Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 27
XXVII.




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A porta do apartamento chocou-se com força contra a fechadura, trancando-se e fazendo tremer as lâmpadas do corredor. Arabella desceu as escadas como um raio, sem tempo para esperar o elevador, e saiu para a rua ofegante, deixando uma pequena linha de vapor sair de sua boca em contraste com o tempo gélido.

A jovem correu, vestida apenas com seu sobretudo e a primeira roupa que surgiu em seu caminho, desesperada em direção a casa de Alex. A voz e a mensagem oscilavam em seus pensamentos e com o rosto contra a ventania fria da noite ela não conseguia raciocinar direito.

Atividade hacker havia sido encontrada? Queriam que ela matasse Alex? O que diabos estava acontecendo?

Em poucos segundos tudo estava de cabeça para baixo. Suas mãos tremiam, tanto pelo frio quanto pelo medo e a incerteza. Nada se encaixava e a cada passo seu coração acelerava cada vez mais afundando em seu peito.

Tudo que surgia, entre o emaranhado de pensamentos, era Alex. Mandaram-na matá-lo. Perigo era eminente agora para ele, sua missão havia ido pelo ares.

Quando seus pés se fixaram de frente a porta da casa dele ela respirou fundo buscando retomar o fôlego. Sua mão acionou a campainha e seus olhos cravaram-se na porta, fazendo-a sentir mais intensamente a aceleração por todo seu corpo.

Ela nunca se sentira tão perdida em sua vida. Onde estava sua cautela? Sua precaução? Sua capacidade de raciocinar antes de qualquer ação?

Provavelmente deviam estar lá atrás.

A porta se abriu lenta e vagarosamente fazendo os olhos esverdeados encararem os de Sofia ao verem a madeira entreaberta. A mulher lhe sorriu, amistosa, e toda a estrutura da garota tremeu.

— Boa noite querida, entre rápido, está muito frio!

O espaço que Sofia lhe deu para passar foi ocupado rapidamente por seu corpo. O calor colou-se em seus ossos instantaneamente e ela suspirou, com toda a adrenalina parecendo diminuir.

— Me perdoe o incômodo, mas preciso falar com Alex, ele está?

Sofia a olhou preocupada, mas assentiu, apontando para a escada em seguida.

— Ele está lá em cima, você parece nervosa, está tudo bem?

Arabella sorriu, sem jeito, reforçando toda a preocupação da mulher. Com um maneio respondeu Sofia, num não desajeitado, e rumou escada a cima sem sequer tirar seu sobretudo.

Cada passo parecia cortar o coração da garota. Arabella queria correr até lá e lançar-se-se sobre ele, protegê-lo.

Mas e a atividade? E a ordem para matá-lo? E o pior de tudo: qual seria a visão dele sobre tudo isso?

Ela jamais havia pensado sobre como seu passado e sua atual situação seriam vistas pelo garoto. Não, ao menos, quando ela havia se tornado tão próxima. O que Alex faria?

Como ela o contaria tudo?

Quando seus dedos tocaram na maçaneta do quarto e ela a girou, todo o cômodo pareceu sem vida. A iluminação estava precária e o ar carregado. 

Todo o calor que aquele lugar emanava para ela cessou e até mesmo respirar tornou-se difícil.

Os olhos esverdeados correram até o garoto sentado na poltrona e com todo o corpo inclinado sobre o encosto. Alex encarava o teto sem expressão, com as mãos ansiosas dedilhando nos braços do assento.

— Alex?

Ele pareceu ouvir a voz dela, mexendo-se desconfortável. Alex sentou corretamente na poltrona deixando seu olhar gélido alcançar os calorosos da garota.

— Quem é você?

Arabella riu nervosa aproximando-se do assento.

— Sou eu, Arabella.

Alex franziu o cenho.

— Quem é Arabella?

— O que aconteceu com você Alex?

A risada dele saiu dolorosa.

— Quem é você Arabella? E por que está atrás de mim?

Os pelos do braço da garota eriçaram-se e ela sorriu torto. O olhar do jovem a fazia sentir-se golpeada por uma enorme luva de boxe e algo pareceu ressoar em sua mente.

A associação entre o alerta e aquela reação.

— Eu não...

— Eu sei que está – ele disse calmamente cravando as unhas curtas no estofado – por favor, não minta para mim. Não mais.

Alex levantou em câmera lenta e ela o viu maior que si, tanto em estatura quanto em expressão. Havia algo no rosto dele que a atingia e lentamente ela foi descobrindo o que era.

Decepção.

Os dedos dele alcançaram o notebook e a tela acendeu. O rosto de Arabella estava estampado nela e todas as suas informações ali. Como seu nome, endereço, código da identidade e até mesmo da carteira de motorista. Naquele momento tudo se fez mais claro.

Ele havia finalmente hackeado a empresa e, aparentemente, ela também. Mas além de qualquer pensamento acusador tudo que a atingiu foi a realidade de que ele estava ciente sobre ela.

Num segundo olhar Arabella notou pequenas estruturas sobre a mesa que chamaram sua atenção. Nanôcâmeras estavam destruídas e espalhadas sobre a escrivaninha.

Arabella arquejou surpresa e Alex virou-se para ela com os braços cruzados sobre o peito.

— Estavam por todo meu quarto – ele começou apoiando o quadril na cadeira do computador – assim como seu aplicativo estava no meu notebook. Não precisei de muito para descobrir que era você por trás de tudo isso.

— Você me hackeou? – a voz da jovem saiu entrecortada.

O olhar que ele lhe lançou era um misto de dúvida e cinismo.

— Isso não é óbvio?

As forças das pernas de Arabella sumiram e ela caiu sentada sobre a cama. Toda a confusão em sua cabeça foi lentamente se organizando. Estava tudo ali, na sua frente, era a vez dela de tomar as rédeas da situação.

Mas ela simplesmente não conseguia.

— Então é verdade...

As sobrancelhas dele se franziram.

— O que é verdade?

Os olhos esverdeados pousaram lentamente sobre Alex, que por um momento, no seu misto de sentimentos dolorosos, se sentiu abalado. Que olhar desolado era aquele?

— Você estava hackeando a empresa que seu pai...

— Ei, espera, como você sabe disso? – ele se afastou do móvel – Como sabe sobre meu pai e essas empresas? Tem algo a ver com tudo isso aqui?

A garota piscou, aturdida. Não havia mais o que esconder. Ela precisava contar a ele tudo agora. O fato dele hackear ou não a empresa era tão importante quanto um grão de areia naquele momento. Não havia sido ele quem a enganou, mas sim ela quem o fez.

— Eu... eu...

Os olhos duros do garoto fixaram-se sobre Arabella que com suas mãos trêmulas respirou fundo buscando forças. Era preciso contá-lo tudo. Ela nunca havia hesitado em uma missão, em fazer absolutamente nada, mas porque imaginar a expressão que ele faria a deixava a beira de lágrimas?

Por que sempre que Alex estava envolvido todo seu corpo perdia o foco? Por que diabos ela estava a ponto de explodir?

— Eu sou uma agente secreta – disse pausadamente encarando os olhos indiferentes do jovem – e fui enviada para monitorar você.

A expressão que ela tanto temeu surgiu e Arabella sentiu o peito apertar ao ver os olhos descrentes do garoto sobre si.

— Minha missão era descobrir qualquer vinculação sua com a empresa que contratou nossos serviços, e essa empresa, foi a que seu pai... bem...

Alex desviou os olhos dos dela e sentou-se à cadeira do computador pesadamente. Todo seu corpo estava dormente e o coração batia descontrolado. Ele não sabia o que falar ou fazer. Todas aquelas descobertas o faziam perder o chão completamente.

— Isso explica você surgir do nada na nossa casa – ele murmurou – na minha vida, no meu colégio.

Arabella engoliu a própria saliva. Sabia pela voz embargada que ele estava sofrendo e que a culpa era dela. Mas tudo aquilo era verdade e cedo ou tarde ela precisaria dizer a Alex. Só não sabia que seria tão tarde.

Ela surgira do nada em sua vida por causa da missão. E ainda que quisesse gritar que tudo havia mudado no caminho, que não estava ali mais apenas para cumprir uma tarefa, sabia que de nada adiantaria.

Decepção era um sentimento doloroso demais.

— Eu descobri que você era uma espiã – disse Alex cortando o silêncio – olhei nos arquivos da empresa e nos dados do aplicativo – deu de ombros – eu só queria poder ouvir da sua própria boca que me enganou.

— Alex, eu...

— Por favor, não. Não tente se explicar quando está tudo tão claro. Você me enganou, Arabella. Você enganou a minha mãe e minha irmã e sabe-se lá mais quantas pessoas com isso. Você mentiu para todos nós.

— Mas era o meu dever.

Ele a fitou com os olhos semicerrados.

— E é isso o que machuca ainda mais.

Arabella prendeu a respiração sentindo seu coração comprimir-se, estrangulando em seu peito. A realidade de tê-lo machucado era tão palpável quanto o ar ao redor deles e ela se martirizava por isso. Muito.

O silêncio ensurdecedor que se instalou atacou a ambos. Sem qualquer palavras eles se encolheram, cada um com uma expressão, num conflito interno que nem mesmo palavras poderiam solucionar. 

Arabella o observou com o olhar baixo, triste, culpado. Alex também o fez, com as íris cobertas de raiva, rancor e tristeza.

Nada conseguia apaziguar aquela dor.

— Alex, eu amo você.

Surpreso o garoto elevou o olhar mais uma vez para os olhos esverdeados. Arabella estava com sua expressão serena, reprimindo dentro de si o nervosismo que a queria engolir. Precisava dar voz a razão antes que enlouquecesse.

Haviam coisa mais importantes que aquela briga e, infelizmente, ela tinha plena consciência disso.

Mas a calmaria dela atingiu Alex como um tiro. Como ela conseguia agir como se nada estivesse acontecendo?

— E é por isso que estou aqui agora apesar de tudo – Arabella levantou – preciso que me escute com atenção.

— Não, Arabella, eu preciso que você me escute.

Ele a imitou, levantando, e saindo da cadeira. A pouca diferença de tamanho se fez inexistente e os olhos pareceram se encarar no mesmo patamar.

— Eu preciso que você escute tudo o que tenho pra te dizer – ele apertou as câmeras sobre o notebook sentindo a garganta arranhar.

Qualquer raciocínio do garoto evaporou e, ali, naquele instante, ele foi tomado pura e completamente por suas emoções.

Em resposta Arabella se calou observando a expressão do mesmo.

— Eu confiei em você – Alex sussurrou alto o suficiente para que ela o ouvisse – eu me apaixonei por você, eu me abri para você. Você sabe o quanto é doloroso descobrir tudo isso? Que você veio até mim por causa de uma maldita missão?

Suas últimas palavras saíram como um grito e ofegante ele lançou os objetos ao chão, estilhaçando suas lentes. Arabella fechou os olhos com o barulho do impacto, mas de imediato voltou a encarar o jovem que buscava controlar as emoções.

— Eu te contei o quão difícil era estar nessa realidade e ainda assim você...

— Alex, eu...

— Você disse que estaria comigo!

— E eu estou – respondeu aumentando a voz – eu estou aqui, agora, nessa exato momento, não estou?

— Não! Eu não sei quem está aqui comigo agora!

Ele gemeu em tristeza voltando a sentar na cadeira.

— Eu não posso. Eu não consigo confiar em você.

Arabella apertou as mãos em punhos. Era doloroso ouvir aquilo dele, mas compreendia, com sua maldita capacidade de análise, que ele estava mais machucado do que ela. Que ele precisava dela naquele momento, mesmo sem saber.

— Você me enganou. Me enganou todo esse tempo – murmurou ainda sentado – como será que foi se divertir com um garoto?

Ela torceu a expressão e Alex encarou seus olhos, raivoso.

— Como foi rir de mim pelas costas? Como foi Arabella?

Arabella podia ver o rosto vermelho dele, prestes a chorar, as mãos trêmulas e o respirar pesado, sabendo que cada pedaço daquilo ali era culpa sua. Tudo em seu corpo a julgava e quanto mais ela pensava, mais se sentia pior.

Afinal, era verdade, não era?

Ela havia o enganado desde o início e ali, naquele momento, não havia nada para encobrir a verdade. Aquela trama de mentiras havia finalmente chegado ao fim.

Lentamente ela deslizou da cama se agachando de frente ao garoto, tocando gentilmente suas mãos. Ele encarou o fundo dos seus olhos e recuou sem pressa, endurecendo a expressão.

Alex estava se fechando e isso a fazia sentir as mãos arderem enquanto os olhos teimavam em também o fazer.

Arabella tentou falar alguma coisa, mas sua voz não saiu.

— Vá embora.

O coração dela apertou e a mesma quase caiu sentada no chão do quarto.

Seus olhos, desesperados, procuraram os de Alex, mas ele a correspondeu da forma mais fria que ela já havia visto. Seu olhar era gélido e cortante, a despedaçando por dentro.

A garota engoliu a própria saliva mais uma vez e respirou fundo.

— Eu preciso que você me escute.

— Eu quero que você vá embora – ele repetiu calmamente – eu quero você longe de mim, da minha família e da minha vida. Para sempre.

O corpo de Arabella se chocou contra o chão num baque surdo enquanto ela se permitia expressar o desespero.

Aquelas palavras a acertaram em cheio. Alex era tudo que ela realmente tinha, ao menos até aquele momento.

— Alex, eu amo você, nós precisamos...

— Eu não consigo acreditar nessas suas palavras – ele disse num murmúrio – eu não consigo mais acreditar em você.

— Alex, nós...

O garoto riu sentindo todo o corpo tremer em agonia.

— Não existe nós Arabella. Se é que esse é o seu nome.

A jovem se ajoelhou.

— Você precisa me ouvir, eu...

— Por favor, pare. Eu não consigo mais acreditar em nada que sai da sua boca. Em nada.

— Você precisa acreditar em mim! – ela esbravejou irritada.

— Eu preciso acreditar em você? – ele riu novamente – Você é uma mentirosa! Uma grande mentirosa!

— E você não consegue escutar nada do que te falam! – ela levantou – Eu só quero que você me escute, droga! Não preciso que confie em mim para isso, todos vocês estão correndo perigo!

As palavras dela o fizeram fitá-la, mas nada que Alex ouvia parecia real. Arabella era agora como um sonho distante, um sonho bom, que finalmente havia chegado ao fim. Ainda que ela se encontrasse bem ali na sua frente.

— Tudo que eu peço é...

— Vá embora!

Alex se levantou com tudo marchando até a porta em passos pesados e abrindo a mesma. Ele lançou seu olhar sobre Arabella e ela travou aonde estava.

— Olha aí você fazendo de novo. Precisa ouvir o que tenho a dizer, é importante!

— Eu faço o que bem entender. Eu estou na minha casa. E como você não é mais bem vinda aqui, peço que saia.

Arabella choramingou buscando uma forma de fazê-lo escutá-la. Ela sabia que Alex estava magoado e ele tinha razão em estar, ela mentiu e o enganou. Mas ele precisa perceber que havia muito mais em jogo. A vida de Sofia e Clara, a própria vida dele.

Mas quando, retomando mais um fôlego para o confronto, ela o encarou todo seu corpo cedeu. Alex não estava mais vermelho ou trêmulo. Ele segurava a porta com firmeza enquanto seus olhos atravessavam a garota, como uma lança.

A mente da jovem se esvaziou e como quem cai em um limbo, andando no automático, ela deu o primeiro passo em direção a porta.

— Nunca mais me chegue perto de mim ou da minha família – ele disse, sem qualquer falha na voz – é tudo o que peço.

O olhar de Arabella permaneceu sobre ele até a mesma sair do quarto. No corredor ela virou-se para Alex, buscando algo para dizer, mas ao vê-la se movimentar o garoto fechou imediatamente a porta. 

Seu último contato foi o olhar tristonho dele através da fresta.

O coração de Arabella pareceu estilhaçar em seu peito e ela soluçou, sentindo o líquido quente lhe preencher as bochechas. Com mãos ágeis ela tocou no rosto e com a careta que inundou sua face ela percebeu que era a primeira vez em muito tempo que chorava.

Novamente uma nova onda a atingiu e ela tentou engolir o choro. As palmas das mãos doeram como nunca antes e ela soltou um ruído esganiçado. Ele estava certo em suas palavras. Ela estava errada e sabia disso. Mas por que isso doía tanto?

Tudo estava de cabeça para baixo. Ela lembrou-se do toque e do riso do garoto, sentiu em sua própria pele o calor que ele lhe proporcionou durante aquelas semanas e chorou copiosamente parada na porta do quarto.

Correndo ela desceu as escadas e saiu da casa sem nada dizer a Sofia, que jazia no sofá vendo televisão e assustou-se com o movimento em sua porta. Seus passos fora da casa foram dolorosos e enquanto trotava pelo caminho em direção a pista deixou seu olhar vagar para a janela do quarto do garoto.

Arabella suspirou parando na calçada. As lágrimas ainda caíam livremente por seu rosto e o frio ao seu redor fazia o choro tornar-se cada vez mais incômodo.

A jovem caminhou, sem destino, pelas ruas da cidade. De calçada em calçada ela se lembrava da expressão de Alex, da sua voz, das palavras que ele lhe havia dito. E de lajota em lajota ela se martirizava cada vez mais.

Arabella o machucou ao quebrar sua confiança e sentia as consequências disso em suas entranhas, na sensação de destruição que a consumia. A culpa era dela e ela sabia. Havia machucado profundamente o garoto. Havia o enganado e destruído tudo que construíram juntos. 

Ela era um monstro.

 

•••

 

Ao fechar a porta Alex respirou fundo, buscando controlar a dor em sua garganta. Não demorou muito para, junto com uma careta, o choro tomar conta de si e fazer seu corpo inteiro vacilar.
 

Ele desabou no chão do quarto, num sofrimento silencioso, enquanto ouvia através da porta a garota também chorar. Ele soluçou e se arrastou pelo chão até a cama, afundando na colcha macia.

Seu peito doía e ele se sentia perdido, sem chão, sem apoio, sem qualquer coisa que o pudesse sustentar naquele momento. E o pior de tudo era que ele queria ser sustentado por ela, a garota que lhe despedaçou o coração.

Alex se encolheu, deixando as lágrimas molharem a colcha enquanto seu peito subia e descia, descontrolado. Ele mordeu o travesseiro abafando o choro, mas nada fazia aquela dor passar.

Alex havia se aberto para ela, horas mais cedo, sobre seus medos e inseguranças. Será que ela riu depois que foi embora? Do garoto patético que ele era, do adolescente que ela fora ordenada monitorar?

Em algum momento ela foi verdadeira com ele? Aqueles sentimentos que ele sentiu nela, eram de verdade ou só parte do teatro? Todas as coisas que passaram juntos teriam tido significado para ela ou só ele se iludiu naquilo tudo?

Até que ponto tudo não passou de mentira?

Ele choramingou, abafado, e soluçou mais uma vez.

— Alex, está tudo bem? Arabella desceu as escadas correndo e eu achei que...

Sofia bateu na porta, preocupada. O garoto não se mexeu e fechando os olhos, na busca de controle, lhe respondeu com sua melhor voz:

— Mãe, não está tudo bem.

Sofia ameaçou abrir a porta.

— E por favor, não entre.

Ela paralisou a ação.

— Só preciso ficar sozinho, por favor.

Sofia encarou a porta tristonha. Tinha ciência de que havia algo errado com seu filho e não saber o que era, ficando de mãos atadas, a incomodava. Mas tinha a intuição de que Alex saberia o que era melhor para ele naquele momento.

— Tudo bem meu filho, estarei lá baixo, certo?

Sem nenhuma confirmação a mulher suspirou.

— Qualquer coisa é só gritar – disse num tom brincalhão, ainda que afetado.

Alex sorriu entre as lágrimas, grato por ter Sofia como sua mãe. Os passos delas se distanciaram da porta e ele afundou ainda mais na cama, desolado.

O garoto só conseguia pensar em todas as coisas boas que eles viveram juntos. Alex queria odiá-la por ter feito aquilo com ele. Queria raiva e rancor, para descontar nos objetos de seu quarto, para se ver livre de todos aqueles sentimentos dentro de si.

Ele queria poder odiar Arabella, mas não conseguia.

Ele a amava tanto, por que aquilo estava acontecendo?


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Notas finais do capítulo

"Minha mãe sempre me disse: cuidado com quem você ama;
E cuidado com o que você faz;
Porque as mentiras se tornam verdades..."

M.J.



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