Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 32
XXXII.




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Alex acordou, na terça-feira após a semana do sumiço de Arabella, sentindo o cheiro dela em seu quarto. Quando se sentou, sonolento na cama, tentou afastar aquela fantasia de sua cabeça, mas o cheiro doce parecia insistir em se alastrar e logo ele soube que era tão real quanto o vento gelado que entrava pela janela.

O garoto levantou num pulo, trotando até o parapeito da janela e encarou a rua pouco movimentada. 

Não se lembrava de tê-la deixado aberta, mas quanto mais refletia sobre isso, mais parecia uma bobagem e com um suspiro melancólico ele as fechou, voltando para dentro.

Alex se organizou para a escola como todos os dias e quando desceu para o café visualizou à mesa sua mãe e sua irmã, rindo juntas. A imagem o fez sorrir e Sofia, com seu olhar de águia, acalentou seu coração depois de muito tempo.

O garoto mal demorou no café da manhã e tão logo saiu, se deparou com o clima mais gélido da estação. Thomas o cumprimentou vestindo gorro e luvas e Alex riu da aparência infantil das vestimentas do amigo, que se limitou a resmungar sobre tê-las há muito tempo.

Chegando à escola o dia foi tranquilo, e tirando o anúncio de início de provas, os garotos até que se deram bem ao responderem as revisões, comemorando ao final quando Brad respondeu corretamente três das cinco perguntas.

Ele nunca acertava nada.

Na saída Henry convidou os amigos para uma comemoração festiva na casa de um de seus amigos, mas apenas Brad aceitou, com Thomas e Alex usando as provas como desculpa. E assim se separaram.

A conversa era vaga, sobre as matérias acumuladas e atividades passadas de última hora, e enquanto caminhava, escutando um dos relatos do amigo, Alex chutava as pedrinhas que saltavam dos quintais para a calçada.

Thomas riu de alguma coisa que ele mesmo dissera e fitou o amigo, abrindo um sorriso de lado.

— Você parece bem melhor – comentou mudando o assunto.

Alex não se virou para ele.

— É...

Thomas apoiou sua mão sobre o ombro do amigo e encarou a rua que se seguia a frente da dupla.

— O que você está sentindo agora?

— Solidão – respondeu de imediato – saudade, tristeza...

— E todas as queixas de dias atrás?

Alex abriu um sorriso cansado.

— Parece que tudo agora não importa tanto...

— Então por que ainda não foi atrás dela? – bateu seu ombro no do amigo – Está esperando o quê? Os alienígenas finalmente invadirem a terra?

O garoto riu.

— Não é isso – murmurou alongando preguiçosamente os braços – ela desapareceu. Ela saiu do projeto da escola, das aulas de reforço, de tudo. Não a encontrei em lugar algum.

Thomas estalou a língua encarando o chão.

— Então dei um conselho meio furado?

Alex sorriu.

— Um pouco, mas tudo bem, você é um péssimo guru em qualquer área mesmo.

Thomas riu dando um soco fraco no amigo e Alex sorriu, com sua melhor expressão de deboche. A dupla caminhou junto por mais duas ruas e passadas algumas casa, Thomas logo se despediu.

— Nos falamos mais tarde? – perguntou o mesmo já se afastando – Comprei aquele jogo só por sua causa, é bom valer a pena!

Alex sorriu e concordou com a cabeça, observando o mesmo se afastar. Com um suspiro e inspirando profundamente ele retomou a caminhada, com passos mais lentos.

Seus olhos observaram, como nunca antes, a paisagem ao seu redor. As árvores secas, o céu nublado, as casas fechadas fugindo do frio, a pouca movimentação e os dois homens que o encaravam logo a frente.

Alex franziu a sobrancelha ao confirmar que os homens, que vinham diretamente em sua direção, não tiravam os olhos dele. Ele parou, confuso, e começou a andar para trás ao perceber que eles não iriam parar.

Os passos para trás se tornaram uma corrida e logo Alex estava fugindo das duas figuras que passaram a persegui-lo.

O garoto dobrou duas, três, quatro esquinas até conseguir se esconder entre os arbustos de uma casa qualquer, que lhe encobriram perfeitamente.

Com o peito subindo e descendo descontroladamente ele se encolheu ali, tentando fazer o mínimo de barulho possível. O que diabos estava acontecendo?

Seus pensamentos eram raios incertos e nada parecia fazer sentido. Em uma cidade tão segura estaria ele sendo alvo de assaltantes? Ladrões? Ou...

A lembrança das palavras de Arabella se fez presente. Ela havia dito algo sobre perigo. E ali, com a adrenalina correndo suas veias e o medo lhe tomando a garganta, ele desejou tê-la ouvido. O plano de recuperar as informações estava colocando ele e sua família em perigo?

Ele conseguia ouvir a voz de Arabella ali, próxima, lhe dizendo que ele tinha que escutá-la. 

Por que Aex não a escutou? 

Era a pergunta que viera se fazendo não só naquele momento, mas a semana inteira. Não sabia o porquê, devia ter sido a raiva ou a tristeza, mas algo o impediu de pensar com clareza naquele momento.

E agora ele estava sofrendo as consequências.

Passos rápidos se tornaram audíveis e Alex se encolheu ainda mais, visualizando, através dos espaços entre a folhagem, as duas figuras se aproximarem. 

Os homens pararam, aturdidos, e encararam em confusão a rua que se seguia a sua frente.

Alex fechou os olhos e por um momento pôde ouvir a voz de Arabella. Estava tão próxima...

Quando o garoto abriu os olhos, tudo que viu, em sua precária visão, foi os cabelos negros que tanto gostava.

Arabella chegou como um raio, chutando com tudo a cabeça de uma das figuras, que caiu tonta no chão. Alex cobriu a boca com as mãos, impedindo qualquer som de sair. Seu peito se revirava num misto de medo, alegria e nervosismo.

Arabella estava realmente ali.

— Seu maldito – cuspiu a mesma se esquivando do parceiro do homem.

Ela estava mais magra, seus cabelos haviam crescido poucos centímetros, seus olhos se encontravam cobertos por linhas de olheiras e sua roupa, uma combinação negra de blusa e calça de malha sobrepostas pelo frio, jaziam cheias de rasgões.

Algo vinha acontecendo com ela, e mesmo sem saber o quê, Alex sentiu o peito apertar.

— Olha quem está aqui – o homem golpeado se levantou cambaleante, com um sorriso esnobe.

— Fomos avisados de que você viria – disse o outro, ajudando o companheiro.

Arabella sorriu de lado, jogando os poucos cabelos para trás e pondo a mão na cintura, em sua melhor pose.

— Então quer dizer que já estou tão conhecida assim?

A dupla masculina se entreolhou e no segundo seguinte estavam se lançando na direção da jovem que num só movimento saltou sobre eles, puxando o da direita consigo e acertando sua cabeça em cheio no chão. Arabella se virou com um sorriso de lado para o outro que a encarou furioso.

— Ouvi dizer que você era a melhor da organização.

Ele investiu e a mesma se esquivou.

— Eu também e você não sabe o quanto.

— O que aconteceu para a queridinha desertar?

Arabella tentou acertá-lo com uma série de socos, mas o homem desviou.

— Tem certeza que não sabe?

Ele deu cinco passos para trás.

— Na verdade sim, só queria ouvir de você.

Com um movimento da mão do homem, seu companheiro, que jazia no chão, segurou Arabella pelas costas e ela grunhiu, se xingando pela guarda baixa.

— É verdade que você se apaixonou?

Os olhos de Alex, antes focados na aparente vantagem de Arabella, se voltaram atentos e receosos a cena, com todo seu corpo pronto para ir defendê-la. 

Mas as palavras do homem o pegaram de surpresa e as orbes acastanhadas do mesmo caíram sobre a jovem.

Arabella encarou desafiadora o homem a sua frente enquanto se debatia para fugir do que a mantinha presa.

— Se apaixonou por um garoto? Ele deve ter idade para ser o quê, seu filho? – riu.

— Ei, vamos logo com isso, nosso alvo é o garoto não ela.

O coração de Alex vacilou. Eles estavam atrás dele.

— Espere um pouco, agora que começou a ficar divertido – ele focou seus olhos nos de Arabella – não é, Arabella?

Quando as mãos do mesmo ameaçaram tocar o queixo da jovem, o corpo de Alex se retesou pronto para saltar dos arbustos. Mas ele não precisou fazer um só movimento.

No curto espaço de tempo que o agente permitiu ela lançou, passando por cima de suas costas, o homem que a segurava de encontro ao chão, o deixando imediatamente inconsciente. Utilizando-se da surpresa do homem a sua frente, ela lhe acertou em cheio a barriga com seu joelho.

Ele caiu de joelhos no chão, ao lado do companheiro, e rapidamente a jovem se pôs atrás dele, impedindo seus movimentos e pronta para lhe quebrar o braço. O homem grunhiu desgostoso.

— Quer que eu responda sua pergunta agora ou depois que quebrar seu braço?

— Sua vadia.

Arabella sorriu de lado puxando toda a extensão do braço e fazendo o homem chiar de dor, calando-o.

— E a resposta é sim, eu me apaixonei.

Alex buscou o ar que lhe faltou.

Arabella estava, inegavelmente, diferente de quando ele a conheceu. E por mais que aquela parte dela lhe parecesse distante, Alex se sentia extremamente mais próximo dela, ainda que ali, naquele arbustos apertado. 

E ela estava tão linda, com os cabelos bagunçados lhe caindo ao rosto e a expressão séria lhe tomando a face.

Como ele podia pensar aquilo numa situação daquelas?

— E esse é um último aviso, parem de vir atrás dele.

O homem riu, em alto e bom som.

— Parar? Você ouve o que diz? Se você abandonou sua missão por um moleque o problema é seu! Nós vamos continuar indo a onde for necessário para...

Arabella fez pressão e o mesmo grunhiu.

— Certo, então você não me deixa outra escolha.

— O que você...

Arabella respirou fundo antes de puxar o braço do homem que gritou de agonia e dor, se encolhendo no chão frio. A jovem se levantou rapidamente e pisou nas costas do mesmo com força.

— Eu vou caçar cada um de vocês que o ameaçarem. Eu vou acabar com todos que se aproximarem dele, está me entendendo?

— Você está louca...

— Não, não estou – sorriu de lado – é como você mesmo disse, eu estou apaixonada. Não, não, essa simples palavra não pode definir o que estou sentindo. Eu amo o garoto que você chama de pirralho, Watson.

— Você...

— Eu mataria e morreria por ele.

Os olhos do homem se fecharam e ele respirou fundo, ainda com o braço lhe incomodando os pensamentos.

— Sabe que está... – o homem arfou, suportando a dor – sabe que virão muitos mais e...

— Não se preocupe – ela se afastou cambaleante – eu vou protegê-lo.

Com essas palavras Arabella respirou fundo e encarou o final da rua, como se buscasse qualquer sinal do garoto. Mas encolhido na moita Alex não se mexeu.

Ele queria poder correr até ela e a abraçar tão forte que toda a saudade que ele guardava dentro de si sumiria imediatamente. Mas Alex não o fez e enquanto a observava se afastar, pendendo para os lados com claro cansaço e falta de energia, ele suspirou.

O que o estava impedindo? Sua insegurança? Seus medos?

A história inteira havia sido esclarecida ali, bem na sua frente, enquanto de camarote ele assistiu Arabella lutar contra dois brutamontes para lhe proteger. 

Ela estava lhe protegendo, ainda que ele lhe tivesse dito coisas tão duras naquele dia. Ela estava se desgastando com isso, perdendo todas as forças para o manter em segurança.

Ela estava lá para ele assim como disse que estaria.

 

•••

 

No caminho para casa Alex refletiu sobre o acontecido e a cada passo ele suspirava. Perdera a chance de falar com Arabella, mas, em contrapartida, tinha agora todas as respostas que tanto buscara durante a semana anterior.

A grande pergunta que rondava sua cabeça agora era: o que ele faria com elas?


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Notas finais do capítulo

Três tá bom ou tá pouco? Haha!
Me perdoem a displicência esses dias. A partir de agora, com tudo normalizado, estamos novamente a ativa! ♥



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