Capuz Vermelho - 2ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 28
Cerimônia do despertar (Parte 2.3)


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Uma inopina rajada de vento sacudira o espaço, fazendo o ar ficar mais gélido e pesado... como se a força da gravidade tornasse-se mais densa e difícil de se suportar.

Mollock sorrira ao olhar para cima, seu rosto animalesco brilhando a luz azulada dos relâmpagos. Iria se agachar para abrir a tampa... mas fora impedido novamente por uma carga estranha descendo sobre ele, praticamente imobilizando-o. "O que está havendo? Não posso me mover!".

Filetes elétricos dançavam pelo céu, unificando-se em uma só carga.

Uma extrema luz branca ofuscou toda a visão tempestuosa, vinda na forma de poderoso raio que descera violentamente de encontro ao chão... de encontro à Mollock!

Um onda hipersônica quase afundara o chão de ladrilhos, fazendo com que Charlie, Rosie e Hector fossem arremessados ao longe através da força do impacto. O resto do grupo fora jogado para trás como se fossem bonecos comuns, sentindo a vibração resultante fazer tremer todos os músculos.

Mollock gritava intensamente enquanto aquele raio de proporções catastróficas o atingia. Seus olhos fumegavam como se estivessem sendo incinerados, apresentando uma aterrorizante visão.

Por fim, o raio massacrante cessara, fazendo Mollock pôr novamente os pés no chão. Seu corpo estava estranhamente elétrico. Alguns raios intermitentes dançavam em torno de seu corpo. A tampa estava intacta, com apenas um mancha negra causada pelo impacto. Ao redor do monstro, o piso de ladrilhos verdes estava todo quebrantado, em pedaços.

Rosie fora a primeira a se levantar, depois de ter usado a capa vermelha como proteção. O capuz baixara sua cabeça sem que ela o movesse e o deixou assim enquanto observava a cena à sua frente, aflita. Ajudou Charlie a se levantar.

— Estão todos bem? - perguntou, a voz embargada de tensão.

— Não muito. - disse Lester, queixando-se de um dor nas costas. - Sinto como se tivesse sido virado do avesso. Que loucura foi essa?

Êmina ajudava Alexia, ambas sujas de poeira e com escoriações leves nos braços e rosto.

Adam se erguera com a ajuda de Hector, sentindo pontadas na ferida... outrora fechada. baixou os olhos para o ponto vermelho na lateral do corpo e suspirou em desalento. "Oh, não. Isso não pode estar acontecendo!".

— Adam! - disse Hector, reparando no ferimento. - Eu não tinha percebido...

— Tudo bem, tudo bem, tudo bem. - sussurrou ele, assentindo. - Eu mesmo... controlo o sangramento. Pode deixar. - disse, ao se dar conta do rompimento dos pontos feitos por Alexia horas antes.

Cedendo, o caçador-detetive juntou-se à Rosie e Charlie... que fitavam o vulto monstruoso à sua frente, parado e respirando pesadamente.

— Isso não foi um raio comum. - comentou Rosie, apreensiva.

— Por que Mollock não se mexe? - indagou Hector, a visão meio turva e a vibração ainda pulsando em sua cabeça.

Charlie engolira em seco aquela terrível revelação.

— Por que este não é mais Mollock. - disse, friamente, o tom denotando rendição.

Um pequeno e quase inaudível estrondo precedeu uma série de incontáveis raios azuis e finos que desciam do céu de tormenta para direções distintas ao redor do terreno que ocupava as Ruínas Cinzas. Todos se sobressaltaram, assustados com o que viam.

— Meu deus. - disse Lester, observando com espanto a sequência quase interminável de raios que caíam ao longe.

— Mas o que significa isso? - perguntou Rosie, sua voz abafada devido ao barulho.

                                                                                       ***

Do outro lado, a alguns quilômetros de distância, em uma parte mais baixa de um dos morros, estava o numeroso exército de quimeras licantrópicas... que recebia aqueles raios, cada um deles sendo atingidos sem serem queimados. Muito pelo contrário, estavam sendo aprimorados. Daquele céu enfurecido desciam os integrantes do exército do Cavaleiro da Noite Eterna... assumindo, por fim, seus respectivos receptáculos.

                                                                                       ***

Alexia se aproximara de Charlie às pressas, com palavras na ponta da língua. "De qualquer modo, eu vou acabar me sentindo obrigada a revelar tudo o que vi... Charlie deve ter imaginando que seria o sacrifício no meio de toda essa confusão, mas é a mim que Abamanu deverá levar! Não posso deixar que ele sofra as consequências no meu lugar.".

— Charlie! - disse ela, chegando ao seu lado. - Melhor que se esconda, por favor. - avisou ela, tensa.

O rapaz a olhou com estranheza, como se a mesma não fizesse ideia do que estava sugerindo.

— Alexia, acredito que seja você quem deve fazer isso. - olhara para Rosie, Hector e os outros. - Todos vocês devem buscar um lugar seguro.

— E espera que nós deixemos você lidar com isso sozinho? - protestou Hector. - Sei que já é tarde para tentarmos algo que reverta o estrago e isso só elucida o fato de que devemos ficar mais unidos do que nunca. - argumentou ele, firme.

— Não tiro sua razão, Hector. - afirmou Charlie, olhando-o com igual firmeza. - Mas sinto que Abamanu e eu temos um destino a traçar.

— O que quer dizer com isso? - indagou Rosie, intrigada.

— Ele obviamente conhece Chronos, e se o conhece sabe da existência da Ordem dos Magos do Tempo e das aptidões dos membros. - ele fez uma pausa, vislumbrando o corpo de Mollock ainda cabisbaixo e inerte. - E se caso ele demonstrar algum interesse em mim, estou disposto a assumir esse risco... para mante-los a salvo.

— Quer assumir um risco através de uma mera especulação? - retrucou Hector, não convencido.

— Não estou especulando. - respondeu Charlie. - Chronos possuía ligações com diversas divindades diferentes, com Abamanu talvez não tenha sido de outra forma.

Alexia mostrou-se impaciente.

— Talvez!? - ela balançou a cabeça em negação. - Charlie, eu lhe peço: Esconda-se e salve-se.

— Alexia está certa. - disse Rosie, em voz baixa. - Desde que chegamos aqui nossos rumos ficaram imprevisíveis e, já que falhamos, a partir de agora mais do que nunca.

— Vocês não estão entendendo, não fazem ide...

— Vejam. - sussurrou Adam interrompendo Charlie, apontando para o ser monstruoso à frente movendo-se lentamente. - Parece que ele está acordando.

Todas as atenções voltaram-se para a criatura que, aparentemente, estaria dormindo. Descontraiu os músculos, erguendo aos poucos a coluna juntamente à cabeça. O abrir dos olhos foi deveras abrupto e o último movimento para finalizar o "despertar". O processo durara cerca de 4 minutos. Tempo suficiente para Charlie correr, convencido a contragosto, e esconder-se em um local onde não poderia ser visto - uma pilha de blocos de mármore a alguns metros distante de onde o grupo estava, observando cada movimento através de uma fresta.

A criatura alongou o pescoço, parecendo se deliciar com o momento. Andou alguns passos, avaliando cada célula, cada átomo que compunha aquele robusto corpo de pelo duro e marrom escuro. Moveu as garras enquanto caminhava, mostrando-se satisfeito. Por fim, tornou a lançar um olhar determinado para o grupo de seres humanos à sua frente que o encaravam. Sorriu... não demorando a mostrar as presas.

Definitivamente, tal sorriso em nada parecia lembrar Mollock. A diferença foi vista como sendo assustadora. Rosie e Hector entreolharam-se nervosos e depois passaram a olhar para ele... vigoroso e esbanjando imponência. Todos sentiram o ar tornar-se mais rarefeito e o clima alterado-se.

O instante de silêncio foi de embrulhar o estômago.

Rosie engoliu a saliva, os nervos a flor da pele. Fitava-o com um ar mordaz.

— Então você é ele, não é? - perguntou ela, insegura.

O outro tratou de ignorar a pergunta, preocupando-se mais com a casca que possuíra.

Deu uma risadinha zombeteira.

— Este corpo... é bem mais aprimorado do que eu esperava. - disse Abamanu, olhando para as mãos, o tom de voz sinistro. - Hora de começarmos. - olhou para o grupo com um sorriso presunçoso.

Hector lutou contra a vontade de falar algo... mas não se conteve.

— Esta é a parte em que você nos mata e resolve pôr em prática seu plano ardiloso. Não é mesmo?

Ele dera um passo à frente, passando a encarar o caçador.

— Eu já o pus em prática, caso ainda não saiba. - respondeu secamente. - Vejas bem. Vocês aqui... diante de mim e minha grandeza. Seres pequenos, mas estupendamente dotados de coragem inigualável. Os primeiros que realmente conseguiram uma proximidade comigo. - fez uma pausa, olhando para cada um deles. - Isso é um privilégio do qual eu não posso desperdiçar um único segundo sequer. Apenas seis desta espécie curvando-se à mim já é um excelente início.

Erguera a mão esquerda com uma nítida elegância. Depois, sorriu.

— Ajoelhem-se. - baixara rapidamente a mão em um gesto ameaçador.

Todos os seis sentiram como se uma espécie de peso invisível de milhares de toneladas houvesse caído sobre eles com o objetivo de esmaga-los até os ossos quebrarem-se.

Rosie cerrara os dentes enquanto seus joelhos chocavam-se contra o chão, pondo as mãos no chão sem conseguir mover um músculo sequer. Queria gritar, mas sua voz parecia não existir e as cordas vocais atrofiadas. "É como se um gigante tentasse me esmagar! Mas que poder imenso!".

Charlie assistira à cena, não escondendo seu horror repentino. Seus pelos se eriçaram.

"Me sinto impotente! Um desertor! Foi pra isso que me convenceram a ficar aqui? Para vê-los sucumbir até a morte!? Não, Charlie, não vá. Você prometeu não interferir! Não pode fazer nada!", pensou ele, com os olhos fechados e o rosto virado para o lado, enraivecido pela terrível sensação que aquilo lhe causava.

Hector tentara mover a cabeça para cima, lutando o máximo que podia desafiar aquela força esmagadora e violenta. "Esse maldito... Vai nos usar como brinquedos!".

Após vários minutos impondo sofreguidão aos seus "súditos", Abamanu amenizara seu incrível poder ao baixar os dois dedos indicadores.

Todos deram arquejos intensos instantaneamente, permanecendo ajoelhados. Rosie erguera a coluna, fuzilando o algoz com os olhos.

— Sabemos exatamente o que quer. - disparou ela. - Garanto que, se sairmos vivos dessa, nós vamos lutar até o fim e acabar com você e seu reinado!

Sem se abater com a petulância da jovem, Abamanu apenas a fitou estranhamente generoso.

— Nunca faça promessas que não pode cumprir, criança. - disse ele, aproximando-se dela. - Estou aqui unicamente para salvar meu nobre reinado, cuja decadência foi causada por aquele que quer atormenta-la.

— Devo admitir. - disse Hector, interferindo. - Você arquitetou um plano engenhoso.

— Hum. - ele dera um risadinha. - Sei que pretende rivalizar comigo... mas minhas prioridades não estão voltadas à você. Considere-se refém e curvado à mim. - voltou-se para Rosie, empertigado. - Meu negócio é com você.

— Fique longe dela. - disse Adam, o tom protetor.

— Adam. - sussurrou Êmina à sua esquerda. - Vai mesmo encarar? Você viu o que ele fez conosco.

— Sim, eu sei, mas não consigo ficar calado enquanto esse monstro nos ameaça. - sussurrou de volta. - Fico pensando o que se passa na cabeça de um ser como esse.

— Deve estar pensando em qual de nós vai matar primeiro. - disse ela, olhando angustiada para o chão, não ousando em observa-lo.

Abamanu inflara o peito ao olhar para Adam com certo aborrecimento.

— Certamente não preciso lembra-lo de quem profere as ordens aqui. - afirmou ele. - Não pense com quem está lidando, saiba com quem está lidando.

Adam retesara os músculos, encolhendo-se. Sua expressão se contorceu em agonia, como se aguardasse um movimento brusco por parte do deus. No entanto, nada ocorrera. "Ainda assim... ele é assustadoramente imprevisível. Não sei porque, mas posso sentir!".

O deus retornara sua atenção à sua peça preferida do jogo.

— Anda logo, diz o que você quer de mim? - exigiu Rosie, ríspida. - Quem quer me atormentar?

— Ele. - disse Abamanu, em tom de ojeriza.

— Ele quem? - insistiu ela.

— Aquele que a amaldiçoou com sua imunda essência. - respondeu ele, rememorando uma figura com a qual jamais pensaria em cruzar.

— Me... amaldiçoou?! - intrigou-se Rosie, franzindo o cenho.

Hector a olhara por vários segundos, sem resistir à memória do fato de Rosie sofrer de abruptos ataques de fúria, os quais presenciara quando estiveram em plena missão e no Templo dos Red Wolfs. "Se for o que estou pensando... Não pode ser...". O suor descia pela sua testa, pingando nos fios de seus cabelos lisos e na barba.

— Exatamente, minha cara. - disse Abamanu, com um falso instinto condescendente. - Eu vi... aquele pequeno ser humano que fora trazido à vida, trazido a este mundo miserável... ser banhado pela luz da estrela que ofusca meu poder.

— Ficaria mais convencida se pudesse ser mais claro. - murmurou Rosie, mantendo o tom de voz.

Abamanu dera um suspiro pesado enquanto fechava os olhos. Sua expressão era de visível desconforto, pois detestava ter que aderir a relatos de simples compreensão, e acreditava que isto feria sua honra. "Parece que o desespero reduz a inteligência desses humanos".

— Quando você era apenas uma recém-nascida... - prosseguiu ele. - ... você foi, digamos, "abençoada" com um poder divino, uma energia bruta capaz de se adaptar ao corpo do seu guardião. Infelizmente, você é a guardiã desse imenso poder que agora corre nas ramificações sanguíneas de seu corpo.

"Então era mesmo verdade! Isto explica quase tudo!", pensou a jovem, estupefata.

— Ainda não respondeu minha pergunta: Quem, afinal de contas, quer me atormentar e porque? - sua aflição estava crescendo.

— Aquele com qual tenho travado eras de guerra. - afirmou ele, propositalmente fazendo mistério para deixa-la cada vez mais irritada. - Ele fez algo terrível a você e eu sou o responsável por liberta-la.

— Ele está falando de Yuga, Rosie. - disparou Hector, sem aviso. - O deus solar dos ciclos, como Charlie havia nos dito. Percebe agora? Tudo está se encaixando.

Abamanu aproximara-se dele denotando certa irritação. Hector tornou a fita-lo com rebeldia.

— Escute... caçador. - falou, com certo nojo. - Eu não tolero intervenientes. Comportamentos dessa natureza são repulsivos e normalmente passíveis de punição.

— Nem preciso dizer como irá fazer. - provocou Hector.

— Hum. - riu ele, com certo deboche. - Vai perceber como vou fazer... mas só depois que terminar. - ergueu uma mão, o indicador, o polegar e o do meio unidos como que para estalar os dedos.

Rosie notara rapidamente o quão ameaçador o gesto parecia ser. Empertigou-se na hora, quase que se levantando.

— Ei! - gritou, em desespero. - Disse que seu negócio é comigo! Portanto, poupe-os!

— Eu demonstrei que você era minha preferida... - disse Abamanu, tornando a voltar se aproximar de Rosie. - ... mas não mencionei que deveria me dar ordens. - apontou para o resto do grupo que se mantinha ajoelhado e refém. - Se eles cooperam, obviamente saem vivos. E terminaremos isso mais rápido do que o esperado.

— Ótimo. - respondeu Rosie, relanceando os outros por cima do ombro. Percebera Alexia tremendo lá atrás. - Qual é a desse Yuga?

— Ele quer manipula-la. - disse ele, direto.

— Para qual propósito? - perguntou Rosie, ansiosa.

— Você não passa de um prêmio para ele, um artifício para que ele saia vitorioso. Confesso não saber quais são seus objetivos e planos para você... mas saiba que são todos tão malévolos quanto vocês acham que os meus são.

— Mas porque eu?

— Por que ele observou todo o desenrolar de meu sagaz plano. - disse ele, inclinando-se para ela. - E viu o seu potencial. Agora estou aqui para salva-la.

A frase fizera Rosie sentir um nó na garganta seguido de embrulho na boca do estômago.

— Espera aí... Deixa eu ver se entendi direito: Então quer dizer que estou sendo disputada por dois deuses furiosos que mantêm um rixa de séculos e séculos e um deles quer me usar como troféu?! - seu semblante alterara-se para raiva pura. - Eu sou apenas um troféu nessa merda!? - vociferou ela.

— Sim... sempre foi! - disse uma voz grave que ecoara pelo espaço.

Todos viraram seus rostos para enxergar a figura que ali chegara, inclusive Abamanu. O homem caminhava trôpego e lentamente por um monte de escombros, sem se apoiar em nada. O reluzir de um cano de revólver fez o grupo de heróis prender a respiração. O indivíduo usava uma túnica de um vermelho pouco distinguível devido às nuvens deixarem o local mais sombrio. Estava em um ponto opaco e se aproximava com dificuldade. Não tardou para seus olhos ferventes em ódio tornarem-se visíveis, enquanto o mesmo engatilhava a arma e a apontara para alguém em específico... Hector.

O caçador logo reconhecera, ficando embasbacado com o estado deplorável do homem.

Sussurrou um nome.

— Michael!?

CONTINUA... 


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