O Legado de Avalon II: A Profecia do Condestável escrita por Goldfield


Capítulo 3
Capítulo 2: Jogar de camper era a lei




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Capítulo 2

Jogar de camper era a lei

Era incrível como as pacatas ruas de Mirabela conseguiam ficar ainda mais pacatas aos fins de semana – principalmente depois do almoço. Ao chegar à primeira rua da cidade, vindo da chácara, Aurélio sentiu-se num lugarejo fantasma. As calçadas, todas vazias, deram-lhe vontade de disparar correndo sem parar até chegar à lan-house; visto que a bainha, presa sob sua camiseta, o impediria de se machucar – porém não queria que a população achasse que era louco ou no mínimo alguém bem sem educação. Seguiu andando, analisando o cenário.

O dia estava quente, com um céu azul de poucas nuvens – o sol parecendo espantar quem estivesse em terra para dentro de suas residências, e as pessoas cumpriam muito bem a ordem. No interior das casas e sobrados, os moradores, de barriga cheia, tiravam sua sesta. Um ou outro comércio permanecia aberto, como bares e um mercadinho onde frequentemente fazia compras para Merlin; além de ser possível ver indivíduos solitários atravessando as ruas aqui e ali, como se fossem os últimos seres humanos na Terra. Passando por uma esquina, Aurélio encontrou algumas crianças brincando na calçada com um cachorro, enquanto uma mulher – provavelmente mãe de uma ou algumas delas – observava atenta da porta de casa. Carros vagueavam pelas vias centrais; outros eram lavados por seus donos em suas garagens.

Alguns tentavam vencer a moleza do sábado com o movimento; mas ela tinha mais seguidores, e por isso conseguia prevalecer sobre os poucos que o preferiam.

Logo o garoto chegou à pracinha da matriz, uma pequena igreja de torre azul. Venceu a tentação de deitar sob a sombra de uma das árvores que ali existiam, como já fizera algumas vezes em tardes calorentas, e continuou até o prédio amarelo da lan-house, situado numa esquina do outro lado da praça. Aurélio sempre achava engraçado o desenho pintado numa das paredes do lugar de um menino de boné e camisa listrada – que lhe lembrava um pouco o amigo Bruno – sentado com uma expressão alucinada diante de um computador. Ao lado dele, o nome do estabelecimento, "Mirabela Virtua" – e uma listagem dos serviços que oferecia: Internet, Games, Impressão e Xerox, tudo em vermelho.

Na calçada diante da lan-house, embaixo da refrescante sombra de uma árvore, seus três colegas da escola o aguardavam.

Uma das poucas compensações que vinha tendo em relação ao afastamento de seus amigos do Rio de Janeiro eram os novos amigos que fizera na sua turma de oitava série – ou como agora diziam, nono ano – na escola nova em que entrara assim que chegou a Mirabela. Três garotos bem bacanas, os quais gostavam mais ou menos das mesmas coisas que Aurélio – não deixando faltar assunto para conversa ou coisas que fizessem juntos. Gostava mesmo deles, a ponto de cogitar até contar-lhes sobre seu segredo; coisa que não fizera por saber ser arriscado.

Celso era meio que o "líder" da turma, já com dezesseis anos – ainda na oitava série devido a alguns anos que perdera. Era o melhor de vida do quarteto, sempre andando com camisetas de personagens de games – como a do "Sonic" que usava aquela tarde, azul e branca – e tendo em casa um videogame de última geração, sempre convidando os outros para jogar. De aparência, era alto e magro, pele morena. Andava com o cabelo raspado na maior parte do tempo, além de ter um par de óculos com grossas lentes no rosto. Era sabido ter mais graus de miopia do que os ângulos que mediam nos exercícios de Geometria.

Ricardo era o meio-termo do grupo, em todos os sentidos: nem alto nem baixo, nem magro nem gordo. O cabelo era um misto de coloração loira e castanha; e a pele, de um tom branco meio pendente para o jambo. Gostava bastante de games e de ficar horas no PC, mas igualmente jogava bola no campinho da escola quase todo dia e era o único da turma que realmente se importava com futebol – sendo torcedor fanático do Cruzeiro assim como o pai. Suas notas eram imprevisíveis: numa mesma matéria, poderia tirar menos de cinco na primeira prova do bimestre e dez na segunda, estudando igual para ambas. Devido a toda essa contradição, sua personalidade era também indecisa: nunca tomava decisões pelo grupo e sempre seguia o consenso dos outros três meninos. Isso lhe valera um apelido que para alguns era mais conhecido até do que seu próprio nome: "Cê-que-sabe", devido à rotineira frase que soltava sempre que lhe pediam alguma opinião.

Já William era o mais calmo e retraído deles, alguém que raramente falava – fosse na escola, na rua ou até mesmo em casa. Os colegas brincavam que devia se comunicar apenas por mímica inclusive com os pais. Baixinho e rechonchudo, tinha a pele bem morena e cabelos crespos. Andava quase sempre de boné e tênis – mesmo em dias de calor em que os pés clamavam por chinelos ou andarem descalços. Por trás da timidez, tinha uma inteligência e tanto. Era o mais esperto da turma, talvez até mesmo da escola. Tirava dez em praticamente todas as provas, não havendo aula em que demonstrasse dificuldade. Gostava muito de ler quando ficava em casa, e preferia livros complexos – de crônicas e poemas – que muitos achavam chatos, como Aurélio, ou simplesmente não conseguiriam entendê-los se os pegassem em mãos. Para completar, era o terror em games de computador: virava o melhor da partida mesmo naqueles que jogava pela primeira vez, como se já houvesse nascido sabendo. No game que haviam combinado de se reunir ali aquela tarde para jogar não era diferente.

— E aí, Carioca? – Celso exclamou enquanto Aurélio atravessava a rua até eles.

Mesmo o protegido de Merlin morando ali há quase um ano e achando já ter perdido boa parte de seu sotaque, o apelido permanecera. No entanto, temia que logo ele mudasse para "Baixinho": Celso, Ricardo e os outros meninos de sua sala estavam crescendo rápido em altura, só ele – e felizmente também William – parecendo ficar para trás, e isso o preocupava.

— E aí, gente? – Aurélio demorou alguns segundos para responder, o tempo necessário para que chegasse à calçada em que estavam os amigos.

— Achávamos que não viria mais! – Ricardo riu. – Eu e o Celso já pensamos que você tinha amolecido pra gente!

— Amolecer pra vocês? – o descendente de Arthur sorriu. – Você e o Celso vão derreter que nem sorvete depois de me verem jogar hoje. Só o William que não, né. O William apela.

Como resposta o baixinho só concordou rígido com a cabeça, nem sequer abrindo a boca.

— E então, vamos ficar quanto tempo hoje? – Celso especulou. – Cinco horas batidão, até de noite?

Aurélio já pensara naquilo. A conversa com Merlin aquela manhã estava viva em sua cabeça, e ele dava cada vez mais razão ao seu guardião. Não convinha gastar tanto tempo ali, e também usaria as economias da chácara para isso. Três horas era o suficiente. Daria para se divertir muito sem abusar.

— Vou ficar só até as cinco – replicou ao colega. – Tenho um compromisso de noite, preciso estar na chácara antes das seis.

O rosto de Celso não aparentou se incomodar:

— Tudo bem, Carioca. Três horas então. É bom que aí o Ricardo volta mais cedo para casa e o consolo da mamãe depois que eu acabar com a autoestima dele!

Ricardo deu um soco no ombro de Celso que fez a pele do braço estalar, porém Aurélio sabia que não doera muito. Eles viviam trocando sopapos entre si, não passava de uma brincadeira tonta – a qual só não faziam na escola, devido às complicações que já haviam tido por professores acharem que estavam brigando de verdade no meio das aulas. Celso revidou com um tapa na nuca de Ricardo, e logo os dois meninos estavam rindo debochados. Seguindo-os junto com o calado William, Aurélio adentrou a lan-house.

Só o ar-condicionado ligado no último já dava ao herdeiro de Camelot vontade de morar ali – isso sem sequer falar dos computadores com dezenas de jogos em rede. A luz reduzida ali dentro dava a impressão de adentrarem outra dimensão sempre que passavam pela porta – como uma noite eterna só iluminada pelos monitores ligados e algumas lâmpadas de cores variadas junto às paredes pintadas de preto.

Havia uma máquina de refrigerantes e uma prateleira com salgadinhos também, perto do caixa; embora Aurélio não fosse muito dado a consumi-los tanto pelos avisos de Merlin sobre como o sódio em excesso poderia comprometer a saúde de um jovem, quanto pelo fato de serem tão caros que aquilo nem era "enfiar a faca", e sim uma espada inteira. No mercadinho ali perto havia guloseimas muito mais baratas – e passavam antes nele quando queriam consumir algum tipo de petisco no tempo que ficariam na lan-house. Não era o caso aquela tarde. Aparentemente não só Aurélio, mas também os colegas andavam com a grana curta.

O lugar estava quase vazio. Os computadores encontravam-se distribuídos lado a lado em quatro bancadas enfileiradas, cada uma delas possuindo três máquinas separadas entre si por divisórias de madeira. Só três eram usadas, distantes uma da outra: uma garota não muito mais velha que eles falava com o namorado ou paquera por um messenger, a julgar pelo número de coraçõezinhos palpitantes na tela; um menino mais novo acessando dezenas de abas de uma enciclopédia virtual no navegador de Internet fazia um trabalho de escola na base do "copie e cole"; e um senhor de mais idade estava compenetrado lendo as notícias de um site de esportes, com os brasões de vários clubes de futebol dispostos no topo da página. Os dois primeiros pareceram naturais a Aurélio, já o senhor... Por que diabos alguém viria a uma lan-house, pagando a hora, para ler notícias sobre futebol? Aquilo lhe fazia tão pouco sentido...

Pegue leve. O Merlin te faz estudar Mitos Celtas, e nem é para a escola...

Avançaram em fila até o caixa – um balcão com proteção de vidro atrás do qual um rapaz sempre de regata e olheiras tão grandes que lhe desciam quase até as bochechas chamado Igor vivia uma rotina robótica de perguntar o nome do cliente, quantas horas desejava, receber o dinheiro e disponibilizar o tempo a mais através do sistema que controlava toda a lan, instalado no computador no interior de seu cubículo. Os amigos, chegando ao balcão, repetiram o costumeiro procedimento, estendendo notas de real por uma abertura no vidro pela qual Igor as puxava para si como se fosse um prisioneiro recebendo comida. Aurélio foi o último, e na hora de dizer seu nome, deu aquele que fora providenciado por Merlin e pelo qual era ali conhecido:

— Lúcio Casto.

Desejava ter registrado sua conta como "Carioca", porém era exigência do estabelecimento que os fregueses dessem seus nomes verdadeiros – ou, no caso dele, supostamente verdadeiro. Preferia bem mais o apelido a aquele nome falso sem sentido.

Garantido o tempo a mais de três horas, o grupo partiu para as máquinas. Celso, Aurélio e Ricardo, nessa ordem, ocuparam todos os três PCs de uma bancada. William distanciou-se deles, indo se sentar diante de um computador na bancada atrás, ao lado da garota que conversava no chat com o namorado. Era costume do baixinho ir se isolar dos outros por receio que eles esticassem o pescoço e descobrissem sua posição no jogo olhando-o pelo monitor – mas naquela tarde achavam que ele estava sendo era esperto, embora a menina fosse uns dois ou três anos mais velha do que ele e William tivesse uma aparência mais de sexta do que de oitava série.

— Eeeeeeee, Willzinho, hem? – Celso brincou, e o colega ignorou como de hábito.

Ligaram cada PC ao mesmo tempo, inseriram seus "logins" e senhas... para em seguida buscarem, ansiosos, o ícone na área de trabalho correspondente ao jogo que os reunira ali naquele sábado tão quente...

"Counterfield".

Até metade daquele ano que passara em Mirabela, "Age of Civilizations" ainda reinara como jogo favorito de Aurélio. Depois disso, no entanto, o gosto por games de estratégia diminuíra um pouco – na mesma época em que Celso apresentou a ele e aos demais da turma o tão falado "Counterfield", do qual possuía a versão para videogame. Tratava-se de um jogo de tiro em primeira pessoa em que os participantes deveriam caçar uns aos outros pelo mapa em diversos modos diferentes – embora o "mata-mata" com cada um por si sem dúvida fosse o mais divertido e por isso mais jogado.

O sistema do game trabalhava com perfis de personagem que registravam o progresso do jogador, acumulando experiência – o famoso "XP" – para comprar novas armas e melhorar o equipamento. Para completar, os mapas costumavam ser bem grandes, possuindo armadilhas e até veículos como tanques, jipes e motos que podiam ser dirigidos. Enfim, algo capaz de se tornar vício para um adolescente de maneira bem rápida.

Cada um dos quatro amigos do grupo tinha um estilo de jogo diferente. Celso era mais "confronto direto", preferindo as armas pesadas que causavam mais dano e investindo seu XP em coletes e outros itens que reduzissem o dano que tomava com os tiros. Ricardo, como era de se esperar, alternava-se entre vários estilos, seu personagem sendo uma salada de armas e equipamentos diferentes que costumava alternar a cada partida. William possuía um padrão peculiar que envolvia o uso de pistolas potentes e equipamentos que aumentavam a velocidade do personagem – além de frequentemente humilhar os oponentes matando-os com a faca, coisa mais difícil do jogo.

Já Aurélio era um "camper".

Tinha ouvido antes esse termo no Rio de Janeiro nas conversas dos colegas da antiga escola, porém só soube o que significava quando começou a jogar Counterfield. Camper era o jogador que ficava fixo em só uma ou em poucas áreas do mapa, esperando os inimigos passarem para eliminá-los à distância, quase sempre sem perceberem o perigo. Ou seja, um camper geralmente era também um "sniper": o franco-atirador, equipado com armas de mira telescópica e itens de camuflagem para espreitar e eliminar os inimigos sem ser visto.

Nas suas primeiras partidas, Aurélio morrera incontáveis vezes adotando a tática do confronto direto de Celso, até que decidiu começar a se esconder e seus sucessos aumentaram. Comprou um bom sniper rifle com seu XP e agora era sua arma favorita. Já não conseguia jogar de outra maneira – para aborrecimento dos colegas, que viviam reclamando quando eram pegos de surpresa pelo personagem de Aurélio, "Avalon_Knight", do alto de alguma torre ou árvore. Rápido em enquadrar os oponentes e atirar, o balconista da lan-house até havia lhe colocado um apelido que também era trocadilho infame com o nome da cidade: "Mirabela".

Parece com os sobrenomes daqueles guerrilheiros de que a Dona Carmen falou ao ensinar ditadura militar... Tinha o Carlos Marighella. Vou montar um movimento revolucionário contra a Morgana e virar o "Aurélio Mirabela"...

Mas a ideia só ficaria mesmo no jogo – que, depois de um momento de distração do garoto, já estava começando. Restava escolherem qual seria o cenário da primeira partida.

— Em qual mapa vocês querem? – Celso exclamou, já com os fones do computador nos ouvidos. – "Fortress", "Sand Beach", "Cold Bunker"?

— Cês que sabem – a voz de Ricardo veio descompromissada.

Celso escolheu a opção para o jogo selecionar automaticamente a arena. Caiu "Urban Combat". Aurélio gostou. Aquele mapa simulava alguns quarteirões de uma cidade, com terraços de prédios e janelas altas. Ótimos locais para ficar de camper. William não curtiu muito – soltando algo como um grunhido atrás deles. Enquanto surgia a contagem regressiva na tela para a partida começar, Aurélio também colocou os fones de ouvido, passando a ficar alheio a quaisquer sons que não fossem os do game. Automaticamente, a mão esquerda foi para as teclas "W", "A", "S" e "D" do teclado, responsáveis pela movimentação, enquanto a direita agarrava o mouse. Hora do combate.

O personagem de Aurélio começou bem no meio de uma rua. Sempre buscando a posição mais alta possível, o garoto guiou-o para dentro da primeira porta aberta que viu – algo como uma loja. Lembrou-se que havia uma escada de incêndio atrás da construção que levava ao terraço, e assim atravessou algumas salas até encontrá-la depois da porta dos fundos. Como a fase era grande e só os quatro amigos estavam nela, era muito improvável que um deles já estivesse na cola de Aurélio. Ele teria tempo.

Subiu as escadas em zigue-zague, meio pixeladas, até o topo do prédio. Deitou o personagem junto à borda do terraço e ficou espreitando os arredores, à espera.

Segundos mais tarde, ouviu o som do motor de um carro dentro do jogo. Celso, afobado, montara numa pick-up azul e saíra pelas ruas entre os quarteirões caçando os colegas. Logo surgiu no campo de visão de Aurélio a inscrição "Master_Killer", informando o codinome que o personagem do amigo tinha dentro do game.

Aurélio ficara tão habilidoso como sniper que conseguia sentir a ação dentro do jogo em câmera lenta, mesmo quando não estava. O carro virtual corria bastante, mas ainda assim o herdeiro de Camelot captou o momento em que o motorista, com a janela de lado para sua posição, ficou enquadrado perfeitamente na mira – disparando nesse nem meio segundo que teve disponível. O resultado foi o leve soar de uma corneta militar, indicando que ele havia feito a eliminação. O xingamento de Celso foi tão alto que Aurélio o ouviu nítido mesmo com os fones:

— Desgraçado!

Uma estrela prateada com a inscrição "First Kill" piscou brevemente na tela de Aurélio. Além de difícil de ser feita, fora a primeira eliminação da partida.

Segurando a tecla "Shift" para correr, "Avalon_Knight" rapidamente saiu do terraço. Era erro comum a muitos campers permanecerem tempo demais no mesmo lugar depois de revelarem sua posição. Tinha agora de procurar outro ponto alto, o que não seria nada difícil. Acertar outro oponente pelas costas, mais simples ainda. Aurélio era tão bom naquele jogo quanto no futebol de botão – a palheta só sendo substituída pelo retículo redondo da mira.

Descendo a mesma escada de incêndio pela qual subira, Aurélio retornou ao beco atrás da loja. Já ia entrar nela de novo, em sentido inverso, em busca da porta de algum prédio na rua em que iniciara a partida – e teve a surpresa de encontrar o personagem de Ricardo, "General_God", indo em sua direção pela entrada oposta da viela. O colega já o havia percebido e agora disparava com uma metralhadora em sua direção – ao mesmo tempo em que "Avalon_Knight", abaixando-se atrás de uma lixeira, ganhava alguns segundos para conseguir reagir. Os tiros continuaram vindo em rajada, Aurélio quase os contando...

...e o pente de Ricardo acabou, o personagem automaticamente começando a recarregar. O som gerado pelo game do cartucho da arma sendo trocado chegou nítido aos ouvidos de Aurélio devido à pouca distância que o separava do amigo. Sem pestanejar, soltou a tecla que mantinha seu personagem abaixado e enquadrou "General_God" na mira do rifle. O dedo desceu forte sobre o botão do mouse para disparar.

E o monitor do computador explodiu.

Nos instantes de confusão que se seguiram na cabeça de Aurélio, rápidos devaneios tomaram sua mente como se cada um fosse uma das balas virtuais atiradas dentro do jogo, quase incapazes de serem vistas. Primeiro imaginou como poderia ter sido capaz de detonar o computador inteiro com um mero clique do mouse, a não ser que de algum modo seu rifle houvesse se tornado um de verdade no meio da partida. Depois pensou no dinheirão que teria de pagar ao dono da lan para reparar o estrago, e em como Merlin ficaria "feliz" com o gasto imprevisto. Por fim, cobrindo o rosto com os braços devido ao aparente um milhão de coisas que voaram sobre ele, concluiu que jamais testemunhara um monitor de PC explodir, e também não era uma atração que recomendaria a alguém.

A tela estourou de dentro para fora, fragmentos de vidro voando no colo de Aurélio e alguns cacos, atingindo seus braços, mãos e rosto expostos, cortando sua pele – a qual, felizmente, regenerou-se praticamente de imediato graças à bainha da Excalibur, não sem certa dor. Um rombo foi aberto no centro do monitor que não exibia mais imagem alguma, faíscas e fumaça dele saltando como se um exército elétrico até então preso naquela caixa invadisse agora o mundo. Por um instante o adolescente teve medo que começasse um incêndio, mas felizmente o equipamento não era tão inflamável. Retirando desesperado os fones dos ouvidos, percebeu pela visão e audição que algo se remexia dentro do monitor arruinado, provavelmente o que originara o estrago.

Afastou ligeiramente a cadeira de rodinhas da bancada, ainda sentado nela, e ergueu os olhos quando um artefato foi retirado de dentro da peça do computador, saindo por sua traseira e arrastando mais alguns chips e placas queimados junto consigo.

Agora à sua vista, o objeto metálico era uma espécie de bola de demolição em miniatura, só que toda coberta de pontas afiadas feito espinhos, presa a um cabo de madeira por uma forte corrente. Merlin ensinara-o o suficiente sobre armas medievais para concluir ser uma maça – ou melhor, um mangual, já que a bola de espinhos não fazia parte do cabo, estando presa a ele por um cordão.

Levantando ainda mais a visão, o garoto descobriu que a arma era segurada por um homem vestindo traje preto de combate similar ao que vira ser usado por forças como a SWAT em filmes, tendo uma face bem mal-encarada e cabelos longos que tinham uma coloração entre o loiro e o ruivo. De pé bem diante de si, e sua altura aparentava chegar perto dos dois metros, olhava-o ameaçadoramente por cima da divisória da bancada – e, depois de ter destroçado a tela do PC e assim interrompido uma bela partida de Counterfield em seu primeiro ataque, lançou de novo sua esfera pontiaguda ao ar, agora para acertar a cabeça de Aurélio.


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