Kurt escuta uma batida na porta e logo se levanta para atender, mas a porta se abre e ele visualiza Jane com a sua mala na mão entrando.

— Ei! – Kurt diz.

— Não vou deixar o Roman vencer.

— O que aconteceu? Está tudo bem? – Kurt pergunta.

— Não... – Jane diz.  – E pode não ficar bem por um tempo. Sei que você tem um histórico em ser desapontado pelas pessoas que ama. Seu pai, seu ex-parceiro, eu. Mas saber por que você mentiu sobre Avery não faz eu me sentir menos traída. E essa dor pode nunca ir embora. Mas tudo isso só fez eu me sentir tão solitária. Com medo de confiar em quem mais eu deveria acreditar. Você e Avery. E isso é exatamente o que o Roman quer. Não vou dar isso á ele. Por que quero confiar em Avery. Quero resolver isso com você. Quero o amor de volta na minha vida.

— Eu também.

Ver ele na sua frente com os olhos marejados e a voz entrecortada partiu o coração de Jane, mas não conseguia esquecer que estava desapontada e magoada profundamente com ele. Para todos os amigos deles, ela devia estar exagerando, mas só ela sabia o que realmente sentia com tudo isso. Kurt á magoou demais. Esconder que ele sabia que ela tinha uma filha e ainda por cima ele a havia “matado”, acabou com ela, criou uma ferida enorme em seu coração, que sangrava demais e doía demais. Apesar de eles terem descoberto que Avery estava viva, e a resgataram, não diminuía o sentimento de traição que ela sentia.

Não era assim tão fácil esquecer tudo que aconteceu. ele poderia ter contado quando eles se reencontraram mesmo que fosse difícil, pelo menos eles lidariam com aquilo juntos. Mas esconder dela fez esse segredo se tornar talvez a pior coisa que ele poderia ter feito na vida pra ela. Mas pensar na forma que tudo isso aconteceu, e como Roman está envolvido até o pescoço, fez ela perceber que eles caíram direitinho nos planos sórdidos de Roman. Que ele faria de tudo pra acabar com o casamento deles. E derrubar todos que interferiram em seus planos com Shepperd. Em destruir todos que afastaram sua irmã dele. E destruir a própria irmã que escolheu Kurt á ele.

Foi pensando em tudo isso que ela resolveu deixar os problemas com Kurt pra trás por alguns minutos e o abraçou. Imediatamente lágrimas escorreram de seus olhos. Jane sabia que ali era seu lugar, que ela pertencia á ele, ele era o seu ponto de partida, o amava demais. Que não importa quantas vezes eles se machucassem, sempre teriam um ao outro. Ela sentiu as batidas rápidas do coração dele, ele respirava fundo e rápido, parecia estar aliviado com aquele abraço. Apertava ela em seus braços e cheirava seu pescoço, seu cabelo, como se dependesse daquilo para viver.

 Ela se permitiu abraçá-lo um pouco mais forte, respirou fundo e se separou dele. Kurt secou rapidamente as lágrimas que também escorriam em seu rosto e sorriu.

— Obrigada, Jane.  – ele diz emocionado.

— Por quê? – Ela Pergunta.

— Por voltar pra casa... por voltar pra mim.

— Kurt.. – Ela fecha os olhos e balança a cabeça negativamente. – Eu voltei pra casa. Mas não pra você.

— Mas..

— Eu disse que quero resolver isso com você. Mas não é assim tão fácil pra mim.

Ele pega seu copo de bebida e virou tudo de uma vez, andando em direção ao sofá e sentando.

— Desculpa, Jane.. eu pensei .. que..

— Eu sei, mas como eu disse não é fácil pra mim.

— Tudo bem, o que importa é que pelo menos você voltou pra casa. – Ele sorri fraco.

— Você disse que eu podia ficar aqui lembra? – Ela diz, pegando um copo e colocando whisky.

— Sim, e também lembro que eu disse que eu podia ir pra um hotel, você quer que eu vá pra um hotel? – Ele pergunta triste.

— Claro que não Kurt, essa é sua casa e você é meu marido. – Ela diz virando o copo e tomando tudo de uma vez.

— Jane, eu só quero pode estar perto de você. Poder te dar apoio mesmo que eu tenha causado seu sofrimento.

— Eu sei, eu estou aqui justamente por saber que temos que apoiar um ao outro. E que parte dessa culpa é do Roman. Não vou dar esse gostinho pra ele de me ver infeliz, cansei de ser infeliz. Cansei de ser manipulada. – Ela desabafa.

— Você já comeu? – Ele pergunta mudando de assunto.

— Não. – Ela responde.

— Quer que eu prepare alguma coisa pra você?

— Não, eu sei me virar sozinha. – Ela dá a volta no balcão e abre a geladeira procurando algo pra comer.

— Tudo bem. – Ele levanta e vai em direção ao quarto tomar banho.

Quando ele volta pra sala ela está deitada no sofá dormindo. Ele senta no chão e vira de frente para ela, olhando para seu rosto sereno e lindo. Sua mão automaticamente tenta acariciá-la, mas lembra que não tem permissão pra isso, não quer acordá-la mas também não vai deixá-la dormir no sofá, ela é sua esposa essa casa é dela e o quarto é dela. Ele levanta do chão, pega Jane no colo e a leva pro quarto ajeitando-a na cama e a cobrindo. A observou mais um pouco, pegou um travesseiro e um lençol e voltou para sala deitando no sofá feliz por ela estar de volta á casa e ao mesmo tempo triste por não ter sua esposa de volta do jeito que queria, foi pensando nela que ele pegou no sono.

Kurt acordou no meio da noite com sede, levantou-se meio tonto e foi até a cozinha beber água. Voltando pro sofá escuta um barulho no quarto, seus instintos o acordam rapidamente e ele avança até o quarto, mas antes de entrar a ouve chorando baixinho. Aquilo corta seu coração, sente uma vontade louca de ir confortá-la, mas lembra que ela ainda quer distância então fica do lado de fora a ouvindo chorar, mas aquilo dói tanto nele que ele segue seus instintos e entra no quarto encontrando ela na cama agarrada ao travesseiro e chorando muito, seu rosto estava todo vermelho e os olhos inchados.

— Ei! Jane.. O que houve?

Ele pergunta se ajoelhando no chão ao lado da cama, fazendo carinho em seus cabelos desgrenhados. Jane chora ainda mais, balançando a cabeça negativamente.

— Kurt, sai daqui! – Ela diz entre o choro.

— Jane, se não quer falar pra mim o que esta acontecendo, tudo bem, mas não me peça pra sair por que eu não vou.

Ela não fala mais nada, mas continua chorando durante um tempo e ele continua fazendo carinho em seus cabelos e aos poucos ela vai parando de chorar, ela levanta a cabeça e encara ele que olhava pra ela com o semblante preocupado e triste.

— Eu estou bem, Kurt.

— Não me parece nada bem, Jane.

— Tive um pesadelo e acordei chorando foi só isso.

— Entendo, e sobre o que era o pesadelo?

— Não quero contar, só quero voltar a dormir. – Ela diz já se ajeitando na cama.

— Tudo bem, mas você sabe que pode conversar comigo Jane.

— Eu sei, só não quero falar.

— Está certo então. Vou voltar pra sala qualquer coisa me chama.

— Obrigada. Mas acho que não será preciso.

— Pare de bancar a durona Jane, eu te conheço. – Ele diz indo em direção á porta.

— Boa noite, Kurt. – Ela bufa.

— Boa noite, Jane. – Ele sorri e gira a maçaneta pra abrir a porta, mas Jane o chama e ele vira pra trás.

— Kurt? Antes de sair posso te fazer uma pergunta?

— Sim, tudo que você quiser. – ele responde.

— Onde está a minha aliança? – Ela pergunta de uma vez.

Kurt arregala os olhos surpreso com a pergunta, mas logo relaxa e sorri. Esperava que ela fosse perguntar qualquer coisa menos isso. Ele sorri fechando a porta novamente e indo em direção á cama. Acende a luz do abajur e aponta para o criado mudo na sua frente. Ela  visualiza sua aliança brilhante e sorri aliviada, a aliança estava ao seu lado e ela nem tinha percebido. Ele sorri ao perceber o alivio dela, mas fica intrigado pois a primeira coisa que fez ao sair de casa foi retirar a aliança do dedo.

— Não achei que você quisesse sua aliança de volta agora. – ele diz.

— Mas eu quero. – ela diz sorrindo. – Os dias que eu fiquei sem ela parecia que eu estava nua. – Ela confessa.

— Estou surpreso. – Ele diz.

— Kurt, quero deixar claro que voltei pra casa para tentar resolver nossos problemas. Mas eu preciso de tempo. – Ela diz colocando a aliança em seu dedo.

— E você terá Jane, todo o tempo que necessita.

— Obrigada, Kurt.

— Eu que agradeço Jane, por você voltar. – Ele diz feliz.

Ela vira para o lado se aconchegando na cama e dando as costas para ele que sorri mais uma vez e vai em direção a porta do quarto e sai, voltando para o sofá.