Capuz Vermelho - 2ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 23
Cerimônia do despertar (Parte 1.2)


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— Então você já sabia!? - indagara Adam para Charlie, batendo as duas mãos na mesa fortemente, a expressão denotando uma séria exigência por explicações.

O mago do tempo, por sua vez, não se abalara com a reação do caçador, mantendo-se meio cabisbaixo, os cotovelos apoiados na mesa e as mãos cruzadas.

Segundos de silêncio tornaram-se sufocantes.

— Vamos, Charlie, diga! Por que não nos disse desde que nós entramos? - insistiu Adam, inconformado.

O jovem físico erguera a cabeça, fitando-o com um olhar triste. O azul de suas íris não parecia tão claro como se costumava ver. Os cabelos estavam meio despenteados, cobrindo quase toda a sua testa e a barba estava com seu crescimento evidente. "Senhor Rufus...Jamais terei a chance de conhece-lo. Mas isso não chega perto do real motivo da minha tristeza.", pensou ele, desnorteado.

Fechara os olhos por uns instantes e se explicou.

— Bem... Em primeiro lugar: Eu sinto muito por não ter contado a vocês logo quando chegaram. - fez uma pausa, respirando fundo e abrindo os olhos. - E em segundo lugar: Eu... não fazia a menor ideia de como falar sobre isso sem sentir um aperto no coração.

— Todos nós estamos de corações despedaçados. - disse Êmina, sentada em uma cadeira, passando seus dedos em seu giz de cera, entendiada.

Adam se recompôs.

— Ah... - suspirou pesarosamente. - Me desculpe, Charlie... eu ter agido dessa forma com você. Entendo que foi difícil pra você.... tanto ter recebido aquela última ligação de Rufus quanto ouvir sobre a morte dele.

— Não, está tudo bem. - respondeu Charlie. - Esperava que fosse reagir assim. Embora eu não conhecesse, sinto como se um membro de minha família tivesse sido tirado de mim. - voltou-se para Alexia. - Alexia... Escute bem o que vou dizer... mas, por favor, não interprete mal.

A vidente permanecia sentada em um banco de madeira, desamparada, mas séria. Quando Charlie chamou sua atenção, seus olhos passaram a brilhar. Era como se o mago do tempo possuísse uma fonte de reconforto natural com um efeito gerado através de uma única vista no seu rosto.

Ela assentiu, permitindo que ele falasse.

— Muito bem... - ele se acomodou na cadeira. - Rendição, à esta altura, não significa nos curvarmos pelo que a morte de Rufus nos causou. Rendição seria se cruzássemos os braços, esperando as coisas ruins acontecerem e deixarem que acontecessem como se fôssemos espectadores que assistem a uma peça de teatro horrenda. Nós não somos meros espectadores. Somos parte desta peça. - fez uma pausa, baixando os olhos para o chão, pensativo. - Nesta peça não há atores... mas sim pessoas reais que lutam para garantir que o bem prevaleça sobre o mal. Se há um escritor ou um diretor... eu não sei, isto desencadeia uma série de discussões sobre criação do universo e tudo mais. As cortinas desta peça se abriram quando Yuga e Abamanu se enfrentaram numa batalha titânica aqui na Terra há mais de 500 mil anos.

O mago do tempo fizera uma pausa novamente, levantando-se da cadeira e, agora, olhando para os quatro presentes na sala, cujas atenções estavam voltadas somente para ele.

— Não houve um roteiro a seguir. Não houve falas ou ações ensaiadas à exaustão, embora houve atos planejados... muito bem planejados. Mas como em toda peça... há um final feliz e um trágico.

Os olhares da Legião passaram de focados a apreensivos. Todos estavam paralisados ouvindo aquelas palavras.

Charlie continuara:

— Se quisermos evitar um final trágico, não será com a ilusão de que o luto fortalece nossas vontades. Não usaremos a morte de Rufus como desculpa para seguirmos em frente com todas as nossas armas. - respirara fundo novamente, o peito inflando, não de orgulho pelas próprias palavras, mas por se sentir encorajado por elas. - Então, meus amigos, eu digo que nós vamos reescrever o final que eles acham que possuem o controle. A cortinas vão se fechar... mas vai ser com a nossa vitória. - levemente, socou a palma de sua mão, assentindo para os quatro.

Êmina e Lester levantaram-se quase que ao mesmo tempo, exalando uma empolgação contagiante.

— Isso foi... - a caçadora deu um sorriso e uma risada rápida. - ... maravilhoso.

— Eu ia dizer que você tirou as palavras da minha boca... - disse Lester, chegando perto do mago do tempo, sorrindo. - Mas aí eu estaria mentindo. Então... só posso dizer que eu tô com você. - estendeu a mão para Charlie. - Se não for pra lamentar a morte do Rufus, que pelo menos seja pra vinga-lo.

Retribuindo o gesto amistoso do caçador estrategista, Charlie sorrira timidamente apertando sua mão.

— É isso aí. - disse Êmina, aproximando-se dos dois. - Vamos trucidar aqueles palermas dos Red Wolfs e impedirmos o tal Mollock. - afirmou, com alta confiança, pondo sua mão no ombro de Lester.

Alexia levantara-se, emocionada com as palavras reerguedoras de Charlie, abrindo a boca para dizer algo importante. "Eles precisam saber! Chega de esconder o que só eu vejo", pensou, preparada, mais do que nunca, para revelar a verdade sobre as sombrias visões que andara tendo recentemente.

Contudo, no mesmo instante em que a vidente se aproximava da mesa para falar com o amigo, três batidas na porta da sala foram ouvidas.

— Serão eles? - perguntou-se Adam, nervoso ao fitar a porta.

— Não recebo visitas de ninguém do bairro... - disse Charlie. - ... e todos que passam pela rua pensam que esta sala não é utilizada. É óbvio que são eles. - sorrira, mantendo-se de pé.

Lester se prestou a abrir a porta direcionando-se à ela a passos largos.

Girou a maçaneta a abriu cautelosamente. Duas figuras extremamente conhecidas se apresentaram.

— Não posso acreditar... - disse Lester, em tom baixo, relanceando os olhos para Hector. - Cara, e eu achando que você tinha partido dessa pra melhor. - abriu um largo sorriso.

Hector retribuíra, sorrindo timidamente. Rosie não conseguia, nem por um segundo, esconder sua emoção. Sentia que uma família estava prestes a se reunir como se tivessem passado vários anos sem que pudessem se ver novamente.

Os dois entraram rapidamente. Charlie fixou seus olhos em ambos.

Adam e Hector trocaram olhares confiantes, assentindo discretamente um para o outro.

— Rosie e Hector. - disse Charlie, logo em seguida olhando de relance para o relógio de cuco e depois voltando-se para os dois. - Devo dizer que vieram em boa hora. - sorriu levemente.

Alexia estava paralisada, emocionada ao ver os dois novamente juntos. Pôs a mão em seu coração completamente descompassado. "Preciso de um único instante... Rosie é a única pessoa com a qual eu posso confidenciar estas visões, ao menos uma parte delas. Ela vai entender, sei que vai.", pensou a jovem vidente, ansiosa.

Rosie se aproximou um pouco mais, olhando para Charlie gentilmente.

— E você deve ser o Charlie, certo?

— Exato. - disse ele, assentindo. - Digamos que eu seja o idealizador da "Missão Rosie". - disse ele, em tom brincalhão, dando uma risadinha.

— Pois é, Hector me contou tudo no caminho. É uma honra conhece-lo. - estendera a mão à ele.

— De acordo com o que seus amigos me disseram... digo que a honra é toda minha. - devolveu o gesto em um amigável aperto de mão.

Enquanto uma nova amizade estava em sua mais singela formação, uma estava se reerguendo após dias estando aparentemente perdida. Êmina dera um abraço caloroso em Hector, sussurrando em seu ouvido o quanto sentiu saudades do caçador. Lester apertara sua mão que culminou em um novo longo abraço com batidinhas nas costas.

Alexia observou o reencontro, sorrindo e chorando emotivamente. Hector logo a notara e sorriu.

— Alexia. - disse ele, aproximando-se dela calmamente.

— Hector. - disse ela, abraçando-o de imediato.

Adam se interpôs ao lado dos dois, pondo uma mão no ombro de Hector.

— Achei que a espera por vocês dois seria uma eternidade. - disse o caçador de braços fortes, fausto com a reaproximação. - Mas e aí... O caçador que estava com você conseguiu rever a família?

A pergunta pegara Hector de surpresa, fazendo-o prender a respiração enquanto olhava desconcertado para o companheiro de caçada. "Que ledo engano meu. Achando que perguntaria algo primeiro...".

— Ahn... - cofiou seu queixo barbudo. - Bem, sim, ele voltou para a casa. - subitamente lembrou do ataque sofrido na casa de Rosie, ajeitando a gola do sobretudo tentando ocultar a mordida. Tornou a fitar Adam com seriedade. - Adam... sua voz no telefone não parecia como se costumava ouvir. Conheço aquele tom. Alguma coisa terrível aconteceu... e eu quero saber o que é. - pediu ele.

O braço forte da Legião fechara os olhos, cansado demais para ter que discorrer sobre a descoberta abaladora daquela noite. Suspirou com pesar. Não demorou para que Hector compreendesse a mensagem através daquele mórbido contato visual. Alexia afastou-se com alguns passos, tornando a, novamente, ficar cabisbaixa. O caçador olhou para ambos em rápidos movimentos de suas pupilas, entendendo perfeitamente o que aquilo significava.

— Não me diga que... - disse ele, com medo de completar a frase.

Adam assentiu, a expressão de seu robusto rosto denotando um luto profundo.

— Sim, Hector. Rufus se foi. - afirmou ele, quase sussurrando na intenção de que não fizesse Rosie ouvir a triste notícia.

Hector foi acometido pela mesma sensação extasiante que outrora tivera no museu. Fitou o nada por alguns instantes de modo inexpressivo, respirando mais pesadamente. Relanceou Rosie conversando com Charlie, Êmina e Lester no outro lado da sala. A ausência de morbidez em seu semblante significava uma medida cautelosa. Rosie parecia mais determinada do que jamais estivera antes e fazê-la escutar aquele fato terrível a faria abandonar a compostura brava. Não que fosse tão intimamente apegada à Rufus como Alexia, mas o resultado seria desastroso se caso a intenção fosse abalar suas esperanças. Não houve mais lágrimas. Apenas lembrou de Josh... seu corpo jazido no chão e imerso em uma poça de sangue grosso. O caçador, sem dizer nada, andou para um lado, se afastando de Adam.

— Que estranho... - sussurrou Alexia para Adam enquanto observava Hector andar na direção onde estavam os outros. - Até parece que não sentiu nada quando você...

— Err,,. Alexia. - interrompeu ele, chegando mais perto. - Hector raramente expressa suas emoções. Mas não significa que ele seja naturalmente frio... Ele só não consegue partilhar do luto como todo mundo faz. E você ouviu o que Charlie disse: A morte de Rufus não é uma desculpa para nos motivarmos. Nós não precisamos que uma tragédia impulsione nossas vontades. Vamos lutar em memória de Rufus e vingar sua morte, mas com a mesma força de vontade que preservamos desde o início. - afirmou o caçador, veementemente.

Alexia aquiesceu sem titubear.

— É... - enxugara uma lágrima parada no rosto. - Você está certo. Mas saiba que eu também irei.

— Tem certeza? - indagou ele, olhando-a hesitante e preocupado.

— Olha... Só para constar, eu, no dia em que as quimeras invadiram Londres, consegui matar uma delas com uma espada. - disse ela com firmeza na voz e seriedade no olhar.

Adam arqueou as sobrancelhas, espantado.

— Você matou uma quimera licantrópica? E de nível 3?

— Não sei porque está surpreso. - ela sorrira, acanhada. - Eu só... agi por instinto.

— Instinto é? - perguntou ele com um sorriso de canto de boca. - Sei...

— Tá, está bem... - disse ela, rindo e se rendendo. - Fiz aquilo somente para ver se eu conseguia... me libertar. Foi a única forma, a única oportunidade que encontrei para me livrar dessa casca de "menina indefesa" que muitos sempre apontavam como uma fraqueza ou um obstáculo para que eu não conseguisse mostrar meu valor.

Adam chegara mais perto e, condescendentemente, pôs uma mão em seu ombro.

— Alexia... - sorriu levemente. - Todos nós aqui provamos nossos valores, e não pense que com você foi diferente. Você ter feito isso pode não parecer muito, mas já é um largo passo. O fato de você ser uma de nós nos prova que não devemos abrir mão da sua importância.

— Eu? Importante? - indagou Alexia, nervosa e um tanto cética diante daquela afirmação. - Só você mesmo...

— Ah, pare com isso, você tem algo especial que...

— Especial de forma que maltrata minha mente o tempo todo. - o tom calmo de Alexia desparecera e sua expressão tornara-se dura. - Adam, você conseguiria conviver com uma pessoa que guarda segredos o tempo todo?

— Eu não. - disse uma voz que se avizinhava.

Rosie se pôs no meio da conversa, enquanto Hector colocava o papo em dia com Êmina e Lester. O assunto? Certamente suas aventuras e desventuras no Museu de História de Londres.

— Rosie... - disse Adam, feliz por vê-la se juntando à eles. - Ahn... Onde está Charlie?

— Bom, ele foi até o armário pegar algumas coisas. Parece que já tem um plano em mente.

— Que tipo de plano? Ele lhe disse? - perguntou Adam, curioso.

— Não, mas que vai garantir nossa vitória de modo que todos nós possamos sair sem feridas graves. - afirmou ela, repassando o que o mago do tempo havia lhe dito minutos atrás. - Estavam falando sobre segredos? Pior do que guarda-los é conviver com alguém que os guarda. - disse ela, voltando-se à Alexia.

A vidente enrubescera de repente, encolhendo os ombros. A insegurança tomara conta de sua posição logo naquele momento em que a exigência principal era determinação.

— Ahn, eu vou deixar vocês duas se falando...- disse Adam, afastando-se delas. - Mas respondendo sua pergunta, Alexia... - estacou, olhando por cima do ombro. - ... dependendo do segredo, eu não sei como passaria a olhar para a pessoa. Acho que não seria mais a mesma coisa.

"E com certeza nada fica como antes.", pensou Rosie.

— E então, Alexia? - disse a jovem, virando-se para a vidente rapidamente, olhando com nervosismo. - Pelo visto você não sabe disfarçar quando está insegura.

— Ai, Rosie... - suspirou Alexia, afastando os cabelos ruivos para trás das orelhas. - Venho me sentindo assim quase o tempo todo. Até já sei o que iria me perguntar. - a olhou com relutância.

— Foi uma das suas previsões? - indagou Rosie, com ar irônico. - De que eu perguntaria se teve alguma visão relacionada com meu futuro?

— Êmina disse à você, não foi? - perguntou Alexia, esfregando levemente as suadas mãos.

— Sim. Ela me contou que você havia tido uma visão sobre mim... onde eu estava em um local sombrio, meio opaco e que... - fez uma pausa, mordendo os lábios. - Por mais absurdo que pareça, que eu estava com os olhos brilhando uma luz vermelha.

— Exatamente. - confirmou ela, assentindo. - Não sentiu isso quando esteve lá?

— Sendo franca, não. Só uma raiva... um desejo de fúria que me pareceu relativamente familiar. - disse Rosie, pondo uma mão no queixo, relembrando a primeira discussão que tivera com Hector. - E que acabo de me lembrar onde começou. Foi antes de eu e Hector conhecermos você. Não senti que era eu, como se não possuísse nenhum controle sobre...

— É, isso aí mesmo! - interrompeu Alexia, com alarde. -  A última visão que tive... - pausou, passando a relancear Êmina no outro lado e inclinando-se para Rosie para sussurrar. - ... foi a manifestação completa desse fenômeno.

— Fenômeno? - indagou Rosie, confusa. - Então você sabe o que há dentro de mim que causou aquela reação?

— Rosie, eu vou ser honesta com você. - a vidente olhara novamente para os três que conversavam na extremidade oposta do recinto. - Eu tenho escondido minhas visões, tenho medo de revela-las e saber como vão reagir. Se eu resolvesse abrir o jogo, haveria a possibilidade de eu me tornar um estorvo... pra todos vocês. - entristecera o olhar. - Apenas não escondo o fato de que há algo muito extraordinário dentro de você.

— Extraordinário em que sentido? - o tom de Rosie começara a tornar-se sério.

— No sentido que você achar mais apropriado.

— Então diga-me. - pediu Rosie, pegando nas mãos de Alexia com delicadeza. - O que você viu? Só assim eu vou poder dizer o quão extraordinário isso é.

Alexia, engolindo a saliva, mal conseguia respirar no mesmo ritmo tamanho era seu desespero. "Ela tem o direito de saber, claro. Mas não de tudo", pensou ela, se metendo em uma encruzilhada que sua mente tortuosa colocara.

— O tempo está no seu fim. - disse ela, prolongando. - Não é só em relação à você, Rosie...

— Não diga o que viu sobre o que vai acontecer nas Ruínas Cinzas. - disse Rosie, sendo contagiada pela apreensão da amiga. - Apenas sobre mim. Por favor, me fale.

— Posso resumir em uma única palavra, é o máximo que eu posso dizer.

— Tudo bem, não me importo. - concordou ela, balançando levemente a cabeça. - Entendo sua hesitação, sei que teme as consequências... Mas diga o que acha que deve.

Respirando fundo, Alexia se sentiu decidida. Soltando o ar dos pulmões, pondo seus olhos azuis fixos nos de Rosie, ela se preparou.

— Fogo. - disse ela, direta. - Muito fogo. Por toda parte.

Uma torrente de curiosidade arrematou o coração palpitante de Rosie em frações de segundos. Como uma represa prestes a romper, a mente da jovem tornou-se um turbilhão de especulações que se amontoavam até se sobrecarregarem. Eram infinitas suposições. "Fogo?", se perguntou ela. "O que isso tem a ver comigo, afinal?".

                                                                                     ***

No relógio de parede com cuco os lentos ponteiros marcavam pontualmente 22:00.

Sobre a mesa haviam dois papéis amarelados com larguras estreitas e símbolos - dois em cada um -, de mesmo caráter do que fora usufruído para adentrar em outro universo a fim de resgatar Rosie. Charlie observava com uma calma inigualável aquele grupo fortemente preparado para iniciar a ofensiva contra as forças de Mollock.

Haviam caixas de madeira espalhadas pelo chão. Nelas continham armas do mais alto poder de destruição: metralhadoras, pistolas de variados milímetros, revólveres comuns, e até mesmo uma bazuca de uso exclusivamente militar encontrada em uma caixa maior. Àquela altura, claro, já estavam vazias. Adam vestira uma camisa branca com mangas, pois declarava que o colete dificultaria a mobilidade que a situação exigiria. Como o colete à prova de balas ainda não saíra da fase de testes, aquele item tão necessário deveria ser esquecido... por enquanto. O braço forte da Legião tinha envolto em seu corpo fileiras de munições para as duas metralhadoras que carregava, prendidas nas laterais das pernas, além de dois revólveres de reserva para no caso de um confronto de menor intensidade. Lester segurava um fuzil AK-47 juntamente à munições localizadas em seu cinto na frente, também com direito à granadas na parte de trás. Êmina insistira, minutos atrás, para carregar a bazuca em suas costas, sendo repreendida por Adam devido à diferença de pesos. Ela acabara vencendo a discussão e convencido o amigo de sua capacidade. A alquimista utilizava uma alça envolta entre o busto e a cintura para carregar a pesada arma, suportando as condições graças a sua musculatura bem delineada. A única coisa que a desanimava era que sua bem feita trança seria "esmagada" pelo metal da bazuca, podendo ser desfeita a qualquer momento e dando brecha para que a jovem, finalmente, mostre seus longos cabelos pretos e soltos.

Alexia se encontrava parada ao lado de Rosie e Hector, procurando respirar o mais tranquilamente possível. Pouco antes da preparação, Charlie relutava que ela fosse exposta no campo de batalha, mas não deu outra: Ela conseguira convence-lo, em uma similar situação entre Adam e Êmina. Rosie apenas portava suas adagas e estacas de prata presas em seus cintos, e a capa vermelha ajudaria a oculta-las favorecendo um preferencial ataque-surpresa. "Até que este capuz não me é tão ruim. Dá a exata impressão que eu quero que eles vejam: A de uma garota desarmada e incapacitada de lutar.". Hector ajeitava seu sobretudo de couro marrom, cujos bolsos internos abrigavam pistolas e revólveres de diversos tipos, todos carregados com balas de prata. Havia instruído seus companheiros a como mata-las efetivamente: "Uma única bala na cabeça é o suficiente. O cérebro é o ponto fraco delas, pois como são cognitivamente racionais elas se tornam vulneráveis quando o mecanismo que as tornam únicas é danificado.", pensou ele, satisfeito por, finalmente, estar presenciando aquela reunião. Um célebre momento que há muito aguardava. "Por Josh... Por Rufus... Pelo mundo!".

Charlie voltou seus claros olhos para os dois papéis.

— O que espera que simples pedaços de papel façam para liquidar Mollock? - perguntou Hector denotando incredulidade.

O mago do tempo achara graça da pergunta. Sorriu, compreendendo o ceticismo do caçador.

— O poder de um pedaço de papel ajudou a salvar Rosie, então não duvide do potencial destes. - respondera Charlie, relanceando os olhos para a jovem de capuz. - E sobre eles... sou o único e o primeiro de minha geração a realizar esta façanha.

Adam interveio, curioso.

— Pode ser mais específico?

— Claro. - disse ele, assentindo e fitando novamente os papeis. - Na época em que meu pai ainda executava suas funções como mago do tempo, ele não esclarecia praticamente nada relacionado ao poder que estes selos possuem. A única coisa que ele havia deixado como explicação foi um manuscrito... supostamente feito somente para mim. Se não fosse o caso, não o encontraria no seu baú trancado a sete chaves no porão.

Alexia irrompeu por entre Rosie e Hector a fim de sanar sua dúvida, pedindo licença em baixo tom aos dois.

— Charlie, você tem certeza de que consegue manobrar esta técnica? - seu semblante parecia preocupado.

— No manuscrito meu pai afirmou, detalhadamente, o processo. Requer a fala de um rito para que o efeito seja conjurado. - disse Charlie, firme.

— Então pode deixar comigo. - disse Êmina, candidatando-se para dizer as palavras que darão o possível fim à Mollock. - Você me escolheu, lembra? - perguntou ela, sorrindo levemente.

Contudo, o mago do tempo não reagira com o mesmo entusiasmo, fitando-a seriamente.

— Ahn... Êmina, lamento, mas vou deixar que sua função na missão seja apenas a de gerar alquimia. - disse ele, em tom seco. - Na verdade, os selos só podem ser conjurados por um mago do tempo. O que significa que...

— Não! - exclamou Alexia abruptamente. De imediato, todos se voltaram à ela, atônitos.

Adam entendera o que aquilo significava.

— Charlie, acredito que Alexia está com receio por você ter que ir conosco para as Ruínas Cinzas...

— Exatamente. - confirmou ela, interrompendo o caçador. - Você fingiu não ligar para o fato de eu querer ir também, agora digo que eu me preocupo e que é perigoso demais você se meter no meio.

— Mas Alexia, eu sou o único capaz de proceder com esse plano. - afirmou Charlie, categórico. - Além disso, é nosso único meio de conseguirmos neutralizar Mollock.

— E o que eles fazem, afinal? - indagou Hector, impaciente.

— À minha direita... - disse Charlie, indicando com o dedo o papel estreito. - ... está o selo de separação. - apontou para o do outro lado. - À minha esquerda está o selo de barreira. No caso do primeiro falhar, teremos somente a barreira à nossa disposição... a fim de que impeça que Abamanu possua o corpo de Mollock por inteiro.

— É bom que a primeira tentativa funcione. - disse Adam, perseverante. - Acredito que as coisas se facilitem caso consigamos desfazer a fusão.

Rosie deu alguns passos à frente, meio aflita.

— Por que teme que o primeiro selo possa falhar? - seus claros olhos azuis foram de encontro aos de mesma cor de Charlie.

— Mollock não só adquire conhecimento para usa-lo como arma. - disse Charlie. - Então devemos estar preparados para qualquer tipo de ameaça que provenha do interior de Mollock.

— Por que os símbolos? O que significam? - perguntara Hector, intrigado, sem tirar os olhos dos selos.

Charlie já os havia encontrado daquele mesmo jeito há cerca de 14 anos, pouco depois da morte de seu pai: O amarelado, a textura meio áspera, os símbolos desenhados com tinta preta permanente. Nas páginas do compilado de instruções escritas por Gusttaff Brienord constavam as utilidades pelas quais os selos de neutralização deveriam ser usados. Brienord só conseguira apenas dois, pouco tempo antes do massacre perpetrado pelos Coletores. Embora não houvesse um momento oportuno onde manipularia-os, ele conseguira transcorrer tudo o que sabia a respeito da natureza e poder daquele artifício. As 10 páginas escritas como um pequenos manual de instruções tiveram de ser ocultadas imediata e obrigatoriamente sob a ordem de Chronos para que se pudesse evitar um vazamento de informações através de uma suposta espionagem dos inimigos. Criados unicamente com o propósito de se armar uma ofensiva contra os Coletores, os 8 selos foram diversas vezes usados pelas gerações que sucederam-se após a primeira, sendo a segunda a pioneira nesta técnica para que uma frente defensiva fosse colocada para evitar um novo massacre. No entanto, os Coletores driblavam as ações dos selos "mágicos". Os únicos restantes foram os de separação e barreira. Caídos no esquecimento, não foram usados na geração a que Charlie pertencera. Talvez por alguns se darem conta de que poderiam ser inúteis. Foi então que, como medida alternativa, Chronos concebeu aos magos do tempo o direito de portarem armas - as lanças - com as quais se defendessem e atacassem no esperado novo massacre. Novamente, não havia dado certo. Os Coletores fundiam seus corpos e tornavam-se uma só entidade, unificando vários poderes criando uma só fonte.

Charlie lera minuciosamente cada trecho, cada parágrafo das instruções dadas por seu pai até que finalmente conseguisse assimilar toda a compreensão acerca do poder magnífico. Se ainda pudesse voltar ao templo onde se realizavam as reuniões, o jovem agradeceria com muito orgulho o conhecimento fornecido benevolentemente pelo deus do tempo. "Mas não posso mais voltar àquele lugar. Não com aquelas aberrações à espreita o tempo todo.". O tempo de usa-los convenientemente por fim havia chegado. "Veio numa boa hora.".

— São parte do procedimento. - respondeu Charlie. - No entanto, minhas explicações sobre eles podem sugar boa parte do nosso tempo. Só digo que podem sim ser eficazes, se eu estiver a uma distância consideravelmente favorável para que eu possa lançar um deles contra Mollock. Vai valer a tentativa.

— Isso aliado à uma boa distração. - disse Lester, idealizando.

— Mas Mollock vai estar totalmente concentrado na sua "Caça ao Tesouro Maluca". - disse Êmina, contrariando a ideia de Lester. - Então não há necessidade alguma de avançarmos para o ponto onde ele vai estar.

Charlie acrescentara um detalhe relevante.

— A cripta de Abamanu está localizada em algum ponto no centro das Ruínas Cinzas. - afirmou ele, pensativo por uns segundos. - Talvez a abertura não esteja visível a olho nu, mas considerando a posição de Mollock e sua suposta natureza...

— Ele achará a cripta, isto já é certo. - disse Rosie, interveniente.

— Rosie tem razão. - aquiesceu Hector. - Pelo que testemunhei no museu, Mollock está adquirindo alguns atributos bem convenientes para sua busca. - disse o caçador, a fatídica imagem do corpo de Josh invadir sua mente de modo súbito, fazendo-o expressar um semblante de incerteza.

— Ele não tem visão de raio-X né? - indagara Lester, franzindo o cenho, cético.

— Claro que não. - respondeu Hector, virando-se para ele. - Mas deve possuir algum tipo de visão de longo alcance, o que obviamente vai acelerar sua conquista, e é neste momento que deveremos ser mais rápidos.

Rosie voltara para Charlie novamente, sua ansiedade praticamente contagiante.

— Onde exatamente fica a cripta?

— Há uma abertura, similar a um bueiro... - respondia o mago do tempo, mantendo a calma. - ... cuja tampa pode ser encontrada em frente ao templo de Mitra, o deus que a civilização que antes vivia ali louvava. É no subterrâneo que está a cripta com o tesouro roubado.

— Espera aí, roubado? - indagou Rosie, fazendo cara de confusa. - O tesouro não pertence à Abamanu?

— Não. - disse Charlie, secamente. - Mas isto é mais outra explicação que nos roubaria tempo. - voltou-se à Hector, os olhos alardeando uma urgência verdadeiramente preocupante. - Hector, você tinha dito à Adam que Mollock já se encontra nas Ruínas Cinzas. Por mais distante que seja o caminho que ele está percorrendo, ainda há uma outra preocupação.

— Os Red Wolfs. - disse Adam, sem esconder a raiva no tom.

— Sim. Devem ter chegado há alguns dias... - disse Charlie, dando uma discreta piscadela à Hector, escondendo a verdade de Rosie sobre o fato de Rufus ter descoberto que os Red Wolfs obtinham porte do Goétia e que através dele conseguiram chegar as Ruínas Cinzas sem esforço físico. As perguntas que se sucederiam se caso o jovem físico falasse a verdade resultaria em algo desastroso e um perda de tempo frustrante. Rosie ficaria aturdida com a revelação da aliança de Rufus com a irmandade e posteriormente sua arriscada traição à mesma ... o que, inevitavelmente, desembocaria na revelação de sua brutal e inaceitável morte.

— Podem já estar aliados com Mollock. - teorizou Adam, afligindo-se, pondo a mão no queixo.

— É uma possibilidade. - afirmou Charlie, com firmeza na voz. - Sendo Mollock já conhecedor da fraternidade, é esperado que ele vá se aliar à eles em um possível acordo de proteção. - deduziu ele, baixando os olhos para o chão, reflexivo.

— Acordo de proteção? - perguntou Rosie. - Os Red Wolfs protegendo a conquista de Mollock?

— Exato. - respondeu Hector antes que Charlie falasse. - Tendo em vista o fato da sociedade ter se tornado uma facção criminosa, é seguro dizer que eles farão de tudo, darão seu sangue e corpo, para nos atrasar e poder, no final, assistir a vinda de Abamanu.

— Acho que se sairá bem tentando impedi-los, já que sabe tanto sobre eles. - disse Rosie, o olhando incisivamente.

— Eu não saberia se não tivesse os investigado enquanto você estava... fora de cena. - redarguiu ele, com ar de ironia transbordando em sua expressão.

Rosie o encarou desconfiada por alguns segundos. Um rápida troca de olhares nada apropriada para duas pessoas que deveriam agir como parceiros de batalha amigáveis. A tensão faiscava como um pavio de uma bomba entre os dois. Adam e Êmina notaram, intrigados, um clima relativamente estranho ao ver os dois dirigindo-se um ao outro daquela forma.

Charlie quebrara o silêncio no momento certo.

— Eu pensei bem em relação a impedirmos Mollock. - disse com ar misterioso. - Nós iremos "salva-lo". - disparou, sem aviso.

Repentinamente, as atenções de todos se focaram diretamente no mago do tempo. Os olhares atônitos do grupo faziam um contato visual que suplicava por uma razão que explicasse aquilo depressa.

— Você disse "salva-lo"!? - perguntou Adam, sem entender. - O que quer dizer com isso?

— Mollock pode ser nosso alvo, mas Abamanu é a verdadeira ameaça. - disse Charlie, voltando a se acalmar após ter refletido pacientemente sobre a questão. - Eu diria que ele é uma vítima.

— O quê!? - disse Hector, ainda mais confuso, fazendo cara feia.

Alexia também manifestara sua ausência de entendimento.

— Charlie, aonde quer chegar dizendo isso? - pediu a vidente olhando fixamente para ele.

— Acalmem-se, já vou explicar. - disse ele, erguendo levemente a mão pedindo paciência. - O plano de Abamanu foi bem claro, na verdade. E bem inteligente, devo ressaltar. Rosie ter sido mandada para outro universo e ter tido sua memória apagada nada mais foi do que uma distração para fazer com que Mollock não fosse perturbado... e conseguisse obter o seu bem primordial. A maior parte dos inimigos que ele declarou como seus deveriam estar focadas em salvar Rosie enquanto Mollock ascendia ao poder cada vez mais. E assim aconteceu. Ele poupou Hector pois, naquele momento, era o único que sabia da existência de Mollock e talvez nem tenha se preocupado com a intervenção dele nos planos de seu retorno. - fez uma pausa, suspirando lentamente. - Portanto, é por essa razão que devemos visualizar Mollock como uma vítima... ele está sendo conduzido a uma armadilha... a mosca sendo atraída para a teia da aranha.

Um lampejo parecera vir em velocidade máxima tal como a queda súbita de um raio. Todos passaram a compreender a real natureza daquele engenhoso plano. Estava diante deles o tempo todo e sentiam-se transtornados por se darem conta ao que parecia ser "tarde demais". Hector observou Rosie por poucos segundos, enquanto ela tentava, pasma, digerir aquela informação. "Então foi isso. Nada mais do que uma simples distração jogada bem diante de nossos olhos. Com Rosie desaparecida, Abamanu apenas ganhou tempo para assistir o progresso de Mollock. Como fomos cegos!", pensou ele, frustrado. "Charlie torna-se uma peça preciosa para nós, não podemos perde-lo. Devemos mante-lo ileso e longe da mira dos Red Wolfs.".

— Agora tudo fica mais claro... - disse Rosie, desiludida. - Eu fui usada... para atrasa-los. - "Usada duas vezes no mesmo ano!", pensara ela, revoltada internamente.

Êmina se aproximou para ampara-la.

— Rosie, não precisa se sentir culpada, tá bem? - disse ela, afagando sua mão no ombro da jovem, a bazuca em suas costas reluzindo à luz amarela da sala. - Apesar de ser um pouco tarde para sabermos, Charlie foi o único a perceber de forma mais clara, então devemos tudo a ele. Você não acha?

Rosie ergueu a cabeça e passou a fitar Charlie com suavidade.

— Sim. - aquiesceu ela. - Obrigada por nos avisar disso, Charlie.

— Não precisa agradecer. - disse o mago do tempo, modesto. - O importante é que agora sabem que não devem deixar Mollock pisar um único pé na tampa da abertura da cripta.

Adam assentira com convicção. O tempo para conversas e explicações havia expirado por completo.

Rosie se sentira confortada e, de certa forma, mais fortalecida com Alexia ao seu lado pegando em sua mão, como se quisesse transmitir o máximo que poderia de força, fé e coragem.

— Muito bem, pessoal. - disse Charlie, dobrando os dois selos e guardando-os no bolso. - É hora de partirmos. - disse ele, por fim, preparado mais do que nunca.

                                                                                 ***

Ruínas Cinzas - 22:30. 

O dito líder da gangue - declarado comandante da ofensiva armada por Michael - encarava estupefato o que assistia ao longe com a ajuda do binóculo. "Mas que merda é essa?", se perguntou, boquiaberto. O ar parecia cada vez mais ameaçar congelar aqueles homens atravessando suas túnicas vermelhas para penetrar diretamente na pele e gerar contínuos arrepios intensos. O assassino de aluguel agora estava tremendo sua mão com a qual segurava o binóculo, querendo falar... mas as palavras travaram na garganta como se jamais fossem sair.

Um deles notou a estranha reação e chegou perto.

— É só impressão minha ou você parece que tá com medo? - perguntou ele, curioso. - Ei! Não tá me ouvindo não? Tá tremendo porque?

O homem apontara para frente, indicando algo que o deixara tremendamente desesperado.

O outro, no entanto, não compreendera.

— Ué, não tô vendo nada. - olhou para a direção mostrada baixando o capuz, mostrando sua careca repleta de cicatrizes. Insatisfeito, voltou-se para o colega irritado. - Ora, fala logo o que é, porra!

— Ali, seu imbecil! - insistira ele, bravo, ainda apontando. - Não tá vendo aquele pontinho branco brilhando não?

O assassino careca tornou a olhar novamente, semi-cerrando a visão. Sentiu seu sangue gelar em uma única fração de segundo. "Puta merda!".

Recuou vários passos até que se viu correndo, quase tropeçando nas pedras e esbarrando nas altas rochas, para subir o morro e avisar ao Grão-Mestre do que estava por vir.

O líder largara o binóculo, deixando-o cair por entre as pedras abaixo, para em seguida correr para junto dos outros a fim de alerta-los como Michael os orientara inicialmente.

O que vira o deixara estarrecido de aflição. De uma rocha distante, cerca de 40 quilômetros, emergia um facho de luz branca que ia crescendo até formar um retângulo verticalmente exposto. A luz aumentava seu brilho à medida que pessoas pareciam sair de dentro da rocha. Só o que viu antes de correr foi uma garota vestindo um capuz vermelho com uma capa de mesma cor e um homem alto, com cabelos pretos e lisos que iam até a nuca, vestindo um sobretudo de couro marrom.

Ao chegar até eles, o líder fez alarde com relação aquela vista.

— Ei, seus molengas! - exclamou ele, xingando-os para chamar-lhes a atenção. - Preparem os brinquedos! Lá vem eles!

— Os intrusos?! - perguntou um se virando abruptamente.

— Não! Uma trupe de circo! - zombou ele, a paciência esgotada. - É claro, seu monte de merda! Pega o binóculo se não acreditar em mim! - apontou para a direção de onde eles vinham. - É coisa de outro mundo!

— E pensar que aquele ritual que trouxe a gente até aqui já foi o bastante. - disse um deles, com uma voz igualmente áspera a do líder, subindo na rocha com o binóculo numa mão e a metralhadora na outra. - Meu deus... de onde será que eles vem? - perguntou a si mesmo, vendo a "porta luminosa" se fechar reduzindo a um ínfimo ponto brilhoso no pé da rocha... até finalmente sumir.

— Não sei e nem quero saber. - retrucou o líder, indo em direção ao topo do morro. - Só quero ver o que o chefe tem a dizer disso. Tomara que a grana seja o dobro das balas que vou gastar metralhando esses intrusos!

— Faço de suas palavras as minhas, amigo. - disse o outro que continuava a apertar o binóculo contra os olhos, espantado com o que via.

Observava os membros que compunham a Legião parados e aparentemente tentando se esconderem nas outras rochas. "Parece que já nos viram."

                                                                                     ***

Lester ocupava-se limpando as lentes de seu binóculo com um lenço branco. estando agachado. O pôs contra os olhos, mirando novamente no morro de onde se via um verdadeiro exército de homens vestidos de vermelho... "Caramba, estão armados até os dentes.".

— E aí, Lester? - disse Adam aproximando-se dele, agachando-se. - Contabilizou quantos deles são?

O caçador estrategista se deteve antes que pudesse falar. Se certificou por alguns segundos, direcionando a cabeça para a esquerda e direita. Suspirou pesadamente, com ar desanimado.

— Olha... acho que são mais de 30 ou 40, mais ou menos. - disse, olhando para a extensão do deserto preocupado, os curtos fios de seu cabelo preto voando ao vento frio. - Já vi que a noite vai ser longa. - entregou o binóculo para Adam.

— Nem me fale - disse o caçador robusto confirmando a si mesmo o que Lester dissera ao olhar para o morro. - Façamos uma promessa, cara: Quando tudo isso terminar nós vamos tirar umas boas e merecidas férias. Fechado? - perguntou, cerrando o punho em direção a Lester.

— Tô dentro. - disse ele, cerrando a mão, ambos chocando seus punhos de leve em um gesto de companheirismo.

Alexia, Êmina, Rosie, Hector e Charlie continuavam atrás da rocha, extremamente ansiosos.

— Aqui faz muito frio. - reclamou a vidente, se aquecendo com as mãos. - Como está se sentindo, Rosie?

A jovem apenas assentiu fracamente com um "sim". No meio do caminho, enquanto ainda estavam no segundo bonde, Hector a mostrara um desenho descritivo de Mollock que fizera antes de invadir o museu junto de Eleonor. Rosie sentia-se em transe ao lembrar-se daquela figura medonha desenhada pelo caçador. "Alto, forte, musculoso... um lobisomem gigante com toques demoníacos. Era só o que faltava para completar esse pesadelo.".

        CONTINUA... 


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