Kõri no monsutã escrita por Vênus


Capítulo 2
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—Você viu o que ela fez?

   O guarda ruivo perguntava em um sussurro enquanto acompanhava Nili. Nenhum deles conseguiu reagir após o fato de terem suas espadas congeladas, era um poder do clã Hyoga que não havia mais sido executado há anos, e, naquela manhã, uma simples garota desconhecida o usou. Eles não tinham permissões para deixá-la entrar, nem para levá-la até à diretoria do Instituto como estavam fazendo naquele instante, mas diante do que havia ocorrido, não havia como não avisar.

   Com os olhos sem piscar e com as mãos tremendo, o outro guarda estava nervoso demais para responder seu colega, seu único pensamento era de levar aquela garota para a diretoria e ter tudo esclarecido, com certeza aquilo devia ser um truque. Um truque muito assustador.

   Eles pararam Nili para que os ouvisse.

—Vamos subir as escadas agora, -disse o ruivo- você vai à nossa frente.

   Ela apenas assentiu com a cabeça.

   A escada era feita com madeira de pinheiro, seu verniz refletia a imagem das pessoas que por ela passavam, o corrimão era feito do mesmo material, porém, pintado de preto.

   Nili contou cada degrau, havia desejado muito passar por aquelas escadas, queria guardar cada detalhe, era o dia mais importante, o dia crucial de seu futuro.

   Ao terminar as escadas, o guarda colocou a mão no ombro de Nili sinalizando para ela parar. Agora apenas restava o caminho do corredor até a porta do final dele.

   Uma mulher de cabelos castanhos estava parada na frente da porta.

—Quem é ela?

—Uma garota que Ammy vai receber.

—Ammy não me avisou nada a respeito disso.

   O outro guarda se aproximou dela.

—Não seja chata, Tamiko, avise Ammy que ela tem visita.

   Ela olhou desconfiada e suspirou.

—Tudo bem, -disse ajeitando seus óculos- esperem enquanto eu vou avisá-la.

   Tamiko abriu a porta e entrou rapidamente.

—Agora só basta esperar. –disse o ruivo.

   Nili analisou o local. Havia alguns lampiões acesos grudados na parede verde escura, proporcionando um clima aconchegante. Encostado na parede, um banco de acolchoado vermelho se destacava, parecia ser bem macio.

   A porta se abre.

—Ammy pode recebê-los agora, mas é bom que tenham uma ótima explicação.

   Nili caminhou em direção da porta, seguida pelos guardas.

   A primeira coisa que sentiu foi um cheiro de cereja e menta, era leve e agradável ao olfato, combinava com a sala bem iluminada. A claridade vinha devido a uma grande janela de vidro que se encontrava em um lugar próprio para entrar a luminosidade do sol. Logo a frente da janela, estava a mesa central, onde se encontrava Ammy.

—Pois bem, -disse- no que posso ajudá-los?

   Ela causou um desconforto em Nili. Os cabelos loiros quase brancos de Ammy pareciam brilhar com a luminosidade da sala, dando a ela uma aparência angelical. Mas sua voz e expressão não pareciam nada angelicais para Nili.

   O ruivo começou.

—Ammy...

—Senhorita Ammy. –ela o corrigiu.

—Senhorita Ammy... Trouxemos essa garota em uma tentativa de esclarecer algumas coisas.

   Ammy colocou um pouco de chá em sua xícara.

—Pois bem, qual é o seu nome, minha jovem?

—Nili. Nili Kõri.

   Ammy ficou quieta por alguns segundos.

—Venha mais perto da claridade, não consigo ver seu rosto muito bem de onde está.

   Nili deu alguns passos a frente.

   Ammy, ao vê-la, parou de colocar açúcar em seu chá.

—Kõri... Não é? –riu- Foi uma tentativa de seus pais homenagearem o clã Hyoga?

—Eu escolhi esse sobrenome.

   Ammy agora encaracolava as pontas de uma mecha de seu cabelo.

—É muito bonito de sua parte... –voltou a colocar açúcar- Mas sabe que ninguém do clã Hyoga está vivo para receber essa homenagem, não é?

   O desconforto de Nili só aumentava.

—Apenas gosto desse sobrenome.

   Ammy sorriu arqueando uma das sobrancelhas para ela.

—Já vi o suficiente. Podem levá-la.

   Nili olhou para o guarda de cabelos castanhos, este deu um passo a frente.

—Mas senhorita Ammy, nós...

—Eu disse que já podem levá-la, Yasuki.

   Ammy parecia concentrada enquanto mexia seu chá com uma pequena colher.

—Senhorita Ammy, essa garota utilizou um dos poderes do clã Hyoga.

   Ela parou de mexer seu chá enquanto olhava para o mesmo.

—O que... –fez uma pausa- O que você disse?

—Sei que deve ser apenas um truque, mas achamos importante avis...

—Calado.

   Ammy parecia nervosa enquanto olhava para o chá, as mãos dela se fechavam e abriam.

—Como isso é possível? –ela olhou para Nili- Eu... O clã Hyoga está extinto há anos!

—Ela congelou nossas espadas, -disse o ruivo- não acho que seja um truque.

—Agora entendo porque escolheu seu sobrenome.

   Nili olhou profundamente nos olhos negros de Ammy.

—Eu vim estudar no Instituto. Não posso pagar, mas sei que diante dos fatos, não pode negar uma bolsa para alguém do clã Hyoga.

   Ammy se levantou.

—Pois bem, Nili, prove que você pertence ao clã Hyoga.

   O tom de voz de Ammy irritava cada vez mais, e se era uma prova que ela queria para ficar calada, era uma prova que ela iria ter. Nili concentrou sua essência Hyutai, A sala começou a ficar mais fria, fazendo os guardas estremecerem. Pouco a pouco, os cantos da parede começaram a congelar, juntamente com a grande janela e a xícara de chá. Ammy olhou assustada ao redor dela.

—Acho que não precisa de mais provas. –disse Nili- O Instituto dá bolsas para alunos com alto grau de desenvolvimento ou pertencentes a clãs raros que não tem condições de pagar, está nas regras. E, como você mesma viu, eu pertenço a um clã que foi extinto há anos, seria totalmente contra as regras me recusar aqui.

   Ammy estava com uma expressão de raiva nos olhos, quase uma ruga de expressão se formava em sua testa. Ela fechou as mãos e caminhou em direção de Nili chegando perto o suficiente para a mesma sentir um perfume exagerado de cereja. Ammy sussurrou algo que os guardas não puderam ouvir.

—Como você voltou?

   Nili ficou confusa, ela nunca havia estado no Instituto antes, como poderia ter voltado?

   Ammy interrompeu seus pensamentos, falando alto dessa vez.

—Tamiko vai arrumar um quarto para você, não posso mais contestar... Mas saiba que todos vão ficar de olho em você, principalmente eu.

   Nili agradeceu mentalmente por Ammy ter se afastado logo depois de falar, o cheiro de cereja dela era enjoativo, não era leve como o do ambiente. Ela deu as costas para Ammy e se dirigiu à saída, passando pelo meio dos guardas que estavam em estado de choque observando as paredes congeladas.

   Ela abriu a porta, avistando Tamiko.

—Vocês demoraram! Aconteceu algo? Está tão frio aí dentro...

   Tamiko abriu o restante da porta, vendo o gelo nas paredes e na janela.

—Céus! O que aconteceu aqui?!

—Não me estresse ainda mais, Tamiko. –disse Ammy- Arrume um quarto para essa garota, ela vai estudar aqui, depois já encaminhe ela para a aula prática que deve estar acontecendo agora mesmo.

—Mas...

—Céus, Tamiko! Suma já daqui com essa garota e os guardas!

   Tamiko obedeceu, esperando Nili e os guardas saírem e fechando a porta.

—Essa foi a matrícula mais estranha que eu já vi... Ah, qual é o seu nome?

—Nili Kõri.

   Tamiko sorriu.

—Você tem um sobrenome muito bonito... Lembra a antiga diretora desse Instituto.

—Tamiko, -disse o ruivo- eu e Yasuki vamos voltar aos nossos postos, então... Como posso dizer... Tome conta dessa garota.

— O que você quer dizer, Masato? Eu sempre cuido dos alunos!

—Não é nada, Takimo, –disse Yasuki- vamos, Masato, já passamos tempo demais aqui.

   Os dois somem do corredor e descem as escadas.

—Você chegou em boa hora, Kõri, todos estão na aula prática agora, os pátios estão vazios para andarmos sem sermos atingidas por olhares curiosos.

   Nili assentiu.

—Ah, não se importa que eu chame você de Kõri, não é?

—Não.

—Que bom! É muito bonito.

   Ela acompanhou Nili até as escadas. Tamiko era uma pessoa aparentemente organizada, ela tinha um caderno na mão onde sempre anotava algumas coisas enquanto falava, seus olhos eram grandes e atentos, demonstrando atenção em tudo o que acontecia.

   Começaram a descer as escadas, Tamiko segurava no longo corrimão preto.

   Chegando no pátio a céu aberto, as duas caminhavam em silêncio. Era melhor do que ficar desperdiçando palavras com coisas desnecessárias, pelo menos era assim que Nili pensava.

   Avistaram logo à frente delas um homem bem alto, usava uma máscara preta que cobria o rosto do nariz pra baixo.

—Oh, Katsuto-sensei! Precisa de alguma coisa? –ela olhava para cima.

   Ele fitou Nili, a diferença de altura entre eles era nítida.

—Preciso dessa garota na minha aula.

—O quê?! –disse Tamiko.

—Seja lá o que ela esteja fazendo, com certeza não é melhor do que a minha aula.

—Mas eu tenho ordens para arrumar um quarto para ela...

—Pois bem, arrume enquanto ela participa da minha aula.

—Por que ninguém nunca me ouve?

   Tamiko se distanciou.

—Você vai gostar! Katsuto-sensei é um dos melhores professores!

   Logo em seguida ela saiu.

—Então... –disse ele calmamente- Não vai me dizer o seu nome?


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Notas finais do capítulo

'Kõri" é "gelo" em japonês, o clã Hyoga é o clã do gelo, por isso as pessoas fizeram essa associação com o sobrenome da nossa personagem principal :3 só pra esclarecer mesmo



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