Avatar: A lenda de Mira - Livro 4 - Fogo escrita por Sah


Capítulo 5
Yue Bay


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora. Eu viajei e quando voltei tinha muitas coisas da faculdade para fazer.



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Haru

Meus olhos ainda não se acostumaram com as linhas negras que cortam tudo o que eu vejo. Eu estou no prédio mais alto de Republic City, na cobertura, olhando a cidade inteira, e as linhas estão em todas as direções. Linhas negras que não tremulam com o vento. Que apenas eu posso vê-las e tocá-las.

— Haru?

Olho para Venon, o atual dono da Varrick Tower. Seus olhos de admiração quase me dão nojo. Sua lealdade é absoluta e cega, e eu me aproveito disso, pois, é a única pessoa que me segue por sua própria vontade e sem interesses.

— O que foi? – Digo secamente.

— Não é nada. Eu só queria agradecer novamente.

Desde que seus irmãos mais velhos fugiram do país, ele me agradece constantemente, como se eu tivesse alguma coisa haver com a covardia da sua família. Eles não quiseram responder por todo o apoio dado ao antigo governo, e preferiram ir embora, levando tudo o que conseguiram, porém, é impossível levar todos os prédios da família.  Deixando Venon como único Varrick na cidade.

Os agradecimentos dele me cansam. Muitas coisas me cansam agora. Eu suspiro. Estou entediado.  Faz mais de 15 dias que tudo aconteceu e de lá para cá, nada de relevante ocorreu.  Só burocracia e chateação.

O general Tzar assumiu um governo provisório. Ele ainda segue todas as minhas ordens, mesmo que me deixe de escanteio sobre alguns assuntos, eu não ligo. Achei que me importaria, mas essa cidade é tão inútil quanto todas as outras.

Gosto de vir aqui e olhar para todas as direções. Eu tento encontrar uma razão para tudo o que eu fiz, mas minha mente fica cada vez mais vazia, e eu me perco nos pensamentos dele.

Ele. É assim que eu chamo algo que já faz parte de mim. Vaatu não sussurra mais nos meus ouvidos, eu ouço suas palavras direto da minha boca . Ele não aparece mais no canto dos meus olhos,  já que agora compartilhamos a mesma aparência.   Ele não é mais uma coisa separada. Ele e eu somos um só agora.

— Vamos descer. – Eu digo para Venon que me acompanha como um cachorro obediente.

Eu preciso acompanhar mais uma sessão de interrogatório. Tzar havia me dito que eles conseguiram capturar mais algumas pessoas que ajudaram Mira na sua fuga. E isso faz o tédio se dissipar um pouco.

A força policial foi trocada. O exército assumiu tudo. Assim, quando eu entro na delegacia, só vejo rostos conhecidos. Militares de altas patentes. Eles me reverenciam e abrem caminho quando eu entro.

Sinto um leve formigamento nas mãos. Eu estou usando luvas e as toco levemente. Minha pele ainda dói.  Respiro profundamente e entro na sala do interrogatório.

A sala está gelada. O ar condicionado está no máximo. Vejo logo o motivo. O interrogado é um dobrador de fogo. Suas mãos estão presas uma a outra e há grilhões eletrônico presos ao seus pés.  È um homem de uns 30 anos pelo menos. Ele é careca e possui as sobrancelhas muito grossas. Sinto a sua raiva quando ele olha para mim.

— Senhor. – Um soldado bate continência.

— Pode falar. – Eu digo quase sem interesse.

— Esse é Jav. Jav de Feng. Foi capturado perto da fronteira norte. Estava fugindo com duas crianças dobradoras.  Ele se tornou um facilitador nos últimos dias.

Minha mão direita não estava mais formigando. Comecei a senti dor entre os meus dedos e uma ardência cada vez maior.

— E ele disse alguma coisa? – Perguntei

— Nada de relevante. Ele disse que não conhece a Mira, e nem os outros.

A dor estava beirando o insuportável. E eu comecei a suar, mesmo naquele frio.

Jav percebeu. Ele sorriu quando me encarou novamente.

— Estou sem paciência para inúteis. Se ele não disser alguma coisa útil, podem fazer o que quiser com ele.  Ele deve ser valioso para alguém, por ser um dobrador de fogo. Entrem em contato com a União e façam um acordo.

Jav não sorria mais. Seu olhar de escárnio virou medo.

— A União? – Ele perguntou desacreditado. – Republic City não extradita ninguém para lá!

— Mas, eu sim. – Eu disse em um ultimato.

Sai da sala antes de ouvir o que ele dizia.

— Senhor? – Varrick  chamou.

— Me deixe em paz!  -- Eu disse quase gritando.

Venon se retraiu.

Eu continuei, sem olhar para trás. Entrei em uma sala vazia da delegacia e tirei a luva que tanto me incomodava.

Minha mão? Eu ainda olhava sem acreditar. O que é isso? Veias escuras e saltadas passavam por toda a minha mão. As minhas unhas estavam negras e os meus dedos pálidos. Doía ainda mais agora que eu estava vendo. Como eu não havia percebido isso? Tirei minha outra luva e notei que a outra mão estava normal.

Que porcaria era aquela?

Minha mente ficou vazia e a resposta surgiu.

Tudo isso é culpa dele. Esse é o preço desse poder. Meu corpo é fraco. Eu preciso ficar mais forte.

— A Mira é a resposta dos meus problemas. – Me ouço dizer

Eu preciso achá-la, preciso me sentir bem novamente. Meu corpo é uma casca vazia. Eu só estou aqui por causa de Vaatu. Minha existência depende da dele e  a dele depende da minha. Somos parasitas um do outro.  Quando eu morri, um fragmento da minha alma ficou preso a ele e isso me permitiu continuar sem o restante.  Porém, isso é pouco. Eu percebo que as memórias e sensações pertencem ao corpo, e o corpo precisa de uma alma completa, ou de um poder espiritual equivalente.  Quando estou perto da Mira, eu sinto uma conexão, como se eu conseguisse drenar um pouco da energia dela, e por isso o corpo conseguiu se manter por tanto tempo.

Vaatu se diz forte, porém ele está preso comigo. Desde que foi derrotado pela Avatar Korra, ele ficou condenado a habitar no fundo mais profundo da existência dela e de Raava. Porém eu deixei que corrompessem a minha alma e assim ele conseguiu ficar, enquanto o restante de nós reencarnou. Mas, ele não conseguiria se manter sozinho. Ele ainda está preso, condenado, por isso se agarrou a mim. Uma pequena parte do espírito Avatar.

Estou me mantendo vivo por causa da energia dele, do seu poder. Mas, eu percebo que isso está envenenando o corpo. Sem a energia pura da Mira, em breve esse corpo não aguentará.

Mas, existe outras fontes de energia tão puras quanto o espírito do Avatar.  Depois que Korra fechou os portais, algumas fontes ficaram para trás. Temos uma em Republic City e mais três espalhadas pelo mundo.  Eu preciso derrotá-las para ter acesso a essa energia.  Eu preciso derrotar e drenar esses espíritos. Assim conseguirei poder o suficiente para me manter e derrotar o Avatar.

Eu sai daquela sala com muita convicção. Venon estava sentando em um dos bancos.  Seu olhar estava baixo e triste.

— Venon. – Eu o chamei.

Ele me olhou como um cachorro abandonado.

— Preciso da sua ajuda. – Seu sorriso abriu imediatamente.

— Claro! No que precisar! Sempre!

Eu sorri para ele.

A família Varrick trabalhou por muitos anos com energia espiritual. Eles foram visionários em uma época que nem imaginávamos ser possível usá-la.

— Vamos para um dos laboratórios. Preciso ver os protótipos. 

Ele sabia do que eu estava falando.

— Claro, mas eles levaram a maioria dos protótipos e invenções.

— Não todos Varrick. Sem energia espiritual alguns protótipos são inúteis.

— Ah, aqueles. – Ele disse ficando cabisbaixo.

Não demoramos muito para chegar lá.  Em um dos prédios mais antigos pertencentes a família Varick, no subterrâneo mais profundo, em um lugar mal iluminado e sujo, aonde poucas pessoas tiveram acesso nos últimos anos. Maquinários e  antigos computadores repousavam, esperando uma nova revolução industrial.

O cheiro de mofo e umidade era a única coisa que me incomodou inicialmente, mas assim que ligamos as lanternas, eu vi o estado daquelas máquinas.

— Meu pai morreu aqui. – disse Venon

Ah sim. Por isso toda essa hesitação.  Quando eu era apenas uma criança pequena, anos depois que  Korra havia fechado os portais. Iknik Blackstone Varrick perdeu a sua vida tentando restabelecer uma energia que não existia mais. Primeiro ele enlouqueceu, e depois ao usar suas últimas reservas, tão instáveis quanto possível, tudo explodiu, e só ele foi afetado, ou melhor, o seu espírito.

— Tudo está igual, desde a primeira vez que eu vim aqui, nada mudou. – Venon comentou.

— Iknik era um gênio. – Eu disse para animá-lo

—Era, mas minha mãe dizia, que ele morreu por sua teimosia.

Eu andava devagar observando tudo, procurando o que eu precisava.

Haviam pequenos traços de energia naquelas máquinas,  nada perto do que eu queria.

As linhas negras eram abundantes naquele lugar, elas se entrelaçavam uma nas outras, como uma teia de aranha firme e perigosa. Percebi que havia uma linha mais grossa que as outras, que saia de uma espécie de caixa trancada.

— O que é isso? – Eu perguntei.

— Ah, meu pai mexia nisso, quando aconteceu...

Eu toquei a caixa de metal gelado. Eu senti a energia que fluía lá dentro.

Era pouco, porém suficiente. Com isso eu conseguiria enfrentar o Yue Bay.

— Temos tudo o que precisamos. Podemos ir.

Venon não entendeu direito, mas o desespero para sair daquele lugar era maior que sua curiosidade.

Eu segurei a caixa contra o meu corpo, como se fosse o maior tesouro do mundo.  Quase podia sentir a energia fluindo para dentro de mim.

Mandei Venon para casa, e mesmo sob protestos ele me obedeceu.

Eu voltei para o apartamento que eu temporariamente ocupava. Minha mãe, não estava mais lá.

Ela havia indo embora no começo da semana. Ela não aprovava o que eu estava fazendo e voltou para a sua antiga residência  no distrito particular da fabrica Airo.  Talvez, antes do terremoto  eu tivesse a impedido, mas, agora, eu mal me importava com o seu bem estar.

Eu entrei e coloquei a caixa em cima de uma mesa. Ela era leve, só havia o peso do metal. Energia espiritual não pesa, mal ocupa lugar no espaço, é como a luz, só que mais densa quase como fumaça.

Eu olho para a caixa, ela tem cerca de 30 cm de altura e de comprimento. Ela é de um cinza escuro e não há nenhum mecanismo aparente, é como se fosse um bloco de metal maciço.

Sei o que fazer com ela. Porém preciso do auxilio de um dobrador de metal.

Antes de sair de casa novamente, decido tomar um banho. Água quente me ajuda a raciocinar. Tiro as luvas e vejo as linhas escuras, cada vez mais grossas, passando da minha mão para o meu pulso. Elas ardem como queimaduras de sol. Toco e sinto mais dor.  Com cuidado eu me banho e assim me visto novamente, dessa vez deixo de lado o meu tradicional quimono e visto uma das armaduras que o Kneb , do clã do metal fez para mim.

Ela veste perfeitamente, não deixando nenhuma abertura. O metal é maleável, mas é forte. Sinto-me invencível nessa roupa.

Volto para o palácio presidencial, o General Tzar está trabalhando  junto com a líder do Clã do Metal para estabelecer o governo provisório. 

— Avatar Haru? – Ele fica um pouco surpreso com a minha presença.

— Sim. – Eu vejo a verdade nos olhos dele.  Como aconteceu na força nacional, ele usou pessoas como trampolim para chegar ao poder, agora isso se repete, mas ele sabe que não sou um trampolim, por isso pisa com cuidado quando está perto de mim.

— Eu não esperava você hoje, achei que estava na delegacia. Avisaram que pegaram um suspeito?

— Ah, sim. Eu fui lá. Nada importante.

Nuria, é a representante do conselho de Zaofu. Ela é baixa e  robusta, possui o cabelo escuro preso em um rabo de cavalo tão apertado quando parece ser a sua  personalidade . Eu me viro para ela.

— Preciso de um dobrador de metal.

Ela não parece surpresa.

— Senhor, todos estão em missão.

Preciso de um dobrador de metal.—Eu repito

Ela tenta ser dura, me olha como se olhasse para um subordinado.

— Não existe nenhuma forma de removê-los para cá, nesse momento.

— Você não me ouviu direito? – Eu falo sem levantar a voz

Tzar se senta novamente na cadeira e fica observando tudo com atenção.  Assim eu ajeito uma das luvas

— Preciso do Kneb. Ele serve.

— Kneb voltou para Zaofu ontem. Não temos ninguém disponível.

Eu sinto aquela queimação passar para a minha outra mão.  E vejo as linhas em volta de Nuria se aproximarem cada vez mais. É fácil resolver isso, mas não da maneira que eu quero. Se existisse nem que seja uma pontada de lealdade eu conseguiria controlá-la, porém, ela sabe do que eu sou capaz, e é esperta demais para acreditar no eu digo. E também tem Tzar, eu não posso tirar o clã do metal de seu caminho. Eles são os únicos que conseguem barrar as suas decisões esdrúxulas

— Certo –  Eu tento soar compreensível. – Quem é o mais próximo.

— Eu, mas creio que até o senhor concorda que não posso sair daqui.

Ela tinha razão.

— Porém, temos um recruta. Ele não é dos mais confiáveis, está no clã a pouco tempo, e não dobra suficientemente bem. Ele está em treinamento, fazendo rondas pelas regiões que você perto do rio.

— Perto do rio? – Isso é perfeito. – Me mande a localização.

Apesar da insubordinação, Nuria é eficiente. Ela me passa todos dos dados necessários. Pego as folhas com as informações.

— Kieran,  16 anos, local de nascimento : Republic City. Habilidades : Medianas. Consegue moldar e partir metal, porém não lida bem com objetos maiores de 10 kg.  – Eu leio em voz alta. – Ele serve – Eu complemento.

Nuria parece satisfeita.

Assim eu saio daquele prédio os deixando com o seus planos de traição.

O rio Yue Bay, tão extenso que pode ser confundido com o próprio oceano. Há histórias sobre ele, e lendas que se provaram ser reais. Desde o  fechamento dos portais o rio, ou melhor o espírito Yue Bay, encontrou um meio de se manter. Muitos acham que ele está tentando encontrar um equilíbrio, atraindo tantos dobradores de água, porém, ele fez o que eu pretendo fazer com ele.

Esse rio tem uma história bonita, Yue foi uma princesa da tribo da água do norte, por qual Tui, o espírito da lua, deu a sua vida, e assim que ela morreu, ela reencarnou como o espírito da lua. Esse rio foi nomeado em homenagem a ela, por uma das pessoas que amou essa princesa. Um dos fundadores dessa cidade ,Sokka.

Porém, o espírito desse rio, pouco se assemelha ao espírito da Lua. Ou melhor podemos dizer que eles são opostos, opostos complementares.

A lua atrai as marés, dobradores de água são mais fortes na lua cheia. São espíritos irmãos. Porém o espírito da lua não está mais aqui. Como a maioria dos outros. Mas, o seu irmão ficou para trás.

Eu vejo o rio de longe. Sinto a sua energia e vejo como as linhas negras ficam mais fracas próximas a ele.

— Kieran. Eu digo para o meu assistente. Ele está no porto oeste.

Seguimos para lá de carro.  Não há veículos nas ruas. As pessoas estão em segurança em suas casas, até que Tzar tire esse toque de recolher.

O porto oeste é o maior de Republic City. E por ventura, o mais problemático. Há vários soldados aqui. Muitos deles inspecionando todos os barcos que chegam.

Um deles bate continência quando me vê, e se aproxima exalando respeito. Sinto a conexão automaticamente, ele pode ser um bom fantoche no futuro.

— Procuro Kieran, membro do clã do metal. – Digo sem rodeios

O soldado acena positivamente e pede para que eu o siga.

Vejo um rapaz da minha altura. Ele deve ter quase 17 anos, seu cabelo é castanho e está alinhado ,  seus olhos são  escuros. Usa o tradicional uniforme do clã. Ele não parece muito animado com o trabalho.

— Kieran? – Digo chamando sua atenção.

A primeira coisa que ele vê em mim, e a armadura, e assim eu vejo o medo nos seus olhos.

— Senhor? – Ele diz batendo continência.

— Relaxe soldado. Eu não sou o seu superior, porém preciso de você.

Ele parece confuso.

— Nuria, me indicou você. Você sabe quem sou eu?

Percebo que ele demora um pouco para assimilar.

— Eu sou Haru. O avatar Haru. – Respondo a mim mesmo.

Seu olhar mudar completamente, o medo se transforma em alívio, e por fim em diversão.

— Sempre achei que os avatares fossem baixinhos. – Ele diz em um tom de deboche.

Eu não me irrito, na realidade, acho engraçado, porém tento não transparecer.  Limpo a garganta.

— Eu preciso dos seus serviços Kieran.

— Como quiser, me tirando da vista desses monstros, posso fazer qualquer coisa.

Eu olhei para o Rio, senti que ele me observada atentamente. Ele só está curioso, nem imagina o que eu pretendo fazer.

Volto até o carro e pego a caixa de metal.  Kieran me olha com atenção.

— Isso é uma caixa magnética. – Ele simplesmente diz.

— Você sabe o que é isso? – Pergunto.

— Eu não sei, mas eu sinto o metal. Todos os lados da caixa forçam para dentro, como se existisse um núcleo que as atrai.

— Eu entendo. A energia contida no seu interior atrai o metal para dentro. É exatamente o que eu estava procurando. Agora eu preciso que você a abra.

Kieran levanta as sobrancelhas para mim.

— Se você quiser que tudo exploda, eu a abro. Pode deixar. Vou arriscar a minha vida por que você está pedindo.

— Só para saber, como você entrou no clã do metal? Você deveria ser obediente.

— Eu não entrei para o clã. Eles me puxaram para dentro, sem escolha ou alternativa. Você sabe que as coisas são assim, para quem é dobrador de metal.

— São assim. Mas, eu sempre pensei que havia um tipo de lavagem cerebral que os fazia obedientes.

— Existe, mas não funciona igual para todos. Eles me mataram para o mundo, e cortaram qualquer laço afetivo que eu tinha, agora tentam enfiar na minha cabeça a regras idiotas deles.  E um dia eles vão conseguir, só que por enquanto eu aproveito  minha subversão.

Ele é o que um dia eu tentei ser. Isso faz memórias passarem pela a minha cabeça, coisas que eu achei que eu tinha perdido. Toda a dor, e toda a tortura. Para tentar ser o que eles queriam. Isso me deixa sem fôlego, tonto.

— Você está bem? – Ele pergunta.

— Eu preciso que você abra a caixa. – Eu digo em um só fôlego. – Eu sou o avatar, eu não vou deixar que você morra. Eu estou aqui para trazer o equilíbrio e preciso da caixa para isso – Eu minto para ele.

— Tudo bem. Eu acredito em você. Porém não posso arriscar a vida de todas essas pessoas.

Existe um lugar que poderíamos fazer isso, sem que eu tivesse interrupções. A ilha do tempo do ar está deserta, desde o ataque da União do fogo a meses atrás.

— Se fossemos para um lugar deserto?

— Isso seria melhor. Não sei qual o poder do núcleo.

E assim foi feito. Pegamos um dos barcos da força nacional e fomos para a ilha.

O rio era um mero observador, não éramos dobradores de água, então não interessávamos para ele.

A ilha estava deserta, mas, não havia mudado em nada. Lembro da primeira vez que eu vim aqui. Meelo me trouxe para conhecer os seus filhos, e como eu era ingênuo, eu realmente acreditava que ele queria o meu bem.

— Kieran. Aqui está bom?

Ele acena positivamente.  E assim ele pega a caixa das minhas mãos.

— Ela é pesada, e densa. Mas, eu consigo sentir os mecanismos. Você deve ter ouvido da Nuria que não sou bom com coisas pesadas, porém, sou o melhor com coisas pequenas.

Eu ouço alguns cliques, alguns estalos.  Kieran solta a caixa que se ilumina no chão.

Eu sinto o poder que exala dela, e eu prevejo a explosão que vem em seguida. Puxo as linhas negras e envolvo a energia. É pouca, porém é forte, instável e perigosa. Absorvo tudo aquilo com velocidade. Sinto Vaatu se satisfazer por um momento.

— Kieran, eu preciso que você procure abrigo.

Ele, que não parecia surpreso, começa a se afastar em passos vagarosos.

— Eu preciso que você faça isso rápido – Eu grito para ele. Que começa a correr automaticamente.

Eu me viro em direção do rio e finalmente o vejo tomar uma posição. Yue bay está se movendo, ele se atraiu pela energia. Ele toma uma forma humana transparente. 

— Você não é o avatar. Você também não é o Haru. – Eu ouço na minha mente.

— Não, eu não sou mais nada disso.

— Vaatu é traiçoeiro, ele está enganando você.

Eu solto uma gargalhada.

— Enganando? Vocês espíritos não entendem nada. Você é como eu, Yue bay. Ou melhor La, o espírito do Mar.

A forma transparente se agita.

— Você veio para cá para fica mais perto da memória do seu irmão, porém, você sabe que foi abandonado por ele. Eu sei quem você é, e o que você quer. Porém meus objetivos são melhores que o seu.

A energia flui pelo o meu corpo me deixando mais forte do que já estive um dia. Porém sei que isso é temporário, por isso preciso ser rápido.  Essa é a coisa mais difícil que eu já fiz um dia. E eu ainda não sei se é possível matar um espírito. Porém Vaatu me encoraja,  me diz que aquilo é possível, que nos tornaremos cada vez mais fortes, até que o mundo se torne apenas mais uma parte de nós.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por acompanharem. Esse foi um dos capítulo que mais deu trabalho de escrever. Tive que assistir o Livro 1 da Lenda de Aang para lembrar tudo sobre os espíritos La e Tui, que se não lembram, são importantes no final desse livro.



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