Tudo o Que Se Sente escrita por Driih Araujoo


Capítulo 1
Capítulo 1 - Entrevista


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, isso é um teste, se eu ver que está dando certo e que vocês estão gostando, eu continuo, se não, eu paro pq eu sinceramente não gosto de escrever para fantasmas kkk essa historia tá na minha cabeça a algum tempo ja e não sai de jeito nenhum, então tô colocando pra fora. Esse é o primeiro capítulo e espero que gostem. ❤️



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Eu sempre gostei de observar o nascer do sol. Tem algo nele que me encanta, emociona. Saber que mais um dia está começando, renascendo, e que eu ainda estou aqui, mais um dia, mais uma oportunidade de recomeçar, é uma sensação magnífica.

Eu observo a pequena batalha que se desenrola no céu entre a escuridão e os raios de sol durante algum tempo, sinto meu sorriso se alargando conforme os tons alaranjados vão se infiltrando cada vez mais trazendo a promessa de um dia bom e caloroso. É um costume, acordar cedo todos os dias para assistir essa maravilha da natureza, começar o dia com pensamentos positivos.

Escuto meu despertador tocando em cima da minha mesinha e sorrio mais ainda. Depois de um mês desempregada entregando mais currículos do que eu posso contar, finalmente consegui uma entrevista. E ela vai ser daqui a pouco na maior empresa de publicidade e marketing de Nova York. Me emociono com o pensamento de que talvez as coisas comecem a dar certo agora.

Paro um momento observando o lugar em que eu durmo. Meu quarto, é pequeno. Tem um guarda roupa até que razoavelmente grande, um pequeno banheiro todo branco, uma cama de casal, uma mesinha com meu notebook em cima, um tapete felpudo no chão, na cor bege, uns pisca-pisca na parede onde fica a cabeceira da minha cama e muitos quadros com as paisagens dos lugares que eu sonho um dia em visitar e da pessoa mais importante da minha vida. Mãe. O resto da casa não é tão legal, se resume a uma sala pequena, um banheiro e uma cozinha americana onde quase não passo meu tempo.

Olho no relógio e já são quase 7 horas. Minha entrevista é as 9:30 e não moro tão perto assim da empresa. Pego minha toalha e entro no banheiro tirando minhas roupas lentamente. Não consigo evitar que a ansiedade se instale em mim, e já posso sentir minhas mãos tremendo levemente. Me lembro de manter o meu controle. Não posso perder minha calma. Vai dar tudo certo.

Entro no box transparente e ligo o chuveiro sentindo a água escorrer por meu corpo. Lavo meu cabelo escuro e deslizo o sabão por minha pele e me enxaguo. Saio alguns minutos depois enrolada com uma toalha no corpo e outra no cabelo.

Pego a roupa que já estava separada e me visto. Penteio meus cabelos e deixo secarem naturalmente enquanto um batom claro nos lábios, uma máscara de cílios e passo um lápis de olho preto nos meus olhos.

Sempre tive um misto de amor e ódio pelos meus olhos. Nasci com o defeito genético que me faz ter um olho de cada cor. Um azul e um castanho. Aprendi a ama-los com o tempo, mas teve uma época da minha vida que eu odiava com todas a minhas forças, até perceber que eles me tornavam única, diferente, e eu aprecio isso.

Depois de pronta, me olho no espelho do guarda roupa e gosto do que vejo. Cabelos lisos quase totalmente secos, os olhos coloridos chamando a atenção, as sardas no meu rosto dando um charme que eu aprendi a gostar, o pescoço com o medalhão da família, que tem minha foto e da minha mãe, o corpo curvilíneo vestido com uma saia social cinza e um terninho da mesma cor, por baixo uma camiseta de alcinha na cor preta e um salto preto alongando minhas pernas. Sim, é o suficiente para não parecer desarrumada e nem desesperada por atenção.

Ouço meu celular tocando em algum lugar do quarto e procuro o mais rápido que posso. Quando acho ele debaixo da cama (não me perguntem como) sorrio ao ver o nome MAE na tela do celular, e atendo antes que ele desligue.

— Bom dia mãezinha – comprimento animada.

— Bom dia filha – nunca conheci alguém com a voz tão doce como a dela, senti meu coração se aquecendo. – estou com saudades de você meu amor. – eu sabia que sim, fazia algum tempo já desde a última vez que fui visitar ela, e eu morria de saudade também, mas desde que fui demitida, ir visitar ela na nossa cidade, ficou impossível.

— Estou com saudades também mãe. Muita – minha voz treme no final. Sempre foi só nós duas. Ficar longe por muito tempo acabava comigo.

— Você pode voltar filha. Se as coisas estiverem difíceis aí, você sempre pode voltar. Aqui é sua casa amor – ouvi seu suspiro do outro lado da linha. Ela não conseguia entender por que eu vim pra cá. Era difícil explicar que foi por ela, por amor. Só queria tentar melhorar a vida pra ela, e aos poucos eu fui conseguindo de certa forma.

Quando eu comecei a trabalhar eu tinha 16 anos. Tinha uma lanchonete e eu vivia lá ajudando, até que o dono começou a me pagar pela ajuda. Eu nunca precisei gastar o dinheiro, minha mãe sempre fez o possível e o impossível para me dar uma vida confortável, então todo o dinheiro que ganhei, eu guardei e comprei uma casa pra ela assim que terminei minha faculdade onde era tudo pago pela bolsa que eu consegui. Foi o que me apertou depois que fui demitida do antigo lugar que eu trabalhava. A falta de dinheiro, mas valia a pena.

— Está tudo bem mãe, talvez as coisas melhorem agora. Eu tenho uma entrevista daqui a pouco. – não tive a oportunidade de contar pra ela antes, já que a entrevista foi marcada ontem de tarde.

— Isso é maravilhoso Lou – sua voz doce chegou emocionada através do telefone. Queria que ela estivesse aqui, esse seria o momento que ela me abraçaria e beijaria minha testa. Como uma promessa de que tudo vai se ajeitar. – tenho certeza que vai dar certo filha.

Eu preciso manter essa certeza dentro de mim. Fé é o que eu preciso agora. Tem que dar certo. Se não desse, adeus lugar para morar.

— Assim eu espero dona Luiza – murmurei brincalhona. Olhei o relógio na mesa e já marcava 8:20, precisava correr se eu quisesse chegar na estação de trem a tempo. – mãe preciso ir, se não eu vou me atrasar. Te amo até marte e voltando – disse carinhosa.

— Até marte e voltando minha pequena Louise. Toda sorte do universo ao seu favor filha – se despediu antes de desligar o celular.

— Vou precisar mãe. – sussurrei para o nada guardando meu celular na bolsa que eu iria usar.

Conferi se todos os meus documentos estavam na bolsa antes de sair e fui o mais rápido que meus saltos permitiam até a estação mais próxima. Por pouco consegui pegar o trem e sentei esperando chegar na minha para. Quando desci, andei calmamente tentando não tropeçar nos meus próprios pés. Puxei na mente qual era o caminho e tentei não entrar nos lugares errados.

No meio do caminho avistei uma lanchonete que parecia bem aconchegante, e como sai sem comer, resolvi fazer uma parada rápida e pegar um café. Fui no balcão e pedi um expresso e uma rosquinha. Enquanto aguardava olhei no relógio na parede e marcava 9:10, precisava agilizar ou não daria tempo. Quando o pedido ficou pronto, paguei e sai rapidamente dali, bebendo meu café no caminho.

Alguns minutos depois cheguei em frente do prédio onde eu torcia pra ter uma oportunidade de trabalho. Um prédio grande, todo espelhado e assustadoramente bonito e imponente.

 Atravessei a portaria e andei até o balcão da recepção. A moça atrás do balcão era ruiva. Meu estômago revirou revoltado com o clichê na minha frente. Enquanto me aproximava a moça começou a me analisar de forma minuciosa. Pareceu surpresa quando percebeu minha anomalia genética e começou a me olhar de forma superior. Odiava esse tipo de pessoa. Levantei minha cabeça e sorri desafiadora ao parar na frente dela.

— Bom dia, tenho uma entrevista de emprego com a Srta. Edwards agora as 9:30 – falei calmamente ainda sorrindo petulante. Vi seu sorriso forçadamente simpático enquanto ela digitava no computador. Li seu nome no crachá. Leila. Não íamos ser amigas com certeza.

— Decimo andar, só se identificar quando chegar lá e aguardar ser chamada. – parecia brava. Não é como se eu me importasse. Agradeci e andei em direção onde placas indicavam ser o elevador. Apertei o botão e esperei a porta se abrir.

A perspectiva de ter que entrar naquela caixa metálica não me agradava nenhum pouco. Senti minhas mãos suando e meu corpo começando a tremer. As portas se abriram e eu dei passos vagarosos para dentro. Era como se uma mão invisível estivesse fechando a passagem do meu ar quando vi as portas se fechando. Apertei o 10° andar e tentei me acalmar. Claustrofobia. Já sei que vou ter que lidar com isso todos os dias se conseguir esse emprego, mas sei que consigo passar por isso.

Na minha cabeça comecei a cantar uma canção que minha mãe sempre canta pra mim, desde que nasci. Era uma música que sempre me trouxe paz, ela se chama Wild Child da Enya. Sempre que eu estava desmoronando, minha mãe me colocava em seu coloco e cantava para mim. Tinha um efeito calmante.

Olhei meu rosto pálido através do espelho do elevador, vi lentamente o cor voltado para minha face, enquanto eu ficava mais calma. As portas se abriram avisando que eu tinha chegado ao meu andar. Caminhei lentamente até a mesa onde uma moça morena com cachos maravilhosos nos cabelos sorria simpaticamente para mim. Retribui ao sorriso.

— Olá, bom dia – saudei quando parei em sua frente. – tenho uma entrevista agora as 9:30 com a Srta. Edwards. Sou Louise Williams. - ela concordou com a cabeça ainda sorrindo.

— Ah sim, estava te aguardando. Você é pontual, já é uma ótima qualidade. – disse enquanto levantava e estendia a mão para mim – sou Vivian Palliari, secretaria da senhorita Kate Edwards.

— Prazer Vivian – respondi enquanto apertava sua mão.

— Pode sentar, fica a vontade. Vou avisar que a senhorita já chegou.

Sentei no sofá de couro preto e é reparei no ambiente. A mesa de Vivian fica de frente com o elevador. As paredes têm uma cor clara, o chão com pisos escuros; na parede alguns quadros bonitos, mas sem sentido e uma porta larga e escura do outro lado da parede em que a mesa fica. Alguns vasos com plantas bonitas aqui e ali. Bonito. É só o que consigo pensar.

— Senhorita Williams, pode entrar – Vivian chamou enquanto mantinha a porta aberta para que eu passasse. Quando passei por ela escutei seu desejo de boa sorte e agradeci baixinho com um sorriso nervoso no rosto.

Senti a ansiedade novamente em mim. Fiz uma prece baixinho pedindo para que desse tudo certo enquanto adentrava a sala. No final da sala tinha uma mulher com cerca de 26 anos, loira, linda e com um sorriso calmo em minha direção.

— Olá senhorita Williams, sente-se por favor – disse cordialmente. Sentei cumprimentando rapidamente. – sou Kate Edwards. Essa é a empresa da minha família. A vaga é para secretária do CEO, que é meu irmão. O nome dele é Christopher. – assenti para mostrar que entendia e que ela podia continuar. – vi seu currículo e achei muito interessante. É bastante coisas para alguém com apenas 24 anos.

Entendia. Ela acreditava ter informações erradas ou falsas ali. Não tinha.

— Srta. Edwards, todas as informações que estão naquele papel são verdadeiras, eu garanto. – falei calmamente temendo que ela achasse a forma que eu falei, ofensivo. Eu sempre tive muita curiosidade, gostava de aprender as coisas. Com 12 anos eu já falava o inglês e o espanhol, agora adulta, inglês, espanhol e francês.
—Cierto señorita, me disculpe la prueba. Tengo que confirmar la información (Certo senhorita, me desculpe o teste. Tenho que confirmar as informações). – sorri assentindo, eu adorava isso.

— Sin problemas, me gustan estas pruebas, me parece divertido (sem problemas, eu gosto desses testes, acho divertido) – falo enquanto fico vermelha. Escuto ela dar uma risada gostosa e negar com a cabeça.

— Não vai ter como te testar com o francês já que não falo a língua, vou ter que confiar em você. – Falou divertida, assenti sorrindo, me sentia mais a vontade, nada de arrogante e superior. Estava feliz por minha entrevistadora não ser uma pessoa ruim.

— Pode confiar sem problema Srta. – respondi meio envergonhada. Ouvi um suspiro e ela parecia pensativa. Senti o gelo no estômago.

— Olha, vou ser sincera com você. Gostei da Srta. Você tem potencial e bastante personalidade, mas o meu irmão não para com uma secretária. Ele é autoritário, arrogante e frio. Ninguém dura muito tempo trabalhando com ele. Ou ele demite, ou elas se demitem. – sussurrou parecendo cansada. – consegue entender onde quero chegar? Estou disposta a te contratar, mas precisa estar ciente de na onde você está se metendo. E se aceitar, já sabe que vai estar lidando com alguém difícil. – assenti com a cabeça. Parece que eu nunca consigo fugir dos homens estúpidos. Mas eu preciso de um emprego, e se pra isso tenho que lidar com um ser humano que se acha o dono do mundo, bom, que assim seja.

— Olha, convivo com pessoas difíceis minha vida toda, eu posso fazer isso. Tenho certeza que vai ser difícil, mas nada me impede de pelo menos tentar. – tentei ser confiante. Não sei se deu certo, mas vi o sorriso dela se alargar. E eu sabia que eu tinha um emprego.

 


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Notas finais do capítulo

Recomendo vocês a escutarem a música citada no elevador, com legenda, é realmente maravilhosa. Espero que gostem e até a próxima.



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