Vingança e exorcismo escrita por P B Souza


Capítulo 3
O Exorcista




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Esperei que abrissem o portão, não pude evitar um sorriso fraco quando o vento uivou e as árvores balançaram com sua força, a mãe natureza sempre tão poderosa, e os homens atribuindo esse evento – causado por nada menos que a simples estação do ano – às forças demoníacas.

Voltei para dentro do carro após falar no interfone com um segurança, o carro era um lexus 2008, não era luxuoso ou fruto de ganância, era apenas um carro, um carro econômico que fazia bastante quilômetros por litro, nem era meu, era da Ordem. Acelerei e as rodas deslizaram pelo chão molhado com a neve, o jardim frontal da mansão era lindo – até mesmo no inverno –, as fontes estavam desligadas, a água congelada, aquele lugar inteiro me lembrava do Vaticano e da época em que estive lá, acreditando fazer o trabalho de Deus. Em resumo o lugar inteiro me lembrava de ostentação, poder, símbolos e, em suma, pecado.

O motor do carro desligou, eu puxei a chave e coloquei no porta-luvas, as portas não trancavam, não precisava delas trancadas.

Abri a porta do carro e desci novamente, o casaco me esquentando bem pouco ali fora, mas tinha certeza que lá dentro a casa seria confortável, quente, e mobiliada com o melhor que o dinheiro pode comprar.

Não é surpresa o número de vezes em que pessoas famosas atraem para si forças malignas, eu não me surpreendi ao receber a ligação um mês atrás. É sempre assim, você se cerca de símbolos e ostentação, se cerca de má influências, se cerca de fama... O demônio não se preocupa com essas coisas, nunca se preocupou, na verdade. Em suas discussões com Deus ele sempre demonstrou desprezo pela raça humana, desprezo pela nossa simples existência, culpando o próprio Deus por ter criado e dado vida ao homem. No entanto nós damos a Lucífer o crédito por toda obra maligna inexplicável que acontece, quando na verdade devemos nos culpar, nós buscamos e causamos nossa própria ruína e desgraça, assim como esse homem agora, mais um caso de possessão, irrelevante para muitos, obra do demônio para a família da vítima, doença mental para o Vaticano, mas o mais importante? Uma fonte de dinheiro para a mídia, que só não estava ali por acreditar que a vítima estava no melhor hospital da cidade.

Sempre o dinheiro, sempre o melhor, sempre o mais caro, sempre a mesma coisa!

Um mês atrás quando a família da vítima me ligou eles disseram “Meu filho, eu rezo por ele todo dia, eu já fui na igreja, já falei com os padres, já falei com os médicos, não tenho mais o que fazer, me falaram de senhor, e do que já fez, da ordem...” Sempre a mesma conversa e as mesmas lastimas. No momento em que eu ouvi o começo das explicações da mãe da vítima eu a respondi dizendo já saber sobre o que se tratava o caso, ela me perguntou se eu vi em um algum site, mas a verdade é que, há anos, não usava computadores, não usava a internet, não precisava disso, então como eu sabia?

Todos esses casos são iguais, no final todos eles são os mesmos. Não era o diabo, como a mãe temia, não era um demônio, como a irmã temia, não era uma doença mental incurável, como o pai temia. Não significava ser menos grave.

Quando uma pessoa busca fama ela acaba se envolvendo com tudo que buscou e não buscou, em vida isso inclui reconhecimento, mérito, prazer, dinheiro, adornos, mas também inclui inimigos, processos, gente que não gosta do que você faz, críticos, os que vão te ridicularizar. O maior perigo é quando o inimigo não vem da vida, e sim da morte, nesse momento não se pode lutar sozinho, não se pode lutar com advogados ou seguranças, não se pode lutar com remédios, não se pode lutar com dinheiro, é nesse momento que tudo pelo que a vítima lutou para ter se mostra inútil, nesse momento que todos percebem como aquilo é irrelevante, nesse momento eles recorrem a igreja, a fé, a quem deveria oferecer-se a salvar a vida de uma vítima.

Nunca é assim, não nos dias atuais, não na atual igreja e no atual cenário. Por isso fui excomungado da igreja e aceito na Ordem, eu não preciso de exames anteriores, não preciso de provas concretas, não preciso de dinheiro antes e depois, porque o que eu faço não é um trabalho, é um favor. Eu não vim até aqui – um oceano de distância – para lucrar, para ficar famoso, para benefício próprio. Eu vim aqui espalhar a obra do Senhor e ajudar duas almas em conflito, ajudar dois seres em guerra. Eu vim oferecer ajuda, não cobrar por um serviço. Por isso todos na ordem saíram da igreja, porque acreditamos que o bem não deve ser algo a se cobrar, acreditamos que o bem deve ser uma ação de livre e espontânea vontade para ajudar o próximo, não um negócio a se comercializar.

A porta se abriu na minha frente, um homem bem vestido me recepcionou.

— Padre, entre por favor, aí fora faz um clima pouco agradável. — O homem deu licenças para que eu entrasse e fechou a porta atrás de mim. — Meu nome é Julius, o mordomo. O quarto fica lá em cima, caso prefira posso lhe servir um café, ou chá primeiro.

— Não será preciso. — Respondi, aquilo não deveria demorar mais que o necessário ou se prolongar por futilidades que só enriqueciam a mente ou o corpo e não o espírito. É exatamente por coisas assim que essa situação está acontecendo. — Podemos ir direto para o quarto da vítima. A família optou por não ficar, estou correto?

— Sim, são muito sensíveis a esse tipo de coisa, e tem sido muito difícil nos últimos dias.

— Acredito que tenha sido. — Olhei ao redor, quadros, moveis caros, piso brilhando, paredes repletas de ostentação, discos de ouro e platina. — Vamos?

O mordomo me mostrou o caminho, passamos por uma sala com a maior televisão que já tinha visto, um filme de vampiros, provavelmente do drácula dos anos oitenta, passava, me lembrava daquele filme, da época em que ainda era apenas um homem comum.

— O patrão gosta deste tipo de filme, tenho deixado a televisão ligada sempre na programação que o agradava, li em determinada pesquisa que pode ser útil. — A televisão, porém não tinha som. Eu concordava com aquele argumento, mas não em totalidade. — O odor...

— Podridão, é comum, não se preocupe. — Interrompi-o, vendo o corar como se fosse culpa dele o cheiro de cadáver.

— Não é o corpo dele que está...

— Infelizmente é. — Respondi novamente, notando que o mordomo fazia o possível para não citar o nome da vítima, tal como eu pedi, eu preferia assim. Ele parecia preocupado com a vítima — Mas não significa nada de ruim! O odor é puramente característico do invasor e não do hospedeiro, é um sinal de possessão avançada, no começo apenas a vítima sente esse odor, conforme o processo de transição se completa é comum que os lados, mortal e espiritual, comessem a dividir informação, tal como odor, a fala, coisas assim.

— Ah. — Foi tudo que o mordomo teve a dizer.

Paramos na porta do quarto, o cheiro já era forte. O mordomo pegou a chave e destrancou a porta, então abriu. O cheiro aumentou mais ainda, a vítima, um homem de pele branca, moreno pelo sol, nu, sujo com os próprios excrementos, com barba por fazer crescendo irregular, estava preso à cama, braços e pernas, mas não se debatia.

— Não se mantém vestido, e insiste em urinar e defecar em si próprio.

— Si próprio não. — Esclareci de forma simples. — Quem faz isso não é ele, é o invasor...

— ...sora! — A vítima me respondeu, com a voz puramente feminina, uma mulher falava comigo, com um chiado de fundo, como um rádio com pouco sinal, mas mais macabro que estática, o mordomo fez o símbolo na cruz, na ordem errada, mas fez. Deus não se importava com a ordem, isso era idiossincrasia do homem, o que valia era o fato de pedir pela ajuda de Deus — Invasora.

Ela completou.

— Se quiser ficar ou sair, não me importo, mas irei começar. — Ofereci ao mordomo, ele anuiu com a cabeça me examinando, deveria estar procurando um crucifixo, uma bíblia e um potinho de água benta. Então se virou e saiu.

Eu fiz uma leve careta devido o fedor, me aproximei da cama, e olhei nos olhos dele, o corpo cheio de hematomas, coloquei minha mão na canela, os pelos grossos sobre a pele seca e fria, então fui para a barriga, onde um arranhão largo ia do umbigo até as costelas, a invasora me olhava com os olhos da vítima. Eu passei a mão pela ferida, apertei a pele com força, mas não houve reação alguma por parte da invasora, tal como esperava. A possessão ainda não estava em estado tão avançado.

Os roxos nos braços e pernas onde o couro mantinha-a presa na cama mostravam as tentativas de se soltar.

— Se eu te soltar, matará ele?

— Por que me soltaria, Padre?

— Porque não existe motivo real para te manter presa, desde que não ofereça risco...

— Acha que eu não ofereço risco? — O grito veio com uma tonalidade masculina, um pequeno sinal de vida, um sinal de dor, um sinal de força. — É isso...

— Acho que sofreu em vida. — Respondi. — Eu sei o que você é, sei o que escolheu fazer, o que não sei é o porquê! Mas posso te ajudar.

Eu girei em torno da cama, indo de ponta a ponta, a cabeça da vítima me olhando com olhos esbugalhados.

— Quantos anos? — Me virei para a sacada.

— O que?

— Quantos anos você tinha. — Fiz uma pausa, então me virei de volta para a vítima. — Quando morreu?

Ela não me respondeu, mas eu percebi, no olhar do corpo, a dúvida.

— Te fizeram esquecer? Ou você quis esquecer? — O vidro da porta da sacada estava embaçado, eu desenhei um rosto feliz nele. — O que ele te fez?

— PARA...

— Você ficou com raiva! — Eu concluí, pelo berro, pela vontade de me fazer parar de falar, a vontade de me fazer parar de colocá-la em dúvida. — Ainda está com raiva, mas agora você consegue ver que não faz sentido! Eu vou te mostrar...

— NÃO! Você mente...

— Alguém mentiu! — Afirmei, me aproximei do corpo da vítima e sentei na beirada da cama, a mão amarrada pelo pulso chacoalhando. — Mas você sabe que eu não estou mentindo, você sabe que sentiu raiva, sabe que teve seus motivos para fazer isso. Mas porque fez? Você sabia o custo... sabia...

— Ele é um monstro... ele mereceu isso, ele nem tentou se desculpar.

— Existe duas formas disso acabar. — Eu peguei a mão, fria e de dedos roxos, da vítima, entrelacei meus dedos na mão dele, segurei com força. —Ou você me deixa ajudar. — Eu falei com um tom sério, o corpo começou a se debater e o frio no quarto começou a aumentar, o corpo começou a se urinar, urina respingava no meu casaco, o cheiro de fezes aumentou com o movimento, a cabeça da vítima balançava de um lado para o outro e a voz da menina repetia “não” de forma atrapalhada e apressada como uma súplica. Com a outra mão eu segurei a cabeça da vítima com força pela testa, os olhos se arregalaram e me encararam. — Ou eu vou tirar você daí do pior jeito.

O corpo parou por um segundo, eu fechei os olhos e, apertando a mão da vítima e empurrando a cabeça contra o travesseiro, eu senti o corpo sumir.

Tudo sumiu.

Estávamos os três ali, em pé. Escuridão total, como um vendaval, eu podia ver as trevas revolvendo no infinito, o silêncio era como uma barulheira infernal, impossível ser ignorado, e só podíamos nos ouvir se berrássemos. Mas o que eu via eram fragmentos. Pouco restava da vítima, e o que restava implorava, aos prantos implorava, em dor implorava. Muito mais restava da invasora.

Os dois espíritos lutaram pelo corpo, lei básica, dois corpos não ocupam o mesmo espaço. Para o invasor ter o corpo ele teria que tirar o dono, esse processo, chamado de expugnação, era doloroso e demorava um minuto ou um ano, dependia da força e da fraqueza do invasor e do dono do corpo. Aquele processo durou vinte e sete dias, e estava quase concluído, a vítima estava quase extinguida.

— O que falaram para você? Que conseguiria se vingar? Que conseguiria...

O bafo, um bafo quente e fétido, me derrubou, era como se um vulcão explodisse, mas sem a lava, apenas o calor, era fúria, raiva, ódio, tudo junto.

Ela estava em negação.

— Quando morreu você queria se vingar, mas sabia, em vida, que isso não era verdade, você só queria se vingar porque estava com raiva! Deixe esse corpo. Ainda pode ir...

— E o que? — A voz dela já não era nem mesmo dela, era um sussurro de algo que um dia foi um espírito, consumida pela própria dor. — Eu sei que não tem mais volta...

Quando morremos nosso estado atual perpetua. A morte em si é irrelevante, mas o sentimento que tinha no momento da sua partida, esse sentimento estará com você para sempre após fechar os olhos. Ódio e raiva e vingança, são sentimentos que consomem e confundem e atordoam o espírito. Após se vingar, após ver que aquilo não faz mais sentido, após a raiva passar, nada sobra! E o espírito se consome.

— Você ainda pode fazer a coisa certa! Ainda pode...

Novamente... aquele impacto de calor, as trevas... fui jogado para fora e o corpo da vítima estava ao meu lado, abri os olhos ouvindo o rugido infernal, era como se as paredes fossem se quebrar ao meio.

Apertei com força a mão da vítima.

— Eu vou voltar. — Disse, sabia que ele ainda podia me ouvir.

Eu tinha visto o estrago, visto o que a batalha entre eles causou, o que custou.

Me levantei e fui até a porta, respirei fundo e antes de abrir eu olhei para trás, a vítima me observava, olhos vidrados.

— Você ainda pode se salvar! Não precisa ser assim. Lembre-se, alguém te ama, alguém não te quer assim. Lembre-se que você não é isso! Isso é o que fizeram com você, não precisa ser assim. — Ela ia falar alguma coisa através da boca dele, mas antes que o fizesse eu abri a porta e sai.

 No Hall o mordomo aguardava.

Ao me ver ele não esboçou reação alguma, estava pálido e tremendo. Eu sabia que os sons que ele ouviu, terríveis urros, estrondos, pancadas... ele deve pensar o pior.

— Eu preciso falar com a família dele, eles precisam tomar uma decisão final.

O mordomo fez que sim com a cabeça, se levantou e saiu, um minuto depois ele voltou com um telefone na mão, me entregou e disse;

— Aperte o verde.

E assim o fiz. Levei o aparelho à orelha, chamou três vezes, então alguém atendeu, risadas no fundo.

— Shh. Quieta! É do seu irmão. — Era a mãe da vítima, as risadas pararam. — Meu menino... ele está...

— Preciso de seu consentimento para terminar o processo de exorcismo. — Disse, em tom sério e monocórdico, não queria levantar nenhuma expectativa que não existisse. — Vou lhe explicar a situação...

Contei a ela, entre as várias interrupções para chorar, e reclamar e me xingar.

Expliquei que seu filho tinha sido possuído por uma garota, não mais que dezoito anos, que ela o odiava por algum motivo, algo banal, o mais provável é que não fosse nada que uma conversa não resolvesse, mas que a garota morreu com esse ódio, e encontrou, na vida após esta, alguém que lhe mostrou um caminho perigoso por onde ela teria vingança. Expliquei que a possessão é um processo de etapas e expliquei que seu filho ainda podia ser salvo, que ele podia escutar tudo, ele podia ouvir e podia ver, ele podia entender, mas ele jamais se mexeria, jamais andaria, ou falaria, jamais viveria. No final eu expliquei que a possessão é um processo de substituição e não de divisão de corpo. E que para o espírito da garota viver no corpo da vítima ela precisaria destruir o hospedeiro original daquele corpo, falei que o corpo é apenas a forma material para interagirmos um com os outros nesse plano, mas que o corpo em si não era necessário para ‘viver’, e, no entanto, a alma da vítima estava tão danificada que ela não viveria, se despedaçaria, se expulsada de seu corpo original.

No final expliquei que poderia fazer o exorcismo, eu poderia expulsar o espírito da garota, mas a vítima jamais seria a mesma, ou poderia expulsar ambos e oferecer descanso a vítima, que caso contrário viveria em nosso plano até envelhecer, mas viveria em sofrimento inimaginável, ou poderia deixar a garota no corpo, mas isso acabaria com a existência da vítima da mesma forma.

Quando desliguei o telefone o mordomo também chorava, mas meus olhos estavam secos.

— O que ela decidiu? — Ele me perguntou, pegando o telefone novamente.

— Ele viverá! — Eu respondi, me virei e voltei para o quarto.

Quando entrei no quarto de novo a vítima olhava para a janela, ainda era dia, mas as nuvens do inverno não permitiam o sol iluminar muito.

— Deus perdoa a todos?

— Os que quiserem perdão, sim! — Respondi a menina.

— Ele era um homem muito bonito. — Ela começou, eu decidi não a interromper. — Ele tinha uma voz linda, ele podia ser perfeito, ele era rico, ele era inteligente, forte, ele falava coisas legais. Mas ele foi arrogante comigo, me desprezou, ele me tratou como lixo... — Ela soluçou, e a feição no rosto da vítima era simplesmente estranha, não cabia na voz de uma mulher, mulher a qual chorava, um momento em que a verdade ficou clara. — Na frente de todo mundo...

— Você pode sair! — Ofereci mais uma vez a oportunidade, ela parecia ter entendido, ter encontrado a verdade.

— Eu sei. — Ela virou a cabeça da vítima, me olhando, os olhos eram apenas maldade, então entendi, ela tinha encontrado a verdade, e escolhido... escolhido um caminho que eu não queria. — Mas eu não quero! — A voz foi absoluta e decidida, não haveria mais conversa.

Era o fim.

...

Eu abri os olhos depois de ter terminado... ninguém nunca se lembra dessas coisas, quando as fazem. Aprende-se isso na ordem.

Me levantei, estava caído no chão, os braços e pernas da vítima estavam soltos. Ele parecia em paz, os olhos fechados, dormia.

Eu olhei para o corpo por um bom tempo, uma tristeza me afligindo naquele momento. Eu tinha destruído uma vida, tinha aniquilado um ser da existência, e permitido que um ser fadado a se desfazer perpetuasse seu sofrimento ali, só para depois, quando o corpo morrer, a alma poder se desmontar e então sumir.

Deveria ter deixado a menina com o corpo, deveria ter conseguido salvá-la dos maus que a afligiam, do medo e do ódio, e dado a ela um corpo novo, um que ela aprenderia a usar e com o tempo viveria como se fosse nascida ali. Eu destruí uma vida para salvar outra fadada a destruição.

Eu fiz um favor, apenas isso! Eu fiz o que me pediram, não o que eu queria. Disse para mim mesmo, me endireitei e arrumei o casaco, fui até a saída do quarto, olhei para o relógio no meu pulso, tinha se passado quatro horas desde quando cheguei ali. Abri a porta.

O mordomo ainda estava ali.

Ele me olhou pedindo uma boa notícia com os olhos.

— Ele está vivo. — Respondi, e um sorriso surgiu nos lábios do mordomo.

— Obrigado!

Não respondi aquilo, apenas anui com a cabeça.

— Eu vou indo! — Disse em fim.

O mordomo me acompanhou até a saída, quando chegamos lá ele apertou minha mão, e agradeceu.

— Deve ser horrível ter um trabalho desse, não existe agradecimento possível...

— Não é um trabalho. — Eu afirmei. — Por isso não é tão ruim. Eu... ajudo, e por isso Deus me ajuda.

— Tenho certeza que sim! De toda forma, obrigado.

Eu sabia que todos aqueles agradecimentos eram porque eu não aceitei nenhum pagamento pelo exorcismo, tal como a ordem ensinou, caso contrário não seria um favor, seria um negócio, igual ao da igreja da qual eu saí.

No entanto ele não estava tão agradecido assim, e pela sua fala eu nem mesmo acreditava que ele acreditava em Deus. Mas isso não importava.

Eu era abençoado, eu podia ver a maldade no homem, ver o mal em sua forma genuína, e ajudar, e punir, e ser a ferramenta que opera entre os reinos... eu sabia que ficaria louco se guardasse tudo o que vejo na memória. Deus também sabia.

Por isso eu sabia que estava fazendo a coisa certa. O dia em que eu me lembrasse seria o dia em que pararia. E, com um pouco de sorte, esse dia nunca chegaria.


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