Iguais, porém opostos escrita por Cellis


Capítulo 24
Como surpresa e esperado


Notas iniciais do capítulo

Demorei? Demorei.
Cheguei? Óbvio.
Amo vocês e o apoio que recebo de cada um ♥
Boa leitura!



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— Eu não acredito que esse dia finalmente chegou! — Taeyuna exclamava animada, praticamente lançando-se nos braços da mais nova. — Entre, minha pequena criança e agora futura aprendiz. 

Mesmo rindo da reação um tanto exagerada da mais velha, Bo Ra ainda se perguntava se pedir a sua ajuda havia sido uma boa escolha. A Kang só precisava de um par de conselhos de moda, que coincidentemente era o ramo de Taeyuna e seu objeto de estudo favorito, mas não conseguia evitar de imaginar se a Kim não estava prestes a transformar aquela situação em um verdadeiro desfile de moda. 

E,caso isso acontecesse, seria tudo culpa de Taehyung. 

Ainda no Museu do Louvre, enquanto Bo Ra admirava um quadro surrealista que exalava beleza pelo ambiente, o Kim mais novo se aproximou dela despreocupadamente. Ele fingia observar a mesma pintura que a namorada quando, na verdade, estava apenas admirando o brilho nos olhos dela e escolhendo mentalmente qual seria o melhor jeito de abordá-la. Não queria atrapalhar todo o momento que a Kang estava tendo com as artes do Louvre, claro, mas havia algo que o garoto estava se roendo para falar desde o início daquela manhã; e, diferente do habitual silêncio e resguardo típicos de sua personalidade, ele estava ficando ansioso feito uma criança por ainda não ter dito nada. 

— Por que você está me rodeando tanto? — Bo Ra indagou sem tirar os olhos do quadro, porém assustando o Kim o suficiente para tirá-lo de seus pensamentos. 

— Como assim? — ela rebateu desentendido.  

A Kang podia jurar que aquela havia sido a pior atuação de todos os anos de vida de Kim Taehyung e, rindo, ela finalmente o fitou. Eles estavam lado a lado, os ombros praticamente se encostando, e ela teve de virar a cabeça para o seu lado direito para encará-lo. 

— Desde quando nós entramos no museu você tem me acompanhado e observado de longe. No começo eu pensei que você pudesse estar apenas assistindo às minhas reações e ao meu encanto para com o lugar, mas, agora, não é bem o que está me parecendo... — ela pausou, fitando-o um tanto acusadoramente. — Você quer me dizer algo, não é? 

Para Taehyung, o fato dos dois se conhecerem desde nascidos era como uma via de mão dupla: de um lado estavam as vantagens que saberem praticamente tudo um sobre o outro lhes traziam, porém, do outro, estava a desvantagem dele raramente conseguir surpreendê-la ou pensar em algo sem que ela basicamente lesse a sua mente. Na verdade, na grande maioria das vezes essas duas vias acabavam se misturando e, por isso, o Kim não sabia ao certo se todos aqueles anos de conhecimentos acumulados sobre cada traço e característica do outro era algo bom ou ruim. 

Tudo o que ele sabia era que aquele não era o momento ideal para tais pensamentos, mas sim o timing perfeito para dizer o que tanto rodeava a ponta de sua língua.  

— Na verdade, eu gostaria de lhe pedir um favor. — ele finalmente respondeu, de bônus soando um tanto cortês. — Esteja pronta hoje às sete horas e, por favor, não me pergunte para aonde vamos.  

Confusa, Bo Ra franziu o cenho. 

— Como você espera que eu esteja vestida adequadamente, se não sei para aonde vamos? — ela retrucou. — Kim Taehyung, você precisa ao menos me dar uma pista. 

Ele riu diante da tentativa falha dela de soar inocente enquanto arrancava alguma informação dele; ou pelo menos tentava fazê-lo. 

— Você quer uma pista? — ele indagou, parecendo pensativo. Coçou o queixo como se estivesse realmente pensando em algo e, de repente, exibiu um sorriso brincalhão um tanto quadrangular. — Peça ajuda à minha irmã. 

— Para a unnie? — a Kang indagou duas vezes mais confusa e se perguntando se os irmãos não estavam armando um complô contra ela. — Você contou a ela para aonde pretende me levar? 

— Não. Caso contrário, ela com certeza já teria lhe contado algo sem querer e estragado a surpresa. — era sempre bom manter em mente o quão facilmente Taeyuna abria a boca, na verdade. — Contudo, assim que você disser para que precisa de ajuda, ela vai entender. Minha irmã pode ter muitos defeitos, mas demorar para descobrir as coisas certamente não é um deles.  

Quase unindo as sobrancelhas ao fitar o Kim acusadoramente, Bo Ra o analisou e, vendo o estado um tanto relaxado e travesso no qual Taehyung se encontrava, sentiu-se duas vezes mais intrigada. 

— O que você está aprontando, Kim? — indagou. 

Taehyung sorriu e olhou em volta. Ao redor dos dois, porém não muito próximos, havia apenas um casal de idosos e um grupo de amigos que prestavam mais atenção na exuberante arquitetura do Louvre do que em qualquer outra coisa. Aproveitando-se da oportunidade, Taehyung inclinou-se para o lado até alcançar o pé do ouvido de Bo Ra, o que a surpreendeu.  

— É uma surpresa. — ali ele sussurrou.  

— Surpresa?! — Taeyuna indagou para si mesma, agora já em seu quarto. — O que esse garoto está armando?  

Horas e mais horas já haviam se passado desde a visita ao Museu do Louvre. Por terem ficado muito tempo por lá — já que Bo Ra necessitava apreciar todos os cantos daquele lugar — quando eles se deram conta do horário já se passava da hora do almoço. Saíram pelas ruas de Paris até Taeyuna escolher um restaurante simples, porém que oferecia os mais diversos e saborosos tipos de pratos. Na verdade, aquela era uma característica da mais velha a qual a Kang admirava bastante: Taeyuna não dava a mínima para o status dos lugares ou das pessoas, mas sim sempre buscava ver aquilo que estava por dentro. No caso de restaurantes, a Kim mais velha nunca era atraída por preços altos ou a pela aparência elegante do estabelecimento, pois preferia comidas mais caseiras e lugares mais tranquilos. 

Apesar de tudo, Taeyuna era o tipo de pessoa que não media esforços para desafiar suas origens, até mesmo nas pequenas coisas. 

Já de tarde, poucas horas antes do prematuro pôr do sol de Paris, Bo Ra encantou-se por uma rua de comércio de produtos locais. Havia muitas tendas ao longo das calçadas de pedra, as quais mantiveram a garota entretida por todo o restante do dia. Sua intenção não era realmente comprar nada e, se não fosse pela pequena lembrança que havia comprado para a sua avó e uma outra para Jimin, ela nem teria gastado nada. O que estimava, na verdade, era o conjunto da obra — as pessoas, o movimento, a arquitetura e mais tudo aquilo que os seus olhos pudessem capturar. 

No fim do dia, eles tomaram um táxi de volta para a casa de Taeyuna e regressaram esgotados de tanto caminharem. Taehyung subiu para tomar um banho, e foi quando Bo Ra lembrou-se do que ele havia lhe pedido.  

Esteja pronta às sete horas. 

Eram exatamente seis horas e dez minutos. A Kang não planejava realmente incomodar Taeyuna com um assunto como aquele, mas a falta de tempo e a curiosidade acabaram lhe vencendo. Foi quando ela subiu as escadas e bateu um par de vezes na porta do quarto de Taeyuna e, assim que a mais velha abriu a mesma, Bo Ra explicou-lhe a situação. 

E fora assim que as duas vieram parar naquela situação, ambas sentadas sobre a enorme cama de casal da Kim enquanto encaravam a porta fechada e se perguntavam o que diabos se passava na cabeça de Taehyung.  

Ao contrário do que o rapaz achava, ele era sempre uma caixinha de surpresas, até mesmo para aqueles que o conheciam desde sempre. 

— E ele não lhe disse mais nada? — Taeyuna indagou, fitando a mais nova.  

Bo Ra pôs uma mecha do próprio cabelo atrás da orelha, tentando se lembrar de algum detalhe importante de sua conversa com Taehyung mais cedo. De repente, talvez por tanto pensar, acabou recordando-se de uma coisa. 

— Ele disse duas palavras para me ajudar. — ela iniciou. — Confortável elegante

De repente, foi como se uma lâmpada de desenhos animados se acendesse sobre a cabeça de Taeyuna. A Kim saltou da cama e, sorrindo, colocou-se exatamente de frente para Bo Ra. 

— Confortável e elegante? — indagou, animada. — Você tem certeza de que essas foram as exatas palavras dele? 

Mesmo confusa, Bo Ra balançou a cabeça positivamente. Levou um enorme susto quando Taeyuna começou a bater palminhas animadas e a andar de um lado para o outro dentro do próprio quarto. 

— Yah, você deveria ter me dito isso antes! — Taeyuna disse, ainda que Bo Ra não tivesse certeza se a mais velha falava com ela ou sozinha. Começou a caminhar pensativa pelo carpete branco e felpudo que rodeava sua cama, coçando o queixo exatamente como Taehyung fazia quando pensava demais em algo. — Eu sei exatamente para aonde meu irmão pretende levá-la, mas a ocasião pede uma vestimenta especial...  

— Você sabe? — a Kang indagou, surpresa. Taeyuna era realmente rápida em descobrir coisas. — Por favor, me conta.  

Nesse momento, a Kim foi obrigada a parar exatamente onde estava apenas para encarar Bo Ra com descrença em seus olhos.  

— Mas nem morta! — foi o que ela respondeu, firme. — Eu conheço aquele garoto melhor do que ninguém e sei o quanto ele deve ter se esforçado para preparar o que eu tenho certeza que ele preparou. Se eu contar qualquer coisa sobre isso, ele esquece a hierarquia de idade e o parentesco e dá cabo da minha linda pessoa. Sem chances de eu abrir a boca, Kang Bo Ra.  

Aparentemente, ainda que não soubessem disso, os irmãos Kim também podiam surpreender um ao outro de vez em quando. Se o Taehyung que jurava que sua irmã era um risco à surpresa que ele havia preparado com tanto empenho visse Taeyuna dizer aquelas palavras, ele provavelmente seria obrigado a se arrepender por ter julgado a mais velha de um modo tão impreciso. Para a sua sorte, ele não estava ali para ver isso — porque, por um outro lado, se Taeyuna descobrisse o que o irmão andava pensando dela, ela o mandaria enfiar seus julgamentos em lugares nada apropriados.  

Afinal, aquela era a base da “irmandade Kim”. 

— Tudo bem, eu desisto. — Bo Ra rendeu-se, erguendo as mãos. — Mas eu ainda preciso da sua ajuda, unnie. Agora ainda mais. 

— Mas é claro que eu vou lhe ajudar, minha querida. — a Kim sorriu. — Vejamos... Você vai precisar de algo discreto e elegante, porém que também marque presença. Algo que combine com a ocasião, mas também com você. Alguma coisa única, como... 

Naquele momento, acendia-se a segunda lâmpada sobre a cabeça de Taeyuna apenas naquela noite.  

— Eu tenho a peça perfeita! — exclamou. — Céus, eu sou um gênio. 

No andar de baixo, o relógio do pulso de Kim Taehyung marcava exatamente seis horas e cinquenta minutos quando ele se sentou no sofá da sala da irmã. Estava devidamente pronto com sua camisa branca de gola alta feita de uma lã fina, porém muito confortável, seu longo e elegante sobretudo preto e a calça de mesma cor, assim como os sapatos. Os cabelos acinzentados estavam lisos e bem penteados, acabando por quase caírem sobre os seus olhos e conferindo a ele um ar ainda mais misterioso e de mais velho do que ele realmente era. O Kim também parecia mais alto, talvez pelo sobretudo negro ou pela gola da camisa cobrindo-lhe o pescoço. 

Eram seis e cinquenta e sete quando ele se levantou. Detestava sentir-se ansioso, mas não era como se pudesse se controlar naquele momento. Caminhou algumas vezes pela sala, em círculos, e sentiu a lã da camisa começar a pinicar sua pele. Três minutos depois, exatamente às sete horas, ele passou a fitar a escada do apartamento como se pudesse fazer com que Bo Ra descesse por elas apenas com a força de seu pensamento. 

Bem, talvez ele pudesse mesmo. Mas não exatamente. 

A primeira a descer a passos saltitantes fora Taeyuna, que usava um pijama cor de rosa e tinha uma fita métrica jogada ao redor de seu pescoço. Assim que viu o irmão, ela arregalou os olhos. 

— Eu realmente não entendo de onde você tira tanta beleza. — ela disse, caminhando até o mais novo e ajeitando a gola de sua blusa. — Sempre achei que eu tivesse ficado com toda a beleza da família para mim. 

— Achou errado, noona. — resmungou. — Onde está a Bo Ra? 

Sem economizar no tamanho do orgulho que trazia em seu sorriso, Taeyuna abriu caminho para que não houvesse nada entre o campo de visão do irmão e a escada. 

— Veja você mesmo.  

A fração de segundo que Taehyung levou para fitar os degraus superiores da escada foi exatamente a mesma que Bo Ra precisou para pisar com seu salto nude no primeiro. Ela os descia um por um no seu próprio tempo, pois, como já não era segredo para o Kim, ela não tinha exatamente uma vasta experiência com sapatos altos — por isso, preferia manter-se firme e confiante a cada pisada. Contudo, foi somente quando ela alcançou o meio da escada, que Taehyung conseguiu fitá-la com clareza. 

Foi também naquele momento que ele se sentiu agraciado pela visão mais encantadora de todas as visões do mundo. 

Bo Ra usava um vestido cujo forro alcançava uma altura um pouco acima dos seus joelhos, porém uma segunda camada de saia, mais fina e leve, descia até abaixo dos mesmos. A peça era de um amarelo bem claro, porém fechado o suficiente para ser confundido com um bege, e tinha uma estampa floral que misturava com graça e harmonia tons de azul e roxo — as pequenas flores se concentravam em sua cintura levemente marcada e gradativamente diminuíam, tanto na direção do busto quanto na da saia rodada. Sem mangas e com uma gola colegial, o vestido parecia abraçar o corpo de Bo Ra como se tivesse sido feito especialmente para ela.  

— Cuidado para não derreter a coitada de tanto olhá-la, irmãozinho. — Taeyuna fez questão de sussurrar para o irmão, ainda que o mesmo não parecesse ouvir uma única palavra do que ela dizia. — Gostou do vestido? Eu que desenhei, costurei, fiz cada acabamento e... 

— É lindo. — foi tudo o que o garoto respondeu e, então, deu alguns passos para frente até aproximar-se de Bo Ra o suficiente para ajudá-la a terminar de descer as escadas.  

Taeyuna riu. 

— Eu sei que você não está elogiando exatamente o meu vestido, mas muito obrigada. — ela disse para si mesma. — É como a beleza do Louvre; está no conjunto da obra.  

Sem dizerem sequer uma palavra, Taehyung ajudou Bo Ra até o fim da escada ao oferecer sua mão para que ela se apoiasse. Ela sorriu em agradecimento e, agora já completado o trajeto, passou a fitá-lo com certa expectativa. Esperava que o Kim dissesse qualquer coisa, enquanto ele, que tinha tanta coisa para dizer, não conseguia verbalizar sequer um você está linda

Na verdade, o motivo pelo qual ele não conseguia fazê-lo era porque ainda não conhecia nenhum adjetivo capaz de descrever Bo Ra naquele momento. Nada era bom o suficiente. O Kim sentia o coração acelerado e a respiração um pouco mais demorada que o normal, mas ele já sabia que aquele era o efeito que a Kang tinha sobre ele e, na verdade, havia até se acostumado e passado a gostar daquele turbilhão de sentimentos e emoções.  

No fim das contas, ele sorriu largamente, e aquele foi o elogio mais lindo que Bo Ra poderia ter recebido. 

— Podemos ir? — indagou, oferecendo a ela seu braço.  

Ela riu, porém, aceitou entrelaçar seu braço no dele como se estivessem dentro de um filme clichê e cafona. 

— Podemos. 

Juntos, os dois despediram-se brevemente de Taeyuna e saíram porta afora do apartamento da mais velha sem mais delongas. Ela poderia ter se chateado por ter sido praticamente ignorada, mas seu coração havia se amolecido demais com aquela cena do jovem casal para fazê-lo. 

Não fora difícil para Taeyuna descobrir os planos do irmão. Confortável e elegante feito um lar acolhedor e bem decorado — eram essas as palavras que Taehyung sempre usava para descrever a Torre Eiffel e o que sentia sempre que visitava a mesma. A segunda parte, ainda que Taeyuna nunca tivesse visto o irmão fazer nada sequer parecido em toda a sua vida, já era um tanto previsível. 

Ainda encarando a porta da frente, ela murmurou: 

— Bom jantar no alto da Torre Eiffel, crianças. 

 

*** 

 

— Taehyung, você perdeu o juízo? 

Bo Ra encarava o rapaz como se ele fosse de outro planeta — e, de fato, era onde a Kang sentia que estava. Eles se encontravam exatamente em um elevador localizado no meio da Torre Eiffel, apenas os dois e mais um funcionário jovem e simpático que havia ido buscá-los aos pés da magnífica construção. A garota ainda não estava entendendo muita coisa, a menos pelo fato inacreditável de que estava subindo em uma das sete maravilhas do mundo naquele momento.  

— Não gostou da surpresa? — Taehyung rebateu fingindo apreensão, pois confiança era o que não lhe faltava naquele momento.  

Incapaz de responder àquela pergunta de primeira, a Kang viu-se pigarreando numa tentativa falha de não dar tão na cara o quanto se sentia maravilhada até mesmo com o ar ao seu redor naquele momento. As paredes do elevador eram de vidro e, por isso, ela podia ver uma boa parte de Paris conforme subiam. Já era de noite e a cidade havia se tornado um misto de luzes brilhantes e esperanças e, sem sombra de dúvidas, aquela era uma das paisagens mais lindas que Bo Ra já tinha visto em toda a sua vida. 

Assim que a porta do elevador se abriu, ela fitou Taehyung e sussurrou com um pequeno sorriso: 

— Eu adorei. 

Mas isso ainda não fazia dele menos louco.  

O tal funcionário guiou o casal pelo primeiro andar da Torre Eiffel, onde ficava o restaurante mais requisitado de toda a Paris. O ambiente era caloroso e moderno, decorado completamente por tons escuros e também vários lustres de vidro. As paredes também eram feitas do mesmo material transparente e, por isso, lugares marcantes da cidade luz como Montmartre e a Basílica do Sacré Coeur eram vistos com clareza por qualquer um presente no salão e de qualquer lugar do mesmo. O jovem funcionário do restaurante apontou uma mesa para o casal de turistas e disse algo em francês que Bo Ra obviamente não entendeu. Taehyung lhe respondeu na mesma língua e, em seguida, puxou uma cadeira para que Bo Ra se sentasse. 

Ela realmente não sabia mais o que ou onde admirar. 

— Isso tudo deve ter custado uma fortuna, Taehyung. — ela disse com o tom de voz de uma verdadeira mãe. — Você não precisava ter feito isso.  

Taehyung riu, admirando a simplicidade da namorada e o quão encantadoramente seus olhos brilhavam para toda e qualquer direção que ela olhasse. De repente, ela notou o Arco do Triunfo e suas luzes brilhantes abaixo deles e não conseguiu controlar a surpresa. O monumento era nitidamente visível dali de cima, ainda que não estivesse tão próximo, e o Kim recostou-se em sua cadeira para observar calmamente cada detalhe daquela cena. 

Enquanto Bo Ra focava na bela vista, Taehyung tinha os olhos presos naquilo que realmente lhe tirava o fôlego. 

— Valeu a pena ter preparado tudo isso. — ele comentou, enquanto ela ainda admirava a paisagem noturna de Paris com fervor. — É a vista mais linda que já vi em toda a minha vida. 

Quando a Kang finalmente saiu de seu transe pela bela Paris e voltou a fitar Taehyung, ele tinha no rosto um sorriso o qual ela nunca havia visto antes, mas que para ela era mais bonito e significativo que todos os monumentos que havia conhecido naquele dia.  

De repente, ela percebeu o presente que aquela viagem realmente era e, assim, passou a partilhar do mesmo pensamento que o Kim. 

— Eu concordo. — disse, também sorrindo. 

Seguindo o clima romântico e um tanto de flertes, os dois resolveram pedir o jantar. Bo Ra cogitou sentir-se incomodada e um tanto descolada no ambiente por não entender nem mesmo os nomes de cada prato do cardápio, mas poder ouvir constantemente o francês impecável de Taehyung ou tê-lo ajudando-a com algumas palavras a impedia de sentir qualquer coisa do tipo. Ela chegou a apoiar a cabeça sobre a palma da mão esquerda para observar o Kim pedindo a sugestão do chefe da casa, enquanto o garçom lhe dizia uma coisa ou outra sobre a entrada e o prato principal — não que ela estivesse acompanhando a conversa, mas Taehyung fez questão de traduzir tudo para ela depois.  

— O que foi? — ele indagou quando foram deixados sozinhos, curioso para saber o porquê de ela olhá-lo tanto.  

A Kang suspirou e recostou-se em sua cadeira. 

— Acho que preciso de algumas aulas de francês. — ela respondeu, pensativa. — Eu poderia ouvir o seu sotaque quando está falando por horas e mais horas, mas preciso aprender a me virar sozinha, pelo menos.  

— Por horas e mais horas? — ele pontuou, sentindo-se orgulhoso de si próprio por causa da declaração dela. — Sabe, se você quiser mesmo desperdiçar essa oportunidade de continuar ouvindo o meu francês fluente, eu posso apresentá-la a um professor que conheço.  

— Quem? 

— Eu mesmo.  

Taehyung riu, mas não era como se não estivesse falando sério. Bo Ra, por sua vez, revirou os olhos e acabou rindo também. Os dois continuaram conversando sobre como seria se o Kim fosse o professor dela e, no fim das contas, acabaram analisando como a relação deles havia mudado. Kim Taehyung se dispor a ser o tutor de Kang Bo Ra, antigamente? E, ainda por cima, ela aceitar sua ajuda? 

Aquilo costumava ser no mínimo impossível. 

A comida não demorou a chegar, para a sorte do estômago faminto de Bo Ra. A entrada tratava-se de um steake tartare, e a Kang tinha de admitir que estranhou os pequenos pedaços de carne crua à primeira vista, mas prová-los fora uma das melhores decisões que havia tomado naquele dia. Em seguida, o garçom veio servi-los com algo muito colorido e que cheirava extremamente bem.  

— O que é isso? — Bo Ra indagou extremamente instigada pela beleza da comida. 

— São legumes dos mais variados tipos. — ele disse, explicando também mais algumas coisas sobre o prato principal, como o tempero que o mesmo levava. Em seguida, completou: — O nome é ratatouille.  

— Como o filme de animação? — ela retrucou no mesmo instante. Em seguida, sorriu. — Parece gostoso.  

Taehyung já havia se acostumado a, quando estava acompanhado de Bo Ra, não conseguir fazer as coisas mais simples na velocidade normal que qualquer um faria. Ele constantemente parecia precisar parar o que estava fazendo para observá-la, quer ela estivesse fazendo algo realmente incrível ou absolutamente nada, o que acabava o atrasando. Além de, claro, quando ele se movimentava em câmera lenta numa tentativa inconsciente de que o tempo ao lado dela passasse mais devagar. Assim, naquele momento, diante do sorriso inocente da Kang e de seus olhos deslumbrados, tudo o que o Kim desejava era que os segundos virassem longas horas. 

Por isso, como também vinha acontecendo inúmeras vezes, Bo Ra terminou o que estavam fazendo primeiro. Claro que a fome e o fato de a comida estar deliciosa haviam lhe ajudado, mas Taehyung também havia se atrasado porque vez ou outra tornava a fitá-la e acabava esquecendo-se de comer. Diante daquela cena, cujo prato do Kim ainda estava praticamente pela metade e no da Kang não havia mais nada, ela chegou a se assustar. 

— Eu comi rápido assim?  

Percebendo que ela parecia meio sem jeito, ele riu. 

— Vai ver você não mastigou tudo direitinho. — disse, ainda que soubesse que a culpa pelo contraste nos pratos fosse única e exclusivamente sua. — Eu o faço, por isso ainda estou comendo. 

Sem graça, Bo Ra coçou o pescoço (talvez estivesse pegando aquela mania de tanto conviver com os irmãos Kim) e, por isso, o sorriso de Taehyung tornou-se menor. Mentalmente, ele se perguntou quando deixá-la sem jeito havia deixado de ser um dos pequenos prazeres dele e havia se transformado em um motivo para querer abraçá-la. 

— Na verdade, eu não estou com fome. — ele deu de ombros. — Estava enrolando para comer. 

— Você não vai comer isso? — ela indagou completamente perplexa. 

Como Taehyung poderia desperdiçar uma comida maravilhosa como aquela? 

— Não. — respondeu, simples. — Você quer? 

Bo Ra poderia ter se sentido envergonhada em aceitar, mas aquela comida estava realmente deliciosa para isso. Ela balançou a cabeça positivamente e, assim, o Kim deslizou seu prato pela mesa até que ela pudesse alcançá-lo. Agora não havia mais nada para atrasá-lo — na verdade, ele ainda tinha o bônus de poder observá-la mais um pouco sem amarras. 

Até que desistir da sua comida não tinha sido uma má ideia. 

Quando terminaram a refeição, Taehyung a conduziu de volta para o elevador para uma última parada. Ao invés de descerem, eles subiram mais dois andares até alcançarem um enorme terraço — uma área do próprio restaurante para a qual apenas clientes do mesmo tinham acesso — onde não havia absolutamente nada, mas, ao mesmo tempo, concentrava-se ali tudo

Mais da metade de Paris podia ser vista dali de cima e, obviamente, Bo Ra mais uma vez naquele dia pegou-se descaradamente admirando toda aquela paisagem. Eles usufruíram maravilhosamente bem de cada segundo das duas horas que lhes era permitido passar ali e, depois disso, o mesmo funcionário do elevador voltou para buscá-los. Cortês, o rapaz lhes levou até o térreo, o pé da Torre Eiffel, e ainda chamou um táxi para o casal. Bo Ra não fazia ideia do quanto tudo aquilo havia custado para Taehyung, mas, sinceramente, estava extremamente grata por ele poder pagá-lo. 

Afinal, ele estava proporcionando a ela os melhores momentos e memórias de sua vida. 

O caminho de volta para casa foi feito em um completo, porém aconchegante, silêncio. Eles tinham as mãos entrelaçadas quando Bo Ra recostou a cabeça no ombro de Taehyung, e assim ela permaneceu todo o restante do caminho. Quando finalmente chegaram no apartamento de Taeyuna, ela estava sonolenta e a única coisa que desejava naquele momento era dormir e sonhar com todos aqueles momentos maravilhosos, pois assim poderia vivê-los novamente.  

Taehyung digitou o código de segurança da porta. Era tarde e ele esperava encontrar as luzes apagadas e sua irmã já dormindo, mas não foi exatamente isso que aconteceu. O lustre da sala tinha todas as suas lâmpadas acesas, o que significava que Taeyuna deveria estar acordada ainda.  

— Noona, chegamos. — ele anunciou fechando a porta, evitando de talvez ser confundido com um ladrão e recebido a frigideiradas

Nenhuma resposta foi ouvida, o que Taehyung estranhou. Sua irmã fazia barulho, não silêncio.  

Os dois ainda estavam de mãos dadas quando finalmente chegaram na sala do apartamento e encontraram não apenas a irmã de Taehyung os esperando, como também seus pais sentados no sofá. O Kim mais novo travou bruscamente seus pés onde estava assim que se deparou com a cena e, quando seu pai se levantou, ele involuntariamente apertou ainda mais a mão de uma confusa Bo Ra contra a sua. 

— Que bom que chegaram. — o homem disse, sério. — Eu estava lhe esperando para que você me explicasse o que você pensa que está fazendo, Taehyung. 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Tretas em Paris (literalmente)!
Gente, estamos na reta final. Faltam apenas alguns pontos a serem tratados que, creio eu, vão render mais uns dois capítulos. Eu já planejei o final e estou ansiosa por ele, ao mesmo tempo que eu não queria que esse momento chegasse. Aaaaaah me sinto no meio de uma crise literária. E vocês, como receberam essa "notícia" e o que estão esperando do final? Me contem!

Até ♥