caros. Espero que tenham aproveitado o período de férias, teremos um ano letivo extremamente produtivo e ligeiramente rígido. Pros que amaldiçoam as tarefas e os compromissos, certamente vocês terão uma experiência complicada – brincou ela, desencadeando algumas risadas – Em suma a maioria dos acadêmicos já está familiarizada com o nosso corpo docente. Pros novatos eles irão se apresentar no decorrer da semana. Após o banquete de recepção os diretores irão lhes encaminhar para suas respectivas acomodações e amanhã daremos início a nossa gloriosa jordana – Eva calou-se por um breve momento, permitindo que sua voz trafegasse pelo o amplo salão –  Enfim, aproveitem a ocasião e novamente, bem-vindos à Hogwarts!

Sons de prataria romperam pelo o recinto, logo as mesas foram abarrotadas por uma vasta gama de comidas e iguarias. Sem rodeios os alunos prontificaram-se diante do banquete, enchendo pratos e canecas com tudo que a situação poderia lhes oferecer. A ruiva assentou-se em sua poltrona aveludada e uma pontada surgiu repentina em seu peito esquerdo, uma dor estranha, porém modesta. Seria algo? Não, certamente era apenas um incômodo momentâneo. Com um semblante vago ela serviu-se com uma taça de vinho, saboreando liquido lentamente.

Um homem de feições sutis e orbes sombrios inclinou-se à direita da mulher, chamando-a. Ela voltou a atenção para o mesmo, curvando os lábios em um frágil sorriso. O dito individuo era Ethan Seafret, o Professor de Transfiguração. Ele estava em Hogwarts há quase uma década, bem antes de Eva cogitar ser indicada ao cargo pelo o Ministro da Magia, Marcellus Graymor. Ethan era um homem consideravelmente novo, circundando pela a casa dos 40.

— Boa noite, Eva – disse ele, apoiando-se de maneira despretensiosa no braço de sua cadeira. Ele vestia-se com uma vestimenta corriqueira, o tecido era azulado e ostentava adornos em rubro, tais como a fita que prendia suas madeixas – Ansiosa para o seu 2° ano?          

— Certamente – respondeu ela, fitando-o de esgueira enquanto retomava o olhar para o centro do recinto. No extremo sul deste, à porta de entrada, encontrava-se o Zelador Joseph. Ele ostentava uma lustrosa careca e uma expressão de desagrado, algo que Eva passara a ver como comum – Se eu não estivesse seria uma tola, não é mesmo? Hogwarts é um tesouro para este mundo e espero ser honrada o bastante para guia-la – apesar da evidente seriedade em seu tom ela permitiu-se um riso contido, abafando-o por completo com um gole em sua taça.

— Não sei se a honra tem grande impacto nisto – replicou Seafret com uma evidente audácia – Tivemos Diretores que fugiam completamente desta noção e eles foram vistos como visionários pelo o Mundo Bruxo, uma loucura no meu ver. Nossa comunidade tende a fechar os olhos para alguns aspectos, aspectos podres. E realçam uma beleza superficial, apenas pelo o bem do nosso querido governo.

A entonação do homem por fim atraiu a atenção de Eva, mantendo-a presa no movimentar de seus lábios. A ruiva entendia o seu discurso, ela até mesmo compactuava com seus dizeres. Em seu anúncio como Diretora chegaram a critica-la, atacando-a por ser uma mulher. Boicotes foram realizados por famílias tradicionais, que a julgavam incapaz de conduzir uma instituição de tamanho renome como Hogwarts. Fora apenas mediante a intervenção de Marcellus que as reclamações foram cessadas, na verdade reduzidas aos salões e corredores alheios, pois ninguém se atreveria a refutar uma proclamação do Ministro Graymor em público.

— Tuas palavras são fortes, Senhor Seafret – os orbes esmeraldinos fixaram-se na face do homem, notando repentinamente que ele possuía uma marca de nascença abaixo do olho esquerdo, pequenina e de coloração sombria – Mas é por isso que quero honra-la, para que possamos apagar estes fantasmas do passado e ditar o começo de uma nova era.


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