Re;Blade escrita por phmmoura


Capítulo 23
Capítulo 22 - Nicolas e Otto




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— Confira todos os cadáveres. Se tivermos sorte, as armas e armaduras ainda estarão inteiras. Já sabem o que fazer se alguém estiver vivo — disse Nicolas após a água abaixar e eles poderem ver os vales entre as colinas.

E tudo que restou foi uma trilha de destruição e morte.

O líder dos bandidos da floresta não se moveu.

— Se o exército voltar, meu povo vai morrer — disse em voz baixa e neutra, se esforçando para não parecer contradizer o homem que fora a Espada do Rei. — Não temos a neblina agora. Precisamos sair daqui já.

Nicolas encarou o pequeno homem, analisando seu novo companheiro.

Por um instante, Tetsuko sentiu a intenção assassina. Otto também. Mas não hesitou.

Porém, ela desapareceu tão rápida quanto surgiu.

— Não se preocupe, Otto. Eles não vão voltar. Não tão cedo. E não será esse exército — disse, olhando para o vale por onde alguns corpos estavam por perto. — Se Enrique sobreviveu, ele vai procurar por isso em vez de tentar matar seu povo.

Ele indicou o nobre inconsciente com a cabeça.

É verdade, pensou a alma dentro da espada. Se o Enrique estiver vivo, ele provavelmente vai pensar que Alonso foi pego pela correnteza… Duvido que saiba que ele foi capturado… ninguém viu…

Ela se virou para seu portador. O cabelo preto estava manchado de sangue.

Aquele golpe na cabeça foi pesado… vai demorar um pouco pra que acorde… especialmente se pensar nos ferimentos de antes. E ele será um prisioneiro assim que despertar…

A alma dentro da espada voltou sua atenção de volta ao responsável por aquilo. Não pode ser coincidência que a energia dele seja tão retorcida quanto a de Caos Sortudo… É praticamente a mesma…

Mas como ele pode estar envolvido nisso? Ele planejou antes de sugerir os planos para Alonso? Ele informou Nicolas depois? Por que faria isso?

Tetsuko não sabia as respostas para essas perguntas. Mas tinha certeza de uma coisa.

Como meu portador previu… o Caos Sortudo acabou sendo sua ruína…

Otto ainda hesitou em ordenar seus bandidos.

— Nós dois precisamos de mais armas — prosseguiu Nicolas, tentando convencer o outro líder. — Depois disso, o Rei não poderá fazer mais vista grossa pra mim. E agora você está envolvido.

— Eu jamais quis isso! — gritou Otto, atraindo olhares das pessoas próximas. Apesar da diferença de altura, o líder dos bandidos da floresta não se deixou intimidar.

Nicolas usou a altura a seu favor, olhando o outro homem de uma posição superior.

— Não importa se você queria ou não. É parte disso agora. Lembre-se, você veio até mim — disse, em voz baixa.

Otto pressionou os lábios e abaixou a cabeça. Ele fechou o punho com tanta força que tremia. Então, com uma voz frustrada, ele ordenou que seus subordinados descessem e pegassem qualquer coisa útil que pudessem encontrar e matassem quaisquer sobreviventes.

— Bom trabalho, novo parceiro. — Nicolas mostrou um sorriso que não tinha qualquer alegria.

Apesar de não estarem acostumados ao trabalho de catadores, os bandidos coletaram armas e armaduras para compensar o equipamento que deixaram na floresta.

Nicolas parecia satisfeito.

— Ótimo. Agora vamos voltar e celebrar! — gritou.

Alguns comemoraram com ele, mas a maioria permaneceu em silêncio.

Porém, as pessoas começaram a sorrir aos poucos. Logo torciam junto ao líder.

Nicolas sabe como lidar com as pessoas… Até nessa situação.

Tetsuko podia sentir o clima geral do ambiente.

Não era só a alegria da vitória. Eles também comemoravam sua sobrevivência.

Meu novo portador é um líder…

Sem descer pelo labirinto, Nicolas levou os dois grupos por um caminho pela floresta.

Quando puderam ver a saída da floresta do Labirinto de Colunas de Pedra, o sol começava a se pôr.

Nicolas não disse nada enquanto sentava. Otto hesitou, mas sentou também.

Quando o sol se pôs por completo e as estrelas brilharam no céu sem luz da lua, um grupo de montadores veio do norte.

— Eles chegaram — disse Nicolas em voz baixa, descendo a colina para encontrar os montadores.

Apesar da situação, Tetsuko não pôde conter a admiração por seu novo portador.

Não sei se ele planejou isso tudo sozinho, mas conseguiu controlar o tempo da luta e a caminhada até aqui pra evitar os perseguidores…

Ele é realmente esperto e astuto. Não é de se estranhar que foi o líder do exército Real anos atrás.

Quando as armas e armaduras estavam a salvo, e os feridos, bem como Alonso, presos nos cavalos, eles seguiram para o esconderijo de Nicolas.

Então isso é um pântano… Tetsuko não conteve sua surpresa.

Podia ser descrito como um lugar cheio de lama, onde água e terra brigavam pela dominância.

Árvores estranhas com vinhas grossas combinadas à água fedida e lama criaram uma terra nada receptiva.

O cheiro é horrível… e familiar…

Logo ela percebeu de onde se lembrava do cheiro.

É o mesmo das plantas que Caos Sortudo trouxe… então ele está por trás de tudo…

O povo de Otto hesitou enquanto encarava o pântano escuro.

— Cuidado onde pisam — disse Nicolas, com um sorriso.

Alguns bandidos riram enquanto o seguiam.

Otto olhou para seu povo e assentiu, apesar de hesitar.

Ele é um prisioneiro igual a Alonso, ainda que não esteja amarrado…

No silêncio mórbido no qual em nada lembrava o clima de comemoração de antes, os bandidos caminhavam em uma fila única.

— Deixem os cavalos aqui — disse alguém após um tempo.

Em um caminho longo e seco de terra alta no meio do pântano, havia estábulos que poderiam proteger animais do frio e da chuva, mas de nada mais.

O cheiro de carne podre era muito forte.

— Daqui em diante, vamos de barco — explicou Nicolas, em voz baixa.

Até ele evita fazer muito barulho aqui, percebeu Tetsuko.

A vida selvagem do pântano os deixava sempre em alerta.

Ela podia sentir milhares de energias aqui e acolá. Mas ainda não vira nenhum ser vivo além dos cavalos e dos bandidos.

Todos os animais podem sentir os humanos… Só aguardam uma chance pra conseguir comida…

Minha cabeça dói com isso, pensou, fechando os olhos que não tinha por um instante.

Enquanto clareava a mente, ela sentiu.

Uma grande energia vindo na direção deles.

Alguns segundos depois, apareceu, subindo na terra com suas pernas curtas.

Mais de vinte metros da cabeça até a cauda, o animal parecia pesar uma tonelada.

É isso que eles chamam de crocodilo…?

Não tem como essa coisa ser considerada uma cobra com pernas…

Os bandidos da floresta recuaram o máximo que puderam de uma vez. Alguns até gritaram, atiçando ainda mais os animais selvagens.

Um homem tropeçou e caiu na água.

Os amigos foram ajudar, mas antes que pudessem fazer qualquer coisa, um crocodilo bem menor surgiu das profundezas da água.

Ele mordeu a perna do homem e o arrastou para baixo em um instante.

A água espirrou enquanto o homem tentava revidar. Mas ele perdeu.

Bolhas de água emergiram por um instante. Depois pararam.

Otto parecia chocado, mas Nicolas deu de ombros.

— Eu avisei pra tomarem cuidado — disse, caminhando até o crocodilo monstruoso.

Havia uma espécie de sela nas costas do animal. Diferente da de um cavalo, essa era alta o bastante para que as pernas do montador não encostassem na água.

Enquanto o animal se afastava, centenas de bandidos apareciam da escuridão em barcos para quatro pessoas.

Aos poucos, todos os bandidos montaram e seguiram o bando dos bandidos do pântano.

Então o Senhor do pântano realmente monta um crocodilo como um cavalo, pensou Tetsuko enquanto chegavam ao seu lar.

Quando todos se acomodaram no quarto principal, Nicolas ordenou que tratassem os ferimentos de Alonso antes de colocá-lo na prisão, deixassem as armas no arsenal e trouxessem comida e bebidas.

— Sei que foram dias difíceis pra todos. Mas agora que o exército foi derrotado, é hora de celebrarmos! — gritou ele, que um dia foi a Espada do Rei, bebendo uma garrafa toda de vinho sozinho.

Todos relaxaram e o clima se aliviou aos poucos.

Só Otto ficou sem se juntar a comemoração.

— O que lhe aflige, novo parceiro? — perguntou Nicolas, com o rosto um tanto vermelho de todo o álcool que tomou.

— Como posso celebrar quando tantos do meu povo e amigos morreram? — disse, em voz baixa e frustrada.

— É o risco de fazermos isso — disse Nicolas, indiferente.

— Não sou como você! Não escolhi isso porque queria. Nenhum de nós queria. Mas se não roubássemos, teríamos todos morrido já.

Nicolas encarou o homem mais baixo, a raiva clara em seu rosto.

— Eu não escolhi isso também — disse, em voz baixa.

Tetsuko sentiu novamente. A energia do homem ficava menos retorcida e a outra energia ficava mais forte dentro dele.

— Eu fui a Espada do Rei. Matei inimigos por ele, inimigos dele. Fiz seu território crescer. Mas, então, por causa de um erro, tudo mudou. Fui expulso. Chamado de traidor. Sentenciado à morte… Era a única forma de permanecer vivo…

A energia era mais clara do que nunca. Ao mesmo tempo, os olhos dele ficaram mais vivos.

Mas, no instante seguinte, isso sumiu, sua energia voltou ao aspecto retorcido como a de Caos Sortudo, e os olhos perderam o brilho.

A raiva de Nicolas sumiu.

— Sei o que você está sentindo. Em vez de me tratar como inimigo, que tal sermos verdadeiros companheiros — disse, oferecendo um copo de vinho para o homem mais baixo.

Otto aceitou a bebida. Ele encarou e fechou os olhos. Ao reabri-los, eles brilhavam com o olhar de quem faria tudo para salvar as pessoas que considerava serem sua família.

— Você tem razão. Estou aqui agora e não tem nada que possa fazer pra mudar isso. Então, sejamos companheiros de verdade — disse, bebendo o vinho em um gole só.

Nicolas sorriu e ofereceu a mão.

Otto aceitou.

Foi quando aconteceu.

Foi fraco, mas não teria como Tetsuko deixar passar.

Enquanto os homens apertavam mãos, a energia de Otto ficava retorcida.

Foi bem pouco, mas, ao mesmo tempo, seus olhos perderam um pouco de cor, se tornando pálidos.


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