O Caçador da Tempestade escrita por Karina A de Souza


Capítulo 3
Alerta de piratas sequestradores


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas :)



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—E então?-O Doutor perguntou, ansioso. Fechei a porta da TARDIS e me apressei para sentar, largando a bolsa no chão.

—Se não tivesse pego uma carona com você, faria parte dos Show dos Atrasados.

—O que?

—Significa que não me atrasei para o ENEM por sua causa, e não virei meme. Aqui no Brasil tem o Show dos Atrasados, o pessoal fica fazendo memes de quem chega atrasado.

—Qual é a graça disso? Parece cruel se divertir com a desgraça dos outros. -Dei de ombros.

—Bem vindo ao Brasil.

—E como foi a prova?

—Eu sabia uma coisa ou outra, e chutei a maioria. Só fiz por que meus pais queriam. Nem sei o que quero fazer mesmo. Acabei de ter uma ideia. E se nós fôssemos visitar meu “eu futuro”? Assim eu...

—Não. Isso está fora de questão.

—Jura? Nem uma visita de longe? Tudo bem, você é quem manda.

—Nós podemos ir para outro lugar. Você escolhe dessa vez

—Okay. Hum... Ah, já sei!-Fiquei de pé. -Prepare-se, Doutor. Estamos indo para o passado!

***

A TARDIS estacionou num porto. Navios enormes estavam lado a lado, com homens carregando e descarregando. Uma longa passarela de madeira estava cheia de curiosos, redes e pescadores.

Do outro lado da rua, bares, peixarias, lojas de tecidos, e uma casa suspeita com garotas na porta (elas acenaram e mandaram beijos para o Doutor quando passamos, deixando-o envergonhado).

Estávamos na época dos piratas. Vários deles estavam no bar onde o Doutor e eu entramos. Alguns discutiam, outros bebiam, e um grupo fazia apostas num canto.

—Por que essa época?-O Doutor perguntou, sentando na minha frente.

—Eu achei que poderia ser interessante. O passado sempre me deixa curiosa. Menos quando estamos para ser devorados por índios canibais.

Ajeitei meu vestido emprestado do guarda roupa da TARDIS. Meu jeans e camiseta do Lacuna Coil teriam chamado muita atenção.

Alguém sentou ao meu lado. Era um homem alto, cabelos escuros até os ombros e roupas pretas. Um pirata.

—Capitão Jones.

—Como o Capitão Gancho?-Perguntei.

—Quem?

—Ninguém. Kaliane. Aquele é o Doutor.

—Um médico?

—Às vezes. -O Doutor respondeu. -Mas esse é o meu nome.

—Incomum. Mas vemos muitas coisas incomuns aqui. Hoje mesmo um homem estava caçando uma tempestade.

—Tempestade?

—É. Ele saiu interrogando todo mundo, foi estranho. Também falou em um médico. -Deu de ombros. -Não fazia sentido, todos ignoraram. -Pela cara do Doutor, eu sabia que ele não teria ignorado. Alguém aqui gostava de enigmas. -Josephine, bebidas para mim e os meus novos amigos!

—Nós somos amigos?-Perguntei.

—É claro que sim. -Colocou o braço nos meus ombros. O empurrei.

—Sem permissão, sem contato físico.

—Esse homem que disse, -O Doutor começou. -como ele era?

—Alto, magro, velho. -Jones respondeu, sem parar de olhar pra mim. -Nada muito impressionante.

—Que descrição perfeita. -Murmurei. -Não pode ser mais específico? Tipo... Como ele se vestia?

—Nada que eu já tenha visto. Roupas bem incomuns. -Uma das garçonetes deixou três canecas enormes com alguma bebida esquisita dentro. Franzi o nariz.

—O que é isso?

—Rum. -Empurrei a caneca.

—Fique com o meu.

—De onde vocês vem?-Olhei para o Doutor. Ele parecia bem distraído. A história do homem incomum tinha deixado o Senhor do Tempo intrigado.

—Longe. Bem longe.

—E vão ficar muito tempo?-Chutei o Doutor discretamente por debaixo da mesa. Ele nem pareceu ter notado. -Poderia mostrar meu navio.

—Com que intenções?

—As mais nobres possíveis, senhorita. O Lobo Mau está ancorado aqui perto.

—Lobo Mau?-O Doutor repetiu. -Por que esse nome?

—Acredito que meu pai tenha escolhido. A senhorita se interessaria?

—Eu não sei... -Respondi. -Hã... Doutor?

—Pode ir. -Respondeu. -Apenas tome cuidado. Eu devo ir depois de fazer umas coisinhas aqui.

—Que tipo de...

—Divirtam-se. -Jones levantou, estendendo a mão pra mim, e a recolheu quando ignorei. -E Kali...

—Sim?

—Cuidado. -Assenti.

O Lobo Mau era de longe o maior navio do porto. Feito de madeira bem escura, ele tinha velas pintadas com uma fera estranha, e seu nome na lateral dianteira. Uma sereia estava esculpida na frente, me fazendo lembrar da aventura anterior com o Doutor.

—Ele é lindo. -Comentei, girando no deque para ver todos os detalhes. -Quantos tripulantes você tem aqui?

—Atualmente, quarenta e três. É um navio grande, é necessário muitos homens.

—Nenhuma mulher?

—Mulheres não tem espaço na pirataria.

—É? Você pode acabar se surpreendendo. As mulheres vão conquistar seus espaços... Mesmo que seja na marra.

—Interessante. A senhorita não é comum. Tem ideias bem curiosas. -Ri.

—Você fala isso para todas?

—Não. Só pra algumas.

—Sei. -Franzi a testa. -Estamos nos movendo.

—O que? Não. Estamos ancorados.

—Estamos nos movendo! Volte já esse navio para o porto! Está me sequestrando!

—Os melhores romances começam assim.

—O que?-Corri para a borda do navio. Era uma altura e tanto. E... Bem, eu não sabia nadar. Me virei para Jones. -Exijo que me leve de volta, Capitão!

—Não seja dramática. Você vai se acostumar. Precisa ver o quanto lucramos. E se não chegar a se acostumar com a vida no mar... Bom, há uma vila para esposas de piratas. Fica na Nova Inglaterra...

—Esposas? Não acha que eu vou me casar com você, acha?

—E por que não casaria?

—Por que você está me sequestrando? Por que eu mal te conheço? Por que eu não gosto de você?

—Todo mundo gosta de mim.

—Costumo ser de contra. Agora me leve de volta ao porto ou eu...

—Você...?

De repente aquele som familiar da TARDIS soou e ela se materializou no convés. Os piratas presentes recuaram, assustados. Jones colocou a mão na bainha da espada.

O Doutor saiu e parecia bem irritado.

—Eu não gosto que sequestrem meus companheiros. -Avisou.

—Como você fez isso?-Jones perguntou. -Isso é bruxaria...

—Você tem medo de bruxas?

—Claro que não. Já namorei com uma. -Olhou pra mim. -Mas estou pronto para ser só seu.

—Primeiro o português, agora o pirata... Kaliane Silva, você é uma sereia.

—Português? Eu tenho um rival?

—Não vou casar com você!-Avisei. Do nada fomos lançados ao chão, sem entender o que tinha acontecido.

—Fomos atingidos. Homens, em formação!

—É um ataque?

—Não há o que temer, senhorita, eu irei...

—Ah, cala a boca. -O Doutor me ajudou a ficar de pé e correu até a borda do navio, o segui. -Que foi? Acha que batemos em algo?

—Não. Acho que algo bateu em nós.

—Um tubarão? Uma baleia?

—Eles não nadam nessas águas. -Jones contou. -Não poderiam...

—Tem algo na água. -O Doutor interrompeu. -Alguma coisa nos rondando. -Apontou a chave de fenda sônica.

—Preparem o arpão!

—Vocês nem sabem o que é!

—É meu navio, eu dou as ordens.

—Não enquanto eu estiver aqui. Não é uma forma de vida terrestre.

—Ele é perigoso?-Perguntei.

—Não sei. Eu nem sei o que é. Se pudéssemos vê-lo... Esperem um momento. -Correu para dentro da TARDIS. Jones apareceu ao meu lado, o arpão em mãos.

—O que acha que está fazendo?

—Vou matar a fera marinha. -Respondeu.

—Não, você não vai. -Segurei o braço dele. -Deixe o Doutor lidar com isso, ele sabe o que fazer.

—Eu lido com esse tipo de fera o tempo todo! Estou no mar desde os dez anos!

—Jogue esse arpão, e eu te jogo junto.

—Não recebo ordens de mulheres.

—Dessa aqui você vai receber. Me desafie, e eu vou te transformar em comida de fera marinha. -Suspirou.

—Que seja.

Um som baixo e estranho saiu da TARDIS. Na água, a criatura se agitou. Olhando com atenção, parecia um golfinho, mas bem maior. O Doutor saiu da nave, encarando o céu.

—A qualquer momento... -Avisou. -Lá estão eles!

Umas vinte criaturas saíram de trás das nuvens, como se nadassem no mar. Da água, o golfinho-alien perdido saltou e seguiu os outros, rodopiando e soltando aquele barulho estranho, então sumiu com os outros.

—Eu só precisava chamar o bando. -O Doutor disse. -Ele não conseguia, da água.

—De onde eles vem?

—Do espaço. Migram de planeta em planeta, procurando um bom habitat. Um deles se perdeu e ficou no mar.

—Que bom que o encontramos. Ele podia ter acabado morto. -Encarei Jones, cruzando os braços.

—Você disse que aquelas coisas vieram de onde?-Perguntou, incrédulo.

—De fora da Terra. -O Doutor respondeu.

—Isso não é possível!

—Pareceu bem possível pra mim. -Avisei. -Doutor, podemos ir agora, antes que eu acabe noiva à força?-Assentiu.

—Espera, espera. Você vai embora? Simplesmente... Se vai?

—Claro que sim. Eu tenho uma casa, uma família... Não posso ficar e ser esposa de um pirata não faz parte dos meus planos.

—Mas...

—Você vai encontrar alguém, Jones. Mas só se respeitar e ouvir as mulheres. E pare de sequestrar suas supostas pretendentes.

—Tudo bem. Algum dia... Há alguma chance de nos vermos de novo?

—Nunca se sabe.

—Então terei esperança. -Pegou minha mão, beijando-a. O Doutor segurou o riso e entrou na TARDIS. -Adeus, senhorita.

—Adeus, Capitão.

Entrei na nave, fechando a porta e me apoiando nela. O Doutor olhou pra mim, um sorriso engraçado no rosto. 

—O que?-Perguntei.

—Você quase se casou hoje.

—Não tem graça. Ele me sequestrou.

—As coisas eram assim. Não que eu concorde.

—Então pare de rir.

—Eu não estou rindo. Pronta para voltar para casa?-Assenti, me aproximando dos controles. -E sobre a nossa conversa de hoje mais cedo... Não tente apressar seu futuro. Você ainda é muito jovem, ainda tem tempo pra pensar. Não se pressione nem deixe que os pressionem você. Estamos entendidos?

—Estamos. -Sorri. -Você é bem esperto.

—Quanto mais vivemos, mais aprendemos. Agora é melhor te levarmos para casa, antes que isso se torne uma aula de filosofia. -Ri. -Allons-y!


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Notas finais do capítulo

Foi mal, eu tive que falar sobre o Show dos Atrasados. Vendo os memes de uma das "edições", pensei "Se a pessoa fosse de carona com o Doutor e a TARDIS, não se atrasaria", então surgiu essa cena inicial kkkkk
Eu não sabia que nome colocar no pirata, então acabou sendo Jones, por causa do Killian de OUAT :)
E então, o que estão achando? Comentem :3



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