Perdido em outro mundo escrita por Lilian T


Capítulo 21
Fugitivos


Notas iniciais do capítulo

Olá meus jovens!
E aí? De boas? Eu vou indo por aí!
Bem, no último capítulo deixamos Harry e Sirius dentro da caçamba de um caminhão. Fazer o quê? Eles não podem aparatar, Não é? É para saberem como eu sofro andando de ônibus!
Espero que gostem da continuação do capítulo.
Boa leitura.



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Pesadas caixas rodeavam Harry Potter, que se encolhia à um canto enquanto o caminhão chacoalhava  pelas ruas londrinas. Logo diante dele, Sirius Grey mantinha-se em silêncio, a cabeça balançando com os solavancos do veículo.

Ainda que estivesse meio escuro naquela caçamba, o garoto podia sentir seu olhar recaindo sobre ele, uma mescla estranha de apreensão e alívio. Era como se houvesse muita coisa a ser feita, mas o pior já tinha passado.

— Sirius?

— Hum?

— Queria agradecer por ter ido me resgatar — disse Harry.

— Não precisa agradecer.

— Sim, eu preciso. O que você e os outros fizeram foi impressionante e... uma tremenda loucura! O que vai acontecer agora?

— Bom... Primeiro vamos tirar você de Londres e levá-lo para um esconderijo — respondeu Sirius, levando a mão ao rosto e coçando o queixo.

— E Brooks e Morgan?

— Não se preocupe com eles. Tinham um bom plano de fuga.

— Como assim?

— Eles trocariam de carro e fugiriam, como nós. Só precisavam despistar a polícia o suficiente para chegarem à um depósito de um amigo nosso. Tinham um pessoal esperando para se desfazer do carro e Brooks e Morgan pegariam outro. De lá, eles também sairiam da cidade.

— E você acha que conseguiram?

— Elisadora Brooks é uma excelente motorista. Não duvido que tenha despistado os carros da polícia.

— Vocês se conhecem a muito tempo? — perguntou Harry, interessado. Agora que tinha visto os duplos de Tonks e Moody, queria saber mais sobre eles, o que faziam, como viviam e se eram o mesmo tipo de pessoas que suas versões no mundo dele.

— Conheci Brooks há uns meses. O pai dela foi levado pelo Ministério à cerca de três anos. Ela disse que estavam todos jantando em casa quando aconteceu. Eles simplesmente entraram, pegaram seu pai e o levaram sem dizer nada. Jamais revelaram o motivo, apenas o prenderam. Brooks nunca mais o viu.

— Que coisa horrível!

— E não é? Eles não tiveram nem a quem recorrer. Foi uma grande injustiça — comentou Sirius. — Por isso, quando falei sobre você, Brooks nem hesitou em fazer alguma coisa para resgatá-lo.

— Mas ela nem me conhece...

— Nem precisava. Ela não pôde fazer nada pelo pai, entende? Mas por você ela sabia que tinha uma chance...

Harry engoliu em seco. Sentiu muita pena de Brooks, mas também uma grande gratidão.

— E quanto ao Morgan?

Sirius deixou escapar uma risadinha.

— Alastor Morgan gosta apenas de uma boa confusão.

— Hã? — exclamou Harry. Por algum motivo, aquilo não parecia uma coisa que o Moody em seu mundo faria.

— É... A verdade é que Morgan detesta o Ministério —  continuou Sirius. — Ele era do exército, sabe, e lutou em algumas batalhas, há muitos anos atrás. Diz que o governo não liga para os soldados e que os usa como buchas de canhão. Pensa que todas esses conflitos são apenas para lucro dos políticos e que a vida das pessoas não vale nada para eles.

— Acho que ele está certo — disse Harry, lembrando-se de sua conversa com o Primeiro-Ministro Ryder.

— Eu também. Essa guerra não trouxe coisa alguma, só dinheiro para a industria bélica. E acredite, eu sei...

— Sua família tem fábricas? — indagou Harry, imaginando se aquele Sirius Grey sofria o mesmo problema de família que o Sirius Black de seu mundo.

— Tem sim — confirmou ele. — Meu irmão passou à administrá-las. Eu preferi pegar minha parte na herança e investir em outro negócio: produzo panelas e utensílios — ele deu uma risada sem alegria, que soou como um latido. — São um das poucas coisas que todos sempre precisam e que não é superfula durante a guerra.

— Não é vergonha ter uma fábrica de panelas — falou o garoto, observando o homem a sua frente.

— Não é mesmo. Vergonha é odiar o governo e tê-lo como principal cliente.

— Ah...

— Saí de casa para não vender armas ao Ministério e acabei vendendo panelas para ele... Tem uma diferença, mas não é muita.

— Você saiu por causa de suas ideias políticas?

— Exatamente — disse ele, e mesmo no escuro Harry podia jurar que ele estava sorrindo. — Não achava certo continuar construindo armas para o Ministério usar, não depois que...

— Depois que...?

No escuro, Harry ouviu Sirius suspirar.

— Tiago não lhe falou sobre um amigo nosso? Um homem chamado Rômulo Lewis?

— Não. Ele não me contou nada.

Harry viu a silhueta do braço de Sirius se erguer até a sua cabeça, e ele notou que ele estava passando a mão na nuca, coo se o assunto o incomodasse.

— Quando eu e Tiago éramos jovens, conhecemos um garoto chamado Rômulo Lewis na escola. Ele era um menino estudioso e, nos sempre ficávamos juntos até que tivemos de ir para faculdades diferentes. Tiago estudou engenharia, eu fiz administração e Lewis se dedicou à literatura inglesa. Até um outro amigo nosso, Paulo se tornou contador. Mas nunca perdemos contato, sabe?

A voz de Sirius tornou-se um tanto amargura:

— Você ainda é jovem, Harry, então não deve saber que adultos dificilmente tem melhores amigos. A vida, os compromissos e obrigações acabam afastando as pessoas. Mas isso não aconteceu com a gente. Nos quatro continuávamos próximos assim como éramos quando tínhamos onze anos... Até que um dia as coisas mudaram.

Sirius engoliu em seco e continuou:

— Nos todos nos formamos e começamos a trabalhar. Rômulo conseguiu um emprego como professor de literatura inglesa e passou a lecionar. Ele estava indo muito bem, mas havia uma coisa que o incomodava. O Ministério havia banido uma lista de livros, que eram tidos como contrários aos ideais da nação e que deveriam ser entregues para destruição.

"Isso era um a coisa que Lewis não podia aceitar. Ele dizia que os livros eram necessários e que destruí-los era destruir a liberdade de pensamento e escrita. Então, ele passou a colecionar livros proibidos no porão de sua casa."

Harry de repente se lembrou da segurança com que a Sra. Wallace guardava o livro de magia do Prof. Dumberton, Lewis devia estar se arriscando muito para ter uma biblioteca clandestina em casa. Àquela altura ele já sabia que Rômulo devia ser o duplo de Remo Lupin. Paulo com certeza se tratava de Rabicho.

— O Ministério descobriu sobre os livros de Lewis?

— De alguma forma, sim. A polícia o levou a mais de cinco anos. Eles o levaram no meio da noite. Estava lá e então, desapareceu...

— Nunca soube como eles descobriram?

— Não. Só Tiago e eu sabíamos sobre aqueles livros, mas sempre desconfiei que alguém descobriu e contou à eles. Lewis não se atreveu a contar a mais ninguém além de nós dois, e ainda assim eles o pegaram. Ele deve ter dito à outra pessoa...

— Talvez seu amigo Paulo tenha delatado-o — especulou Harry, desconfiado.

— Paulo não faria isso! — exclamou Sirius em voz alta, quase ofendido. — Ele nunca faria isso! Somos melhores amigos!

— Por que Lewis não contou à ele?

— Lewis não queria que houvesse muitas pessoas no segredo. Ele me contou, e contou para o Tiago apenas por que sabia que não escondíamos nada um do outro. Paulo, sempre foi mais sensível, mas não trairia Rômulo assim.

— Acha que ele não seria capaz?

— Claro que não seria!

— Nunca desconfiou dele? Afinal, além de você e Tiago, ele era o mais próximo de Lewis.

— Olhe, eu confesso que por um momento eu cheguei a pensar... a pensar que ele poderia... Eu... eu até cheguei à acusá-lo... — a voz de Sirius soou quase envergonhada. — Mas não! Ele negou olhando nos meus olhos. E eu o conheço! Ele nunca trairia um amigo... Nenhum de nós trairia. Foi outra pessoa, eu sei...

Harry não podia ver o rosto de Sirius Grey, mas isso não o impedia que ele não enxergasse os fatos claramente. Não duvidava que Paulo tivesse descoberto o segredo e entregado Rômulo, assim como Rabicho entregara os Potter. Sirius, por sua vez, não podia acreditar no fato de Paulo ser um traidor e, pior, ter mentido olhando em seus olhos.

— O que houve com Paulo?

— Ele continuou trabalhando e mantemos contado.

— Você tornou a ver Lewis?

— Nunca mais o vi.

A voz de Sirius Grey ficou levemente baixa e engrolada.

— Eu tentei encontrá-lo, sabe... Fiz de tudo, mas nada adiantou. Eles o obliteraram do mundo...

— Sinto muito.

— Tudo bem... Se soubesse o que sei hoje, nunca teria perdido tempo... Eu teria resgatado-o à força logo de cara, como fiz com você — Harry ouviu-o soltar outra risada. — Jamais me arrependerei do que fiz hoje e nem do que farei para trazer Tiago de volta!

— Então irá resgatá-lo também?

— Claro! Não vou deixar meu melhor amigo apodrecer em uma cela! Não dessa vez!

— Eu vou com você!

— Você vai se esconder — replicou Sirius, com autoridade. — O Ministério está atrás de você e se o pegarem não haverá ninguém que possa ajudá-lo.

— Não será a primeira vez que haverá gente perigosa me perseguindo.

— Garoto, você não conhece estas pessoas. Não sabe do que são capazes.

— Acredite, eu sei muito bem...

Sirius não disse nada.

Fez-se silêncio por um longo momento. Depois de um tempo, Harry decidiu perguntar:

— Acha que Morgan e Brooks ficarão bem? — perguntou, de repente.

— Se algo der errado, será por culpa de outras pessoas — falou Sirius num tom um tanto displicente. — Talvez o pessoal do depósito dê com a língua nos dentes, mas é bem improvável.

— Por quê?

— Porque todos tem algum podre para esconder, negócios ilegais e essas coisas. Além do mais, o carro em que estávamos era quase novo e eles agora podem depená-lo à vontade. As peças tem grande valor no mercado negro. E além disso, eles não receberiam nada nos entregando à polícia.

— Mas pensei que o Ministério sempre descobrisse segredos. Pelo menos é o que todo mundo diz.

— Descobrem na base do medo e tortura, mas muita gente ainda se arrisca com coisas ilegais — falou Sirius. — Não duvide que irão descobrir tudo o que fizemos para escapar, mas até lá já estaremos bem escondidos.

— E aonde vamos?

— Para uma aldeia não muito longe de Birmingham. Chama-se Little Creweford.

— Você tem um esconderijo lá?

— Sim. É uma casa simples, mas tem um porão muito bem preparado. E como é um lugar uma aldeia pequena, o Ministério não se intromete muito por lá.

— Isto parece bom.

— Esperemos que dê certo — comentou Grey. — Não irá demorar para chegarmos lá. Só mais alguns minutos.

Os dois ficaram quietos durante este meio tempo, ambos muito pensativos, cada qual traçando seu próprio plano para dali em diante.

Harry desejou que Sirius pudesse incluí-lo de alguma forma em seu plano para resgatar Tiago Parker, ou ele teria de se meter qualquer maneira. E ainda tinha o livro de magia escrito em runas em suas mãos e a Pedra Elisiana no Ministério.

Quanto mais pensava, mas desesperado Harry ficava. Como ele resolveria aquela situação?

Se ao menos tivesse Hermione com ele. Ela sempre sabia o que fazer.

Mais alguns minutos transcorreram até que o caminhão começou a desacelerar. Sirius se aprumou em seu canto quando o caminhão finalmente parou.

— Chegamos!

Um momento depois, ouviu-se o som de uma fechadura sendo destrancada e as portas metálicas se abriram. Por detrás das grandes caixas, Harry Potter ergueu o rosto.

Sirius, por sua vez, levantou-se e espremeu por entre o amontoado de papelão.

— Artur, obrigado!

— Sempre às ordens, Sirius.

Harry seguiu Sirius Grey para fora e saltou da caçamba do caminhão, dando de cara com uma versão mais cansada de Artur Weasley. Ele havia escutado que o Sr. Winston trabalhava em uma oficina e confirmou isso ao ver os resquício de manchas de graxa na altura de seus joelhos e na bainha de sua calça.

— Você deve ser o Harry?

— Sou eu.

— Meu nome é Artur Winston — apresentou-se, estendendo a mão, a qual Harry apertou com um entusiasmo agradecido. — Soube o que fez pela minha filha, Geraldina. Eu estava imaginando uma forma de mostrar minha gratidão quando Sirius me contou que precisava de ajuda com o seu... hum... transporte.

— Obrigado, senhor.

— Eu é que tenho de agradecer, rapaz.

— É, eu sei que todos estamos gratos e tudo mais — interrompeu Sirius de súbito —, mas será que podemos demonstrar isso em um lugar menos na vista? Vamos entrar!

Foi quando Harry olhou para o lado e viu onde se encontrava.

Estava em uma ruazinha meio deserta em uma aldeia que ele não conhecia. Não tinham casas ao lado, apenas à uma pequena distância seguindo pela rua. Diante deles, porém, havia uma casinha quadrada de dois andares, sem grandes atrativos fora o pequeno jardim da frente recoberto de neve.

Eles se adiantaram para a porta. Sirius tirou a chave do bolso e a abriu rapidamente, fazendo-os passar às pressas.

Harry atravessou o pequeno hall de entrada, enquanto Sirius trancava a porta à suas costas. Ele avançou pelo corredor, seguindo Artur Winston em direção à sala, onde viu uma mulher sentada em uma poltrona, lendo um livro.

Tinha cabelos castanhos e olhos amendoados e Harry reconheceu-a de uma foto que Alastor Moody lhe mostrara uma vez, quando estavam na casa embolorada de seu padrinho, há mais de um ano: era Marlene McKinnon. Harry lembrava-se de Olho-Tonto dizer que ela e toda a sua família tinham sido assassinados por Voldemort. Mas ali, ela estava viva.

A mulher ergueu os olhos das páginas que lia e sorriu para o garoto.

— Por aqui — falou Sirius, passando por ele. Artur e Harry o seguiram em direção à cozinha.

Chegando ao cômodo, Sirius empurrou a pequena mesa redonda para o lado e abaixou-se, levantando uma das tábuas do assoalho de madeira. Ali havia uma maçaneta que, ao ser puxada, revelou uma portinhola oculta para um alçapão escondido.

Sirius se sentou no chão e escorregou pela pequena entrada, desaparecendo de vista.

Harry o imitou, lançando-se no escuro tal qual fizera há anos atrás, na noite em que ele, Rony e Hermione entraram em um alçapão semelhante, guardado por um cão de três cabeças, em busca da Pedra Filosofal. Desta vez, porém, o jovem não estava com medo.

Apesar do escuro, não era uma queda alta. Mal havia acabado de introduzir metade do corpo quando sentiu o chão embaixo de seus pés. Ele caiu em um pequeno espaço entre as tábuas do assoalho e, meio agachado, deu alguns passos em direção à uma escada de metal disposta ali, que levava para baixo.

Harry girou o corpo para segurar na barra de metal e, devagar, desceu os degraus da escada. Não era uma descida muito profunda, mas devia ter pelo menos uns três metros, pois os pés do Sr. Winston, que vinha logo atrás dele, desapareceram de vista antes que ele chegasse ao fundo.

Por fim, ao tocar o solo e se virar, viu-se diante de um pequeno corredor que terminava em uma porta.

O Sr. Winston descia as escadas quando Harry se adiantou para Sirius, que girou a maçaneta quando se aproximou.

Ele se surpreendeu ao ver que atrás dela havia um búnquer, uma espécie de abrigo antibombas escondido. Ficou ainda mais espantado ao ver Lílian Parker sentada à pequena mesa, com Marta Winston ao lado dela, segurando sua mão. Sentados em um sofá, estavam Ronald e Gina Winston e junto à eles, encontrava-se também uma Eveline Graham.

Lílian mantinha a cabeça baixa, mas assim que a porta se abriu, ela a ergueu depressa e, ao ver o garoto, levantou-se de um salto, e precipitou-se para ele:

— HARRY! — exclamou, lançando os braços em volta de seus ombros e prendendo-o em um abraço apertado. — Estava tão preocupada... tão preocupada!

Ele refreou uma careta de dor quando sentiu o aperto em seu corpo dolorido. Afinal, ele tinha saído de dentro de um camburão tombado não fazia muito tempo. Ainda assim, ele retribuiu o abraço, um pouco sem jeito.

— Você está bem? Está ferido? O que fizeram com você? — inquiriu ela, soltando-o de repente.

— Estou bem — respondeu ele, respirando um pouco melhor quando o aperto se desfez, mas não muito. Lílian Parker olhava-o nos olhos e ele achava difícil encará-la depois de toda aquela confusão. Sabia que por sua causa, Tiago Parker estava preso e, possivelmente, sendo torturado naquele momento, e aquilo fazia-o se sentir mais culpado do que aliviado ao ver a Sra. Parker.

A mulher no entanto, não parecia perceber aquilo. Dava a impressão de que ela tinha tirado um peso terrível das costas, enquanto segurava seus ombros com uma firmeza carinhosa. Lílian olhou para o lado da cabeça do garoto e piscou, com uma rugazinha se formando entre suas sobrancelhas.

— Está sangrando... Seu ferimento se abriu um pouco. Mas não se preocupe, temos um kit de primeiros socorros aqui — disse, puxando-o para a mesa, fazendo-o se sentar perto de Marta.

Ela havia se erguido também, e olhava com aquela mesma preocupação que a Sra. Weasley sempre demonstrava por ele.

— Está se sentindo bem, querido? — perguntou. — Precisa de algo?

— Água — pediu Harry, percebendo que estava com sede.

A Sra. Winston se afastou para pegar um copo, enquanto a Sra. Parker retornava com uma gaze, ataduras e um pouco de soro e algodão para limpar a ferida. Quando começou a cuidar do machucado, a Sra. Winston chegou com um copo de água, do qual Harry tomou um golinho.

Sirius e Artur mantinham-se à porta, e Ronald, Gina e Eveline haviam se erguido e encontravam-se parados à um canto da sala.

Harry olhou para os lados, sem girar a cabeça e viu que tudo ali era muito organizado, mesmo estando localizado em um buraco abaixo da terra. Houve um breve silêncio antes que Harry comentasse:

— Este esconderijo parece bem confortável.

Ele viu Sirius rir:

— Para um lugar sem janelas, abafado e sem muito espaço para circular é até agradável — ironizou ele. — Precisava ter visto antes de decorar tudo. Parecia um buraco de rato horroroso.

— Você construiu isso sozinho? — perguntou Harry, admirado.

— Não. O abrigo já existia embaixo da casa, mas era apenas este cômodo e o corredor — ele explicou. — Eu conhecia a filha do dono anterior e foi ela quem me revelou que o pai mantinha este abrigo antibombas, mas que nenhum vizinho sabia. Quando ele morreu, eu a procurei e comprei a casa. Ela concordou na hora, pois queria se mudar mais para o norte, longe dos ataques aéreos. Depois disso, contratei em segredo um conhecido meu, que me ajudou durante muito tempo à expandir o abrigo, deixá-lo mais ventilado e luminoso.

— E a moça lá em cima?

— Marisa? Ela mora lá em cima. Cuida da casa para mim.

— E ela não se importa de estarmos aqui? — perguntou Harry, mas o que queria mesmo saber era se ela era confiável.

Sirius deu os ombros.

— Ela me conhece muito bem — respondeu, mas Harry entendeu o que ele queira dizer. Ela sabia o motivo de Sirius manter um búnquer secreto e devia saber bem o que eles estavam muito encrencados para estarem ali.

Harry ficou imaginado se assim como Morgan e Brooks, Marisa não teria seus motivos para abrigar fugitivos do Ministério. Será que Marisa, assim como Marlene McKinnon, havia perdido sua família por culpa daquele governo autoritário e sua guerra inútil? Provavelmente, sim.

E, de súbito, pareceu-lhe que todas versões de membros da Ordem da Fênix que viviam naquele universo estavam destinadas a agir de alguma maneira contra o Primeiro-Ministro Ryder e seus partidários, assim como a seus outros "eus" lutavam contra os Comensais da Morte em seu próprio mundo.

— Pronto — disse Lílian, de repente, acordando-o daquele devaneio —, terminei.

Ela estava terminando de guardar as ataduras e esparadrapos e de jogar fora os algodões usados, quando Sirius Grey se aproximou de Harry. Ele puxou uma cadeira e se sentou diante do garoto, fitando-o nos olhos.

— Preciso que me responda algumas coisas.

— Ele precisa descansar, Sirius — interpôs Lílian.

— Precisamos saber disso agora, Lílian.

— Mas ele está ferido e exausto...

Harry, no entanto, interrompeu-a.

— Tudo bem. Se eu souber as respostas, ficarei feliz em contar qualquer coisa que me perguntar.

— Ótimo! — exclamou Sirius, lançando um olhar significativo à Lílian antes de se voltar novamente para ele. — O que quero saber é por que o levaram até o Primeiro-Ministro?

Houve um burburinho na sala.

— O Primeiro-Ministro? — indagou o Sr. Winston.

— Ele esteve na Mansão da Rua Downing? — perguntou Gina.

— Você viu mesmo Thomas Ryder? — admirou-se Ronald.

— O quê? Como assim? — inquiriu Lílian, mais aturdida do que todos os outros.

— Minha fonte disse que ele tinha sido transferido para o gabinete do Primeiro-Ministro. Foi pouco depois que saiu de lá que interceptamos o camburão — explicou Sirius. Então virou-se para o garoto. — Por que foi levado até lá?

— O Primeiro-Ministro queria me ver.

— Mas ele não poderia quer vê-lo por causa de papeis falsos! — exclamou Lílian.

— Esperem um momento — intrometeu-se a Sra. Winston. — Papeis falsos? Papeis falsos para quê?

Lílian olhou de Marta para Harry, e depois para todos os presentes na sala.

— Acontece que Tiago e eu não somos pais de Harry.

— Como ele pode não ser filho de vocês? — perguntou o Sr. Winston. — Conheço Tiago há anos e Harry é quase idêntico à ele. E tem os seus olhos, Lílian. Como vocês podem não ser pais dele?

Lílian respirou fundo e fechou os olhos, antes de falar novamente.

— A verdade é que achamos Harry perdido na floresta há 12 dias.

— Acharam-no na floresta? — repetiu a Sra. Winston, pasma.

— Sim. Tiago e eu estávamos voltando de caminhonete pela estrada quando Harry surgiu de repente. Nós quase o atropelamos e ele acabou rolando para fora da estrada. Paramos o carro e fomos olhar quem era e...

Lílian contou tudo o que havia acontecido desde então: Como Harry surgira de repente sem saber de onde viera, como o levaram para casa e forjaram papeis para que pensassem que era filho do casal, como tudo teria saído bem se não tivessem encontrado com Severo Statham na saída do Ministério e como fora ele quem mandara os agentes aos hospital.

—... E depois que eles o pegaram, eu encontrei Sirius. Ele me puxou para um canto para que não me prendessem também. Sirius disse que tinha alguns conhecidos que poderiam ajudar a trazer Harry de volta. Marta estava conosco e falou que Artur podia ajudar se precisássemos. Pedimos então que usasse um dos caminhão de sua oficina para resgatá-los durante a fuga.

Lílian concluiu a história e olhou para os Winston.

— Desculpe não ter dito toda a verdade, mas achei que não acreditariam. Quem acreditaria?

— Então quer dizer que o que contou ao Prof. Dumberton é verdade?

Todos olharam para Eveline Graham, que estava parada ao lado de Ronald, com os olhos arregalados. Era a primeira vez que Harry a ouvia falar desde que tinha chegado

— O que contou ao Prof. Dumberton? — perguntou Lílian.

Harry olhou para ela.

Era a única pessoa a quem devia realmente a verdade. Lílian e o marido arriscaram tudo para ajudá-lo e agora estavam em perigo por sua causa, e pior, estavam atraindo mais pessoas para o problema. Os Winston não precisavam passar por aquilo.

— Eu menti.

Todos ergueram as sobrancelhas com aquela declaração, mas ninguém disse nada. Era Lílian quem devia perguntar.

— Mentiu sobre o quê?

— Sobre não saber de onde vim, sobre como cheguei aquela floresta — disse Harry. — Nunca estive confuso. Eu tinha a verdade o tempo inteiro, mas não podia contar.

— Mas por quê?

— Por que vocês jamais acreditariam que sou um bruxo.


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Notas finais do capítulo

É... Harry falou na lata que é bruxo. Deve ser porque ele já explicou tanto para outras pessoas, que agora nem fica mais apreensivo em dizer a verdade.
Um outro ponto do capítulo é Marlene McKinnon. Eu me questionei muito se devia colocá-la na história. No início, fiquei muito empolgada com a personagem, pois em várias fanfics ela tem um romance com Sirius. Mas depois me lembrei que ela foi assassinada com a família e nunca foi especificado se era casada ou se travavam dos pais e irmãos dela, e muito menos a idade dela.
Eu gosto mais da versão romance com Sirius Black, então eu decidi deixar assim. Se você aprova, deixa aí nos comentários para que eu saiba.
Até o próximo capítulo!



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