Ele sempre foi um pouco desacreditado. Um sem fé, como diriam os seus amigos mais próximos. Não era surpresa para ninguém que alguém com aquele temperamento forte e comportamento duvidoso não acreditasse no amor. Na verdade, sequer pensava sobre isso.

Estava caminhando pela cidade enquanto mexia em seu celular, distraído. Sua melhor amiga insistia em querer fazer uma festa surpresa para o namorado dela, Gray, em uma cafeteria nos arredores da cidade. Gajeel nunca gostara de festas, mas, embora odiasse ter que admitir, apreciava a companhia dos seus amigos e, justamente por isso, decidira dar meia volta para encontrar a maldita cafeteria. Ao virar-se, prestes a mudar de rumo, acabou esbarrando em uma garota pequenina, cujo rosto jamais havia visto anteriormente.

A menina parecia sem fôlego, a respiração ofegante e as bochechas levemente avermelhadas demonstravam o quão apressada ela estava. Ainda assim, ela se virou, indecisa entre continuar a correr e parar para falar com o rapaz. Em um ato repentino, a garota murmurou um breve "Eu sinto muito" e continuou a correr, retirando de Gajeel qualquer mínima chance de resposta.

Ela correu, desajeitada, com um sorriso radiante em seus lábios enquanto acenava igualmente sem jeito para o desconhecido. O rapaz só tivera tempo de assimilar os fios de cabelo azulados e bagunçados, as bochechas avermelhadas e a respiração ofegante. Ah, e o sorriso. Aquele belo sorriso inesperado que fora capaz de iluminar a tarde de um homem mal humorado e extremamente carrancudo. O sorriso de uma desconhecida que ele provavelmente jamais veria novamente.

Foco. Ele precisava de foco. Em que momento o havia perdido? Gajeel não deixava-se distrair por coisas tão banais. Estava surpreso consigo mesmo. Ele passou as mãos pelos longos cabelos negros e suspirou.

O homem retomou sua caminhada para a cafeteria. Não demorou muito para chegar e encontrar os seus amigos reunidos em uma enorme mesa com um bolo no centro e várias bebidas distribuídas. Quando chegou, foi abordado por Natsu, um menino de cabelos rosados, em uma tentativa mal sucedida de dar-lhe um susto, o que rendeu uma série de gargalhadas entre os seus colegas.

Gajeel sentou-se ao lado de Natsu e de Juvia e resmungou bastante quando ambos fizeram um complô para colocar um chapéu de aniversário na sua cabeça. Reclamou ainda mais ao ver sua melhor amiga e o namorado trocando carícias propositalmente ao seu lado. Eles sabiam bem que o rapaz ficava facilmente incomodado com demonstrações de afeto e não fazia esforço nenhum em esconder isso. Isso sempre rendia boas risadas aos seus amigos.

Quando ouviu Natsu gritar por Lucy, que estava adentrando a cafeteria, seu olhar rapidamente voltou-se para a loira que caminhava acompanhada. Ele quase cuspiu o café que tomava quando viu o familiar cabelo azulado de cerca de quarenta minutos atrás, com o mesmo sorriso radiante presente em seus lábios. Céus, qual era a probabilidade daquilo acontecer? Reencontrar a desconhecida em meio aos seus amigos. Assustou-se ainda mais quando viu Natsu cumprimentá-la como se fosse uma velha amiga, tal como Erza e Gray.

— Quem é ela? — Perguntou ao amigo de cabelo rosado assim que ele sentou-se novamente ao seu lado. Ainda que estivesse curioso, esforçou-se ao máximo para fingir certo desinteresse.

— Ah, ela é uma velha amiga nossa. — O amigo respondeu, sorridente. — Ela se mudou pouco antes de você e a Juvia virem morar na cidade, nos conhecemos desde criança. Parece que ela está de volta.

Natsu parecia feliz ao dizer cada uma daquelas palavras, mas não era surpresa, ele sempre fora extremamente ligado aos seus amigos.

— Ei, senta aqui! — O rapaz chamou a velha amiga, animado. — Você já contou coisas demais para a Lucy, eu quero saber as novidades também!

O rosado levantou-se para colocar uma cadeira vazia entre ele e Gajeel, apontando para que a pequenina se sentasse ao seu lado. Ela caminhou lentamente, ainda um pouco confusa e sentou-se com certa calma. Quando virou o rosto para ajeitar os fios de cabelo levemente bagunçados, avistou um rosto familiar cheio de piercings, não pôde evitar em sorrir.

— Você é o garoto de hoje mais cedo! — Ela falou, apontando para ele. — Eu sou uma desastrada, eu sinto muito. — Disse, um pouco sem jeito.

Gajeel estava surpreso dela ter lembrado dele. Tudo bem, um homem jovem com inúmeros piercings no rosto, cabelo comprido e cara de poucos amigos, de fato, era uma figura marcante ou, no mínimo, diferenciada, mas, de qualquer maneira, não esperava por aquilo. Antes que sequer pensasse em palavras adequadas para respondê-la, a pequenina retomou a fala.

— Eu sou a Levy. — Estendeu a mão direita para o rapaz. — Levy McGarden.

— Gajeel Redfox. — Ele respondeu, apertando a mão delicada dela.

Levy McGarden. Então aquele era o nome das bochechas rosadas, da respiração ofegante, do cabelo azul e do sorriso radiante que o desconcertara na primeira oportunidade.