Outra maneira? escrita por donelena


Capítulo 9
Comptine d'un autre été: l'aprés midi


Notas iniciais do capítulo

CHEGOU O CAPÍTULO MAIS LINDO, CORRE



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365 dias desde assalto.

Raquel tentava ser resignada. Fazia um ano desde o início do assalto. Um ano do maior assalto da história. E ela, a inspetora mais renomada, agora estava sentada em sua cama, comendo e relembrando o que tinha sido aquele início e o que ele significava.

Mudança. Ou transição?

Raquel pensou em Sergio, o seu Salva, e na dor que sentiu quando chegou em casa e lembrou que nunca mais ligaria para ele. Ou escutaria a sua voz.

Levantou-se e foi até o quarto de Paula, agora vazio: ela estava na escola. Pegou um livro na estante mais alta, onde tinha guardado os cartões postais. Tinha colocado eles ali num dia de chuva, e prometeu não olhar, mas tampouco tinha coragem de jogá-los fora. Eram uma lembrança tão boa.

Sentou em sua cama, novamente, e, sorrindo, olhou um por um, até parar no de Palawan. Tinham sonhado com um futuro tão improvável. E, agora, Raquel se sentia infantil e um pouco envergonhada de ter acreditado que teria sido possível.

"Mas como era bom"

O que Sergio tinha causado nela ninguém jamais entenderia. Talvez nem ela mesma.

"Vamos embora" ele disse

Ela sorriu ao lembrar da voz sussurrada dele.

Foi quando virou o cartão postal.

E foi virando os outros.

Raquel não acreditou quando viu um mapa, e a localização.

"Não é possível" Raquel procurou desesperadamente pelo telefone, para verificar as coordenadas "Ele não pode ter planejado até isso."

Raquel começou a rir e seu coração podia muito bem pular pela sua boca, tamanha era a emoção.

"Ele planejou até isso" a ex-inspetora respirava muito rápido, nervosa. Seus dedos tremiam levemente.

— LAURA! - chamou pela irmã.

A mulher não conseguia acreditar que sabia onde ele estava. O rosto mais procurado da Espanha. O cérebro do maior assalto já visto. O homem por quem tinha se apaixonado. E que tinha planejado tudo, inclusive fugir e trazer consigo a mulher que gostava.

— LAURA! - gritou novamente, mas a irmã já estava chegando, correndo desesperada até a porta do quarto

— Raquel! O que houve? - perguntou, apreensiva e preocupada, abrindo a porta.

— Senta - Raquel recolheu os postais e colocou dentro do livro e bloqueou o telefone

— O que houve? Tá tudo bem…?

— Laura! Eu preciso contar isso, ok? E você vai me prometer que não vai contar pra ninguém porque senão eu juro que…

— Raquel, você tá me assustando…

— Você quer ouvir sobre o assaltante ou não?! - levantou a voz. A irmã mais nova arregalou os olhos, seus cabelos claros caindo sobre os ombros agora contraídos de nervoso.

— Tudo bem, pode contar.

Raquel respirou fundo. Olhou para Laura, que estava curiosa e apreensiva. A ex-inspetora levantou as sobrancelhas, inclinou um pouco a cabeça e pensou por onde começar. O café. O celular. O jantar e a arma. O beijo. O sofá. O piano. A voz sussurrada e o tique do óculos. Os hematomas. O peito. As mãos. A gravata. A blusa social. A voz sussurrada perguntando se ela não queria escapar.

Raquel olhou para o criado-mudo e abriu uma gaveta. Tirou um lápis lá de dentro e prendeu o cabelo.

Ficou séria.

Encarou a irmã.

— Ele começou perguntando o que eu vestia…

366 dias desde o assalto.

Um dos telefones de Sergio tocou. Não era habitual que aquilo acontecesse, mas o homem pôde se acalmar quando ouviu uma voz feminina conhecida.

— Professor…

— Lyudmilla, o que houve?

— Eu preciso te avisar de Raquel. - o Professor engoliu a própria saliva, nervoso - Aconteceram umas coisas nos últimos meses. Como você não ligou mais, não o avisei. Também parei de segui-la diretamente, fiquei mais esperando as notícias da polícia, que Darko já passou para você, acho. Mas sei que a mãe dela foi internada. Uma outra moça, que acho ser a irmã, foi morar na casa dela depois que…

— Tanta coisa aconteceu e você não me falou?

— Estou falando agora.

Sergio respirou fundo e tirou os óculos.

— Desculpe. Continue.

— Pois bem, o ex-marido dela foi preso.

— Como? - Sergio levantou-se da cama

— Ele foi preso e a irmã dela voltou para casa. E logo depois a mãe dela foi internada, creio que um estágio avançado de Alzheimer.

O Professor não podia acreditar que tudo isso acontecera e ele… Não estava. E nunca esteve.

— E por que você me chamou agora, Lyudmilla?

— Porque ela comprou uma passagem para Palawan há algumas horas.

Sergio não conseguiu acreditar. Encostou na parede e aos poucos foi cedendo à gravidade e sentou no chão. Seu estômago embrulhou e seu coração começou a bater extremamente rápido, sua respiração ficou descompassada e seus olhos, arregalados. Não era possível.

— Isso é… - sussurrou, mal sabendo o que dizer - Isso é verdade?

As mãos começaram a tremer e Sergio teve que ouvir a voz de Lyudmilla ao fundo para que sua mente voltasse ao presente.

— Sim. A passagem é para daqui há 2 dias. Não sei como, mas ela te achou. Devo me preocupar em tirar você daí? Posso ligar para Darko e ele…

— Não, estou bem. Vou recebê-la. Obrigada por tudo, Lyudmilla. Quando quiser sair de Madri, providencio tudo para você.

— Já estou fora de Madri, Professor. Mas estarei no mesmo aeroporto que a inspetora em dois dias. Para ver se não é seguida. Depois disso, vou para a ilha. Só nos falaremos quando eu chegar lá. Ou se algo der errado no aeroporto.

— Certo.

— Obrigada, Professor. E boa sorte.

Ele riu.

— Com o quê?

— Com ela, oras. - Sergio arrumou os óculos - Darko me contou, mas ele disse que não entendeu nada. Quer me fazer entender agora?

— Olha… Eu até poderia, mas é muito complicado.

— Bom, de qualquer jeito, sou um telefone disponível. Até mais, Professor.

— Até…

Quando tirou o telefone do ouvido, o Professor podia jurar que tinha ficado surdo. Não era possível que ela estivesse vindo. Era?

Fechou os olhos e se lembrou dela, das coisas que sentira perto dela. E, de repente, todo aquele sentimento que tinha dado por morto reacendeu-se. As mãos tremiam. E a imagem da boca aberta de Raquel preencheu a mente de Sergio.

Ela estava vindo.

Estar nesse estado de quase pânico significava que ele ainda gostava dela? E quanto aos meses em que tinha guardado a inspetora num canto tranquilo da mente? Ele tinha praticamente desistido de sentir qualquer coisa. Ela era só uma lembrança boa. E logo hoje, um ano do início do assalto, ele descobria que ela vinha atrás dele. E vinha para vê-lo. E para ficar com ele. E para… Viver ali?

Os dois falaram de futuro muito rápido, era verdade. Mas tudo foi muito rápido. Era certo que nunca falaram de sentimentos. E que talvez não fosse possível construir um relacionamento de verdade. Mas só a ideia de vê-la novamente fez com que ele se enchesse de um calor e uma alegria antes tão distantes. Confuso e feliz, Sergio começou a rir sozinho. Levantou-se e olhou-se no espelho. Seu rosto estava vermelho, como quem tem vergonha. Rindo, passou as mãos pelo rosto. Estava nervoso, ansioso e, sobretudo, apreensivo. Não sabia o que esperar desse reencontro, mas sabia, com certeza, que abraçaria Raquel por quanto tempo fosse necessário para que seu peito se sentisse aliviado.

"Raquel"

Voltava à sua musa.


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Notas finais do capítulo

ESPERO Q VCS ESTEJAM ESCUTANDO AS MUSICAS obg



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