Descendants 2 - In Reverse escrita por Meewy Wu


Capítulo 3
II - Um pouco perdidos




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—Entre – Boa falou, da varanda, quando ouviu as duas batidas na porta. Ela sequer precisava se virar, os saltos de Cindy estalavam contra o chão de madeira, tal como sempre fizeram desde a sexta série – Você demorou. 

—Me desculpe, eu... Ainda estou um pouco confusa – a voz da loira soou fraca, cansada e distante – Parece que faz tanto tempo desde que eu estive aqui. 

—Foram apenas alguns meses – Boa se virou, entrando e fechando a janela. Duas poltronas, viradas uma de frente para a outra, aguardavam elas – Sente-se. 

—Você está diferente – Cindy falou, cruzando os tornozelos. 

—O que quer dizer com isso? – perguntou Boa, na defensiva. Ainda não era muito cedo para que Cindy começasse com as provocações? 

Mas a loira apenas deu os ombros – Vai me mandar de volta para aquele lugar? 

—Não – Boa suspirou, enquanto a outra relaxava os ombros – Mas você vai ter que contar, Cindy, o que está acontecendo. Toda a verdade. Como, e principalmente por que você saiu da Ilha? 

—Eu sempre pude voltar Boa – Cindy confessou, com um sorriso envergonhado – Conhece meus pais, eles nunca deixariam que eu fosse até aquele lugar sem um jeito de sair. O tempo inteiro, havia um carro pronto para me trazer assim que fosse preciso. 

—Mas não voltou... Não até agora – Boa insistiu – Por quê? 

—É um lugar horrível... É sujo e fede. Mas se ignorar isso há certa beleza. Decadente, melancólica até... – Cindy deu os ombros, estremecendo – Estava tudo saindo bem. Eu quase acreditei que talvez eu pudesse ficar lá... Mas então eles vieram. Não sei de onde, falavam sobre Maison e os outros, e eram liderados por um garoto horrível de cabelo verde. Eles invadiram a casa onde eu ficava, levaram minhas joias e meus sapatos. Os sapatinhos da minha mãe, Boa. Eles tomaram o controle de tudo. Eu tive que ir embora... Eu tinha que... Eles teriam acabado comigo! 

—Por favor, não comece a chorar outra vez – implorou a filha da Bela e da Fera – Você não vai voltar para a Ilha, certo? Tentamos falar com seus pais, mas eles estão viajando. Ficará na escola até que eles voltem, ok? 

—Ok – concordou Cindy. 

—Antes disso, pode me dizer como era viver naquela Ilha? – pediu Boa, calmamente. 

—Não é algo que eu possa descrever... As pessoas, doentes. Passando fome. A grande maioria não chega a ter a nossa idade, ou não são muito mais velhos. Não acho que muitos façam ideia de que exista outro lugar, ou do por que estarem lá – Cindy explicou duramente – Então eles roubam, matam, mentem... O possível para sobreviverem aos mais privilegiados naquela Ilha. Como seu Maison era e... 

—Maison? 

—Bem, ele é o filho da Malévola – Cindy a olhou enfim daquele jeito, como se ela fosse muito ignorante – Ela podia ser a imagem do medo, mas era Maison quem liderava as massas jovens daquele lugar. E agora que ele se foi, alguém teve que tomar o lugar dele. 

—Quem? – Boa não pode evitar perguntar. 

—Uno – Cindy estremeceu ao falar o nome – Filho da Úrsula. 

......

Boa não jantou aquela noite. Não depois da conversa com Cindy, ela não tinha estomago para ver Maison, ou qualquer outra pessoa na verdade.

Ela se trancou no quarto, e pensou e pensou até dormir sem sequer trocar de roupas.

Ainda era madrugada quando ela acordou, a lua brilhando branco e luminosa no céu refletia em algo, lançando uma luz diretamente em seu rosto. Ela se sentou na cama, olhando em volta, até perceber o objeto desconhecido em sua penteadeira. 

O espelho de prata tinha brasões e símbolos que ela desconhecia, estava sujo, mas ainda sim o vidro era límpido, quase como se ela pudesse toca-lo e passar para o outro lado. Ela o virou uma e duas vezes na mão, limpando na barra da saia até que visse. 

A rosa.  

Ela reconhecia aquela rosa, e com certeza muito já ouvirá falar daquele espelho. Uma vez, quando perguntará a sua mãe, ela falará que estava perdido há muitos anos. E agora, estava ali? 

Talvez fosse um sonho, pensou Boa, se beliscando até os olhos encherem de lágrimas. A energia que pulsava do objeto estava lhe dando calafrios. Ela olhou para o próprio reflexo – Para seus olhos, para a boca e os cabelos bagunçados. 

—Me mostre Maison – ela arriscou, enquanto o espelho tremulava e mostrava seu cavaleiro de cabelos roxos dormindo profundamente no quarto dele. O gosto amargo veio a sua boca, a lembrando de tudo que havia acontecido. A imagem sumiu, voltando a refletir apenas ela. 

—Eu me pareço com ele – pensou Boa em voz alta, analisando os cabelos cor de caramelo e os caninos. Uma fera. 

Ela se perguntou por que nunca havia pensado em tudo aquilo que havia na Ilha antes de Cindy. Então, se pegou pensando em como agira com aquela repórter, e depois com Maison, e na raiva que sentia agora. 

—Me mostre meu pai – ela pediu – Me mostre o príncipe Adam. 

A imagem que o espelho lhe mostrou foi de um jovem que tinha traços muito parecidos com os de seu pai – e os dela. Adam devia ter dezoito anos na cena, gritando com algum criado antes se sumir subindo as escadas do palácio. 

A cena se dissipou. Boa sentia os olhos cheios de lágrimas, olhando para si mesma. 

—Me mostre a Ilha – ela pediu, mas depois de tremular a imagem do espelho seguia refletindo apenas ela. Talvez as barreiras bloqueassem o acesso de fora. 

Boa começou a arfar. As imagens se repetiam e se repetia na sua cabeça. Ela só queria gritar. Ela queria desesperadamente gritar. Mas em vez disso, da sua boca, um rugido animalesco tomou o ar de seus pulmões para se libertar. Ela perdeu a noção de si, e quando parou, olhando em volta, seu quarto estava em ruinas. Haviam coisas quebradas e rasgadas por todo chão, cadeiras jogadas longe e cortinas arrancadas. 

Ela arfou, sentado no chão com as costas na cama, apavorada. 

Algumas lágrimas começaram a cair. Seu povo não confiava nela, Maison tinha razão. E como poderiam? Ela estava perdendo a cabeça, perdendo o controle.  Vinha sendo tão confiante, tão egoísta, esquecendo toda uma parte de seu reino. Ela precisava saber, precisava ver com os próprios olhos. 

Ou isso era o que ela repetia a si mesma enquanto corria para fora da escola, até sua moto.

Talvez ela simplesmente precisasse fugir, era claro que naquele momento seu lugar não era ali. Ela passou pela estátua de seu pai enquanto seguia para fora do campus. Tinha que dar certo. 

Ela era a filha da Bela. Mas por dentro, também era a filha da Fera. Do monstro que aprendeu a ser homem.

......

Maison acordou arfando.

O som brutal parecia ter atingido exatamente algum lugar dentro de seu peito, ele olhou pra Ethan, mas esse ainda dormia como se tivesse comido cada pedaço de uma maçã envenenada. Ele se levantou, saindo para o corredor deserto. Como era possível que ninguém mais tivesse ouvido aquilo? Era quase como uma... Uma fera. 

—Boa – ele grunhiu, correndo até o quarto dela, batendo na porta até que essa se abrisse sozinha – Boa? 

Ninguém. O quarto estava deserto, uma bagunça completa. Ele olhou em volta, tentando encontrar algum sentido em tudo aquilo, até encontrar um espelho prateado no meio de toda aquela bagunça. Ele conhecia aquilo – Virá há muito tempo atrás, na Ilha. 

—Onde você está Boa? – ele perguntou, assustado, olhando para o objeto. Como aquilo tinha vindo parar ali. O espelho começou a tremular, e Maison, surpreso, o deixou cair de volta na pilha de trapos no chão. – O que... 

A imagem mostrava Boa, de moto, seguindo até os limites onde Auradon encontrava o mar, então, uma ponte luminosa se ergueu e Boa seguiu em direção a Ilha, com o caminho sumindo atrás dela. 

—NÃO! – ele gritou para o espelho, saindo correndo até a varanda como se de algum jeito ela pudesse ouvi-lo – BOA! 
 

O espelho tremulou, assim que ela atravessou a barreira, e a imagem sumiu. Maison grunhiu, irritado, ele sentia seus olhos brilhando. Tinha que ir para a Ilha, e tinha que fazer isso agora. Seja lá o que estivesse acontecendo, precisavam trazer Boa de volta, antes que ela fizesse alguma loucura.

......

—Eu poderia perguntar se algum dos dois viu Lady, mas isso não deve ser dos seus interesses – falou Carly, entrando no quarto dos meninos onde Jullie estava sentada na cama de Maison – Então, vou perguntar se alguma de vocês viu Maison. Ele sumiu antes que eu acordasse, e não apareceu em nenhuma aula que tínhamos juntos.

—Você passou a manhã inteira vestida assim? – Perguntou Ethan, olhando para ela.

—Qual o problema? – ela franziu a testa, olhando para baixo, para as próprias roupas – Você fez essa blusa para mim.

—Sim, há uns quatro meses – ele falou, e depois desfez – Eu não sei de Maison, ele já tinha saído quando eu acordei.

—Provavelmente está em algum lugar, escondido, chorando pela Boa – falou Jullie, fazendo um som de nojo. – Todos sabíamos que essa história de livro daria errado.

—Talvez ele esteja procurando por um feitiço pra concertar isso – Ethan concordou, e os dois riram.

—Bem, com todas as burradas que ele fez, ele provavelmente vai precisar da varinha da fada madrinha outra vez, pra um feitiço tão grande – Jullie enrolou uma mecha do cabelo escorrido no dedo, pensativa.

—Desde que ele não venha chorar pela nossa ajuda pra roubar a varinha outra vez – Ethan deu os ombros – Tenho tantos vestidos para terminar.

—Espere ai, isso é sério? – perguntou Carly, olhando de um para o outro, se levantando – É isso que nós somos agora? É o que fazemos? Jugamos uns aos outros?

—Ah, não comece Carlotta... – pediu Ethan, jogando a maçã em uma lixeira.

—Agora então eu sou Carlotta? E ela é Julieta? – perguntou Carly, apontando para Jullie – Maison pode estar triste, pode precisar de nós, dos amigos dele! E vocês estão aqui julgando ele e falando sobre vestidos?

—Só por que você anda pra cima e pra baixo vestida como se fosse dia das bruxas e nós não, não significa que... – Jullie começou, mas a loira a cortou.

—Dia das bruxas? – ela exclamou – Eu me visto assim desde que aprendi a caminhar, Jullie. É quem eu sou. Pelo menos eu sei quem eu sou, diferente de você que a cada dia se parece mais com uma maldita princesa cor de rosa!

—Você está passando dos limites – Jullie se levantou, com os punhos cerrados.

—Vai me bater? Por que, a verdade dói? Você era a melhor amiga de Maison – ela falou as palavras cuspindo, e depois se virou para Ethan – E você, era um irmão para ele. Nós éramos uma família. Um time. Agora eu nem sei mais quem vocês são!

Os dois ficaram em silêncio, sem saber o que falar, olhando para a garota. Carly suspirou, olhando de um para o outro, e se impedindo de chorar – Me chamem quando meus amigos voltarem.

Os dois observaram enquanto a loira saia, batendo os pés e em seguida a porta. Um longo silêncio prevaleceu, até que Jullie se virasse para Ethan – E então? Onde está o meu vestido?

......

—Do que estão falando? – Cindy Charming parou em frente ao grupo de três meninas, que estava amontoado na frente de seu antigo armário – E o mais importante, por que estão monopolizando meu caminho?

—Então é verdade – uma das meninas falou, com os olhos arregalados, antes de dar um grande sorriso falso e jogar os braços envolta de Cindy – Você voltou!

—Sem abraços, por favor – a loira se encolheu, dando um passo para trás – Me desculpe, mas... Com os últimos meses eu peguei um certo desconforto de contatos corporais.

—Deve ter sido tão horrível – uma segunda menina falou, olhando para Cindy cheia de pena.

—Você vai voltar para a equipe de torcida? – perguntou uma terceira menina.

—Não – Cindy falou, se encostando no armário – Isso é passado. Estou cansada desses jogos de menininhas.

Todas se entreolharam, como se repensassem sobre suas próprias estadias no time. Cindy Charming podia ser banida e desaparecer pelo tempo que fosse, ela sempre seria uma estrela em Auradon Prep, e ela já estava de volta aos holofotes.

—Gostei disso – ela falou, apontando para o colar da segunda menina, que possuía o formato de uma lâmpada mágica – Gostei muito.

—Obrigada – a garota corou, enquanto Cindy estendia a mão – O que foi?

—Eu quero –Cindy falou, e antes que a menina pudesse contrariar, ela enredou os dedos no cordão e o tirou por cima dos cabelos dela.

—Acho que ficou muito tempo na Ilha, Charming – a primeira das meninas falou – Em Auradon as coisas não funcionam assim.

—Talvez eu tenha – concordou Cindy, prendendo a corrente em volta do pescoço – Vamos considerar isso um presente de boas vindas, certo? De todas vocês!

—Você... Não está com frio? – perguntou a terceira menina, olhando para os braços desnudos da loira.

Cindy deu um sorrisinho – De onde eu acabo de voltar, isso aqui é puro verão. Agora, acho que vocês estão atrasadas para a aula.

Todas concordaram, sem se dar ao trabalho de checar os relógios, e saíram andando apressadamente, enquanto Cindy se virava para poder abrir seu armário e dava de cara com Dany, a algumas portas de distância.

—Pelo visto, você voltou mesmo – a morena falou, colocando um monte de livros no armário e fechando.

—Não posso deixar que elas me vejam acabada – Cindy deu os ombros – Um dia eu ainda vou ser uma rainha, Danielle. Ninguém respeita uma rainha fraca.

—Bem, falando em rainhas, você viu a Boa? – Dany perguntou, ignorando toda a pomposidade que há um ano a teria feito se encolher – Procurei por ela o dia inteiro.

—Já tentou no quarto dela? – Cindy perguntou, como se fosse obvio, retocando seu batom no espelho do armário e fechando a porta.

—Foi o primeiro lugar em que procurei, mas ou ela não estava lá, ou não queria atender – Dany deu os ombros – De qualquer jeito, eu tenho que ir para a aula.

—Você tem história? – Cindy perguntou, vendo a outra assentir – Então vamos juntas.

Dany ergueu uma sobrancelha, enquanto Cindy andava ao seu lado no corredor.

—E sobre a Boa... –continuou a loira, franzindo a boca – Talvez ela queira ficar sozinha. Ela não parecia muito bem ontem, depois de tudo que eu tive que contar sobre a Ilha para ela. Um pouco perturbada, entende?


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