Amor Young And Beautiful escrita por Felipe Melo


Capítulo 3
Capítulo Três


Notas iniciais do capítulo

Abel e James como sempre são opostos. Mas muita água está para rolar entre esses dois. Só observando.



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“You're no good for me
Baby you're no good for me
You're no good for me
But baby I want you, I want you”

— Você tá louco garoto? Bebeu alguma coisa foi? Você fugiu da realidade pra estar fazendo isso? - Abel continua me apertando contra o armário. Seus olhos azuis são desafiadores e a intensidade está ameaçadora. Quase como o mar revolto em uma tempestade.
— Louco? - ele da uma risada sadica, mas fico admirado com a beleza de sua risada, o timbre rouco e como ele parece feliz, mesmo fazendo merda - Me fala logo bixinha.
O modo como ele diz faz com que meu estômago se revire de ponta cabeça. Começo a sentir minha cabeça rodar, e sinto que lágrimas querem brotar dos meus olhos.
Sempre escutei xingamentos como esses das pessoas, e até me acostumei. Mas parece que as palavras vindas da boca dele, me machucam mais do que qualquer uma. Não sei explicar. Mesmo assim, mantenho minha postura, e encaro seus rosto.
— Eu sou - é tudo que consigo dizer com a voz embargada - você está feliz? Isso vai mudar algo na sua vida? Vai deixar sua heterossexualidade mais forte saber que eu sou gay? Ou você vai me espancar e me deixar sangrando aqui?
Sinto que seu braço enfim me solta, e ele chuta o armário do outro lado. Mais um que vai ficar amassado. Ele passa as mãos pelos cabelos, e abaixa a cabeça.
— Alguém já espancou você James? - disse ele se sentando no banco de costas pra mim e abaixando a cabeça - me diz...
— Não - digo por fim me virando para o meu armário e tirando e roupa de natação - mas achei que fosse fazer.
— Não espanco as pessoas moleque.
— Mas poderia ter feito. Você chegou apenas há algumas horas e já está causando vários problemas. Você me odeia não é? Sempre me irritando, sabendo que não falo com as pessoas...
Não obtenho resposta, apenas um longo suspiro e uma risada:
— Eu não sabia que você não falava com ninguém. Simplesmente sentei aonde estava vago.
— Você mente muito mal - digo por fim - havia alguns lugares vagos do lado de Jessica.
— Eu odeio sentar perto de gente barulhenta - diz ele sorrindo - então sentei aonde o silêncio reina. Do seu lado...
— Me trazendo problemas, é o que você quer dizer - digo por fim pronto para sair dali - sei que você não me conhece Abel, mas por favor não me cause mais problemas com esse povo...Demorei muito tempo para estar em paz aqui. É o último ano, não quero passar pelo que passei de novo.
— Porque você não os enfrenta? - diz ele se levantando e me encarando.
— Por que você não cuida sua vida caralho? - fuzilo ele com os olhos - você pode me fazer o favor de sumir? De me irritar? Por que pergunta coisas se sabe que não vou responder? Você não é meu amigo, não é meu colega e jamais será alguém que eu vou compartilhar as coisas.
Seus olhos perdem a intensidade e sua feição parece mais calma, mas por poucos segundo, pq ele chuta o armário novamente.
— Eu posso sentar onde eu quiser seu viadinho - ele me olha e sorri de lado - senti que tinha sentar perto de você, e se eu quiser... Continuo sentando ali.
— Faça o que você quiser - digo pra ele - só não diga que não avisei você.
Pego minha roupa e me preparo para sair, para me trocar em outro lugar, e ouço seu assobio atrás de mim.
— Você que não sabe aonde se meteu seu idiota...

*

— Demorou James - diz o professor Adrian quando entro no ginásio - aconteceu alguma coisa? Você está pálido.
— Não professor - digo e pego uma toalha - apenas cansaço mesmo. A aula de História e Ciências Sociais foi muito desgastante.
Jogo a toalha no chão mesmo e pulo na piscina. A água fria faz com que eu me arrepiei inteiro, mas é a melhor sensação que meu corpo pode ter. Começo o nado de peito e minha cabeça fica limpa de todos os pensamentos que envolviam Abel. O que tinha para resolver com ele já foi resolvido, e não havia nada mais que eu pudesse fazer em relação a isso.
Enquanto retorno para fazer o nado borboleta sinto uma forte pressão na água, como nunca senti antes, mas continuo prosseguindo meu percurso. Mas há algo estranho, cada vez que sinto que estou chegando parece mais longe, sinto um aperto no peito e de repente sinto que minhas pernas e braços não estão mais me obedecendo, começo a afundar... vejo bolhas subirem, gritos ao meu redor, e de repente tudo acaba em azul.

Ouço ruídos mas não comando identificar de onde o som vem. Sinto um aperto no peito, e de repente sinto que meu corpo é levado para frente, de forma involuntária e começo a tossir. Meus olhos começam arder, e de repente sinto que estou colocando água pra fora. Muita água. Por fim consigo abrir uns olhos, e só vejo a enfermaria da escola e um balde na minha frente.
Caralho, - penso comigo mesmo. Meu peito está doendo muito.
— Você está bem? - a voz de Abel me desperta das minhas tosses e de repente a névoa na minha cabeça se dissipa.
— O que aconteceu? - é tudo o que consigo dizer.
— Você teve câimbras na água, e começou a se debater como um louco...
— Câimbras? - não me lembrava da sensação de dor em alguma parte do corpo.
— Sim...então eu pulei na piscina e salvei você.
Ficamos mais uma vez em um silêncio desconfortável. E sinto que pelo menos dessa vez, não preciso armar uma barreira para me defender.
— Obrigado - parece fácil demais tratá-lo bem - não esperava que fosse fazer isso...
— Por que você foi um idiota comigo? - diz ele sorrindo - eu perdoou você.
— Para de ser palhaço - digo jogando o travesseiro nele - você não tinha que ter feito aquilo.
Ele se aproxima de mim, e se senta no lado esquerdo da maca.
— Não sou uma pessoa ruim James - ele olha para as mãos contemplativo - você precisa entender isso.
— Posso ter sido muito grosso com você - digo olhando para ele - mas você não sabe que falando comigo me arranja problemas...
— Por que você é gay? - diz ele me fitando intensamente com seus olhos azuis - eu não me importo com sexualidade alheia...
— Você não - o interrompo e olho pra baixo, assim é mais fácil de dizer, sem ter que encara-lo - mas Jessica e seus amigos sim.
— James - diz ele me cortando - por que você não deixa que ninguém se aproxime de você?
— Isso já está indo longe demais - digo me levantando - eu agradeço demais você ter me salvado e te peço desculpas, mas não podemos ser amigos.
O silêncio é cortante, e eu continuo olhando as janelas para não ter que encara-ló.
— Não é você que escolhe isso - diz ele por fim - eu ainda vou continuar sentado ao seu lado.
— Por mim tudo bem - digo olhando pra ele - mas não podemos ser amigos, eu não vou dirigir a palavra você...
Ele soca a parede tão rapidamente que meus olhos não conseguem acompanhar.
— Você que sabe - ele diz andando até a porta - mas você sabe que isso não é o certo.

*

Eu caminho em direção para casa, e minha mente não para de pensar nas palavras de Abel. Hoje tinha sido um dia movimentado, e ele enfim estava conseguindo se destacar por tanta confusão, e por ser um tremendo idiota.
Eu queria muito ignora-lo mas não sabia porque não conseguia. Parecia que cada fibra do meu ser gostava da sensação e da voz rouca dele, causando arrepios na minha pele. Isso não estava certo, e não era certo.
Pego meu iPhone procurando o álbum Born to Die da Lana del Rey no Spotify. Ultimamente ela vem sendo a minha cantora favorita. Amo o modo como ela escreve suas músicas, e sua voz é tão arrebatadora, que até esqueço dos meus problemas.
Ao som de Vídeo Games, sou embalado por Lana e seu amor arrebatador. Dizendo que a terra é apenas o lugar sem o amado.


— Como foi o dia de hoje docinho? - pergunta minha avó assim que entro em casa - Já fiquei sabendo do novato.
— ELE É UM IDIOTA - grito pra minha avó da sala - isso é tudo que a senhora precisa saber.
— Não seja tão cruel James - diz ela - aonde você vai que não vem nem me dar um beijo?
Corro até a cozinha, e abraço minha avó tagarela.
— É sério vó - digo dando um beijo em sua cabeça - ele é um babaca.
— Você deveria fazer amizade com ele - diz ela pegando minhas mãos e alisando - faz muito tempo que você anda isolado James. Isso me preocupa.
— Voce sabe que eu fiz um acordo com as pessoas da escola - digo sorrindo pra ela, odiava vê-lá preocupada - eles não me enchem o saco assim, e eu também não sei mais fazer amizade. Pense em mim como uma pessoa antissocial....
— Você é um cretino - diz ela me dando dois tapas nas mãos, já sei que vão ficar roxas - não importa se você é gay ou não James. As pessoa já sabem disso, e eu não deixaria que ninguém desrespeitasse você.
— Não é só por isso - saio da mira dela antes que me acerte outra colher de pau - eu não sei fazer amizades mais...Me acostumei a ser sozinho.
— Para de ser idiota - diz ela colocando a panela no fogo com tanta força, que achei que fosse explodir - você é tão jovem e tão bonito. Tem um cabelo encaracolado lindo, olhos castanhos, um corpo maravilhosa...tá boiando demais meu neto.
— Déa - digo dando risada - desde quando você usa o termo boiar? Você sabe o que significa pelo menos?
— Cala a boca seu palhaço - diz ela sorrindo- eu uso desde quando você decidiu ser idiota.


Meu quarto é preto. Na realidade parece mais a caverna do Batman de tão escuro que é. E quando o entardecer chega, parece ainda mais escuro do que já é. E eu amo a sensação do escuro. Me trás mais paz do que se fosse muito claro ou azulado.
— É maravilhoso - digo pra mim depois que tiro a camisa. Amava a sensação de vento na minha pele. Na realidade por mim, andaria sem camisa para todos os lugares, odeio coisas que me apertem.
Me esparramo na cama e pego minha bolsa velha e surrada do exército, e me deparo com meu caderno surrado aberto e cheio de papéis.
Abro rapidamente achando que alguém mexeu enquanto eu estava fora na enfermaria, mas vejo que são só minha anotações saindo do lugar. Até que um papel preto cai do caderno...
— Isso é bem estranho - digo pra mim mesmo - que porra é essa aqui? Eu não tenho caderno com páginas pretas...Na real nunca vi um caderno com folhas pretas.
Quando abro o papel me deparo com uma caligrafia redonda e muito bem desenhado, a melodia da letra escrita me vem à mente, e os arrepios não param pelo meu corpo.

“Ouvi você mais cedo escutando Lana del Rey, então essa é uma das minhas musicas favoritas, espero que entenda o recado, e não fique bravo comigo”

“Eu disse que não importa o que você fez
Eu estaria ao seu lado
Porque eu sou para o que der e vier
Não importa se você cair ou voar
Dane-se, pelo menos você tentou”

Ass : Abel o palhaço


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