O Diário de Sir William escrita por Andressa Becker


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥
Obrigada Lari por comentar no último capítulo,adorei ler o que você está achando!
Espero que gostem do capítulo ♥



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Margaret olhou para o vestido esticado sobre a sua cama e fez uma careta. O vestido era até bonito, lilás e todo rendado, somente alguém muito observadora como Margaret notaria que o tecido estava desgastado e os acabamentos não eram muito bem feitos, mas não era isso que a irritava, era o bilhete que veio junto com o vestido.

De William Davies. 

O nome dele era conhecido por todos, o jovem logo herdaria o condado do pai, o título era mais do que suficiente para atrair a atenção de todos, ainda mais das mães que queriam desesperadamente ver suas filhinhas casadas. Mas isso não era possível, já que aparentemente Margaret tinha sido prometida ao futuro Conde, o qual ela nem ao menos conhecia, o tão famoso Sir William nunca havia ficado mais do que alguns dias em Londres. Sua aparência era um mistério para todos, até Margaret tinha ficado interessada, até receber a proposta por meio de seus pais. Então não importava o quão bonito era o vestido, Margaret se enfurecia só de olhá-lo.

—Vou queimá-lo!-Ela esbravejou para total horror de sua mãe.

A viscondessa Walsh não entendia a filha, obviamente não havia motivos claros para recusar a proposta, levando em conta o título e a vida de luxo que ela levaria ao lado do Conde.

Claro, o que há de errado em se casar com um completo estranho por armação de meus pais? Até onde sei ele pode ter verrugas enormes ou ser um completo glutão mal educado!

—Margaret Walsh!-A viscondessa exclamou, olhando horrorizada para a filha. Harriet, uma das irmãs mais nova de Margaret, parecia em completo deleite com a conversa, olhava da jovem para a mãe fervilhando de interesse.-Esse casamento é uma bênção para você, um conde, Maggie! É mais do que poderíamos sonhar.

—Ele nem ao menos me pediu em casamento, foi o pai dele que arranjou tudo isso! Além disso ele tem a fama de ser um completo devasso, como pode me obrigar a casar com alguém que nem ao menos conheço?Eu nunca irei amá-lo!- A menina retrucou irritada, sentindo-se apenas levemente dramática demais, principalmente quando o rosto da viscondessa assumiu uma coloração pálida.

—Maggie, não diga uma coisa dessas, você sabe que eu e seu pai também nos casamos por intermédio de nossos pais e acabamos...

—Amando um ao outro, uma linda história de amor, mãe, eu sei. Mas nem todo mundo se apaixona assim!-Margaret exclamou exasperada e sua mãe suspirou.

—Não se preocupe Maggie, nem penfe na língua prefa que o lindiffimo conde Davief pofe ter, nem em como ele pofe fe parefer com um fapo.—Harriet ria enquanto a expressão de Margaret se contorcia em desgosto.

—Vou matá-la.

—Eu não a aconselharia a fazer isso, mas não sei se seria capaz de impedi-la-A viscondessa, Elizabeth, falou desgostosa e Margaret abriu um sorriso torto.-Não iremos obrigá-la a se casar com o futuro conde, jamais seríamos capazes de fazer algo assim, se você não quiser se casar com ele, não precisa.

—Ótimo. Eu não quero, o baile de hoje é um completo desperdício de tempo.-Margaret falou, decidida.

—Margaret, pelo menos dê uma chance para ele.-Elizabeth falou, exasperada.

—É Maffie, não esquefa de penfar nof lindof filhinhof que você e o Conde Davief poderiam ter juntinhof.—Harriet falou e fugiu rindo pela porta quando a própria viscondessa tentou sufocá-la com um travesseiro.

—Prometa dar uma chance para ele e se você afirmar de todo o coração para mim que não pode se casar com ele, eu e seu pai aceitaremos e não insistiremos mais.-Elizabeth pegou as mãos de Margaret e as apertou, a menina olhou para os grandes olhos verdes de sua mãe e suspirou.

—Não tenho a opção de me trancar no toalete o baile todo, tenho?

—A não ser que queira que as pessoas pensem que a comida que eu sirvo nos bailes é de péssima qualidade, não, não tem.-A viscondessa estreitou os olhos-Eu arrombarei a porta se for preciso.

—Céus! Por que eu preciso tanto casar? Só tenho 18 anos!

—E planeja se tornar uma solteirona?-Elizabeth perguntou estupefata.

—Não, claro que não, eu só quero conhecer o homem certo,a maioria das moças não precisam se desesperar até os 21 anos, mãe!

—Ah meu bem, eu só quero que você seja feliz.-Elizabeth envolveu Maggie em um abraço apertado,o que foi uma excelente estratégia para evitar que a menina retrucasse.

—Eu fei.-Ela murmurou distraída e praguejou internamente contra a irmã.
           *                         *                      *

—Não, não é ele. É apenas o Charles, e que péssima escolha de roupas, ele está parecendo um pinguim.-Lila comentou olhando por cima do ombro de Margaret, arrancando boas gargalhadas de Maggie e James que espiaram curiosos. De fato, o pobre Charles Johnson  estava muitíssimo parecido com um pinguim em seus trajes de gala, o nariz comprido e fino e a postura ansiosa o tempo todo contribuíam imensamente.

—Por que você está tão ansiosa? Do que adianta saber como o Conde é,se você está decidida a não se casar com ele?-James perguntou, curioso.

James Wright era um amigo de longa data de Maggie, assim como sua irmã Lila. Eles se conheceram e se afeiçoaram antes mesmo do garoto ir estudar em Eton.

—Eu preciso avaliá-lo antes de afirmar para os meus pais o pretendente deplorável que ele é.-Margaret resmungou e Lila riu.

—Mas ele tem a reputação de ser bem bonito e charmoso, Maggie.-A jovem ressaltou.

Margaret bufou.

—Assim como a de ser um libertino! Não quero que nossos filhos tenham que conviver com uma amante diferente a cada semana em nossa casa.

—"Nossos filhos" e "Nossa casa"?-James repetiu levantando uma sobrancelha-Já está pensando na sua vida com ele?E eu achando que o futuro conde não tinha chances!

—Fique quieto.-Maggie murmurou entre dentes, o que só serviu para fazer o garoto rir.

—Margaret, o seu noivo é lindíssimo!-Lila exclamou ainda espiando por cima do ombro da outra menina. Margaret se virou ansiosa enquanto retrucava:

—Ele não é meu noivo e...-Estava prestes a dizer que ele não era lindíssimo, mas teve de morder a língua e conter as palavras, pois era uma clara e inútil mentira. Sir William era dono de belos cachos castanhos e um par de adoráveis covinhas, que ele exibiu ao sorrir para a dúzia de mamães casamenteiras e suas filhas que o cercaram.-Ninguém tem o cabelo tão perfeito assim.-Ela retrucou baixinho.

O futuro conde ainda era agraciado com um porte físico excelente e uma altura considerável. Claramente não tinha verrugas enormes ou a aparência de um sapo, mas a língua presa ainda permanecia um mistério, que logo seria resolvido pois Sir William estava caminhando na direção deles com os olhos fixos em Margaret.

—Ainda dá tempo de fingir um ataque cardíaco.-James sussurrou e Maggie lhe lançou um olhar desesperado.

—É um prazer finalmente conhecê-la, senhorita Walsh.-Sir William falou, beijando a mão da garota que conteve a vontade de se retrair para longe. Ela não queria de maneira alguma planejar seu casamento com o futuro conde, por mais bonito que ele fosse, ainda não tinha sido escolha dela.

—Não sei se posso dizer o mesmo.-Ela murmurou entre dentes.

—Perdão?

—Claro que digo o mesmo.-A garota forçou um sorriso diante do olhar inquisidor do jovem.

—E quem é essa belíssima dama?-Ele perguntou, cumprimentando Lila, que ruborizou.

—Lila Wright, é um prazer conhecê-lo, Vossa Graça.-A garota respondeu de modo cortês-E esse é meu irmão, James Wright.

—Fico muito contente de conhecê-los.-William voltou os olhos para Margaret, que o fitava com um evidente interesse-Eu poderia conver...

Maggie chutou a canela de James o mais discretamente que conseguiu, o garoto abafou um gemido de dor e se virou para ela.

—Poderia me dar a honra dessa dança, Margaret?-Ele perguntou com um olhar acusatório e Maggie sorriu aliviada aceitando a mão estendida.

—Perdão, Sir William. Acho que teremos de conversar mais tarde, seria muito descortês da minha parte recusar essa dança.-Ela falou alegremente e se divertiu ao ver uma expressão de confusão passar pelo rosto do futuro conde, ele claramente não costumava ser interrompido ou recusado com muita frequência. 

James conduziu a garota para esperar a próxima valsa começar e deu um sorriso malicioso para ela.

—Não acredito que está gastando a sua ficha de dança comigo agora, ele nem havia falado nada estranho.-Ele disse se referindo ao fato de que a garota não poderia dançar com ele novamente, duas danças com o mesmo cavalheiro não seriam muito bem vistas pela sociedade.

—Ele ia me pedir para conversarmos a sós, entrei em pânico.-A menina sussurrou e James riu.

—Não te preocupa que Sir William agora pense que tenho algum interesse em você?-Ele perguntou a conduzindo para o meio do salão, a valsa estava começado.

—Depois de todo o trabalho que tivemos para convencer a minha mãe que não temos qualquer interesse um no outro, era só o que me faltava.-Margaret gemeu e viu os lábios de James se curvarem levemente para cima com divertimento.

A garota queria procurar Sir William com os olhos pelo salão, com sorte ele estaria cortejando qualquer outra moça, mas não pode, porque James era um dançarino extremamente distraído e a garota tinha que constantemente desviar das passadas do jovem.

—Isso é tão injusto, você é cinco anos mais velho que eu e ninguém te atormenta com a ideia de casamento.

—Eu não teria tanta certeza assim, é o segundo assunto favorito do meu pai, tirando o clássico "Como pôde abandonar os estudos?Você é a maior decepção da minha vida."-Ele retrucou e Margaret estremeceu.

—Lamento que ele continue a te chatear, todos deveriam apreciar as suas pinturas, são magníficas.-Ela confidenciou e o jovem sorriu. 

—Converse com o Sir William,ele não pode ser tão ruim.-Ele a incentivou e a garota deu de ombros num gesto de desistência, a menina não queria admitir que tinha medo de conversar com o futuro Conde e acabar gostando dele. Não que ela não quisesse se casar algum dia, era claro que ela queria, mas era pedir muito que fosse alguém que ela amava? Talvez fosse afinal.

A garota tinha recebido quatro propostas de casamento, duas delas eram até aceitáveis, eram homens agradáveis, mas a menina não conseguiu manter mais do que dois minutos de conversa com nenhum deles, e como era apenas sua primeira temporada e ela era razoavelmente bonita, com os famosos cachos loiros que todos de sua família-com exceção de Charlotte-tinham e os traços delicados, era plausível acreditar que receberia mais algumas propostas, então ela se permitiu recusar essas. 

—Ah,acho que vou me retirar, acabei de ver o meu pai.-James falou parecendo ligeiramente mais pálido, Maggie seguiu seu olhar e viu, de fato, o visconde Wright parado próximo a porta do salão, seus olhos inquisidores o percorrendo, provavelmente a procura do filho.

—Não pensei que ele apareceria no baile hoje-A menina lamentou-Se você for pela porta que dá para o jardim, só precisará seguir reto e encontrará o portão que os empregados usam para sair e entrar, ele não o notará.

—Obrigado Maggie, boa sorte com o futuro Conde.-O jovem disse,dando um beijo fraternal na testa da garota e seguindo rapidamente as instruções dela.

Com um suspiro Margaret se virou. Sentindo-se tentada a seguir o conselho de James, ela varreu o salão com os olhos a procura de Sir William, mas tudo o que encontrou foi sua mãe, que estava perto do barão Whitehalle, o pobre homem olhava para os lados procurando qualquer brecha para escapar da conversa, que Margaret percebeu com horror provavelmente seria sobre ela. A mãe da garota pareceu notar Maggie e começou a acenar freneticamente para a garota, que em desespero passou pelo visconde Wright e seguiu o caminho no corredor para o toalete feminino. No caminho a garota encontrou Charlotte, outra irmã dela dessa vez apenas dois anos mais nova que Margaret. Ao contrário de Maggie que possuía os cabelos loiros, Charlotte tinha cabelos castanho-claros e olhos verdes, divergentes dos castanhos de Margaret.

—O que você está fazendo aqui?-Margaret perguntou estreitando os olhos, Charlotte estava muito vermelha e parecia ofegante, mas mesmo assim conseguiu esboçar um sorriso inocente com bastante destreza.

—Ora irmã, o que fazem as mulheres no toalete?-Falou com um ar de fingida distração.

—Você está tramando alguma coisa.-Maggie acusou-Onde está Edward?

Edward era o gêmeo de Charlotte, os dois eram inseparáveis, era muito difícil vê-los separados e não tramando algo mesmo que por um minuto.

—Com certeza não está no toalete feminino.-Lottie ressaltou fazendo com que Maggie revirasse os olhos.

—Estou perdendo o meu tempo.

—Com certeza,deveria gastá-lo com o seu noivo bonitão.-Ela falou animada e Margaret emitiu um ruído engasgado.

—Ele não é bonito, quanto mais bonitão.-Mentiu com o máximo de dignidade possível.

—Meu Deus, Maggie, eu sempre soube que havia algo de errado com você, mas sempre pensei que fosse seu cérebro, não sua visão!-Charlotte exclamou afetada e Margaret conteve a vontade de estrangulá-la.

—Eu te dou trinta segundos para sair da minha frente antes que eu cometa um crime do qual não me arrependerei.-A menina resmungou e Charlotte riu, porém obedientemente desapareceu pelo corredor.

Ainda resmungando a menina andou de um lado para o outro sem saber o que fazer, a ida ao toalete tinha sido apenas uma fuga para não precisar ser apresentada a mais um jovem solteiro.

Céus, sua mãe era incansável, devia estar temendo a possibilidade da menina recusar a armação do pai de Sir William e voltar a se tornar uma jovem ainda solteira e sem perspectivas de se casar, o que era desesperante na visão da viscondessa Walsh.

—Ah,a senhorita está aqui.-Ela ouviu alguém dizer e se virou assustada, não esperava ser incomodada tão perto do toalete, se esquecera que uma sala privada para os cavalheiros fumarem ficava ali perto. Ela sentiu seu sangue gelar ao constatar que o dono da voz era nada menos que o bendito Sir William, que estava olhando para ela com uma evidente curiosidade.

—E-e-eu estou.-A menina se xingou mentalmente por parecer uma idiota, mas ele estava tão perto, e era tão inacreditavelmente bonito.-Sinto muito por não termos tido a oportunidade de conversar mais cedo.-Ela se desculpou sabendo que era isso que as cordialidades pediam. O garoto dispensou o pedido de desculpas dela com um aceno, ele a fitava com tanta intensidade que Margaret ruborizou.

—Eu só queria dizer que não precisa se preocupar.-Ele falou e Maggie o encarou confusa.

—Não preciso me preocupar com o que?

—Eu não tenho a mínima intenção de me casar com você.


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