Depois de quase perder o seu corcel de areia na viagem até Winterfell, Nymella Martell não pensou duas vezes, assim que chegou à capital nortenha, levou o garanhão aos estábulos para cuidá-lo com suas amazonas do deserto. Isara e Polymia estavam compenetradas limpando Abismo com panos quentes, enquanto a Princesa escovava e alimentava o animal com o melhor feno que encontrou. A estrebaria estava cheia de nortenhos de todos os tipos, alguns admiravam as três trabalhando juntas. Nymella os provocava pouco à pouco, até que uma jovem e famosa senhorita chegou com um cesto de frutos velhos.

NYMELLA: Me disseram que a mais bela dama de Winterfell viria me recepcionar… Eles não estavam mentindo.

A Princesa de Dorne investiu, tomando a frente de suas servas e dos nortenhos presentes ali.

SANSA: Olá, eu sou Lady Sansa Stark. Trouxe esses restos de maçãs e repolhos para os animais.

Ela apresentou-se com indiferença ao cortejo, mas apresentou-se. Nymella sentiu-se provocada.

NYMELLA: Sou a Princesa Nymella Martell. Ouvi muito sobre sua jornada, Lady Sansa…

A dornesa não fez gesto algum, apenas estendeu a mão para cumprimentá-la.

SANSA: Eu também ouvi muitas histórias sobre ti, Princesa.

Depois do leve e desajeitado abraço entre as duas, Sansa comentou.

NYMELLA: Importa-se de me dar uma dessas maçãs? Abismo está sentindo o cheiro…

A Princesa apontou para o cesto que Sansa carregava, já pegando uma das melhores maçãs.

SANSA: Onde estão meus modos? Mas é claro. É um belo animal.

Sansa permitiu, deixou o cesto no chão e foi conferir o alazão de Nymella.

NYMELLA: Ele é forte. Sempre aguentou as ondas, mas a neve é outra história.

A Princesa comentou enquanto dava a maçã para o animal e fazia carinho em sua crina.

SANSA: Um corcel de areia no Norte… Senhores… Em tempos como esse em que vivemos…

Falou com algum pesar e ao mesmo tempo, comunicou aos outros que o alimento dos animais tinha chegado. Algum cavalariço agradeceu e pegou o cesto do chão, levando-o até os demais.

NYMELLA: Não poderia me separar dele. Nós estamos juntos desde sempre.

A Naja confessou a Loba, olhando diretamente em seus olhos azúis como ametistas.

SANSA: Eu entendo.

Sansa abaixou o semblante com pesar. Como quem diz: “Não é bom amar hoje em dia, ainda mais um animal.”

NYMELLA: Falando em frio, onde posso tomar um bom vinho em Winterfell?

Nymella sabia que Sansa havia perdido uma loba atroz anos atrás, então mudou de assunto.

SANSA: Eu posso lhe mostrar um bom lugar.

Ela não pareceu muito empolgada com a ideia, de modo que aquele convite surpreendeu.

NYMELLA: Então vamos… Amazonas, cuidem de Abismo e depois cuidem de vocês. Mas estejam sempre prontas.
A Princesa deixou suas ordens à Isara e Polymia, e com a ajuda delas, desfez-se de suas armas e placas.

SANSA: São suas escudeiras?

Perguntou enquanto caminhavam pela lotada e gélida Winterfell, demonstrando curiosidade nas suas amigas não apresentadas propositalmente. Elas eram lindas.

NYMELLA: Em Dorne não temos cavaleiras ou escudeiras. Elas são minhas irmãs de lança. Devem a vida a mim e a minha vida é delas.

Em pouco tempo, depois de um caminho tortuoso, chegaram a uma taverna estrategicamente vazia. Nymella explicou no caminho, através de palavras ao pé do ouvido delicado de Sansa.

SANSA: Como votos, não é mesmo? Duas taças de vinho, por favor.

A Lady parecia interessada pela primeira vez. Fez o pedido ao taverneiro, que já a conhecia e não cobrou nada.

NYMELLA: Sim, votos de sangue.

Disse finalizando com um sorriso sádico. A Princesa “fez as honras” de pegar os cálices e levar até uma mesa a seu gosto. Lady Sansa a seguiu. Elas tinham companhia, alguns cavaleiros do Vale. Era bom que fosse vista com a Lady de Winterfell, Nymella queria isso.

SANSA: Há sacrifício?

Sentando-se, a Loba impressionada perguntou, sem nem se preocupar com os cavaleiros.

NYMELLA: Sempre. Matamos algumas serpentes negras, acendemos velas escarlates, incensos de Myr, algumas moedas de prata, uma adaga cravejada de jóias e… sangue. Tem de haver sangue, não é mesmo?

Nymella imitou as interpretações de sua mãe sobre as bruxas do deserto de Dorne e Sansa quase pareceu-lhe si mesma quando criança, olhos atentos e vidrados, bebericando pouco a pouco seu vinho quente com canela, mais para esconder seu medo atrás do cálice do que para saborear o calor da bebida.

SANSA: Você está brincando.

E de repente, a Lady de Winterfell mostrou ser uma mulher crescida e corajosa.

NYMELLA: É claro que estou. Nós só… Crescemos juntas.

A Princesa abriu um sorriso e levantou seu cálice numa brincadeira. Depois contou a verdade, dando de ombros.

SANSA: Não conheço muito os costumes de Dorne.

Confessou ajeitando-se na cadeira, assumindo seu desconforto com o desconhecido.

NYMELLA: Pois devia, somos um povo bastante interessante.

Ainda que mais jovem que a Senhora Stark, Nymella decidiu bancar a mais velha.

SANSA: Há os venenos…

De repente, entre goles e olhares, a Lady de Winterfell soprou algo no ar...

NYMELLA: Venenos?

A Martell mostrou-se interessada para saber até onde a Stark queria chegar.

SANSA: Sim. Você trouxe alguns com você?

Toda a faceta inocente daquela mulher desaparecera, assim como o vinho de seu primeiro cálice. Sua pergunta seria feita dessa mesma maneira caso Nymella fosse uma mercenária. Ficou claro o interesse da Loba na Naja. Ela também estava jogando charme, mas agora falava sério.

NYMELLA: Meu veneno está na minha língua. E eu só uso contra os meus inimigos. Geralmente, homens, my lady.

A Princesa preferiu não se envolver e descontraiu. E a bem da verdade, Nymella não usava venenos nas armas.

SANSA: Hahaha.

A Lady riu, mas de maneira um pouco nervosa também. Ela claramente era uma veterana no famoso Jogo dos Tronos.

Depois disso, ambas as ladies, loba e naja, ficaram mais próximas. Mas logo seu momento de descontração fora interrompido. A guerra estava próxima e a realeza presente em Winterfell não esperaria mais de uma hora para se pronunciar. Lady Sansa e a Princesa Nymella foram convocadas até o Grande Salão de Winterfell. Mas não foram juntas até lá.