Uma luz verde saiu da ponta da varinha do meu padrinho e atingiu Dumbledore, ele cambaleou para trás, e caiu da torre de astronomia. Estava feito!
  Aquela cena se repetia na minha cabeça, estava orgulhosa do meu padrinho, mas não parei de pensar na consequência daquele ato, meu pai não deixaria passar em branco, meu coração acelerou, eu estava vulnerável diante daqueles comensais que começavam a me encarar. Pela primeira vez o pânico me atingiu e não consegui entrar na personagem; No meio de tantas pessoas que procurei uma única, novamente alguém segurou o meu braço e para a minha felicidade não era Draco.
  — Ela não está aqui — uma onda de alívio percorreu pelo meu corpo, e meu padrinho continuou a falar — e você precisa sair rápido daqui.
  Aquela frases me trouxe de volta, o tempo estava escasso era nítido pela preocupação de cada um ali, me afastei de Draco e comecei descer novamente aquela escada, o cheiro de sangue pairava no ar assim que passei pela barreira invisível, o enjoo rapidamente voltou, e apoiei a parede mais próxima tentando não me concentrar naquele cheiro.
  Respira, inspira, respira, inspira.
  No livro que tinha pego emprestado falava sobre respirar profundamente e inspirar, mas nada daquilo me ajudava no momento, tentei recorrer as minhas memórias sobre as próximas páginas, mas nada dizia sobre enjoos de cheiros. Livro inútil. Os gritos fizeram com que me colocasse em alerta, olhei mais a frente e vi o irmão mais velho do Weasley caído no chão com um ferimento grave no rosto, coloquei minha mão sobre a boca, e torci para que as pessoas estivessem ocupadas o suficiente para evitar de olhar para mim, tendo uma crise de enjoo justo no momento mais inoportuno da minha vida.
  No meio de um duelo eu me sentia tão perdida, não sabia ao certo o que fazer, existia uma ordem, vinda do meu pai, “Matar o Dumbledore”, mas era a única, os feitiços continuavam voando pelos ares, colorindo o mundo se não fosse algo tão prejudicial; Alguém esbarrou em mim tão forte, que acabei quase caindo se não fosse por Draco, desde quando ele estava ao meu lado? Voltei a respirar e inspirar, pelo menos me distraia do conflito.
  Escutei alguém me chamado, e procurei desesperadamente por aquela voz, vi a figura do meu padrinho no começo do corredor, e naquele instante percebi o quão grave era a situação, as pessoas ainda achavam que eu e Draco eram alunos confusos no duelo, enquanto Snape o professor que só se importava em nos ajudar, e por isso nenhum dos feitiços estavam indo em nossa direção. Corri até ele, mas no meio do percurso vi um comensal a ponto de lançar a maldição da morte na Weasley, nunca gostei dela, e eu poderia estar feliz com a possibilidade de uma a menos na minha vida; e pela primeira vez eu senti a empatia que tanto me faltava, e olhei para Draco, não em busca de compreensão mas sim por ele ser o amor da minha vida.
  Não foi preciso muito para que o corredor ficasse sobre a escuridão total, ambos os lados sem entender, o ar pesado se tornou frio, e as sombras novamente saíram de mim, dessa vez não foram ao Neville, o comensal se virou bem a tempo das sombras o levarem para longe, os gritos perturbadores escoaram até que o silêncio reinasse. Minhas mãos estavam limpas quando eu estralei os dedos e as sombras voltaram para mim, ágeis como um gato, e aproveite aquela confusão para sair do castelo, sei que meu cabelo colorido não passaria despercebido para alguns e me puni mentalmente por isso. Quando saí do lugar que antes eu amava, me senti leve e o enjoo já não andava junto comigo, uma primeira boa notícia.
  — Não olhe para trás Any — Draco avisou antes de voltar a correr.
  Eu precisava apenas de um banho quente e reconfortante, foi isso que me deu forças para continuar, cada lugar de Hogwarts me marcou de alguma forma, a época em que eu acreditava que todos os contos de fadas terminam felizes para sempre, mas meus planos foram por água abaixo, como que eu esconderia a gravidez do homem mais temido no mundo bruxo? Só na minha imaginação ingênua eu poderia viver com o Draco sem que houvesse interrupção, eu sei que valia a pena tentar, porém da última vez gerou marcas tão profundas em mim e nele, era para nos separamos, e esquecer o nosso passado, e para a infelicidade alheia tentamos mas eu vivo em mundo onde existe um Draco Malfoy e eu não consigo ao menos olhar para ele sem que me apaixone.
  Draco olhava para trás, quebrando a regra que ele mesmo impôs, ele era sincero demais para esconder o medo em seu olhar, e isso me fez fazer olhar, com temor em cada gesto, segurei as lágrimas até o fim, aquele pode que eu guardava há anos começou a pulsar sobre a minha pele, eu sentia ele circular a fim de achar uma maneira de escapar, e eu estava disposta a utilizar mesmo sabendo das consequências.
  — Sectumsempra! — Potter gritou e a luz branca saiu da ponta da sua varinha.
A barreira invisível barrou a entrada do feitiço, meu padrinho deu alguns passos antes de ser impedido novamente, dessa vez eu gritei, por puro medo de perder o único e verdadeiro pai na minha vida, dei um passo à frente disposta a ajudar ele mas foi repreendida por Draco e pelo meu próprio padrinho.
  — Eu não consigo ficar parada vendo o mundo contra ele Draco — supliquei depois de um tempo — Me solta, por favor!
  — Olha para mim Any — Draco segurou meu rosto delicadamente — vamos aparatar quando passarmos por aquele portão, e em poucos minutos o ministério vai aparecer...
  — Ótimo, mais um motivo para eu ajudá-lo.
  — E ele não vai ficar enrolando mais um minuto com o Potter, se você confia em mim, temos que aparatar já, e se o seu padrinho não aparecer eu prometo voltar aqui e ajudá-lo, mas agora a gente precisa ir!
  Uma sensação triste pairou sobre mim, perder os dois em uma noite não estava em nenhum dos meus planos, então tomei a decisão mais difícil e virei as costas para sair de Hogwarts, estava indo contra o meu coração, nunca tinha feito isso e percebi o quanto doía assim que o mundo começou a girar e meus pés pisaram sobre a grama da mansão malfoy.
  A mansão Malfoy sempre foi uma casa sobre o renomado luxo, em cada detalhe era simplesmente encantadora, mas dessa vez eu não me importei em estar ali, faltava uma parte, e nunca me perdoaria se acontecesse com ele. Não percebi quando Narcisa apareceu e tentou ajudar, só importei com o barulho que se repetiu em poucos segundos. Ele estava vivo, e ensopado de sangue, quando cheguei perto o suficiente me certifiquei de que o sangue não era dele, e então o abracei. O meu herói, meu salvador, meu padrinho.
  — Você lançou aquele poder no corredor?
  — Talvez — tentei analisar sua expressão antes de concordar completamente — sim, foi eu.
  — Sem varinha? — ele perguntou mais para si do que para mim, fazia dias que eu vinha percebendo que eu conseguia fazer magia mas sem usar a varinha, e só precisava de um estímulo para conseguir — e você salvou a vida da Weasley. Algum motivo para isso?
  — Em outras épocas eu faria, e sem hesitar, mas acho que agora estou percebendo que se fosse ao contrário, eu não conseguiria viver sem Draco, então como eu poderia tirar a vida dela sendo que significa muito a alguém? Eu sabia que o Potter estava por lá e eles se amam, assim como eu amo o Draco, entende?
  — Entendo perfeitamente, e estou orgulhoso de quem você está se tornando, não é fácil amar alguém e vê-la morrer — ele começou, buscando em sua memória o nome que de todas as formas foi o seu primeiro amor, esse momento durou pouco, pois meu namorado logo apareceu, mas mesmo no escuro ainda conseguia ver uma lágrima escorrendo sobre o seu rosto.