A luz da lua passava pelos galhos da cerejeira que servia de teto para seu descanso. O único braço era seu travesseiro, a capa preta seu cobertor, e as lembranças o conforto de um lar.

Sasuke estava sozinho em sua caminhada atrás de redenção há muito tempo, tanto que as lembranças de dias mais tranquilos, onde não sentia o mesmo peso que agora, pareciam às vezes invenção de sua mente para acalentar a solidão.

Não eram rara as vezes que deitava-se e fazia sua mente ir para longe, mais precisamente para Konoha, anos atrás.

Esse tipo de reflexão começara a tomá-lo quando ainda estava com seus quinze ou dezesseis anos, num esconderijo escuro e frio de Orochimaru, surgindo quando a dúvida batia e a voz dela ainda era vívida pedindo que ele a levasse. Que ela o faria feliz.

Tirou o braço debaixo de sua cabeça e cobriu os olhos com ele, não mais via a luz da lua entre os galhos sem flores da cerejeira, pois quando fechava seus olhos e limpava a sua mente, ele podia se lembrar de como eram os olhos dela.

Quando adolescente forçava-se a não pensar sobre isso, mas agora era quase um costume pensar no passado e nas diversas possibilidades se ele não tivesse ido embora da vila.

Seria tão forte quanto era? Provavelmente sim, ou até mais. Naruto e os outros colegas da academia eram prova de que ele estava errado, mas não era sobre isso que gostava de pensar antes de dormir, gostava de pensar nela.

Como seria se ele tivesse desistido e ficado naquela noite que ela o interceptou nos portões? Se tivesse aceito os sentimentos dela e deixado ser amado? Como seria crescer e amadurecer juntos?

Podia imaginar a antiga Sakura em perigo e ele indo salvá-la. Podia imaginá-la chorando enquanto cuidava de um ferimento seu e depois deixando um beijo na testa dela para que se acalmasse. Era fácil pensar nas visitas constantes dela preocupada com sua recuperação, levando algo para que comesse e recuperasse as forças.

Podia imaginar uma Sakura com quinze anos sentada em posição de lótus trabalhando seu controle de chakra com preciso enquanto ele e Naruto trocavam chutes, socos e insultos. Ele se distrairia por um momento para olhar para ela e levaria um soco que o faria perder a luta, então ela abriria os olhos para ver a bagunça e sorriria. A fim de mostrar a ela que ele era forte, iria desafiar Naruto mais uma vez e, mesmo que não aguentasse ficar sobre as próprias pernas, iria insistir até que conseguisse uma boa vitória.

Ele ficaria forte por e com ela.

Treinariam taijutsu e ele daria broncas sobre a postura, sobre a hesitação dela em usar a força bruta aprendida com Tsunade. Ela iria quebrar o chão, algumas árvores. Ele teria medo de cortá-la com sua espada, mas em seu momento de receio seria surpreendido por um golpe dela que o levaria ao chão. Ela sentaria sobre seu abdômen rindo, ele puxaria a cabeça dela e a beijaria, ela iria suspirar e se amariam sobre a relva do campo de treinamento.

Chegaria o dia que ele enfrentaria Itachi. Sakura ficaria ao lado dele mesmo que ele insistisse que ela deveria ficar. Ela estaria ali e ele agradeceria depois por ter o colo dela para repousar e chorar quando o irmão estivesse morto.

Quando a Grande Guerra Ninja começasse, ele estaria do lado certo desde o início. Como um dos times mais poderosos iriam levar aquela imensa batalha para um fim com mais rapidez. Juntos iriam se abraçar e nenhuma lágrima derramada seria de remorso, de arrependimento.

Eles certamente seriam os primeiros a se casar entre os colegas. Sasuke não veria necessidade em esperar mais, ela já seria médica e ele talvez virasse um Anbu ou reergueria a polícia de Konoha. Teria dias que ele chegaria cansado em casa e ela estaria esperando-o com ótimas histórias sobre os pacientes que atendeu, ou dias que se preocuparia por ela ter que fazer mais um plantão no hospital.

O primeiro filho viria logo, depois o segundo, o terceiro.

E os devaneios paravam aí. Nessa altura, Sasuke já tinha um sorriso no rosto e uma lágrima secando na manga de sua camisa. Dali para frente ele podia viver de verdade o que sonhava, o que pensava. Só bastava voltar para vila e dizer à ela que a queria como sua esposa, que a amava e agradecia por ela tê-lo amado por tanto tempo sem que ele pudesse retribuir como ela merecia.

Ele poderia voltar naquele instante, mas ainda não estava pronto. Não era digno de ser o homem que Sakura merecia.

Então restava para ele apenas juntar lembranças confusas de sua infância com fantasias criadas por sua mente nostálgica, sonhar com um futuro que alcançasse a ficção do que poderia ter sido se tomasse decisões diferentes.

Ele ainda não merecia ser feliz depois de tudo o que fez, ele sabia, então, mesmo que fosse apenas por um momento, ele abria uma exceção à sua penitência e se permitia pensar na felicidade, criar histórias que acalentavam a sua saudade e traçar um novo objetivo, uma recompensa depois de sua rendição.

Me lembro de todas aquelas maluquices que você disse

Você as deixou correndo pela minha cabeça

Você sempre estava lá, você estava em toda parte

Mas agora eu queria que você estivesse aqui

Todas aquelas coisas malucas que fizemos

Não pensamos a respeito, apenas fomos na onda

Você sempre estava lá, você estava em toda parte

Mas agora eu queria que você estivesse aqui