Underwing escrita por Blogbi


Capítulo 4
Novo "Amigo"




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Frisk

Acordei enrolada em minhas cobertas, provavelmente por causa daquele frio estranho que senti no dia anterior, mas nessa manhã ele parecia já ter passado, então pulei da cama sem medo de ser congelada caso estivesse fora dela. Fui andando calmamente até a porta até que ouvi um ronco, que estava vindo de mim.

Acabei por correr pelo corredor e descer as escadas rápido, afinal estava morrendo de fome, mas estranhei, a casa estava imersa em um profundo silêncio, além de que durante todo o caminho, desde o meu quarto até a cozinha, não me deparei com mamãe, pensei que talvez ela estivesse com o estranho que trouxemos ontem, e minha preocupação dobrou. Senti um cheiro delicioso, vendo que tinha uma torta assando no forno, então soube que ela não saiu, afinal se ficasse sozinha a torta poderia queimar. Subi as escadas esperando encontrá-la em seu quarto, mas nada.

Estava quase tendo um infarto com todas as possibilidades que passavam por minha cabeça, e se o estranho fez algo com ela? Será que estava machucada? Talvez morta?! Me assustei quando percebi alguns sussurros vindo do quarto ao lado do meu, me aliviando imensamente quando abri uma pequena brecha na porta e a vi sentada na ponta da cama, mas não baixei a guarda nem por um segundo, escutando ela falar calmamente em seu tom doce de sempre.

—-- Está melhor agora? --- ela perguntou para quem quer que estivesse deitado na cama.

—-- Sim, muito melhor! --- escutei uma voz grossa.

—-- Muito bem, então vamos lá para baixo, a torta já deve estar pronta --- ela disse enquanto se levantava, se virando e me vendo --- Minha pequena, está tudo bem?

—-- Claro! Por que não estaria? --- disse tentando não demonstrar o nervosismo em que estava poucos momentos atrás, conseguindo contê-lo por pouco. Mantinha meu olhar para o ser que estava logo no encalço de mamãe, não conseguia ver ele por causa das sombras em que o quarto se encontrava. Tenho certeza de que, se abrisse meus olhos, ele conseguiria ver o fuzilamento que eu lhe lançava.

—-- Bem, hoje de manhã você estava estranha, fiquei preocupada…

—-- Agora já estou melhor, devia ser só uma dor de barriga.

Ela me olhou desconfiada, mas resolveu não insistir no assunto, se virou e chamou o estranho, me pegou no colo e levou nós dois para baixo. Eu observava aquele ser por cima do ombro de mamãe.

Quando o vi pela primeira vez me assustei, ele era muito parecido comigo, tinha suas diferenças mas, se comparado com os outros monstros, ele poderia ser considerado meu irmão!

Você nunca viu um humano?

—-- Um humano?... --- me perguntei baixinho, mamãe já tinha me largado no chão e foi buscar a torta. O humano me olhava curioso, deve ter escutado o que falei.

Isso! Ele é um de nós!

—-- Como assim “um de nós”? --- eu continuava sussurrando, sempre conversava assim com minha cabeça, ela parecia saber mais do que eu.

Nós somos humanas, você não sabia?

—-- Não! Eu sou um monstro! Mamãe é um monstro, então eu também sou!

Sua bobinha, nunca ouviu falar em adoção? Você caiu aqui quando era um bebê, e a mãe te acolheu e te adotou, você nunca foi filha dela de verdade.

Fiquei sem reação, não sabia o que falar ou fazer, mas quando vi mamãe atravessando a porta acabei por soltar sem querer:

—-- Pòr que nunca me disse que eu não era sua filha?

Saiu frio com um pingo de mágoa em meu tom. Consegui ouvir um engasgo em algum lugar, mas não veio da monstra.

Ela paralisou onde estava, no meio do caminho entre a porta e a mesa, dava para perceber que apertava os pratos com os pedaços da torta com mais força do que era preciso.

—-- Er… minha pequena, veja bem, não por mal… --- ela olhou desesperada para o humano, que pulava seus olhos castanhos de mim para mamãe, como se ele pudesse ajudar, então pediu para que ele subisse e caminhou até a mesa, se sentou na cadeira ao meu lado enquanto depositava os pratos na mesa e me olhava séria --- Quem te contou?

—-- Minha cabeça. --- ela franze o cenho, com certeza achando isso muito estranho, mas ela nunca insistia muito em um assunto devido a minha idade, talvez pensasse que eu tinha pegado um de seus livros e inventado que saiu de mim, então continua sua fala:

—-- Minha pequena, --- ela começou, olhava para qualquer lugar, menos para mim, porém ainda consegui ver que seus olhos brilhavam um pouco, como se ela fosse chorar --- eu te achei no buraco da barreira que sempre visitamos, alguém tinha te jogado lá da superfície e eu não podia te deixar ali, --- ela gesticulava freneticamente e, quando finalmente me encarou, puxou as minhas mãos e as segurou --- então te trouxe para cá. Eu nunca te contei pois pensei que seria muito doloroso para você saber que sua verdadeira mãe não te quis.

Eu percebia que mamãe estava se esforçando para dizer tudo aquilo, como se lhe doesse a cada palavra que saía de sua boca, senti um calor me invadir e, de repente, não aguentei ver ela desse jeito, então resolvi que aquele assunto estava encerrado, apesar dessa grande e surpreendente notícia (pelo menos para mim), foi ela quem me criou e ela quem eu considero minha mãe.

—-- Tudo bem! --- digo a abraçando, mas estranhamente não parece que eu que fiz isso, meu corpo se movia sem que eu mandasse... Ela demorou para retribuir, talvez estivesse em algum tipo de choque com minha mudança repentina de humor, mas acabou por me abraçar de volta. Quando nos separamos ela me pegou em seu colo e me levou para cima --- Mas e a torta? --- protestei, ela só riu e disse:

—-- Quero que você o conheça antes.

E assim, quando chegamos no topo da escada, encontramos ele sentado com as costas encostadas na parede. Quando nos viu, ele se levantou desamassando a roupa ficou olhando para mim. Ele tinha o dobro da minha altura ou mais, quase alcançando mamãe, que é o monstro mais alto que eu conheço.

Que ótimo jeito de conhecer alguém.

—-- Cala a boca. --- digo entredentes em um sussurro.

—-- Oi! --- ele diz amigável --- Meu nome é Leah. --- ele estende a mão.

—-- O meu é Frisk. --- digo apertando a mão dele. Não fiz nenhuma careta, ou algo do tipo, mas também não gostei nada de ter um contato com ele. O motivo? Ciúmes.

—-- Ele vai ficar conosco, Frisk, será o seu irmão daqui em diante! --- mamãe disse bastante animada. Fico imaginando o que se passa por sua cabeça, talvez ache que agora eu terei um “amigo”, alguém para conversar, mas tudo que pensei naquele momento foi que eu teria que dividi-la com outra pessoa.


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