Avatar: A lenda de Mira - Livro 4 - Fogo escrita por Sah


Capítulo 6
Quebrados


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, como os capítulos desse livro são bem maiores do que os outros eu demoro muito mais a escrevê-los



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/754477/chapter/6

Mira

Isso já aconteceu antes. É como se eu fosse engolida por um flash de luz e ficasse presa, sem conseguir me mexer. Tudo isso dura segundos, mas quando eu acordo se passou muito mais do que eu imagino. De meses a horas, eu nunca sei realmente. Fico com medo sempre quando eu abro os olhos.

Mas, tomo coragem. Eu estou em um lugar aquecido. Meu corpo está envolvido por muitos cobertores.O lugar está escuro, vejo apenas a luz que escapa da fresta de uma janela. Respiro fundo. Preciso descobrir aonde estou.  Me levanto, meu corpo pesa, como aconteceu depois do festival, isso me deixa aflita, por quanto tempo eu dormi?

Ouço passos vindos de fora daquele cômodo. Me deito novamente. Com os olhos apertados, eu tento ver quem entrou no quarto.  É uma pessoa grande. Uma mulher talvez. Sinto o cheiro de madeira queimada, e gesso fresco.  A mulher se move com cuidado e no final acende o que eu imagino ser uma lamparina.

Com isso, eu reparo um pouco melhor aonde eu estou. É um cômodo grande, sem muito móveis. Apenas a cama em que eu estou deitada e um bloco de madeira, que acho ser um armário.

Sinto a mulher se aproximar, ela anda até a cama e eu fecho os meus olhos de verdade. Eu ouço sua respiração constante. E  sinto o seu cheiro de gesso molhado.

— Ela acordou. – Eu a ouço gritar.

Meu corpo não me acompanha, mas consigo ficar de pé. 

— Quem é você? – Eu grito, tomando uma posição de ataque.

Sinto a água perto, canos que passam pelo teto, estou pronta para me defender.

A mulher parece assustada, até cai no chão ao ir para trás.

— Eu perguntei. Quem é você?!

—  Senhora Win fu! – Ela grita.

Ouço passos rápidos, vindos de fora. A porta se escancara, mas já estou pronta.  Eu demoro para raciocinar. O cabelo está diferente,  curto e para trás, ele usa um quimono vermelho escuro, um tipo que eu nunca vi antes.

— Meelo? – Eu pergunto me desarmando.

Ele abre um sorriso, como se estivesse aliviado.

— Mira! Que bom que você acordou!

Eu vou até ele, passando pela mulher caída, o abraço como se nunca tivesse feito isso.

— Meelo! Quem bom ver você!

Ele retribui o abraço.

— Posso dizer o mesmo!

Nos soltamos, eu o encaro.

— O que está aconteceu com o seu cabelo?

Ele ri.

— Sério que essa é a sua maior dúvida?

Eu o encaro novamente.

— Nesse momento é. – Eu digo seriamente.

— Só você para me fazer rir em um momento como esse. – Ele passa a mão pelos cabelos quando nos soltamos.—Foi necessário, por estarmos aonde estamos.

— E aonde estamos? – Eu pergunto.

— Finalmente uma pergunta descente. Estamos na União do fogo, Mira. Seu pai nos ajudou a fugir depois de tudo o que aconteceu.

Meu coração aperta. União do fogo? Isso não faz sentido. Mas, o que aconteceu?

Como se milhões de imagens, sons e cheiros surgissem na minha frente. A sensação da chuva, o barulhos dos trovões, o cheiro de terra, tudo se fundiu em uma só imagem. Hina.

Eu caio de joelhos no chão. Meu coração aperta cada vez mais.

— Mira? – Meelo me chama.

Mas, nada daquilo importa. Eu abandonei a Hina. Eu a deixei morrer. Minha primeira amiga.

As coisas tremem levemente. Nada importa. Só essa dor que começa a reivindicar cada parte do meu corpo. 

Sinto um estralo no meu rosto. Uma sensação de dor e calor que se sobressai.

— Mira. Eu preciso que você se controle.

Eu toco o local aonde ele bateu. Meelo , está com os olhos marejados.

—Eu a abandonei. – Eu digo para ele.

Lágrimas quentes escorrem pelo o meu rosto.

Ele suspira.

— Não tinha como você prever. Ninguém poderia imaginar que aquilo podia acontecer.

— Mas, eu podia ter voltado. Eu pensei em voltar, mas eu não voltei. – Eu digo entre soluços.

Meelo me ajuda a levantar.

— Sina, está aqui também.

Sina? O irmão de Hina. Só de me imaginar em frente a ele... Eu me sinto mal, como se quisesse vomitar. Eu deixei a irmã dele morrer...

— Ele não te culpa, Mira. Ele está como você. Ele mesmo se culpa de ter deixado a irmã trabalhar com ... – Ele se interrompe.

— Com o Haru. – Eu completo, como se aquele nome tivesse um gosto amargo.

Eu me agarro a pouca razão que ainda me resta.

— Como viemos parar aqui? Por que aqui?

— Eu não consigo explicar isso sozinho. Precisamos de todos.

— Todos? Quem mais veio com a gente.

— Suni, Riku, Sina e eu. Todos nós  viemos com você.

— Por que?

Eu pergunto. Ainda não entendo nada.

— Por que estamos do seu lado. Vamos com você até o fim. Afinal, somos o time Avatar.

O que ele disse soou como um tapa, muito maior do que aquele que ele me deu. No fim das contas eu ainda sou o Avatar. E isso me ajuda a pensar com clareza.

— Espere um pouco, acho que a Suni chegou.

Ele sai do cômodo às pressas, me deixando com aquela mulher. Ela ainda olha para mim com receio. Aproximo-me dela e ofereço a minha mão. Ela ainda está no chão.

— Me desculpe. – Eu digo. – Eu não sabia o que estava acontecendo.

Ela suspira. E se levanta sozinha, ignorando a minha ajuda.

— É sempre assim. Não precisa se preocupar.  

Ela bate nas próprias roupas retirando um pouco de pó.

A porta se abre de novo, e Suki aparece na minha frente. Só que quando ela sorri, eu finalmente consigo ver a minha amiga.

— Suni! – Eu a chamo.

Ela se livra dos sapatos que estava usando e corre pelo cômodo, até me encontrar. Ela me abraça forte, mais forte do que eu consigo aguentar no momento.

— Suni, eu não consigo respirar.

Ela me solta.

— Mira! Eu sabia que você ia acordar logo.

Ela faz acender um pouco de alegria no meu coração.

— Eu acho que nunca te vi tão arrumada. Até achei que era a Suki que estava na minha frente.

Falar da irmã desfaz o seu sorriso.

— Afinal somos gêmeas. – Ela diz.

Ficamos em silêncio por um tempo.

— Então, você encontrou o Riku? – Meelo pergunta a ela.

— Não, mas, você não imagina o que aconteceu? – Ela diz recuperando a animação.

— Você aprontou não é? Eu disse para você ser discreta! – Meelo falou já batendo o pé no chão.

— Ai, Meelozinho. Eu não disse isso. É que eu quase fui roubada.

— E como você pode dizer isso com tanta calma? – Ele disse recuperando aquele humor habitual, que eu estava com saudades.

— Uma criança tentou me roubar, só que eu não tinha nada para ser roubado, só que algumas pessoas em volta notaram e queriam prender o menino, ai eu não deixei, e disse que ele só estava me ajudando.

— Essa foi sua grande aventura? – Meelo perguntou insatisfeito.

— Eu disse que acabou?  Ele na verdade me disse uma coisa estranha.  Recitou uma poesia barata e desapareceu na multidão. Ah, sim ele se chamou de errante.

Meelo suspirou.

— Pelo menos você foi discreta.

— Eu disse que seria.  – Ela sorriu.

Tudo isso era muita coisa para processar. Eu apenas os ouvia conversar sem entender realmente o que acontecia.

— Eu estou com fome. – Eu disse chamando toda a atenção para mim.

— É faz dias que você não come de verdade. – Meelo constata.

Quando ele diz dias, isso me entristece e me alivia ao mesmo tempo.  Só dias, não mais que isso.

Eles me levam para fora do quarto. O que eu vejo é uma casa escura, sem nada realmente relevante. Descemos as escadas e uma velha estranha me encara.

— Essa é Win fu. A senhora que nos recebeu.

— Win fu? – Eu repito.

Ela me olha com um meio sorriso. Ela parece satisfeita com alguma coisa.

— Mira, está com fome. – Suni, diz para ela.

— Sim, já preparamos algo para todos.

A mesma mulher que estava no quarto, nos serviu em tigelas uma gosma branca.

— Isso é mingau de leite de Vacursa. – Ela diz como se não conhecêssemos.

Eu provo o mingau. O sabor é como eu me lembro, cremoso e denso. Meelo e Suni parecem desconhecer.

— Minha mãe fazia isso, tem o mesmo sabor. – Eu falo para todos. – Faz tempo que eu não comia.

Win fu se aproxima e sorri.

— Kirina, nunca deixou de lembrar-se de suas raízes.

Eu paro de comer.

— Você conheceu minha mãe? – Eu digo seriamente.

— Sim, sua mãe e seu pai.

Eu engulo em seco. Isso parece errado.

— Isso não faz sentido. Quer dizer, é difícil sair da União do fogo não é? E por que você voltaria, uma vez estando fora? Estamos na União do fogo mesmo? Ainda parece difícil de acreditar. – Eu digo rapidamente. 

— Seu pai não te contou?

Pai. Parecia que eu não o via há anos.  Como será que ele estava? E meus irmãos? Isso me deixou para baixo de novo.

Eu não respondi a mulher. Mas, ela me contou mesmo assim.

— Iroh e Kirina fugiram daqui ,Mira. Praticamente com você em seus braços.

Meu pai mentiu para mim, isso não é novidade. Eu não deveria estar tão chocada, como eu estou. Coisas piores aconteceram, mas por que isso me incomoda tanto?

Ouço batidas na porta. A moça grande atende e Riku e Sina entram.

Riku parece relaxado, e Sina nervoso, seu cabelo também está diferente. Ao olhar para ele, a dor volta.  Nossos olhares se encontram e ele desvia, olhando para baixo, evitando olhar para mim.

Eu sinto as lágrimas escorrerem novamente. A fome, foi embora.

— Que bom que você acordou. Tudo já estava muito entediante. – Riku disse chamando a minha atenção.

De todos ali, ele é o que parece mais à vontade.

— Então. O que tem para comer? – Ele diz quebrando o clima.

A moça serve a mesma coisa a ele e Sina.

Todos comem em silêncio. Eu não consigo terminar o meu.

— Mira, temos roupas limpas para você. – A senhora me fala me encarando.

Eu só concordei. Fui levada dali até o banheiro e lá eu tomei um banho quente . O calor me acalmou, me fez relaxar. Depois disso, me entregaram roupas um pouco diferentes daqueles que meus amigos usavam. Um vestido escuro e um longo casaco vermelho, com algumas plumas no capuz.

— Essas roupas estão na moda entre os filhos dos generais. Como você.

Essas mulheres me olham com alguma expectativa, e isso me incomoda. Elas jogam as informações, querendo que eu entenda, mas eu não entendo minha própria vida atualmente. Eu suspiro.

— Podemos voltar? Eu quero entender o que está acontecendo. 

Elas acenam positivamente, e assim me reúno com os meus amigos novamente.

— Por que as roupas dela são mais legais? – Suni pergunta.

— Por que ela não parece uma estrangeira. – Win fu simplesmente responde.

Suni parece aceitar.

— Agora. Vocês podem me explicar?

Meelo toma a frente, já tinha um tempo que eu não o via tão confiante.

— O palácio presidencial caiu, você se lembra?

Eu confirmo.

— Muitas pessoas morreram. Civis, guardas e dobradores. O desmoronamento não escolheu lados .

Eu olhei para baixo, e me senti como naquele dia. Os corpos, as pessoas, a terra gritava por ajuda.

— Haru, ele está diferente. Na realidade, ele emanava uma energia neutra, quase como se não existisse, só que agora, não só eu, mas minha tia Jinora também percebeu, uma sombra negra na sua aura.

Eu engoli em seco. Eles também sabem.

— Assim, Mira. Você lutou com ele. Você foi tomada pelo espírito Avatar.

— Eu cai. – Eu o completo.

Ninguém me contradiz. Eu me lembro agora. Do poder que tomou conta de  mim, de todo o ódio que eu senti. E isso faz as minhas pernas bambearem.

— Assim, conseguimos te resgatar e a levamos até o seu pai. Ele planejou nossa fuga para a União do fogo.

Quando ele termina. Tudo ainda parece flutuar a minha frente, as palavras, as imagens, as sensações. Eu aperto meus dedos contra a minha palma, esperando sentir qualquer coisa que me tire daquele transe.

Respiro fundo.  Olho para todos.

— E o que faremos agora?

Riku sorri,o único que faz aquilo no momento.

— Nos fortalecer para enfrentá-lo. – Ele diz como se fosse à coisa mais fácil do mundo.

Meelo limpa a garganta e olha para Riku com desaprovação.

— Temos que esperar o momento certo. Mesmo sendo positivo, não adianta só nos fortalecer. Não enfrentaremos apenas uma pessoa, ou sei, lá, o que ele seja, iremos enfrentar praticamente uma nação.

Enfrentar uma nação, quem dera fosse apenas isso.

Win fu a senhora que nos recebeu, até aquele momento permaneceu quieta, mas assim que uma sirene tocou seus olhos se esbugalharam e suas pernas começaram a tremer.

— Hora do hino. – Foi só o que ela disse.

No fim entendemos sua preocupação. Todos tivemos que ir para fora. Assim vimos que isso não acontecia somente conosco, mas com todos da rua. Todos para fora de suas casas e estabelecimentos, suas mãos no peito, e a sinfonia que pertencia ao hino nacional da Nação do fogo a tocar. Nós apenas imitamos todos e mexemos nossas bocas, como se realmente soubéssemos a letra. Vários guardas caminhavam entre nós. Eles não cantavam, apenas observavam os civis. Um homem passou por mim, um guarda alto com o uniforme bem mais surrado do que dos outros. Ele tocou no quepe e fez uma espécie de reverência para mim, depois continuou o seu caminho.  Isso aconteceu mais duas vezes até que o hino tivesse terminado. Depois que entramos. Win fu me explicou.

— São as suas roupas. É como se fosse um uniforme que diz da onde você veio. Apesar de gritar aos quatro cantos que prezam pela igualdade. Isso não existe na prática. Como em qualquer outro lugar, o dinheiro acaba sendo mais importante que qualquer vida.

— Mas, por que eu estou diferente? Por que eu não posso usar um quimono igual ao de vocês?

— Criança é a única maneira de você ter algum respeito por aqui. Não sei se percebeu, não existe pessoas como você por aqui. Você é mulher e é jovem. Coisas desejadas por muitas pessoas.

— E a Suni?? Ela é mulher e é jovem também!

— Sim, mas os traços dela dizem que ela não é daqui. Por isso o melhor para ela é passar despercebida. Se eu coloca-la em roupas como as suas, terão perguntas, o que é bem pior do que  qualquer tentativa de sequestro.

Isso me deixou aflita. As histórias desse lugar estão se provando cada vez mais reais. Havia um boato que a União do fogo estava fazendo o cidadão perfeito, que teria todas as características físicas ideais, e parece que isso realmente acontece.

— Agora, precisamos tirar vocês da capital.  

Win fu explicou que ficar na capital é perigoso, pois apesar de tudo, aqui é uma rota de fuga para várias pessoas e nós não podemos chamar atenção para esse lugar, ficar em uma cidade pequena também não é uma boa ideia já que os soldados fazem uma vistoria melhor nesses lugares, assim a única saída é ir para Huali. A segunda maior cidade industrial da União do fogo.

O nome União do fogo vem das Ilhas desse país, cada ilha ou conjunto de ilhas é governado por um oficial, assim todos prestam contas a capital, dominada pelo Grande Marechal, da maior ilha da União. Huali fica na segunda maior Ilha é segundo Win Fu a menos vigiada de todas as outras, o melhor lugar para nos escondermos.  

Nós iríamos partir na madrugada. Huali ficava a 6 horas da onde estávamos, iríamos chegar lá no inicio da manhã.  Suni e Meelo acabaram cochilando após o almoço. Riku me disse que eles não dormiram direito no trajeto até ali, que ficaram cuidando de mim o tempo inteiro.

Quando eu pensava em todo o esforço que aquelas pessoas faziam por mim eu me sentia um pouco mal, eu não sei se vou conseguir retribuir tudo isso, e nem sabia se eu merecia tudo isso. No fim das contas eu só atrapalhei todo mundo. Eu preciso ficar mais forte e protegê-los de verdade da próxima vez.

Sina conversou em particular com a Winfu, aos poucos ele voltava a ser o que era. Acho que era um jeito de não pensar no que aconteceu com Hina, assim ele ajudava a organizar a nossa partida.

— Sina. – Eu o chamei antes do jantar.

Ele me olhou desconfiado, e não me respondeu.

— Podemos conversar? – Eu insisti.

No fim ele assentiu. Acho que ele também precisava me falar algumas coisas.

Ele ficou quieto e me deu permissão para falar.

— Sina. Aos poucos eu estou me lembrando do que aconteceu. E eu não sei como te pedir perdão. Eu fui a culpada. Eu poderia ter voltado, e a tirado de lá.

Ele apenas suspirou. Seus olhos ficaram marejados.

— E no fim eu ainda me descontrolei. – Eu continuei.

— Mira. Acho que não é uma boa hora para conversarmos sobre isso.Tudo está muito recente, e mesmo eu tentando ver as coisas com mais lógica. Eu não consigo. Eu só consigo pensar em Hina, e em como eu a abandonei. Eu era o irmão mais velho dela, sabia que as intenções do Haru não eram boas, e eu apenas deixei acontecer. 

Nós dois estamos sentindo coisas parecidas, só que o peso dele é maior que o meu.

Eu não estava conseguindo falar mais.

— Agora, temos poucas alternativas. Nós temos que encontrar uma forma de voltar e fazer o Haru pagar por tudo isso.

Sina disse isso de uma maneira sombria. Ele não demonstrou raiva, nem se exaltou, apenas falou com a sua frieza habitual. Ele estava se contendo, tentando mostrar a imagem que sempre passou.

— Acho que terminamos. Agora faça o seu papel de Avatar e fique mais forte. 

Ele sorriu no final e saiu andando me deixando sem palavras.

Nós dormimos por apenas duas horas, antes que a mulher grande viesse nos acordar.

—  Lien vai recebê-los. Ele é um velho amigo que trabalhava na câmara dos cabos em Huali, ele dará funções temporárias a vocês, uma cama para dormir e um jeito de vocês conseguirem se comunicar com Republic City, então espero que sigam o que ele pedir.

Win fu  se despediu da gente, e a Mulher grande iria nos levar até o transporte.

— E se qualquer coisa der errado, estamos aqui. – Ela disse antes de me abraçar.

As ruas estavam desertas, não havia guardas nesse horário, saímos a pé passando por ruas escuras e fugindo das câmeras que existiam a cada esquina. Eu não havia visto a cidade ainda, e naquela escuridão ela ainda permanecia desconhecida. Haviam muitos postes, mas as luzes estavam em suma maioria apagadas. Nós seguimos a mulher grande por 15 minutos sem parar até que vimos para onde estávamos indo.

— Trens? – Eu perguntei desacreditava, eu não sabia que existiam linhas ferroviárias aqui.

— Vocês vão viajar no compartimento de cargas.  Nosso contato já está ciente. Ele os abordará quando entrarem.  Agora, tomem cuidado.

Tem algumas coisas que não faziam sentido. Estávamos indo para outra ilha certo? Acho que de barco faria mais sentido, ou mesmo de avião.

O trem era tão antigo quanto eu imaginava. Quando entramos um rapaz baixinho veio falar com a gente. Ele nos esperava impaciente.

— Eu falei com a Win fu que eram as duas!  -- Ele falou bravo.

— E que horas são? – Sina perguntou.

— 2:03 ! O trem sai pontualmente as 2:05! Agora terei que me apressar.

Ele era quase da minha altura e possuía o cabelo escuro e curto. Seus olhos eram amarelados e sua pele um pouco enrugada. Ele estava coberto por fuligem.

— Vocês vão viajar no compartimento de cargas vivas. Para não ter o perigo de serem descobertos.  Não saiam, não estressem os animais, não tentem nenhuma gracinha. Quando chegarmos próximos a Huali eu virei aqui para avisá-los.

Ele nos levou até os últimos vagões. Pudemos ouvir os animais de longe.

— Vacursas e pavilinhas? Você só pode estar louco. – Meelo disse antes de o homem fechar o vagão e nos deixar.

Varcursas são animais grandes e um pouco temperamentais. São peludas e possuem dentes e garras afiadas.  Agora a pavilinhas, são aves barulhentas. Muito barulhentas. Eu quase não podia ouvir meus pensamentos.

— Será uma viagem longa.

Suni logo se encantou com os animais. Não víamos muitos deles em Republic City. No fim só recebíamos o que comprávamos no supermercado.

Riku também parecia feliz de estar ali.

— Não ouse montar nenhuma dessas feras. – Sina disse olhando para ele.

— Por que? Ninguém vai nos ouvir.  – Riku argumentou.

— Você ainda pergunta?  Se uma delas te atacar. Teremos muita carne assada para lidar.

Suni explodiu em risadas.

— Eu nunca imaginei que você podia fazer piadas. – Ela disse entre risos.

— Piadas? – Sina parecia consternado.

Eu também ri. Eu precisava disso. No fim estávamos todos rindo, menos Sina que ainda não havia entendido.

Um longo apito foi ouvido. Um tão alto que se sobressaia aos cacarejos daquelas aves irritantes.

— Estamos partindo. – Sina disse tentando se fazer ouvir.

E assim começamos a nos mover, e poucos minutos depois, eu entendi como aquilo funcionava.

O trem passaria entre a água, em trilhos parcialmente submersos. Uma espécie de ponte. Conseguimos enxergar pela a única janela do vagão e as poucas luzes que haviam no caminho.

Quando passamos pela água eu senti toda a sua imensidão. Todo o medo que eu sentia quando eu entrava em um barco, só que todas essas sensações foram quebradas quando eu percebi que havia algo errado.

— O que é isso? – Eu falei sozinha.

— Está tudo bem Mira? – Suni me perguntou.

Vazio. Eu sinto a conexão com a água, mas tudo está vazio e silencioso, como se o oceano estivesse morto.

— Não. Tudo está errado.

Naquele momento eu soube que o Haru havia encontrado outra forma de conseguir poder.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Os capítulos desse livro, se perceberam são bem maiores que o dos outros. Minha média de palavras antes era de 1000 a 2000 no máximo, agora está entre 3000 a 4000 assim demora muito mais para escrever. Queria escrever mais rápido e vou tentar agora que eu estou de férias.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Avatar: A lenda de Mira - Livro 4 - Fogo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.