Ben E O Paraíso escrita por fckfic


Capítulo 8
Transparente verdade


Notas iniciais do capítulo

E aí, paradisers? Aviso para se prepararem porque eu capítulo contém surpresas. Boa leitura!



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Senti uma mão me cutucar e abri os olhos apressado, com o coração batendo como se eu estivesse correndo de alguém que queria me matar. Encontrei os olhos de Felipe que me analisava cauteloso, um olhar de quem sabia que eu escondia algo.

Será possível ele saber? Talvez eu seja transparente demais. Ou provavelmente ele me conhece tão bem que já previu isso antes mesmo de acontecer. Não, eu estou sendo paranoico. Não há como ele saber o que aconteceu. É um segredo meu e do Ari e que ficará guardado num limbo até a morte e além dela.

— A aula já acabou. Você dormiu legal, ein?!

Olhei em volta e percebi que a sala já estava vazia. Não me lembro bem do momento em que dormi, mas lembro que não conseguia prestar atenção na aula e num momento acabei pondo a cabeça em cima dos meus braços cruzados na mesa e tentei me concentrar na voz do professor, mas ela foi ficando cada vez mais distante, até que não ouvi mais nada.

— Nossa. Nem eu sabia que tava com tanta sono assim. – Felipe se sentou na cadeira de frente pra mim.

— Aconteceu alguma coisa nesse fim de semana? – sim, eu transei com o seu crush. Mas não vamos falar sobre isso.

— Minha mãe apareceu de surpresa em casa. Ela percebeu que eu tava de ressaca e fez o maior show, me deu sermão e ameaçou não me bancar mais aqui. Eu tentei mudar o foco da conversa e contei pra ela que sou gay, aí ela chamou meu pai...

— Você fez o quê? Por que não me contou isso antes? Como foi? Tá tudo bem?

— Nós andamos estranhos um com outro, desde que... Você sabe. Bom, no início ela ficou em um silêncio total e eu morri do medo do que podia acontecer, criei mil teorias na minha cabeça e tudo. Depois, ela chamou meu pai e eles conversaram comigo. Me pediram desculpas por que já suspeitavam, mas nunca vieram conversar comigo sobre. Rolou um chororô, mas no fim terminou tudo bem. Acho que estamos até melhor antes.

— Que bom que tudo deu certo. Queria tanto que fosse assim com os meus pais, mas sei que não vai.

— Ah, não sei. Eu tinha tanto medo de ser rejeitado, mas acabei me surpreendendo. Eu sei que não é todo mundo que tem a sorte que eu tive, mas às vezes nós pensamos uma coisa e acontece outra.

— Meus pais são da igreja e sempre tentam me fazer voltar a frequentar. Eles não vão me aceitar, mas eu tento não pensar nisso. Você sabe o quanto foi difícil pra mim aceitar minha homossexualidade.

— Eu lembro do receio que você tinha de ficar com meninos quando chegou aqui. E você até se dizia hétero na primeira semana.

— Você nunca acreditou.

— Digamos que eu tenho um gaydar calibrado. – nós rimos. – Senti falta de conversar de verdade contigo. Brigar com você é uma merda.

— Pior pra mim né? Você pelo menos ainda tem a galera, mas eu fico sem ninguém do meu lado.

— Não é verdade. Eles são tão seus amigos quanto meus.

— Você sabe que não é bem assim. Você conheceu eles primeiro, você é mais próximo deles. Se uma dia nossa amizade acabar, é claro que eu vou ser o chutado.

— Mas isso não é algo a se preocupar, pois nossa amizade não vai acabar nunca.

— Eu espero. E sobre o Ari, eu já te disse que se você quiser ficar com ele, deve ficar. Você teria a mesma atitude se fosse o contrário.

— Talvez, mas não somos iguais. Você tem sentimentos por ele e se eu ficasse, mesmo que você se esforçasse, ainda ficaria chateado e magoado.

— Eu soube que foi ele que te levou pra casa sexta. Não rolou nada?

Ele sabia. Por isso tocou no assunto de novo. Por mais que ele diga que não ficará chateado, no momento em que eu contar, as coisas não serão as mesmas entre nós. Mas como eu posso mentir pra ele? Mesmo que eu diga que não, ele vai saber que estou mentindo. Isso será ainda pior.

— Desculpa, Lipe. – meus olhos já estavam cheios de lágrimas e um nó se formou em minha garganta. – Eu fiz algo muito ruim. Na sexta, o Ari me levou pra casa e eu beijei ele. Nós fomos até o final e... Me perdoa, eu sei que fodi com tudo e sou tipo, o pior amigo de todos, mas eu não quero perder a nossa amizade.

— Então vocês ficaram afinal.

— Essa foi a primeira vez. E a última.

— Por que não me contou? É por isso que estava me evitando?

— Eu tô muito arrependido e sei que o que eu fiz foi imperdoável. Eu não conseguiria falar com você sem me sentir culpado e é por isso que não contei de imediato sobre os meus pais e é por isso que mal olhei pra você quando entrei na sala. – eu não conseguia mais controlar o choro. O olhar de Felipe revelava uma mágoa. Eu já tinha tentado criar a sua face de decepção ao saber da minha traição, mas era muito pior ver em frente a mim.

— Não foi uma traição. Eu não tenho nada com o Ari.

— Você pode falar a verdade. Não precisa fingir que isso não te machucou, porque eu sei que errei e você também sabe disso. Você tem toda a razão em querer nem ver a minha cara mais.

— Eu queria poder ficar sem ver a sua cara mais.

— Eu entendo.

— Não, você não entende, Ben. Eu estou sim mal por você ter ficado com o Ari. Mas isso aconteceria se você tivesse ficado com qualquer outro também. Sabe por que? Porque eu me apaixonei por você.- meus olhos, mais pequenos que o normal devido ao choro, esbugalharam. Senti a perda de voz, pois não conseguia falar nada. – Eu tentei tanto ir contra isso, porque sei que ferraria com a nossa amizade, mas toda vez que íamos pra uma festa e você ficava com uns dez garotos, eu perdia o meu chão. Era muito difícil estar sempre tão perto de você e não poder dizer o que eu sinto porque sei que você não sente o mesmo. Eu fiquei com ciúmes quando o Ari me contou que queria ficar com você, mas tentei fingir que não era nada demais. Tentei fingir que não importaria se vocês ficassem, mas agora estou te contando toda a verdade porque não aguento mais guardar pra mim. Eu não tô com raiva por você ter ficado com Ari. Eu tô com ciúmes.

Eu queria poder dizer alguma coisa, mas não conseguia pensar no que seria a coisa certa a dizer. O que você faria se o seu melhor amigo se declarasse pra você? O meu medo era dizer algo que o magoasse ainda mais do que eu devo ter magoado ele por um bom tempo, mesmo sem saber. E como eu não soube? Como não percebi o que estava acontecendo? Eu sou um péssimo amigo mesmo.

— Preciso de um tempo pra descobrir como lidar com isso. Por favor, não me procure. Quando eu estiver melhor, eu mesmo te procuro.

— Há quanto tempo você sente isso? – perguntei quando finalmente recuperei minha fala.

— Uns quatro meses.

— Quatro meses. – repeti pra mim mesmo tentando procurar alguma evidência na minha cabeça.

— Não se culpe por isso. Sou eu que preciso desse tempo. Tchau, Ben! – Lipe saiu da sala antes mesmo que eu formulasse minha despedida.

O que tinha acabado de acontecer? Era pra ser tudo diferente. O Lipe ficaria com raiva, me xingaria de palavrões que nem existem e eu me desculparia, mesmo não tendo desculpa o que eu fiz. E aí o Lipe diria que nunca mais queria qualquer tipo de contato comigo e sairia da sala, enquanto eu chorava em vão.

Criei a coragem necessária e saí daquela sala. Passei no banheiro pra lavar o rosto e disfarçar um pouco a minha cara de choro. Meus olhos estavam vermelhos e não tinha como esconder que eu estive chorando. Saí do banheiro e fui a procura de alguém pra ir jantar comigo no RU (Restaurante Universitário).

Mandei uma mensagem no grupo que tenho com a galera, perguntando onde eles estavam. Alice respondeu que estava no palco, um lugar perto do RU, com Micaela. Fui até elas, que me olharam com dúvida quando cheguei.

— Por que essa cara? Aconteceu algo sério? – perguntou Alice.

— Depois eu explico. Eu tô com fome, vocês vão jantar agora?

— Nós vamos. – respondeu Micaela.

Fomos para o RU que nesse horário praticamente não tinha fila. Entramos, colocamos a comida no prato (incrivelmente era dia de lasanha) e procuramos uma mesa. Quando sentamos, resolvi falar de uma vez.

— Quando o Ari me levou pra casa na sexta, nós acabamos ficando.

— Pensei que você tivesse apagado. Você não estava bem.

— Seria melhor, Micaela. Eu não podia ter ficado com ele, mas não sei o que me deu. De repente eu senti essa vontade louca, era como se eu estivesse atraído pelo proibido.

— E por que o Ari é proibido? – perguntou Alice.

— Por que o Lipe gosta dele. Pelo menos era o que eu achava.

— Sério? Eu jurava que o Lipe gostava de você. – disse Micaela dando esse tapa na minha cara.

— É tudo tão confuso. O que acontece é que eu ia mentir pro Lipe sobre ter ficado com o Ari, mas acabei falando a verdade. E aí ele me diz que é apaixonado por mim.

— Sabia.

— E por que você nunca me contou isso, Micaela?

— Achei que fosse óbvio.

— Ah, eu não achava isso. Pra mim, vocês eram apenas amigos muito próximos e não via nada demais nisso. – falou Alice.

— O Lipe disse que precisava de um tempo pra aprender a lidar com isso. Eu jurava que ele ia me escorraçar por ter ficado com o Ari.

— Afinal, o que você sente pelo Ari? – perguntou Micaela.

— Nada. Sei lá. Ele é muito bonito, é legal. Eu me senti atraído.

— Se você pensava que ele era o crush do Felipe e mesmo assim ficou com ele, não é somente atração o que você deve sentir. – disse Alice.

— E o que mais poderia ser? Paixão não é. Eu mal penso nesse garoto. Foi uma coisa do momento. Eu senti que se não fizesse aquilo naquele instante, nunca mais ia ter a oportunidade. E de repente eu tava beijando ele e não conseguia parar.

— Vocês transaram? – afirmei com a cabeça. – Como foi?

— Foi bom, Alice. Muito bom. Ah, ele já deve ter transado com a universidade inteira, então tem experiência. Foi algo bom pra uma vez só, mas não compensa perder uma amizade por isso.

— Você precisou testar pra ver se compensava ou não.

— Para, Micaela. Eu já me julgo o suficiente por isso, tá bom?

— Só quero dizer que, por mais que você negue, há algo maior que atração aí. Pode não ser paixão, ainda, mas você precisa descobrir o que é.

— Vamos comer. É pra isso que estamos aqui. – falei e Micaela deu um risinho.

Às vezes eu odiava a sua falta de filtro. Mas era isso que fazia dela alguém tão legal. Talvez ela tenha razão, mas eu não quero pensar no que houve com o Ari. Não depois de ter dado um ponto final em algo que mal começou. Meu foco era o Felipe. Será que algum dia nossa amizade voltaria a ser a mesma de antes? Após acontecimentos bruscos, eu não tinha essa esperança.

Preferia a mentira. Seria mais fácil que nenhum de nós soubesse o segredo que o outro guardava. Minha cabeça só pensava em qual momento tudo mudou entre a gente e ele passou a me ver de maneira diferente. E quantas vezes eu havia o magoado ao ficar com outros em sua frente?

Truth is a bitch.


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Notas finais do capítulo

Truth is a bitch or not? Digam aí o que acharam desse capítulo.
Tenham um bom feriado e até a próxima semana!



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