O Raio e a Luz escrita por Marina Andrade


Capítulo 2
Capítulo 2 - Acomodações


Notas iniciais do capítulo

Nesta fanfic estarei sempre alternando entre o ponto de vista dos personagens, espero que gostem! Bjos



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*Hermione POV*

Monitora Chefe de Hogwarts. Hermione pensou enquanto caminhava pelos corredores do castelo ao lado de Harry. Os dois estavam seguindo McGonagall para suas novas acomodações como monitores. Hermione não conseguia parar de sorrir. Ela não podia negar que ao longo do quinto e sexto ano em Hogwarts ela tinha cogitado a possibilidade de se tornar Monitora Chefe, considerando que tinha as melhores notas da escola, e ter conseguido o cargo, principalmente junto com Harry, era a melhor coisa que ela conseguia imaginar.

Harry James Potter. Seu melhor amigo. E nada mais. Hermione ressaltou mentalmente. Ela suspirou profundamente, sua mente vagando pelos acontecimentos dos últimos meses.

Hermione tinha amado Rony por mais tempo do que era capaz de calcular. Tinha começado como uma atração no segundo ano, depois que ela saiu do estado de petrificação no qual tinha passado semanas. O sentimento cresceu no terceiro ano, especialmente quando Rony a defendeu de Malfoy quando ele a chamou de sangue-ruim. Sangue-ruim. Uma ofensa que hoje não significava nada para ela, não depois do que ela tinha passado durante a guerra. Por mais que a expressão estivesse cravada permanentemente em seu antebraço, presente de Belatrix Lestrange.

Ao longo do quarto e quinto ano tinha ficado evidente para ela – e, provavelmente, para metade de Hogwarts – que ela amava Rony Weasley. Mas ele não a tinha convidado para o Baile do Torneio Tribruxo, o que tinha feito com que Hermione desenvolvesse um relacionamento breve com Victor Krum, nem tinha tentado nada com ela ao longo do quinto ano. O sexto ano tinha sido o pior de Hermione em Hogwarts. Não apenas pela ameaça constante de Voldemort invadir a escola a qualquer momento, mas também pela cena que partiu seu coração depois de uma partida de Quadribol que Hermione desejava mais do que tudo não ter assistido. Lilá Brown. Nada havia a magoado mais do que o momento em que Rony e Lilá tinham se beijado em frente a praticamente todos do salão comunal da Grifinória.

O amor e a atração que ela sentia por Rony tinham resistido até mesmo ao relacionamento entre Rony e a loira de cabelos cacheados. Eventualmente, o relacionamento deles acabou, e Hermione imaginou que esse seria o momento em que ficariam juntos. Mas não foi bem o que aconteceu. Nem mesmo quando eles passaram meses só ela, Rony e Harry em uma cabana, enfrentando o perigo da morte a todo o momento. Até o dia em que ele decidiu abandoná-los. No momento em que ele deixou Hermione e Harry sozinhos, algo dentro de Hermione mudou. Como uma súbita compreensão que a tomou por completo, de corpo e alma.

Ron havia a deixado em meio à guerra. Mesmo sabendo que poderia nunca mais vê-la, nem ver Harry, seu melhor amigo. Mesmo sabendo como ela se sentia por ele, pois era mais do que evidente. Ele havia a deixado no momento em que ela mais precisava dele. Isso não era amor. Naquele momento ela sentiu que não era mais capaz de amar Ronald Weasley. Era simplesmente impossível.

Nos primeiros dias ela chorou inconsolavelmente, por infinitos motivos. Pela imensa preocupação que sentia com Rony, não sabendo se ele havia chegado bem à Toca, nem sequer se ele estava vivo. Ao mesmo tempo, pela raiva que sentia dele por ele ter a deixado, a ela e a Harry. Pelo fato de que, sem Rony, ela era tudo que Harry tinha, e ela temia não ser boa o suficiente para protegê-lo de todo o imenso mal que os cercava. Hermione chorou pelo medo da morte, pelo medo de que algo acontecesse a Harry, pelo medo de ouvir o nome de alguém conhecido na lista de falecidos que o rádio noticiava todos os dias. Hermione chorou de saudade dos pais, imaginando se apaga-la da memória deles tinha sido o suficiente para garantir que estivessem seguros.

E, por mais que soubesse que esse era um motivo egoísta e fútil comparado aos demais, Hermione chorou por sentir que tinha investido tempo demais num relacionamento platônico. Ela imaginava, com certo pesar, em como poderia ter feito um esforço para esquecer Rony e, quem sabe, ter amado outra pessoa nos anos em que o furacão da guerra ainda não tinha passado por sua vida. Se tivesse feito isso, talvez tivesse vivido um grande amor antes de morrer. Naquela época, Hermione estava convicta de que eventualmente Voldemort os encontraria, e ela estava disposta a morrer por Harry.

Eventualmente, Hermione parou de chorar e se adaptou com sua nova realidade. Eram só ela, Harry e a impossível missão de encontrar e destruir horcruxes. As semanas que ela passara com Harry tinham feito com que ela admirasse e amasse o amigo ainda mais. Ele parecia tão preocupado com ela, sempre tão carinhoso, enquanto ela é quem deveria se preocupar com ele.

Estar com Harry a sós era fácil, natural. Semelhante ao que eles tinham passado no terceiro ano, quando Rony estava internado na enfermaria e ela e Harry tiveram que usar o Vira-Tempo para resgatar Sirius. Eles tinham uma confidencialidade inexplicável um com o outro. Nas semanas que passaram a sós na cabana, unidos sob quaisquer dificuldades, Hermione não pôde deixar de associar o que ela e Harry tinham com um relacionamento como o de um casal casado há décadas. Na riqueza e na pobreza. Na saúde e na doença. Essas sentenças pareciam fazer sentido quando se referiam a união que eles vivenciaram naquelas semanas. Até que a morte nos separe. Harry era realmente uma pessoa maravilhosa, e seu melhor amigo.

Pelo menos era assim que Hermione o enxergava até o dia em que Harry a puxou para dançar quando uma música trouxa começou a tocar no rádio. Ela não tinha entendido a princípio o que ele queria fazer, estendo suas mãos para ela, a puxando para que se levantasse e ficasse perto de si. Mas por alguma razão, quando Hermione pegou nas mãos de Harry e eles começaram a dançar, ela sentiu um calor invadir seu coração. Eles dançaram até o final da música, rindo e se sentindo verdadeiramente felizes por alguns minutos em meio ao caos. E esses minutos mexeram com Hermione mais do que ela gostaria de admitir.

Ela tinha observado, com olhos diferentes pela primeira vez, o homem que Harry havia se tornado. Alto, com a barba por fazer e com olhos verdes que pareciam olhar profundamente dentro de sua alma. Ela sentiu uma onda de eletricidade percorrer sua espinha quando pararam de dançar, e seus olhos desviaram dos de Harry para seus lábios por um breve momento. Ela queria beijá-lo. Mas não seria certo. Ele amava Gina, sua melhor amiga. Ela havia se afastado dele com dificuldade, tentando convencer a si mesma de que o que tinha sentido era mera consequência da quantidade de tempo que ela e Harry estavam passando juntos. Só isso.

Mas o que sentiu por Harry naquele momento não parecia sair de sua mente. Nem mesmo quando Rony voltou à cabana, guiado pelo desiluminador que Dumbledore havia deixado para ele de presente. Hermione percebeu, do momento em que Rony voltou a cabana até o final da guerra, que seus sentimentos por Rony realmente haviam sumido. Ela havia voltado a considera-lo como um amigo, e estava feliz e em paz com a ideia.

Só faltava agora convencer sua própria mente de que Harry também era só seu amigo, e nada mais. Mas isso se mostrou uma tarefa mais difícil do que ela imaginou. Depois de algum tempo perseguindo horcruxes, Hermione havia chegado à dolorosa conclusão de que Harry poderia ser uma horcrux, e ela era incapaz de imaginar seu mundo sem Harry.

Durante a guerra, enquanto corria pelos corredores de Hogwarts sentindo mais medo do que nunca em sua vida, Hermione decidiu procurar Harry, dizer como se sentia em relação a ele. Mas quando o encontrou, ele estava beijando Gina na escada, se despedindo dela. Gina era o amor da vida de Harry, e não era justo que ela interferisse nisso. Antes de ir até Voldemort, Harry havia se despedido dela e de Ron.

“- Eu vou com você.” Hermione tinha dito quando se despediram. Ela pensou que nunca mais fosse vê-lo. Mas a guerra tinha acabado e eles tinham vencido. Depois da guerra eles tinham ficado por cerca de um mês na Toca, mês no qual Rony, só Merlin sabe o porquê, tinha insistido na ideia de beijar Hermione. Gina e Harry pareciam bem focados na ideia de se beijarem também, Hermione percebeu, pegando os dois aos beijos algumas vezes em cantos escondidos da Toca. Hermione imaginava que eles tinham feito bem mais que se beijarem, considerando as noites em que Gina havia saído de fininho do quarto para se encontrar com Harry no porão da Toca.

Depois de várias investidas de Rony, ela tinha esclarecido com o ruivo que gostaria que fossem apenas amigos, ao que ele pareceu reagir bem. Quando Hermione já não aguentava mais assistir a Harry e Gina se agarrando, ela recebeu uma carta de Flitwick, a informando que havia encontrado seus pais. Aliviada, ela havia deixado a Toca e passado o restante das férias com seus pais em sua casa, em seu quarto. Ela dedicou o restante das férias a aceitar a ideia de que ela e Harry eram amigos, e que ele estava perfeitamente feliz com Gina, apesar de que por algum motivo estranho Harry havia convidado Hermione para ir com ele para sua nova casa passar o restante das férias, e não Gina.

Muito estranho.— Hermione relembrava curiosa.

— É aqui. – McGonagall disse, parando em frente a um quadro onde um bruxo grisalho e de vestes escuras bebia o que parecia ser vinho, sentado em uma cadeira de aspecto vitoriano. - Engorgio. – McGonagall disse a senha, e o quadro se abriu, relevando uma sala comunal pequena, onde Hermione avistou uma lareira cercada por um tapete e por alguns sofás e uma poltrona de veludo vermelho, uma mesa redonda com quatro cadeiras, alguns quadros de bruxos famosos e três portas de madeira escura e maçanetas douradas, uma ao lado da outra na parede oposta à da porta.

— A porta da esquerda é o seu quarto, Potter. – A diretora disse indicado a porta para Harry. – E a da direita, o seu, senhorita Granger. – A professora sorriu para Hermione, que ainda estava perdida admirando a sala. – Essa porta entre as duas é o banheiro de vocês. Vou deixar a critério dos dois colocarem ou não feitiços com senhas nas portas dos seus quartos. – Ela disse caminhando em direção à saída. – Bom, vou deixá-los à sós. Espero que gostem das acomodações. – Ela disse acenando com a cabeça para os grifinórios e saindo pela porta.

Assim que ela saiu, Hermione olhou para Harry, seus olhos castanhos se deparando com seus verdes por detrás dos óculos. Harry pegou na mão de Hermione e sorriu para ela. Hermione sorriu em resposta. Estava feliz em dividir esse lugar com Harry. Só tinha esperanças de que seu coração parasse de acelerar toda vez que eles estavam sozinhos.

Esse vai ser um ótimo ano.— Hermione pensou satisfeita.


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