Larissa escrita por Vênus


Capítulo 2
Interações


Notas iniciais do capítulo

Fobia social: Doença mental crônica em que as interações sociais causam uma ansiedade irracional.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/755395/chapter/2

Algumas pessoas acham que eu tenho fobia social.

Não é bem isso. É fato que eu realmente tenho ansiedade e certo desconforto em saber que eu posso ter uma interação social, mas não chega a ser excessivo. Há pessoas que ficam extremamente nervosas e podem até tremer só de pensar em interagir com alguém, eu não tenho isso, apenas não gosto. Não é que eu não goste das pessoas, eu não gosto de interagir com elas.

Naquela manhã, Kakõgan disse que eu daria aula para a equipe. Sinceramente eu não sabia como iriam reagir ao me verem, eles acham que sou uma personagem fictícia. Já foi um choque saber que Kakõgan era real.

Nós sabíamos que um dia teríamos que conversar com a equipe, então Kakõgan achou um jeito de fazer com que os integrantes já fossem se acostumando conosco. Carla, a escolhida dos Ali3ns Merceers, foi a “cobaia” para executar nosso plano. Ele, com uma de suas máquinas, implantou na mente dela a ideia de criar alguns personagens para uma de suas histórias. Esses personagens eram ele e eu. Então toda a equipe pensava que nós éramos meros personagens que a Carla tinha criado.

Agora eles sabem que Kakõgan existe realmente, mas e eu? Bem, talvez ninguém acabe ligando para isso, há tanta coisa com o que se preocupar.

Levantei de minha cama. Eu tinha que ir para a sala de treinamento.

Meu pai sempre disse para eu não me apegar à moda. Eu não deveria vestir roupas desnecessárias, deveria vestir o essencial, por isso ele era bem adepto a uniformes. Eu gosto de uniformes no estilo de escolas japonesas, então acabo vestindo algo parecido.

Vesti, como de costume, uma blusa branca com mangas vermelhas e uma saia até os joelhos também vermelha. Meu pai sempre dizia que o vermelho era uma cor imponente, uma cor que fazia você ter um ar mais autoritário, uma cor que dava a você certa importância. Então, mesmo que minha cor favorita fosse azul-marinho, eu sempre vestia um uniforme vermelho.

Ultimamente Kakõgan tem me convencido a me soltar um pouco mais no meu estilo, eu fui resistente no início, mas acabei cedendo. Então uso uma pulseira da cor azul-marinho no pulso direito e uma presilha preta no lado esquerdo do cabelo. É um começo pelo menos.

Peguei minha mochila e saí do meu quarto. Não dá para ficar pensando na vida o dia inteiro, tenho muitas coisas para fazer. Senti o GPS vibrar no bolso da minha saia. Kakõgan tinha criado esse GPS e dado algumas funções a mais para ele, incluindo a função de mandar e receber mensagens. Peguei-o e li a mensagem, ele estava dizendo para eu o encontrar na sala de treinamento. “Ok” respondi.

Eu já sabia aquele caminho de cor e salteado, não foi nada difícil chegar lá, mesmo com todos aqueles corredores idênticos. Avisto uma grande porta. Mas é uma porta diferente da que sempre esteve lá. Confusa, eu a abri.

— Larissa!

Kakõgan olhou para mim com os olhos alegres. Deveria estar bem animado.

— Pedro... O que aconteceu com a porta?

— Ah, eu resolvi trocar por uma porta mais comum, assim nossa equipe não vai ter um choque tão grande.

— Certo.

Eu me dirigi até a árvore. Acho que não iriam se importar se eu esperasse nela, então subi e fiquei escorada em um galho no meio das folhas. Deixei minha mochila em outro galho.

Percebi que Kakõgan estava com a xícara dele.

— Eles já viram a Maurília? – perguntei.

— Sim! Minha xícara de estimação! Acho que eles gostaram dela.

— Você sempre arranja essas distrações para que eles não fiquem tão assustados com o que realmente está acontecendo... Eu me pergunto como ninguém desconfia.

— É melhor assim. – ele olhou para o lado.

Realmente, Kakõgan era o melhor líder que eles podiam encontrar, eles devem muita coisa a ele.

— Larissa, pegue esses papéis.

Eu desci da árvore.

— “Defesa”, “ataque”... São as funções dos integrantes?

— Raciocínio rápido! Como esperado de você.

— Vai realmente fazer isso?

— Eles precisam dessas distrações.

— É... Talvez precisem...

—Pense comigo! – ele sorriu. – Com tudo isso, eles vão acabar focando em outras coisas e não em você.

Sei que ele só estava tentando ser legal comigo. Na verdade, ele fez isso para que a equipe não foque na guerra que está acontecendo.

Tentei mudar de assunto.

— Eles vão chegar quando?

— Daqui a pouco, estão terminando o café da manhã. E... Mais tarde eu trarei um novo integrante.

— O quê? Um novo integrante? Quem?

— O nome dele é Jeferson, não posso dizer ainda o porquê, mas ele será importante.

— Certo... Então terá cinco integrantes.

Minha cabeça parece que vai explodir, tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, eu precisava organizar meus pensamentos.

— Importa-se se eu ficar na árvore até eles chegarem?

— Claro que não, fique à vontade.

Agradeci mentalmente. Subi na árvore e fiquei no meio das folhas, observando de perto os detalhes delas. Era algo tão complexo, a estrutura, a forma... Era algo tão... Vivo. Lembro de quando meu pai me ensinava sobre as plantas, ele era muito bom em Biologia, tanto que criou muitos remédios com plantas. Mas agora ele estava doente, de cama, quase em estado vegetativo, não conseguiu criar um remédio para si mesmo.

Fui interrompida de minha linha de raciocínio por Kakõgan.

— Larissa.

Eu conhecia aquele tom de voz, ele tinha alguma ideia na cabeça.

— Sim?

— Sei que você vai ficar ansiosa quando eles chegarem, não precisa recebê-los logo de cara, fique na árvore. – ele fez uma pausa. – Quando se sentir pronta, mande uma mensagem com o GPS, ele vai vibrar, assim eu vou saber quando você estiver preparada.

— É uma ideia genial, como sempre. Obrigada.

Certo, isso deveria me tranqüilizar, eu não tenho com o que me preocupar.

A porta se abre. São eles... A menina de cabelo comprido é Carla, escolhida dos Merceers, como será que ela vai reagir ao me ver? Para ela, eu sou apenas uma personagem das histórias que ela cria. Bem que eu gostaria de ser apenas isso, uma história, histórias não interagem com as pessoas.

Ela estava do lado da Ingrid, escolhida dos Croosers, era incrível como as duas podiam ser amigas, o inconsciente de ambas deveria estar programado para elas odiarem uma a outra, não para serem amigas. Ingrid estava usando óculos, Kakõgan havia me falado que tinha dado eles para ela. Engraçado, eu teria todos os motivos para não gostar dela, afinal, Kakõgan a ama. Mas eu até penso que ela deve ser alguém legal, talvez se eu não tivesse tanto receio em conversar com as pessoas, ela seria uma amiga.

O que estou dizendo? Eu não tenho amigos. Não posso, é perigoso.

Eric estava lá também, o escolhido dos Al1ens. Ele é bem extrovertido, isso é bom, vai ser mais fácil causar distrações na equipe com pessoas assim. Já o Luciano, um dos herdeiros, é mais sério, mas ajuda muito a descontrair quando o clima está tenso.

Bem, eles parecem uma boa equipe.

Pedro foi recebê-los.

— Finalmente vocês chegaram!

Eric e Luciano focaram diretamente em Maurília.

— Você tem uma xícara de estimação?!

Pedro olhou para mim no meio das folhas, ninguém percebeu isso, ainda bem. Ele está esperando minha mensagem dizendo que estou pronta, mas eu não consigo sequer ter coragem de me mexer.

Carla se incomodou em estar tudo tão quieto.

— Por que estamos todos em silêncio?

O que Kakõgan irá responder? Ele precisa ser rápido para parecer espontâneo. Eu poderia aparecer agora para a equipe, mas simplesmente não consigo. Bem... Já me acostumei a ser um fracasso.

— Estamos meditando, isso requer calma e paciência.

Ainda me pergunto como a equipe pode acreditar em tudo o que ele diz.

— Por que carambolas estamos meditando?! – perguntou Luciano. – Queremos guerra! E não ficar falando “Aóóón” de olhos fechados!

Por algum motivo isso me irritou, como ele podia dizer que queria guerra? Com tudo o que está acontecendo nesse momento, com toda a dor que muitas pessoas sofrem, com todos os laços que foram quebrados...

Kakõgan tirou algumas agulhas do bolso e atirou na direção do Luciano, é claro que elas não eram agulhas que machucavam, eram apenas para treinar. Creio que ele tenha feito isso apenas para desviar do assunto da guerra.

— Eu disse que vamos meditar!

— Meditar! – Luciano exclamou. – Que legal! Amo meditar!

Isso gerou uma boa descontraída. Talvez isso tudo foi bom no final das contas. Vou tentar agir de uma maneira diferente, tentar parecer... Normal. Tento formar vários roteiros na minha cabeça do que devo falar e o que vai acontecer. Eu nunca vou conseguir parecer tão feliz quanto Kakõgan finge ser, mas posso tentar parecer ao menos uma pessoa sem tantas frustrações.

Aproveito o que Kakõgan falou, ele disse que iriam meditar, então vai parecer normal esperar alguns minutos. Lembro de todas as minhas regras, principalmente a primeira: “Não se apegue”. Não posso me apegar com os integrantes da equipe, sei que sou alguém que se apega muito fácil, isso acaba causando muitos problemas, então prefiro não me aproximar tanto das pessoas.

Certo, devo estar pronta, ao menos penso que sim. Mando uma mensagem para Kakõgan.

— Muito bem, – ele disse. – o treinamento está terminado!

Todos reclamaram e foram tirar satisfações com Kakõgan, mas eu resolvi falar antes que ele respondesse.

— Desculpe o atraso, Pedro.

Na verdade isso foi uma indireta para ele, eu realmente pedia desculpas por demorar tanto para mandar a mensagem, além do mais, acho que é o que qualquer outra pessoa normal falaria. Apesar de que pessoas normais não falam estando em cima de uma árvore como eu estava naquele momento.

Ingrid olhou para a árvore como se tivesse feito uma grande descoberta.

— Desde quando essa árvore estava aí?

Pelo menos o foco estava na árvore, não em mim.

—O treinamento acabou... – disse Kakõgan. – Mas acabou só o meu turno! Agora, deixo vocês nas mãos da Larissa!

Todos estavam mais preocupados em ficar estressados com ele do que reparar que eu, uma personagem supostamente fictícia, estava ali. Foi bem melhor do que eu esperava.

Kakõgan saiu da sala depois de Ingrid acabar batendo nele. Eu sei que ele não sentiu dor, então não me preocupo com isso.

Eu desci da árvore, e me apresentei novamente

— Como Pedro mencionou, meu nome é Larissa, vou ser a professora auxiliar de vocês.

Carla se aproximou de mim, e pude ver de perto seus olhos esverdeados com âmbar, ela realmente era uma Merceer, sem dúvidas.

— Espera... Larissa?! A mesma Larissa que eu criei pras minhas histórias?!

Então finalmente ela percebeu.

— Essa mesma.

O tom de âmbar nos olhos dela ressaltou.

— Como isso é possível?! Primeiro o Pedro... Agora você!

Pergunto-me o que aconteceria se ela descobrisse que Kakõgan na verdade implantou um dispositivo nela para que, sem perceber, ela pensasse que tinha nos criado.

— Muito bem, vamos começar o treinamento.

Eu, tentando parecer empolgada, era patética. Fui até a árvore para pegar minha mochila que havia ficado em um dos galhos.

Luciano e Carla começaram a discutir por algo que Luciano havia falado. Aproveitei para dar o primeiro ensinamento de uma equipe.

— Sem brigas com os companheiros de equipe, os integrantes devem estar unidos.

— Unida é a minha mão na cara dele! – disse Carla.

Eles pareciam estar realmente bem distraídos e não se importando muito com tudo o que estava acontecendo, mas isso era ótimo.

Eu distribuí os papéis que Kakõgan me deu e expliquei, para todos, o que eram.

Eles futuramente iriam ter missões, iriam completá-las em uma espécie de fila. A pessoa da frente tinha uma função, dois metros atrás dela, haveria uma pessoa com outra função, e assim sucessivamente.

A primeira da fila ficou sendo a Ingrid, ela tinha a função de defender a equipe e prevenir os integrantes das armadilhas. O segundo foi o Eric, como ele é um escolhido dos Al1ens, deve ter uma grande capacidade mental, então ele ficou sendo o responsável por fazer a estratégia da equipe. Como Kakõgan havia me avisado de Jeferson, resolvi deixar o terceiro lugar para ele. Luciano ficou no quarto lugar, ele era um herdeiro, assim como Kakõgan, então não deveria sentir dor tão facilmente, por isso o coloquei na função de ataque. No quarto lugar da fila ficou a Carla, ela é bem forte, então ficou com a mesma função do Luciano.

Porém, Luciano queria muito ir ao último lugar da fila. Eu não deixei, pois ter Carla no último lugar era muito mais vantajoso. Ela era uma Merceer, e Merceers têm um grande poder nos cabelos. Como Carla tem o cabelo comprido, caso algum inimigo resolva surpreender a equipe pelas costas, ela poderá defender.

Recebi uma mensagem de Pedro.

“Larissa,

estou trazendo o Jeferson comigo, tente enrolar a equipe para começar o treinamento junto com ele.

Sei que você consegue.

P.K.”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Demorei bastante para escrever :v mas está aí
Esse capítulo é uma versão do ponto de vista da Larissa do capítulo 6 de "A demência pelo mundo", recomendo ler :3
Link: https://fanfiction.com.br/historia/689557/A_demencia_pelo_mundo/capitulo/6/

Me siga no Twitter: @Pituca_Tonta



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Larissa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.