Brincadeiras inocentes escrita por Stefani Niemczyk


Capítulo 1
Naquele Dia




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— Sua mãe!

O Douglas quase bateu no Thiago quando ele disse aquilo.

— E eu a sua irmã! – Respondeu Douglas, retribuindo a provocação.

— Ela eu também pegava! – Comentei, lembrando daquela única vez que fomos à casa do Thiago e vimos a irmã mais velha dele.

— Ela tem namorado, seus trouxas! – O irmão tentou defender.

— É porque ela ainda não sentou aqui! – Disse o Gustavo, pressionando as mãos contra seu quadril.

Todos nós rimos, exceto o Thiago, que não estava gostando de ouvir aquelas coisas da irmã dele. Um pouco irritado, reclamou:

— Achei que era pra falar só das meninas da escola!

— Então quem você pegaria? – Perguntei.

— A Nathália do B, sem dúvida. Eu ia fácil!

— Hahahaha, e você acha que ela ia ligar pra você? – Debochei.

— Tá falando o quê, Bruno? Você disse que quer pegar a Marina mas ela também tá muito acima do seu nível! – O Douglas me disse.

— Ah, para, né, Douglas? Eu só não peguei ela ainda porque eu namoro.

— Tá bom hahahaha! – O Thiago comentou, puxando risadas dos outros dois.

— É sério, eu já vi que ela fica olhando pra mim quando estou treinando!

— Mas isso não quer dizer nada. – Retrucou o Douglas. – Metade das meninas do colégio adoram olhar o capitão do time treinar.

— As que não olham é porque namoram ou porque são sapatão! – Riu Gustavo.

— E mesmo as que namoram dão uma espiadinha. – Completei.

Apesar de estarmos zoando ali, isso não era mentira. Eu tinha bolsa por fazer parte do time de futebol, então tinha que treinar bastante porque quanto melhor minha performance fosse num ano, maior o desconto que eu conseguia no outro. Isso fez com que eu chegasse ao terceiro ano do ensino médio como um dos melhores atletas que a escola já teve.

Eu treinava três vezes por semana na escola e fazia musculação todos os dias. Isso me deu um corpo bem forte e bonito, e juntando com a fama das várias medalhas de ouro e prata que nosso time conseguia nos campeonatos, eu era um dos garotos mais desejados do colégio.

— E pelo jeito não são só as meninas! – Comentou Thiago, apontando com a cabeça para o outro lado do refeitório.

Olhamos e, numa mesa sozinho, estava o Vitor, segurando um salgado com uma mão e o celular com outra.

— Merda, ele virou, mas eu juro que ele estava olhando pra você até eu comentar! – Thiago se desapontou.

— Sai fora, mano! – Falei imediatamente. – Não vem jogar homem pra cima de mim, não! Tá me estranhando?

— Ele é viado mesmo, gente? – O Douglas, sempre o mais desligado, questionou.

— MANO HAHAHAHAHAHA! – O Gustavo riu alto, chamando atenção do refeitório inteiro.

— Claro que é! – Respondi.

Um pouco constrangido pela risada de Gustavo, Douglas se explicou:

— Ah, sei lá, é que nunca vi ele confirmando isso...

— E precisa de confirmação?! – Gustavo ainda se divertia com a ingenuidade do colega. – Olha o jeitinho que ele anda e a vozinha fina dele!

— Você não deve ter reparado porque ele é muito invisível. – Esclareceu Thiago. – Tá sempre no mundinho dele e só fala com os professores.

— Ele é estranho. – Comentei, olhando rapidamente para Vitor, que agora estava com fones de ouvido conectados ao celular.

— Claro, ué, ele é viado! – Gustavo respondeu.

— Ele só é muito sozinho. – Senti um tom de dó na voz do Douglas quando ele disse isso.

— É porque ele é a única bicha da escola. As lésbicas ainda namoram. – Thiago se referia a duas meninas do segundo ano que andavam pela escola de mãos dadas. – Já ele não, nunca vi outra bicha na escola.

— Como não? – Gustavo disse, apontando para Douglas.

— Sai fora, seu gordo! – Douglas respondeu enquanto Gustavo se divertia com a provocação que fizera, sem se importar com o xingamento do colega.

— Cuidado, Bruno! – O Gustavo me alertou. – Qualquer dia desses você encontra o Vitor te olhando treinar.

— Credo, mano!

Ele, então, se divertindo com a situação toda, sugeriu:

— Vai lá, passa perto dele e, quando ele olhar pra você, dá uma piscadinha. Ele vai adorar hahahahaha!

— Eu não, vai que ele gosta e acha que é sério! – Me defendi.

Nós quatro rimos e terminamos de comer. Quando bateu o sinal para voltarmos à aula, eu dei uma última olhada no Vitor. Ele continuou com os olhos presos em seu celular como se nada tivesse acontecido. Achei que talvez não tivesse ouvido o sinal por causa dos fones, mas nem liguei.

Naquela tarde, eu já estava me aquecendo para o treino quando percebi que algumas meninas já começavam a sentar nas arquibancadas da quadra como quem não queria nada. Eu e os outros garotos do time já havíamos comentado sobre isso no vestiário, então sempre que elas chegavam e gente já sabia por que estavam ali.

Nós éramos o time do terceiro ano do principal esporte da escola, não havia ninguém acima de nós, tanto em preparo físico quanto em reputação. Aquelas meninas que ficavam nos desejando só inflavam nosso ego e provavam que a gente poderia pegar qualquer uma do colégio. Eu mesmo já tinha me divertido com algumas antes de começar a namorar com a Aline e não foi nem um pouco difícil conquistar elas, sejam as meninas que eu pegava sem compromisso ou o amor da minha vida. As meninas gostam da combinação “capitão do time + barriga de tanquinho”.

Começamos a treinar e, em pouco tempo, já estávamos suados. A gente sabia que as garotas gostavam de ver nossos corpos, mas não podíamos ficar sem camisa na escola, então a gente dava um jeitinho de ficar se exibindo. Limpávamos o suor da testa com a camiseta só pra mostrar a barriga, enrolávamos as mangas para parecerem regatas, mostrando todos os músculos do braço e fingíamos coçar as costas só pra levantar a camiseta atrás. Elas adoravam. E nós adorávamos ser adorados.

Depois, no vestiário, a gente sempre ficava falando da nossa “plateia”. Elas olhavam todos os garotos, mas nós sabíamos que eu era quem recebia mais atenção. Fazer o quê, né?!

É claro que a gente gostava de ver as meninas olhando a gente, mas esse não era nosso foco. Como eu disse, nosso time já havia trazido diversos troféus para a escola e cada atleta ali tinha uma coleção farta de medalhas. Isso era resultado do nosso esforço, foco e trabalho em equipe. Então, apesar de gostarmos das meninas ali, nossa atenção estava no treino e nas orientações do treinador.

Talvez por isso eu nunca tivesse reparado direito nas meninas. Claro que entre uma jogada e outra a gente dava uma olhada pra arquibancada, mas nunca focando totalmente ali. Nunca prestando atenção exatamente a cada garota sentada ali. Até porque não precisava, praticamente todas as meninas da escola ficavam ali.

Naquele dia, porém, eu percebi algo que jamais tinha visto. Eram tantos rostos de tantas meninas que algumas eu nem conhecia. A maioria sentava em grupos e ficava mexendo no celular, fazendo dever de casa ou comendo alguma coisa. Mas, naquele dia, eu percebi uma que estava um pouco escondida.

Ela estava bem no começo da arquibancada, perto do chão e das escadas de acesso. O que me chamou a atenção foi que ela estava sozinha, diferente das outras dezenas de garotas que se aglomeravam em grupos. As barras de segurança da arquibancada, bem como o corrimão da escada de acesso não me deixavam ver direito quem era. Eu estava do outro lado do campo, e com o uniforme da escola, todas elas pareciam iguais, de longe.

Não liguei e continuei o treino, como sempre, focando nos resultados. Talvez ela tivesse brigado com as amigas naquele dia e estava afastada do grupo dela. Ou talvez fosse uma dessas meninas tímidas que não falam com ninguém e que ninguém percebe quando faltam na escola.

— Muito bem, gente! – Comandou o treinador. – Agora vamos inverter os lados.

Todos nós mudamos de lado na quadra, como sempre. Eu era capitão do time, então era um dos que mais jogava e tinha que ficar identificando falhas nas jogadas para ajudar o treinador a elaborar as estratégias de jogo. Por isso, minha mente estava sempre focada ali, no futebol. Por isso, assim que trocamos de lado, continuei focado no time e nas jogadas. Só depois de um tempo percebi que, agora, eu estava no lado da quadra onde aquela menina sozinha estava.

Quase involuntariamente, quando lembrei disso, olhei para onde ela estava sentada. Eu estava em outro lugar na quadra, numa posição em que as barras de segurança não esconderiam a garota. Também estava mais perto, o que ia me ajudar e ver seu rosto melhor.

Como disse, nós não ficávamos prestando muita atenção às garotas, mas aquela havia me chamado atenção porque não me lembro de ver meninas sozinhas ali. Na verdade, eu acho que elas até teriam vergonha de irem sozinhas, porque quando estão em grupo podem fingir que estão ali para conversar e não para ficarem olhando para a gente.

Quase levei um susto quando vi quem era. Eu treinava ali há uns três anos e nunca tinha reparado naquilo. Aquela menina estava, de fato, sozinha. Mas não era uma menina, era o Vitor!

Ainda com seus fones de ouvido, dessa vez ele não olhava para a tela do celular, e sim para o time em campo. Quando virei meu rosto em sua direção, ele percebeu e automaticamente olhou para mim também. Foi numa fração de segundos, mas percebi os olhos dele abrindo como quem se espanta com alguma coisa.

Ao perceber que eu estava olhando pra ele, o garoto recolheu sua mochila e sua blusa que estavam jogadas na arquibancada ao seu lado e saiu apressado de lá. Rapidamente voltei minha atenção ao treino e continuei me esforçando para melhorar, como sempre. Mas, naquele dia, lá no fundo da minha cabeça, uma série de perguntas ficaram martelando. Será que ele sempre estava ali e a gente nunca tinha visto? Será que ele estava ali pra ficar vendo os meninos suados? Será que os meninos estavam certos e ele realmente ficava olhando pra mim e eu nunca tinha percebido?


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Notas finais do capítulo

Primeiro capítulo de uma nova história!

Eu sei que ainda é cedo, mas digam o que acharam desse capítulo, dos personagens e como acham que a história vai se desenvolver.

Toda crítica é bem-vinda ^^)

Obrigada!



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