Nico sentia como se toda sua pele estivesse latejando.

Há tempos ele não ficava tantos dias sem ferir a si mesmo.

Bianca havia ido embora no dia anterior. Nico sentia falta dela.

Estava respirando com dificuldade quando desceu as escadas. Ele esteve coçando as cicatrizes mais cedo, tentando fazer com que sangrassem, mas não adiantava.

Precisava sentir dor. Qualquer coisa. Só precisava. Daria alguns segundos de silêncio para sua mente. Alguns segundos em que não pensaria em nada.

Andou com pressa até a cozinha. Abriu as gavetas.

Então, o desespero.

Não havia mais facas na gaveta, nem nada pontiagudo.

Merda, merda, merda.

Hades tinha tirado do alcance dele qualquer coisa que pudesse usar.

Nico sentiu uma pontada no coração, como uma necessidade. Não sabia o que fazer, só sabia que precisava.

Alguma coisa em sua cabeça disse você é tão inútil que nem pra se machucar serve.

Outra disse você não precisa de nada, pode fazer sozinho.

O que causa dor?

Nico mordeu o lábio enquanto pensava.

É isso.

Ele se apoiou na mesa da cozinha. Mordeu com mais força ainda. De novo, de novo e de novo. Sangue pingou em sua frente. Seus dedos estavam apertando a borda da mesa. Suas bochechas estavam molhadas, mas é porque ele esteve chorando mais cedo.

Agora, não sentia nada. A dor estava em todo lugar, o que era bom.

Como ter um orgasmo.

Você não pensa em nada quando tem um orgasmo, apenas aproveita o momento.

Nico não percebeu que o pai estava ali até que o homem o empurrou e começou a gritar que ele parasse com aquilo.

O sangue de Nico se misturou com a água salgada de suas lágrimas.

Naquela noite, Nico dormiu com a ajuda de algum remédio enquanto murmurava me desculpa para o próprio pai.