Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 29
XXIX.




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Alex não quis acordar pela manhã, mas foi obrigado pela luz do sol que entrava em seu quarto. Ele encarou sem propósito o lugar vazio ao seu lado na cama e lembrou-se da noite em que Arabella dormiu ali.

O jovem xingou-se sentando. Os olhos o traíram descendo sobre o centro do quarto, recordando-se das tantas aulas que tiveram juntos sentados a sua pequena mesa, que agora jazia fechada e recostada na mesa do computador. 

Ele conseguia ouvir o riso deles, visualizar o sorriso da jovem e sentir entrar em seu nariz o doce aroma de ameixa.

Alex queria gritar, mas apenas se lançou de volta na cama, sem forças. A noite anterior passou rapidamente por sua cabeça e ele suspirou.

Estava decepcionado sim com Arabella, mas não vê-la nunca mais? Ele realmente queria isso?

Com mais um suspiro ele resmungou consigo. Deveria tê-la deixado falar o que queria. Poderia haver as explicações que ele tanto estava buscando no momento. Se aquilo que eles tiveram havia sido tudo parte do plano, se aquele amor era mentira.

E ainda que fosse para ela, e Alex não sabia dizer se sim ou não, para ele ainda era tão real que machucava seu peito sempre que pensava em nunca mais vê-la ou quando se lembrava das palavras duras que lhe dissera.

Alex estava sofrendo muito, com suas incertezas, mas não obteria mais respostas. A não ser que a garota ignorasse tudo que ele havia falado e viesse durante a tarde para a aula de reforço.

Esse pensamento o fez sentar novamente na cama. Ele sabia que não conseguiria perdoa-la facilmente, mas talvez se ela explicasse...

Alguém bateu na porta do quarto e os olhos amendoados do mesmo voltaram-se ao som.

— Alex? Posso entrar?

O jovem sorriu fraco.

— Pode mãe.

A maçaneta girou e Sofia surgiu com um sorriso carinhoso e compreensivo. Ela caminhou até a cama e sentou ao lado do filho que mal conseguia a olhar nos olhos.

Sem saber o que falar ela o abraçou e Alex por pouco não chorou ao sentir o toque caloroso de sua mãe.

— Saiba que eu sempre vou estar aqui com você meu filho. Para tudo.

As palavras da mulher acalentaram o garoto. Ele sabia que sua mãe sempre estaria ali para ele, ela era sua mãe afinal. Mas Arabella... ela havia lhe dito as mesmas palavras, e parecia que mesmo com tudo aquilo sempre estivera ao seu lado.

Nas aulas, na escola, nos finais de semana, o ajudando com os afazeres, o ajudando com fases em seu vídeo game, o ajudando com seus sentimentos. Só não estava ali agora. Quando ele mais precisava.

Mas onde estaria? Ela voltaria?

— Quer ir a escola hoje?

As palavras de Sofia o despertaram e lentamente ela o soltou, com os olhos fixos no seu. A mulher podia ver o inchaço nos olhos do filho e a palidez que o tomava. Se ele ainda não a permitiria entrar em contato com tudo que havia acontecido, ela o ajudaria pelas margens.

— De verdade? Não.

Sofia abriu um sorriso pequeno e afagou os cabelos do garoto, quase sem gel.

— Está tudo bem, tire o dia para descansar. Vou descer e preparar um café da manhã reforçado, está bem?

Alex, mesmo sem querer, sorriu de volta para a mãe, assentindo. Sofia levantou e se encaminhou a porta, parando ao ouvir a voz do garoto.

— Mãe?

Ela o fitou.

— Obrigado.

A mulher sorriu e assentiu.

— Não há de quê.

Quando Sofia saiu e Alex ficou novamente sozinho ele encarou o chão vazio do quarto. Mais uma vez as memórias voltaram, o torturando, e quanto mais ele sentia o peito doer mais queria ver Arabella. 

Alex queria que ela respondesse suas perguntas, queria que ela o abraçasse. Queria beijá-la ali e deixar tudo aquilo para trás.

— Eu sou um otário— se xingou em alto e bom som, revirando na cama.

 

•••

 

Durante os dois dias seguintes ele também não foi a escola, esperando que Arabella chegasse a qualquer momento em sua casa para lhe dar aulas de reforço. Mas ela não foi e ele se martirizou durante todos os dias.

Na quinta a noite, sentado de frente ao computador, ele suspirou. A tela estava ligada, com várias páginas abertas, mas os olhos do garoto mal as enxergavam.

Só de lembrar do momento em que o programa instalado por ela interceptou seus passos dentro da empresa, seu coração doía. Sabia que não conseguiria coletar as informações de seu pai naquele momento, não estava em condição alguma de ser cauteloso com os sistemas da empresa.

Tudo que ocupava sua cabeça era Arabella. Ela não iria mais lá, assim como ele havia pedido. Quanta consideração com ele depois de tudo aquilo...

Alex fechou todas as guias do computador marchando até a cama e sentando pesarosamente sobre ela. Os cotovelos se apoiaram sobre suas pernas e as mãos sustentaram sua cabeça. O garoto fechou os olhos com força. 

Estava vivendo um pesadelo.

Seu computador soou alto numa notificação. Os olhos cansados de Alex esquadrilharam o mesmo e ainda que quisesse sorrir sua face nada expressou.

Um dos jogos que ele comprara na pré-venda havia acabado de ser lançado.

Letárgico ele seguiu até o aparelho, mas depois de três minutos jogando fechou o jogo. Não tinha qualquer vontade de se divertir com os jogos que sempre gostara. Simplesmente não conseguia.

Com mais um suspiro ele viu surgir na tela uma mensagem de Thomas.

Está tudo bem? Você não foi nenhum desses dias, estamos preocupados.

Alex sorriu sem força e abriu a conversa, digitando rápido.

Amanhã conversamos.

O amigo concordou e iniciou uma conversa sobre o jogo que havia lançado, mas Alex o ignorou, fechando a aba e voltando a cama. Sua colcha quente não chegava aos pés do calor que Arabella lhe fornecia e com mais pensamentos assim ele afundou ali.

Ele tinha que ir para a escola.

Não podia fugir dessa realidade para sempre, ainda que ficar trancado no quarto parecesse a melhor solução. Os jogos, que eram seu esconderijo, pareciam já não o refugiar mais e isso o desestabilizava severamente.

 

•••

 

No dia seguinte Alex foi para o colégio e encontrou, como de costume, Thomas no caminho. O castanho de imediato notou a palidez do amigo, o abatimento e os suspiros pesarosos.

— O que aconteceu? Você parece um cadáver ambulante.

Alex sorriu ao comentário.

— Sempre afiado.

— Como ninguém – ele piscou – e então, vai me dizer ou devo começar a sessão de tortura?

O garoto riu e Thomas se aproximou, pronto para escutá-lo. Alex suspirou diversas vezes, buscando, em algum lugar, coragem. Contou ao amigo sobre Arabella ser uma espiã, sobre sua missão de monitora-lo, sobre não saber a verdade acerca dela.

O amigo o escutou atento e ao final de todo o relato, Thomas tocou no ombro de Alex.

— Eu não sei o que te falar – foi direto.

— Não precisa – Alex deu de ombros – me sinto melhor depois de ter desabafado.

O castanho sorriu.

— Vou estar sempre aqui, para o que precisar.

Alex sorriu, ouvindo novamente a frase que mais lhe lembrava de Arabella. Em resposta assentiu ao amigo, que retomou a caminhada o puxando consigo.

— Nunca imaginei isso dela. Uma espiã?

— Nem eu.

Os olhos de Thomas acompanharam o semblante tristonho do amigo.

— Vamos deixar isso de lado por enquanto, sim? Hoje vamos fazer você ter um ótimo dia!

A animação do amigo fez Alex sorrir. Ao chegarem na escola o garoto foi interceptado por Brad e Henry, que aparentavam estar tão preocupados quanto Thomas. Internamente ele agradeceu pelos amigos que tinha.

Sem pensar muito Alex contou aos garotos o que havia acontecido, de forma ainda mais resumida e ocultando o fator missão e espionagem.

Henry lhe aconselhou a esperar o tempo, que ele com certeza resolveria as coisas, enquanto Brad lhe sugeriu buscar outra garota para ocupar seu lugar.

Henry e Thomas discutiram com Brad sobre o péssimo conselho e Alex riu observando o grupo. Seus amigos eram boas pessoas, cada um do seu jeitinho.

Ao final, eles rumaram a sala, com Thomas e Henry a frente e Brad ao lado de Alex.

— Então aconteceu tudo isso – murmurou o loiro chamando a atenção do amigo.

— Pois é – o garoto encarou o chão.

— Sabe, queria me desculpar sobre aquele dia.

— Que dia? – Alex o fitou.

— Você sabe – bagunçou os próprios cabelos – quando fui na sala atrás dela.

Alex riu baixo pela expressão de constrangimento do amigo.

— Eu não teria ido lá daquele jeito se soubesse que você sentia alguma coisa por ela. Tenho esse jeitão com as garotas, mas não faria isso com meu amigo.

Alex observou Brad e em seguida encarou as costas dos amigos logo a frente, sorrindo de lado. Sabia que Brad estava sendo sincero, ele sempre era.

— É só que você apresentou ela como sendo sua amiga... se dissesse “ela é a garota que gosto” nunca teria tido qualquer pensamento com ela. Eu juro!

— Acredito em você – Alex sorriu para o loiro, que pareceu relaxar – e agradeço a consideração, mas agora já não importa tanto.

Brad assentiu encarando o corredor a sua frente.

— Sou péssimo com conselhos, mas acho que vocês deveriam conversar.

Alex o observou.

— Você deveria dar a ela a chance de se explicar.

Eles se olharam e sorriram juntos. Alex bateu seu ombro no do amigo.

— Valeu.

— Amigos são pra essas coisas – o loiro piscou.

Chegando na sala o grupo se dirigiu para as bancas traseiras, sentando e conversando. O tema garotas foi, em um comum acordo silencioso, suspenso da roda e Brad fixou sua fala sobre os jogos de futebol que teriam durante a semana, enquanto Henry o complementava, acrescentando os placares dos torneiros finais.

Foi um dia como qualquer outro, só não para Alex.


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Notas finais do capítulo

Que dias sofridos, sofridos...



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