Capuz Vermelho - 2ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 4
Todas devem cair (Parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Alexia discara freneticamente o número do telefone da cabana. Estava chamando. Alguns segundos de espera e finalmente ele atendeu. A ligação meio que cortava com chiados intermitentes devido à região.

— Alô? - disse a grossa voz do outro lado.

— Rufus, preciso lhe contar algo. Acho que não vai gostar muito. - disse Alexia, fazendo uma careta de desânimo.

— Oh não, madame. O que houve desta vez? Se meteram em perigo?

— Muito pelo contrário, estamos bem seguros. Não se preocupe. Só liguei para dizer que ficaremos aqui por uns dias até que tudo se resolva.

Um silêncio na ligação quase partiu o coração da jovem. Ruídos foram ouvidos. 

— Rufus? Não está chorando está?

— Claro que não, madame, a ligação está um pouco ruim. Só estou meio... aflito. Não gosto de ficar sozinho. Com esses monstros à solta por aí, não sei o que pode ocorrer... se um deles chegar a vir aqui.

— Ora, pare com isso. - seu tom tornou-se mais severo. - Você sabe se defender muito bem. E não vai acontecer nada, vai ficar tudo bem. Eu prometo... prometo que vou trazer Rosie de volta... e todos nós ficaremos juntos novamente.

— Tenho muitas esperanças. Boa sorte, madame. Ah, e porque perguntou se eu estava chorando?

Alexia riu baixinho.

— Você não consegue ficar um minuto sequer longe de mim.

— Sim, é verdade. Por favor, madame, prometa que vai ficar longe quando as coisas esquentarem. Ouviu bem?

— Ora, não fale como se fosse meu pai, que era um carrancudo que enchia a cara todos os dias.

— Eu não vou comentar a comparação, madame. Apenas quero que sobreviva. - Rufus parecia ter perdido o tom de brincadeira.

— Está bem... Farei de tudo para que eu possa ser útil nessa missão. E não tive intenção de comparar você com meu pai... apesar de considerar o "carrancudo".

— Oh, não fale assim, madame, me faz sentir como um troglodita. A senhorita viu hoje de manhã, estou mudando minha conduta.

— É, foi bem convincente. Preciso desligar, Rufus. Fique bem. Até.

— Idem, madame. Novamente: Boa sorte.

Após agradece-lo, Alexia pôs o fone de volta no lugar, desligando. Ficou pensativa, olhando para a janela à sua frente. Aproximou-se dela para visualizar o céu. Se decepcionara. Estava sem estrelas e com uma entediante lua minguante. A vidente, sem se empolgar com o clima, subira as escadas novamente para voltar à sala "secreta".

                                                                            ***
Na mansão da autoridade máxima da justiça, o baile havia sido interrompido, dando lugar à conversas cheias de tensão e medo. Os convidados mantinham suas máscaras, praticamente fixadas em seus rostos, enquanto bebiam champanhe em taças de vidro reluzente e limpo. Cada gole deveria cessar aos poucos o temor causado pelo assassinato ocorrido no salão. O corpo do homem ainda jazia no centro, manchando o caro tapete cinzento com sangue puro. Sua máscara, branca com olhos negros idêntica a dos demais presentes, recebera pigmentos vermelhos. O golpe fora preciso e metódico, cuja arma fora manejada perfeitamente. No terno do homem exibia-se um largo corte profundo que ia do tórax ao abdômen. Para tentar suavizar o terror passado, a maioria ignorava o cadáver.

Rosie enveredou-se por um corredor absurdamente longo, correndo e visualizando as portas ao mesmo tempo. As paredes tinham uma decoração exuberante, sendo enfeitadas com um papel de cor vinho com listras verticais douradas. A jovem não dera a mínima para aquilo. Na metade do corredor, parou para pensar um pouco.

— Quanto tempo eu ainda tenho? - perguntou para o Guia, que naquele instante já desaparecera.

Olhou ao seu redor procurando-o. Se aborreceu instantaneamente após não sentir mais sua presença.

— Onde você se meteu? - perguntou, a voz ríspida. - Preciso que apareça, agora! Se quer mesmo fazer jus ao seu nome, então me ajude a encontra-lo!

A criatura surgira bem atrás dela, se materializando em uma espécie de poeira marrom. Ao perceber, Rosie sobressaltou.

— Aí está você, finalmente. - aliviou-se ela, mantendo o semblante sério.

— Está mesmo pedindo à mim que a auxilie na resolução do caso? - perguntou ele, inclinando a cabeça para a esquerda.

— É óbvio! - vociferou ela. - Eu tinha perguntado quanto tempo ainda resta para encontrar o assassino.

— Não há uma contagem de tempo. - esclareceu ele. - Mas se quiser acabar com isto de uma vez, terá que estar fortemente atenta. Eu apenas tenho permissão para lhe dar dicas.

— Ótimo, quero uma dica, talvez seja suficiente. - empolgou-se ela, chegando mais perto.

— Esta mansão é um verdadeiro labirinto. Muitos corredores ligam-se à outros de um maneira surreal. Um deslize sequer após caminhar por vários deles e correrá o risco de voltar ao que você estava primeiramente. A dica é: Uma destas portas esconde os principais suspeitos.

Rosie estagnara-se, sem pensar em qual ação executar primeiro. Olhou para as duas portas à sua esquerda e direita.

— Não seja ingênua. Não estão nestas salas. - disse o Guia, severo.

— Quantas portas há neste corredor? - perguntou Rosie, olhando para trás e fitando o longo caminho que percorreu.

— Mais de 50. No entanto, o número de portas não equivale ao número de salas.

— Então quantas salas existem neste corredor? - voltou-se para o Guia, já no limite da impaciência.

— 45. - respondeu, direto. - Tem mesmo tanta certeza de que este é o corredor certo? - perguntou com certo ar de deboche. - É só o primeiro de 110.

— Não vou perder tempo andando por mais de 100 corredores e fritando meus neurônios á procura desse sujeito. - respondeu ela, desencorajada.

— Quer tentar a sorte!? Que garota ousada. - disse, soando irônico.

Rosie o fulminou com seu olhar. Andou alguns passos verificando a numeração das portas próximas.

— Estes números, não deixei de reparar... São parte de algum enigma?

— Praticamente. Deve-se levar em conta a idade da mansão, a data de hoje e a idade dos suspeitos. Esqueci de mencionar isto, desculpe.

— Também esqueci de mencionar que você é um grande chato. - disse Rosie, encarando-o com mais fervor.

— Ninguém nunca me elogiou assim antes.

— Que seja. - disse ela, voltando seus olhos para as portas. - Afinal, como vou saber o que você me disse? A idade desse lugar...

— O objetivo deste desafio é redespertar suas habilidades investigativas, logo foquei precisamente em sua dedução e percepção. - disse o Guia, aproximando-se. - Rosie Campbell, o que deduz sobre este lugar em relação à sua idade?

Rosie movimentou suas pupilas apressadamente para as portas mais próximas. Sentiu que estava mais perto do que o Guia pensava. Não dera um veredicto sobre aquilo. Apenas andou até a porta à sua frente, cujo número era 30.

— E-espere! O que vai fazer? - desesperou-se o Guia.

— Não é óbvio pra você? É esta porta. - afirmou a jovem, aparentando estar em transe hipnótico pela certeza que brotava em sua mente.

— Rosie, você pensou no que esse número significa? A idade da mansão, a idade do suspeitos e a data de hoje! Se errar, vai se deparar com outro corredor, tão longo quanto este e isto a deixará ainda mais indecisa e confusa! - esbravejava ele, tentando para-la. Mas palavras eram inúteis, ela estava certa de sua escolha aleatória.

— É mesmo? - perguntou girando a maçaneta. - Saiba que nunca tive tanta certeza de algo na minha vida como agora. Esta é a porta.

A porta se abrira, produzindo um rangido triste. Uma sala pessimamente mal-iluminada foi o que se viu. Rosie entrou imediatamente, dando um sorriso ao encarar as três pessoas que estavam no cômodo. Três homens com rostos mascarados, amarrados e sentados em cadeiras de madeira, um ao lado do outro. Uma lamparina fraquíssima posta no teto iluminava os indivíduos.

O Guia materializou-se ao lado de Rosie, espantado com a sorte da garota. Tinha dúvidas sobre se a mesma realmente perdeu sua memória. Ficou a pensar enquanto ela chegava perto dos suspeitos.

— Isso é inacreditável. Essa menina... - disse a si mesmo. - Lorde Abamanu realmente roubou suas lembranças? Ela estaria fingindo?

Rosie chutou a perna de um deles levemente. Um inclinou a cabeça para um lado.

— Como nos achou? - disse ele.

— Não foi muito difícil. - afirmou ela, cruzando os braços.

— Não foi? - perguntou o Guia, virando sua cabeça para Rosie, ainda incrédulo. - Eu gostaria de saber como uma humana como você possui tanta sorte.

— Não foi sorte, foi apenas uma dedução.

— Ei. - disse o primeiro deles. - Com quem essa garota maluca tá falando?

— Ah sim. Eu tinha me esquecido que eles não podem te ver.

— Responda-me Rosie: Como conseguiu? - exigiu o Guia, desta vez rígido.

— Eu não sei bem ao certo como explicar, mas o número 30 me pareceu provável demais. Veja. - e apontou para o calendário na parede à esquerda.

O Guia simplesmente ficara estarrecido ao ver.

— Muito bem, um de vocês... - disse Rosie, autoritária. - Respondam-me: Que dia é hoje?

— 30 de Julho. - falou o do meio.

— Algum de vocês sabe a idade desse lugar?

Os três fizeram que não com a cabeça. Rosie suspirou fundo, pronta para fazer a próxima pergunta.

— Quantos anos vocês tem?

O último dos três sentiu-se obrigado a falar.

— 30. Nós somos amigos de muitos anos, sabemos quase tudo sobre um do outro.

— Eu não entendo. Como a sala está acessível se nenhum deles sabe a idade da mansão. - disse o Guia, crescendo suas dúvidas.

— Simples. Eu presumi que a mansão teria 30 mil anos de existência quando vi o número da porta, bem como toda a arquitetura. Também percebi, quando olhei do lado de fora da mansão, que a rua era moderna demais para um lugar como esse, portanto estamos em uma espécie de futuro e o baile nada mais é do que um retrospecto dos tempos antigos. Agora vejo que não estou errada.

O primeiro suspeito manifestara-se com o ato de Rosie ao "falar para as paredes".

— Olha aqui, garota. Um de nós confessa se você nos disser com quem está falando.

— Isto depende. Vou poder tirar as máscaras de vocês? - perguntou ela, pondo as mãos na cintura.

O trio ficou em silêncio. Sem escolha, Rosie interpretou como um "sim".

— Estou falando com um amigo... bem estranho, aqui do meu lado. - disse ela apontando para sua esquerda. - E não devo mais explicações. Qual de vocês é o assassino?

Mais alguns segundos de puro silêncio se passaram como minutos. Até que o suspeito do meio resolvera quebra-lo.

— Sou eu! - exclamou, conciso.

— É agora, Rosie. - disse o Guia. - Faça o que tem que ser feito.

— E o que devo fazer? - perguntou ela, extremamente desconfiada.

— Mate-o. - ordenou o Guia, a voz dura como aço.

Movida pela pressa de sair daquele lugar, Rosie não errara a mão quando não queria perder tempo. Sacou sua adaga, a lâmina gelada e reluzente, em seguida apontada para o indivíduo do meio.

Primeiramente, arrancou-lhe a máscara com o objeto pontiagudo em um rápido e preciso movimento. O homem ficou trêmulo após o susto. Rosie olhou fixamente para seus olhos. Um assassino vendo a face de outro.

— Então é você. - semi-cerrou os olhos.

— Manda ver, garota do capuz. - disse ele, entregando-se ao seu destino.

Rosie, sem titubear, enfiou a ponta da adaga em seu peito. A branca camisa do culpado foi manchando-se de sangue gradualmente enquanto a lâmina continuava perfurando cada vez mais fundo. O urro de dor daquele homem soou como música para os ouvidos de Rosie.

Os dois mantiveram-se quietos, porém, amedrontados. Rosie girou a adaga em sentido horário, deixando abrir ainda mais a ferida e uma quantidade de sangue manchar a camisa. E continuou girando em ambos os sentidos, torturando o criminoso à seu bel prazer. Os gritos dele oscilavam, como se a dor fosse diferente a cada giro da adaga.

Foi preciso uma ordem do Guia para faze-la parar.

— Já basta!

O sorriso sádico no rosto de Rosie se desfizera por completo. Tirou a adaga do peito do homem, que já aparentava estar morto. Vislumbrou a lâmina inteiramente vermelha, mas sentiu como se estivesse liberta de um feitiço. Dava para ver seu reflexo, apesar do prateado estar pintado de vermelho. Viu sua face risonha e um par de olhos arregalados, revelando um rosto típico de alguém que possui o prazer de matar.

Sacudiu a cabeça de leve, tentando sair daquele mundo insano e sangrento que sua contraparte assassina lhe convidava para viver. Limpou a adaga na capa de seu capuz e a guardou no seu cinto.

Saíra da sala a passos largos e desordenados. O Guia, como "chave de ouro" para o momento, tirou as máscaras dos dois indivíduos telecineticamente. Ambos se entreolharam, ignorando o corpo do amigo entre eles, sem entender absolutamente nada do que se passou.

— Não vai nos desamarrar? - perguntou o primeiro, em alto tom.

Rosie se aproximava do início do corredor, exibindo um expressão séria, mas que denotava desconforto. O Guia surgira por detrás, ainda cheio de dúvidas para sanar.

— Missão completa. Meus parabéns, Rosie.

— É, eu consegui. Você conseguiu. Conseguiu fazer me sentir uma assassina. - seu tom era bipolar.

— Por uma boa causa, saiba disso. - salientou ele. - Diga-me: Como se sentiu a matar alguém de sua espécie pela primeira vez, sem nenhum resquício de piedade?

Rosie não respondera. Simplesmente abriu a porta e entrou no salão. Parou por um instante, ao ver os convidados sem suas máscaras. Olhou para cada um deles. Todos a fitavam surpresos.

Em um ato inesperado, boa parte deles abriu espaço para que Rosie pudesse passar. A jovem, confusa, encolheu os ombros e seguiu em frente. Agradeceu em baixo tom.

O Guia se pôs ao seu lado, demonstrando certa animação.

— O que aconteceu aqui? Você fez isso? - perguntou ela, aos sussurros, quase não movendo os lábios.

— Quer saber por que estão sem as máscaras? Por que a festa tinha acabado de terminar. Removeram o corpo e não chamaram a polícia por falta de evidências. O dono da mansão planeja se mudar daqui.

Rosie baixou a cabeça e lançou um olhar entediado para o chão. Esperava uma explicação que soasse mais fantástica vindo daquele ser magérrimo e bizarro.

A porta a qual se encaminhavam nada mais era que a saída do salão direto para o jardim. Deixaram para trás aqueles pessoas, que continuavam olhando para Rosie, e focaram em um novo rumo.

— Pode abri-la. - permitiu o Guia.

Assim que o fez, a jovem tentou tapar os olhos... esperando ver alguma luz cegante, mas não acontecera nada do tipo, como no primeiro desafio. O Guia estranhou seu ato inclinando a cabeça para um lado.

— E-eu... pensei que uma luz ia aparecer...

A única luz que vira era a de um sol radiante em um céu lindamente azulado do outro lado da porta. Vira também uma terra quase desértica e areia voando livremente através do vento.

— Nossa próxima parada. Está afim de conhecer verdadeiros gigantes? - perguntou o Guia.

Rosie novamente não o respondeu e entrou naquele novo mundo, ávida para descobrir. Sentiu como se jamais tivesse visto a luz solar. Seu estranho companheiro, então, seguiu-a.

E, por fim, a porta se fechara.


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