Trabalho de Escola

Era mais um dia normal de outono, aquela chuva fraca que caía apenas para trazer melancolia para o coração daqueles que a assistiam, persistia desde que saíra de casa. Syaoran observava o cair dos pingos daquela triste garoa sentado em sua carteira próxima à janela, lugar o qual estava acostumado a sentar desde que se transferira para o Colégio Tomoeda há um ano. Estando agora no segundo ano do colegial, já havia se habituado ao seu cotidiano e as amizades que cultivava.       

Syaoran Li era um rapaz chinês de aparência única, tendo como suas mais relevantes características físicas, seu olhar cor de menta e seus cabelos sempre bagunçados, além de seu físico consideravelmente forte para sua idade. Se tratando de sua questão moral, Syaoran era um jovem calmo e observador, e na maior parte do tempo, gentil e educado. Desprovido de grandes ambições, exceto por uma, exatamente o motivo de estar no Japão, o compromisso que fizera consigo mesmo para estar naquele local.

­– Por quanto tempo essa chuva ainda vai persistir? – Pensou o jovem chinês.

Enquanto observava a chuva, outra coisa lhe chamou a atenção, pelo reflexo na janela ele avistou a figura de uma menina de cabelos curtos e castanhos, e com os olhos verdes mais lindos que ele já viu e veria em toda sua vida, conversando alegremente com suas amigas. Seu nome era Sakura Kinomoto, não era somente sua beleza que o fascinava, mas também a animação e alegria que ela transmitia para as pessoas ao seu redor. Tal fato que o fez botar um olho nela já há algum tempo.          

Naquele instante o professor de história chegava à sala:

— Okay, okay, sentem-se em seus lugares – E no mesmo momento todos os alunos se acomodaram em seus lugares – Bem, como eu acho que já sabem teremos um trabalho em dupla a ser realizado, o qual as duplas serão eu que sortearei.         

 De fato, todos já estavam avisados de que seria assim que aquele trabalho aconteceria, mas mesmo assim a preocupação tomava conta de todos naquela sala, de maneira que comentários e sussurros tomaram conta do local.

— Bom, então sendo assim, eu irei começar o sorteio – Disse o professor por fim iniciando os anúncios.           

O burburinho na sala apenas aumentava, porém Syaoran continuava calmo e silencioso em seu acento:

— Eu gostaria de fazer dupla com Yamazaki, mas não me importo de verdade em fazer dupla com outro amigo meu – Pensou.           

Ao encerrar de seu pensamento, o professor anunciou seu nome:

— Syaoran Li e Sakura Kinomoto.

—O QUE? – Pensou o rapaz enquanto arregalava os olhos.          

De todas as pessoas naquela sala, tinha que ser justamente Sakura Kinomoto? A ideia de fazer algum trabalho ou qualquer coisa com ela nunca passara por sua cabeça, sabia que naquele estava sujeito a ter que se juntar com qualquer pessoa da classe, mas aquele anúncio o pegara completamente desprevenido. Por fim, o professor ia encerrando o sorteio das duplas.

— Essas foram as duplas sorteadas, sei que nem todos foram agradados, mas não há o que fazer, conversem com suas duplas e se organizem, o tema vocês já sabem, é sobre o período Edo, vocês tem duas semanas, isso é tudo – Anunciou o professor a medida em que saía da sala.          

A partir de então, todos começaram a se levantar e se dirigir as suas respectivas duplas.

— Que pena que não vamos fazer juntos Li – Comentou Yamazaki.

— Sim, mas como disse o professor, não há nada a se fazer.

— Pois é, bem eu vou lá falar com a minha dupla, nos vemos depois – Retirou-se Yamazaki.

— Tudo bem, nos falamos depois – Despediu-se Syaoran.          

Antes que pudesse também se levantar, ouviu Sakura conversando com sua amiga Tomoyo:

— Que pena, não é mesmo Tomoyo?

— Sim, mas não tem problema, no próximo trabalho tenho certeza que vamos ficar juntas – Comentou sorrindo a garota de pele clara, cabelos escuros e olhos de cor violeta.

— É! Então vamos nos esforçar – Respondeu Sakura também sorrindo.           

Tendo terminado o diálogo, Syaoran enfim se levantou.

— É obvio que ela preferiria fazer dupla com a amiga – Lamentou-se em pensamento – Mas somos uma dupla, e não há como mudar, portando, melhor ir falar com ela.          

Ao passo em que se precipitava em direção à mesa da garota de orbes verdes, esta, como num pulo, apareceu em sua frente.

— Oi Li! – Disse ela com um sorriso no rosto.

— Aah... oi – Respondeu o rapaz surpreso.

— Então, como amanhã é sábado, eu estava me perguntando se talvez você gostasse de começar já amanhã o trabalho.

— Ah, bem, acho que seria uma boa ideia.

— Sério!? Que bom – Disse a moça de um jeito que fez nosso jovem chinês corar levemente.

Realmente, essa garota não é comum...

— Então, faremos na sua ou na minha casa? – Perguntou a garota de orbes verdes.

— Aah... é...

            E agora?... Eu moro sozinho, então não seria um problema fazer na minha casa, mas talvez ela possa achar estranho e pensar que eu tenho outras intenções... Mas, se eu sugerir a casa dela ela pode pensar que eu sou um oferecido... Aaaah o que eu faço?... Sim! É isso! Essa é a melhor alternativa.

— O que você acha que seria melhor? – Por fim, perguntou Syaoran.

— Humm... bem, meu pai vai estar em casa, então ele poderá preparar uns biscoitos pra gente. É! Vamos fazer na minha casa! – Respondeu Sakura, com um belo sorriso.

— Tudo bem, então está decidido.

— Sim. Nos encontramos amanhã no Parque do Rei Pinguim as duas, okay?

— Okay.

— Certo, então nos vemos amanhã Li! Tchau. – Despedia-se Sakura com um ultimo sorriso.

— Sim, até amanhã – Despediu-se Syaoran também com um sorriso.

  A medida que observava a garota sair da sala juntamente com sua amiga, Syaoran ia voltando a respirar normalmente e a pensar calmamente.

— Sério. O que acontece com essa garota? Aliás, o que acontece comigo? – Indagava-se o rapaz.

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   Naquele dia, Syaoran não teria atividades de clube, então após as aulas voltou diretamente pra casa; ainda chovia; então não esperava encontrar no meio do caminho de casa as crianças com as quais estava acostumado a dar uma pequena parada em seu retorno ao lar, para jogar um pouco de bola como estava habituado.

  Tal hábito começou quando numa vez voltando pra casa, recebeu uma bolada em sua cara, as crianças que estavam jogando com a bola ficaram preocupadas, achando que iam levar uma bronca daquele jovem, porém, pelo contrário, este colocou a bola no chão e começou a correr em direção as crianças. Estas, ficaram primeiramente sem entender o que se passava, mas passaram a tentar pegar a bola de Syaoran, que por sua vez, passou a driblar cada um que vinha lhe tentar roubar a bola. E assim ficaram por algumas horas, rindo e se divertindo. Quando Syaoran percebeu que estava ficando tarde, despediu-se prometendo que voltaria ali e sempre que os visse, jogaria com eles.

 E assim ficou sua rotina, nos dias em que não havia clube ou limpeza para fazer, voltava para casa e parava no caminho para jogar com aquelas crianças. É claro que, em dias chuvosos, tal rotina não poderia ser cumprida, assim como nesse dia. Jogar com aqueles meninos sempre o deixava animado, mas mesmo não podendo fazê-lo hoje, ainda estava animado, e o motivo de sua animação era nada menos que Sakura Kinomoto. Criatura a qual não parou de pensar desde que saiu da escola.

  Em um momento, parou para contemplar o céu, que agora abria um pequeno espaço entre as nuvens, possibilitando um feixe de luz.

— É... Por mais que essa chuva persista, alguma hora aparecerá uma luz para amenizar a angústia das pessoas. – Disse para si mesmo, depois de alguns segundos surpreendendo-se com sua inspiração – Haha, isso deve ser culpa dela – Agora sorrindo.

Após aquele pequeno momento filosófico, retomou o caminho para casa, agora mais iluminado.

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Naquela noite, Syaoran que já estava acostumado a ter sonhos peculiares, teve mais um, porém esse ele nunca tivera antes:

 Estava num local cheio de árvores, as quais por dentre as folhas era possível ver os raios de sol. Podia-se sentir que era verão, por mais que não se sentia a temperatura. Syaoran estava lá, deslumbrado com a paisagem ao seu redor, e então ouviu uma voz que vinha de trás dele, e no momento que se virava para ver a figura de quem o estava chamando...

TTTRRRRRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMMMMM

 O despertador gritava para anunciar o início de mais um dia. Syaoran, que estava no chão devido ao susto que levara, tentava desesperadamente alcançar o despertador para enfim encerrar aquele barulho irritante. Ao consegui-lo, sentou em sua cama, passou a mão no cabelo esfregando os fios bagunçados, por fim levantando-se, fazendo alguns alongamentos e dando leves tapas em sua face.

— Certo. Vamos lá – Disse enquanto seguia para dar inicio as suas atividades matinais.

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Naquele dia, já não chovia mais, e apesar das ainda presentes nuvens no céu, vários feixes de luz se estendiam pela cidade de Tomoeda, realçando a beleza que aquele lugar tinha. De fato, aquela pacata cidade possuía um charme próprio, que era ainda mais evidenciado na primavera, época em que as cerejeiras tinham o desabrochar de suas flores. Quando chegava tal período, as pessoas se juntavam e faziam piqueniques e passeios para contemplar o espetáculo.   

Porém nesse momento, era outono, e logo mais seria inverno, o frio se aproximava, e as pessoas deveriam ser pacientes para ver o fenômeno da primavera. Syaoran caminhava tranquilamente enquanto observava as coisas ao seu redor. É claro, apesar da tranquilidade não conseguia suprimir a ansiedade, estava ansioso para aquele evento, estava ansioso para ver novamente aquela garota, só não sabia porque.

Chegando no parque, percebendo que Sakura ainda não estava lá, decidiu sentar-se em um banco e esperar. Havia chegado 10 minutos antes do combinado então não havia nada de errado em ela ainda não estar lá. Então esperou, 5, 10, 15, 20, 30 minutos.

— Okay, ela está realmente atrasada. – Disse Syaoran expressando certa impaciência. 

Foi então que Syaoran ouviu uma voz chamando ao longe, e virando-se para observar quem vinha ao seu encontro, pode ver Sakura, correndo e ofegante, anunciando sua chegada:

— Haa... haaa... eu... eu chee.... eu cheguei! – Disse a detentora dos orbes verdes na medida em que chegava até Syaoran.

— A-ah sim... eu percebi... você está bem? – Expressou preocupação Syaoran.

— Hã? AH, sim sim, estou sim hahahaha – sorriu Sakura – eu só—AH, verdade! Me desculpe! – Disse juntando as palmas das mãos – Eu acabei me atrasando, isso acontece às vezes, me desculpe mesmo.

— Ahh tudo bem, não tem problema.  Pra dizer a verdade, não estou muito surpreso, às vezes ela costuma chegar atrasada na escola mesmo.

— Bem, então, vamos indo? – Perguntou Sakura.

— Vamos. 

Puseram-se então a caminhar, uma caminhada que perduraria por alguns minutos, tempo suficiente para que caso ninguém inicia-se uma conversa, tornaria aquela situação incrivelmente desconfortável. Após algum tempo caminhando, nosso jovem decidiu tentar uma investida:

— Sabe Kinomoto eu estav—

— Ei, eu acho que deveríamos nos chamar pelos nossos primeiros nomes – interrompeu descaradamente a garota de cabelos curtos, enquanto parava de andar.

— O que!? – Surpreendeu-se Syaoran.

— É, é isso aí, nós estudamos juntos há um ano, estamos fazendo um trabalho em dupla agora, e lá em casa todos são Kinomoto, então acho que ficaria mais fácil se você me chamasse apenas pelo primeiro nome – Sorria Sakura.

— Hã... eu não sei... O que eu deveria responder pra isso???  

De repente, o semblante da garota mudou:

— É claro, se você acha que não é adequado que façamos isso, tudo bem – Disse Sakura, agora com um olhar um pouco triste.

— Não... eu só... – Ah cara, só pode ser brincadeira, pelo visto não tem jeito...— Bem, creio que não haja nada de mal nisso, então acho que podemos nos chamar pelo primeiro nome... – Por fim, afirmou o jovem chinês com o rosto um pouco vermelho.

— Sério?! Mesmo?! Que bom hehe – Disse Sakura, com o mais belo sorriso que já dera, o que fez nosso jovem corar ainda mais. – Vamos continuar nossa jornada então.

— Sim.

— AH! Você ia falar alguma coisa antes de eu interromper não é? Me desculpe, o que você ia dizer?

— Ah sim, na verdade... – Hum então ela se lembrou— O que você sabe sobre o Período Edo?  

Sakura não se dava muito bem com matérias como matemática, mas até que ia bem em história:

— Hummm... Ah, eu sei que foi um período em que graças à paz que havia no momento, proliferaram-se os ronin’s, que eram samurais sem senhor, e tiveram que se dedicar a outras tarefas, tornando-se os principais responsáveis pelo desenvolvimento das artes, principalmente da escrita, da arte do chá, do teatro e da pintura.   

No restante daquele percurso, ficaram conversando sobre o Período Edo e outros assuntos escolares, não foi a melhor das conversas, mas serviu para preservar uma atmosfera confortável até chegarem a casa de Sakura.

— Bem, é aqui – Disse Sakura.    

Syaoran parou para observar a casa a qual a garota apontava. Era um simpático sobrado amarelo, possuindo um jardim com algumas flores e arbustos, e que ganhava um aspecto ainda mais agradável com os raios de sol que iluminavam aquela tarde. Syaoran poderia observar aquela casa por mais algum tempo, mas lembrou-se que deveria conhecer o interior dela também, deu-se conta disso quando percebeu a garota de orbes verdes adentrando pela porta da frente.

— Heey, cheguei – Disse enquanto tirava seus calçados – Venha Syaoran, entre logo.

— Aah, sim – Respondeu Syaoran enquanto também tirava seus calçados. Heee Syaoran...   

Eis que da entrada que dava acesso à cozinha, surge um homem alto e de óculos, usando um avental e com um simpático sorriso no rosto.

— Seja bem-vinda Sakura, e você deve ser Syaoran Li, Sakura me falou sobre você, sou o pai dela, meu nome é Fujitaka Kinomoto, seja bem-vindo também – Cumprimentou Fujitaka nosso rapaz ainda com aquele simpático sorriso no rosto.

— Desculpe pelo incômodo, é um prazer conhecê-lo Sr. Kinomoto – Respondeu Syaoran a altura.

— O prazer é todo meu, sinta-se em casa. Os biscoitos estão quase prontos, quando estiverem eu os avisarei.

— Oobaaa, biscoitos! – Festejou alegremente Sakura.

— Por hora vocês podem começar a fazer o trabalho de vocês

— Sim senhor – Respondeu Syaoran.   

Dito isso, os dois adolescentes seguiram para a sala de estar, onde deram início as suas atividades. Não demorou muito e Fujitaka apareceu no recinto:

— Os biscoitos estão prontos.   

De fato aqueles biscoitos estavam deliciosos, Syaoran estava até pensando em pedir a receita para o pai de Sakura. Passado algum tempo, e tendo alguma pesquisa feita, eles decidiram fazer uma pausa, que fora ofertada por Sakura, que alegava estar exaustada.

— Ããi eu não esperava que fosse assim tão cansativo pesquisar sobre o Período Edo. – Disse abraçada a uma almofada.

— Bom, se é um trabalho bem feito que você quer, tende a ser algo trabalhoso realmente.

— É, eu sei, só estou sendo preguiçosa na verdade – Enfiou a cabeça na almofada – AH! Já sei, tive uma ideia! – Exclamou animada.

—O que foi?

— Espera aqui, eu vou lá ao meu quarto e já volto, não sai daí heim?!   

Tão cedo quanto proferiu as últimas palavras, saiu correndo escada acima em direção a seu quarto, deixando ali na sala um Syaoran confuso e incrédulo:

— O que foi isso do nada? – Pensou – E além do mais, para onde eu iria?   

Há alguns minutos atrás Fujitaka havia dado uma saída para fazer as compras para o jantar, o que significava que aqueles dois estavam agora sozinhos naquela casa, fato que não passava despercebido pela cabeça de Syaoran. Era algo ao mesmo tempo desconfortável mas também interessante. Nunca tivera a oportunidade de ficar tanto tempo sozinho com aquela garota, e poder conversar tranquilamente com Sakura era algo cativante, tal como aquela garota.   

Syaoran já estava ficando impaciente com a demora de Sakura, percebia que deveria se acostumar com tal hábito. Decidiu que iria chamar pela garota, mas ao passo que caminhava até a saída da sala de estar, ouviu o barulho da porta da frente se abrindo, deduzindo que era Fujitaka voltando, mas para sua surpresa e futuramente seu desgosto, estava enganado.

— Cheguei – Uma voz parecida com a de Fujitaka, porém um pouco mais juvenil anunciava sua chegada.    

Nesse momento, Syaoran não sabia ao certo o que fazer, decidiu então ficar parado, esperando para confrontar aquele que chegava. E após aquele quem havia chegado adentrar na casa e parar em frente à entrada da sala de estar, ao lado de Syaoran, ocorreu uma cena que surpreendeu completamente Syaoran. O motivo? A reação daquela pessoa.

— Mas quem diabos é você? – Perguntou um homem alto de cabelos negros e olhos afiados de maneira rude.

— Boa tarde – Disse Syaoran já um pouco irritado – Meu nome é Syaoran Li, eu—.

— Não interessa quem você é – Disse aquele homem interrompendo Syaoran e puxando-o pelo colarinho – Cai fora daqui já.    

E assim Syaoran se viu saindo de uma situação que estava sozinho com uma garota na casa dela, para uma situação em que era erguido pelo colarinho sem qualquer explicação. Tal mudança, de fato não estava em seus planos.

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