Avatar: A lenda de Mira - Livro 4 - Fogo escrita por Sah


Capítulo 27
Marionete




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Suni

Meus pensamentos não se desviavam do pressentimento estranho que eu sentia. Apesar disso, eu ainda me propus a ajudar essas pessoas, parecia o certo a se fazer. Ajudar quem nos salvou. Porém eu ainda pensava que estava cometendo um erro, um grande erro.

Eu não podia negar que eram bem organizados. Apesar da maioria ser jovem, eles se moviam como um verdadeiro exército.

— Esperem. – O garoto nos parou. - Você consegue sentir quantas pessoas tem à nossa frente? – Ele me perguntou.

Antes, eu poderia responder a essa pergunta sem hesitar. Só que agora, isso era complicado.  

Eu não conseguia distinguir o número exato. Haviam pessoas nas casas, nos comércios e na rua, saber quem era quem estava me deixando com dor de cabeça. 

— Achei que você podia ser bem mais útil. – Ele disse secamente. – Nosso trunfo, você e seus amigos. Será que eu os ajudei em vão? 

Antes de continuar, eu senti alguma coisa se movendo rapidamente.  Só deu tempo de desviar, e tirar o menino do caminho. 

Atrás de nós um poste  foi atingido, ele se dobrou com o impacto. O que era aquilo? 

Na nossa frente um homem andava com uma luva metálica chamativa em um dos braços. 

— Vocês conseguiram  prever? – O homem disse de uma forma debochada. –

— Cuidado! Aquilo é uma luva de pulso elétrico, é como se um raio te atingisse em cheio. – O menino disse assustado.

É um tipo de tecnologia que eu ainda não tinha visto. Nem em Republic City, parecia mais um protótipo. Já ouvi pelo meu pai, que a União do fogo comprava tecnologia secretamente. 

Um zumbido  foi ouvido. 

— Cuidado, ele está recarregando. 

Alguém disse alto. 

Eu tentei me esconder, me abaixei atrás de uma lixeira, só que percebi que não era o alvo quando uma mulher foi atingida.  Eu nunca achei que eletricidade poderia ter cheiro, só que naquele momento eu juro que senti. 

Meu cabelo se arrepiou quando eu me levantei.  A estática estava por toda parte. O terreno não ajudava nem um pouco, estávamos em uma rua  estreita, haviam alguns veículos velhos em um dos lados, e fios elétricos por toda a parte. 

Riku poderia resolver isso facilmente, até eu antigamente. Eu já havia me sentido impotente antes, só que agora, essa sensação estava pior. 

Enquanto eu pensava no que fazer . O garoto pegou uma bolsa de couro, e de lá retirou uma pistola estranha. 

Era feito de uma espécie de cobre, totalmente artesanal, parecia perigosa tanto para quem fosse atingido quando para quem usasse. 

— Eu só preciso de uma chance, você pode fazer o que fez comigo na vez que nos conhecemos? 

— Derrubá-lo? – Não parecia difícil. Eu acho que pelo menos eu conseguiria desnivelar o chão. 

Enquanto isso, algumas das crianças conseguiram tirar a mulher que havia sido atingida do meio do caminho. 

Assim  eu posso me esforçar. 

Eu me concentrei, senti superficialmente o chão abaixo de mim. Só que um zumbido baixo me fez perder a concentração. 

— Está tudo bem? – O garoto me perguntou. 

— Sim, está. – Eu menti. 

Ele estava recarregando, só tínhamos uma chance. 

Eu me concentrei de novo, e com mais esforço, eu finalmente senti a terra se mover, foi nesse momento que o homem à nossa frente perdeu o equilíbrio, o que foi o suficiente para a criança atirar. O estampido foi enorme. A arma ricocheteou para longe da mão do garoto. 

Eu fui até ele. Os finos braços agora estavam com grandes hematomas. Um dos seus dedos estava dobrado de uma forma estranha, claramente quebrado. 

Por que ele havia feito isso, sabendo dos resultados? 

Eu olhei para a pessoa que eu havia derrubado, ela também estava no chão. Uma das mulheres se aproximou devagar.

Ela fez um sinal, que eu não sabia o significado.  O garoto se levantou, mesmo ferido, seus olhos estavam em chamas. 

Eu tentei ajudá-lo, mas ele negou. Quando passamos por perto, eu senti o cheiro metálico do sangue primeiro. Eu tentei não olhar, mas meus olhos me traíram, foi o ferimento mais horrível que eu já vi, lembrando que eu ajudei com as vítimas do palácio presidencial,  mas o jeito que a bala atingiu aquele homem fez meu estômago revirar, mas não era apenas isso, todo o seu corpo estava retraído, e um cheiro de carne queimada de repente ficou aparente.  

— Ele carregou a luva, mas não conseguiu atirar a tempo, assim a energia se virou contra ele. 

O garoto parecia saber muito sobre aquela luva. 

— Ah, eu já trabalhei nas fábricas de armas. Não é segredo para ninguém que as armas desse lugar são facas de dois gumes. – Ele simplesmente falou.

Seguimos nosso caminho. Mas assim  que viramos a esquina percebemos que caímos em uma armadilha. 

Haru

O clima daquele lugar estava estranho. Era como se só estivessem me esperando para tudo explodir.  Eram três lados com objetivos muito parecidos, todos eles queriam o poder. Dominar esse país em pedaços.  Lonkin, o atual marechal e alguns rebeldes. Tudo parecia muito insignificante, eles mal sabiam que não importava o vencedor, eu ganharia no final.  

Eu nunca me importei com esse lugar, mas agora, tudo parecia me divertir.  Nos seus tempos áureos, esse havia sido o país que quase dominou o mundo, que caçou o Avatar por mais de 100 anos.  Até sinto um pouco de admiração por eles. Eles tiveram a coragem de fazer o que todos queriam.  E agora as pessoas me vêem nesse mesmo papel. 

Eu suspiro. Lonkin parece agitado. E eu olho a decadência desses que querem tomar o poder. 

A energia de Vaatu é estranha, às vezes a sinto por todo o meu corpo, mas existem raras vezes que parece que ela não existe. Acho que é por que não existe nada que o separe de mim. Minha mente está na sua sintonia, por isso é estranho quando eu tenho alguns pensamentos contrários a minha vontade. 

Vá embora. Isso passou pela minha mente duas vezes desde que eu cheguei aqui. Mas as palavras se dissolvem mais rápido do que posso contar. Por isso nada disso importa.

O conflito começa sem que eu sequer percebesse. Kieran ainda não voltou, e Vernon sempre estava apreensivo. 

Essas pessoas tem um tipo de plano, mas as coisas não saem como elas planejam. 

— Esses terroristas, filhos da puta. – Eu ouço Lonkin dizer com mais energia do que necessário. 

Tudo parece desinteressante, até que eu sinto uma presença familiar. 

A terra aos meus pés emite vibrações que eu nunca havia sentido antes, é um tipo de dobra sofisticada, até mais que a dobra de metal.

Suni? Suki? Qual era mesmo o nome daquela garota?  A filha de Mansur.  Eu me sinto feliz. A presença dela me faz sentir mais próximo a Mira. Por isso eu espero. Sinto o espírito da terra se remexer dentro de mim. 

 Espere! – Eu ouço Lonkin dizer de longe. 

Eu consigo abrir caminho até ela. Há pessoas entre nós, pessoas que não parecem muito amigáveis. Só que nenhuma delas parece valer a pena. Eu as afasto com violência.  Junto as minhas mãos e as bato até que a terra treme. De novo sinto a  lava se remexer com violência no subsolo, mas, não me importo.   Aquelas pessoas caem como baratas, e Suni é a única que não cede,  seus pés estão firmes no chão. 

Seu olhar é um pouco selvagem, sinto raiva, e medo.  Posso até sentir um pouco de conexão com ela, mas é superficial demais para eu tentar alguma coisa.

— Suni! Que bom encontrar um rosto conhecido por aqui. – Eu sorrio.  

Ela não me diz nada. Só fecha os punhos e parece esperar algum ataque. 

— Sabe, eu sempre quis ter alguém como você ao meu lado. Talvez assim, Mira me visse de forma diferente

— O que você pensa que está fazendo? Você deveria cumprir a sua parte do acordo! – Lonkin grita como se eu fosse surdo! 

Eu olho para ele com indiferença. 

— Eu estou! – Está vendo essa garotinha? Ela pode acabar com todo esse seu exército se quiser. A única pessoa que pode vencê-la sou eu! 

Ele parece pensar. Seu rosto se transforma em uma careta feia. 

— Faça o que quiser, contanto que cumpra o  nosso acordo! 

— Claro, claro. Acordo. 

Eu olho para ela. Seus olhos parecem me analisar.  Um pensamento divertido me vem à mente. 

— Então. Você quer ter chance de lutar comigo? Eu só preciso que você me deixe entrar! 

Ela não parece entender o que quero dizer.  

— É simples. Eu sei que você sente uma coisa errada com a sua dobra.  Como se você se sentisse perdida? Sei que estou me alongando, mas quero que isso seja bom para os dois lados.  Eu posso te devolver um pouco do espírito. É só você me deixar entrar. 

Ela suspira, parece ainda confusa. Tenho que clarear suas ideias. 

Eu estendo a minha mão e puxo o corpo de uma mulher que está ao seu lado. Ela é alta e parece ter mais de 30 anos. Seus olhos são fundos, e sem nenhum tipo de expectativa.  A dobra de sangue pode ser um pouco violenta dependendo de como é usada. Puxar o corpo dessa mulher, causa dor. Muita dor.  Ela começa a gemer de dor , até que grita em plenos pulmões. 

— Pare! O que está fazendo! –  Suni grita. 

Eu não paro. Até que a mulher esteja de frente para mim. Eu a faço ajoelhar, ela ainda reclama, porém não tem forças mais para gritar. 

Eu fecho os meus punhos. E a mulher empalidece.  Eu sei o que estou fazendo. Parar o fluxo de sangue é uma coisa extrema, mas preciso que Suni entenda, que não tem poder para ir contra mim. E quando o desespero chegar ao limite, ela vai aceitar, ela vai me aceitar em sua mente. 

Ela grita, quando a mulher cai. O coração não aguentou. Normalmente ele dura pouco tempo sem  oxigenação. 

— Não!  

Eu não percebo quando uma rocha se desprende do chão me fazendo cambalear. 

Olho para o seu rosto novamente. Seu olhar é puro ódio. 

Um olhar que já passou muitas vezes pela minha vida.  Eu ofereço um pouco de poder, uma pequena tentação, uma das minhas linhas, tenta se ligar ao seu corpo, mas ela é repelida logo em seguida. Essa garota possui muita força de vontade. Por isso eu preciso quebrá-la, até que não sobre nada. Infelizmente para ela, eu sei o seu ponto fraco.

— Sabe, eu realmente achei que você podia ser alguma coisa. Que nem aquele garoto. O dobrador de ar. 

— Meelo – Ela diz sem querer. 

— Isso, Meelo. Meelo Júnior não é? Seu pai foi muito criativo, acho que queria que o garoto fosse algum tipo de extensão dele. Hahah! O mais podre entre todos os netos de Aang. 

Isso provoca alguma coisa nela, seu olhar de ódio aos poucos de transforma em preocupação.  

— Você acha que é a primeira que eu encontrei? Leigo engano. Eu encontrei todos eles. Até a Mira. Não imaginei que logo você iria abandoná-los. Preferiu seguir com um bando de desconhecidos, do que apoiar os seus amigos.  

— Pare! Isso não é verdade!  

Todos estão parados, ainda olham para o corpo inerte da mulher.  Só que percebo uma pequena movimentação fora do meu campo de visão. 

De repente uma massa de energia se choca com o meu corpo. Sinto meus dedos queimarem. Só que nada disso se compara ao que eu senti quando eu absorvi os espíritos. 

Eu não caio, mesmo quando meu joelho cede.  Procuro algum dobrador de fogo, só pode ter sido isso. Mas, a única coisa que eu vejo é uma criança. Ela usa um tipo de luva. 

—Isso é muito interessante. Um humano sem talento nenhum conseguiu me ferir. 

Eu fico eufórico. E estendo a minha mão, tal como fiz com a mulher. 

— Pare! – Suni grita se pondo em frente a ele. 

— Isso, salve quem você não conseguiu salvar. Acha que eu estou aqui por que?  Aquele garoto gritou o seu nome no final.  Quando eu tirei todo o ar do seu pulmão!  -- Minto

Ela grita, mais do que qualquer um ali, é a única coisa que se ouve. E assim, sou atingido. Uma enorme pedra se choca contra mim. Me faz recuar um pouco. 

— Isso não é suficiente. 

Eu caio de joelhos  e uma dor irradia pelo meu corpo.  Ela me atacou de novo. Eu vejo o sangue através do meu Kimono. Mesmo com todas as limitações, essa garota é forte. 

— Sabe o que ele disse no seu último suspiro?  -- Eu a provoco. 

Ela se aproxima, sabe que não é possível me derrotar.  Eu a forço a ficar de joelhos. Eu posso sentir todos os seus sentimentos negativos. Ela está por um triz. 

— Aceite esse poder e talvez você tenha uma chance de  me derrotar. 

Tento novamente. A linha negra não é repelida imediatamente. Ela está quase cedendo.

Passo as minhas mãos pelo seu rosto.

— Você costumava ser bem mais desarrumada . Gostava muito mais da sua aparência de antes. Combinava melhor com a sua personalidade. 

Sinto um líquido quente e pegajoso. Ela cuspiu em mim.  Ela teve essa audácia.  Sinto o meu rosto queimar. Isso é raiva? Não sei dizer.  

Eu a peguei pelo rosto e apertei o seu queixo com força.

—Qualquer um te daria um tapa como castigo. Mas, como eu sou benevolente, irei esquecer.  Sorrio para ela. 

 

Sina

 

Eu nunca poderia prever isso. Ver o Kieran vivo ainda me deixa atordoado, e o pedido dele, me deixa pior ainda. Eu volto para onde me separei do Meelo. Há muitos policiais ainda em volta, só que meu uniforme de mensageiro me dá passe livre. Até certo ponto. 

— Você não pode se aproximar. Os muros podem cair a qualquer momento. – Um policial diz.

— Mas, eu preciso saber, alguém conseguiu escapar?

Ele limpa a garganta e não fala mais nada. 

Aparentemente não é para ninguém saber o que aconteceu.  Como eu queria que estivéssemos em Republic City, lá eu teria como rastrear o Riku, claro, se ele tomasse todos os remédios. Eu balancei a cabeça. Não é hora de pensar nisso. Eu preciso passar a mensagem, ou não. Eu não sei o que fazer. Preciso pensar, e considerar todos os prós e contras. Talvez possamos fugir novamente.  E condenar todo esse país.... 

Essa escolha não é minha. Eu irei dizer tudo a Mira, e também darei minha opinião.  Seja qual for a sua escolha, eu apoiarei. É a única coisa que posso fazer.

Eu achei que seria mais difícil localizá-los, só que vejo uma marca conhecida em um poste próximo do lugar em que nos separamos. Meelo é esperto, ele usou o código binário para me dizer a direção a seguir. 

Frente, direita, direita... O resto ficou um pouco estranho. Vulcão? É isso que ele quer dizer?

Riku

 — Aquele bastardo. – É a única coisa que conseguir dizer, quando Meelo nos contou o que Sina havia feito. 

Apesar de tudo o que passamos nesse país eu nunca achei que esse cara poderia se sacrificar por alguém. E isso me deixa com raiva.  Eu poderia ficar triste com tudo isso, mas estou tentando evitar esse sentimento. Raiva é a única coisa que me devolver a identidade no final das contas. 

— Ele disse que iria atrasá-lo, mas fez mais que isso, quando eu voltei lá. Nem ele, nem Haru estavam mais. 

— Esse cara é o maior enrolador que eu conheço, mas não acho que suas técnicas funcionam com Haru. 

Mira permanece calada. 

— Contudo, ele sempre conseguiu sair ileso. Mesmo quando lidava comigo.

Nós havíamos conseguido ir até uma casa abandonada próximo a casa da família da Mira.  Eu arrombei a porta e não havia mais ninguém. Meelo checou os outros cômodos, e confirmou que estávamos sozinhos. 

—O que aconteceu lá?

Meelo demorou para perguntar.

Mira ainda não parecia pronta para falar, nem eu mesmo sabia dos detalhes. 

— Um louco. Ele tentou atacá-la e ela revidou só isso.

Meelo permaneceu pensativo. 

— Seja o que for, não importa. Só temos que dar um jeito de ir embora. Se Haru está nesse país. Não temos opção a não ser fugir. – Me doía dizer isso, mas ninguém aqui estava forte o bastante para enfrentá-lo.

Mira que até agora não havia dito nada se colocou de pé.

— Não dá mais. Eu não posso fugir mais. – Seus olhos estavam ficando vermelhos. Ela limpou uma lágrima que estava se formando. – Eu quero voltar para casa. Eu quero ver meu pai e meus irmãos. 

Mira sempre se segurou. Só havia visto chorar desse jeito quando a Hina morreu.  Sua lágrimas agora escorriam sem parar, ela tentava manter o fôlego mas o seu choro ficava cada vez mais alto.

Meelo se aproximou dela e ofereceu o seu ombro.  E tudo isso estava me deixando confuso.  Eu não consigo consolá-la ou dizer palavras animadoras. 

De repente ouvimos batidas na porta, três para ser exato. Sinto o meu sangue esquentar, uma tensão se forma no ambiente. 

Meelo também parece preparado. 

Eu vou devagar até a porta. Conto até três antes de abrir. 

Sou surpreendido quando vejo o soldado. Eu sinto alívio. Mas, ao mesmo tempo, raiva dele por ter nos assustado.

— O que você quer? 

— É assim que você recebe um amigo querido.

Eu nem sequer sabia o seu nome. Na hora isso não importou.Mas,agora eu não sabia como chamá-lo

— Quem é esse? – Pergunta Meelo atrás de mim.

Eu não tenho muito o que dizer para ele. Eu não sei muito sobre esse cara. Isso bem pode ser uma armadilha. 

O soldado consegue abrir caminho entre mim e a porta, ele estende a mão e oferece a Meelo.

— Pode me chamar de Lupin a seu dispor. 

Meelo não parece tenso. Ele responde ao cumprimento com cautela. 

— Ele me ajudou a encontrar a Mira.  – Eu digo simplesmente. 

Eu fecho a porta. 

Lupin parece a vontade de mais. 

— O que você quer? 

Ele pareceu ofendido. 

— Nos separamos  abruptamente. Queria ao menos me despedir.

Ele é um mentiroso, eu posso farejar. Eu percebi isso desde que nos encontramos. Mas, antes não pareceu tão importante.  

— Fale, logo. Já temos problemas demais. 

Ele limpa a garganta e olha o lugar de cima abaixo. 

— Aqui não é  seguro. Seja qual for o plano de vocês. Eu os achei sem nem me esforçar.  

É difícil concordar com ele. Mas, ele tinha razão. 

—E o que você sugere? – Meelo pergunta. 

— Eu até poderia levá-los para a sede da facção. Mas, acho que vocês não iriam. Eu sugiro qualquer lugar longe daqui. Talvez na nossa antiga base. Perto do cume da montanha.

— Com montanha você quer dizer Vulcão? -- Meelo pergunta

— É claro. Dá para acreditar que não é um lugar muito visitado? Mesmo sendo o cartão postal desse país. 

— Mas, lá é seguro ? - Perguntei sem rodeios

— Existem motivos para não ser muito habitado, mas, é um bom lugar para se esconder.

Mira se levanta. 

— Certo, vamos. Precisamos de um lugar calmo. Preciso que você me mostre , Riku. Como fazer isso. 

Tenho um dejavú quando ela faz uma pequena chama caminhar entre os seus dedos. Da mesma forma que fiz quando nos conhecemos. 

— Mas, se Sina voltar? - Meelo pergunta. 

— Existe alguma maneira de deixar um recado? Eu sei que ele vai voltar? Eu falo com convicção. 

Meelo tem uma ideia genial. Pelos menos parece. Ele fala alguma coisa sobre o código dos mensageiros. E de como o Sina pode reconhecer se deixarmos uma mensagem no último lugar em que eles se viram. 

Sina e Meelo se parecem em certas partes, e esse tipo de ideia, certamente seria uma que o Sina teria. 

— Não conheço todos os códigos, mas, pelo o que percebi, existe uma semelhança com o código binário.   Espero que pelo menos ele consiga compreender o que quero dizer. 

No final, Lupin anotou algumas letras e números que Meelo ditou. E colocou em um poste perto da onde Sina e Meelo se separam. 

Eu realmente acredito que ele vai vir ao nosso encontro.

Suni

Eu sinto o cascalho das pedras que movi entrando no meu joelho. Eu tento me concentrar nessa dor. Em como cada grão perfura a minha pele. É a única forma, a única forma.

Meus pensamentos  estão rodopiando na minha frente. Tudo o que ele diz, parece real, eu não consigo pensar claramente. Eu começo a respirar pausadamente. Enquanto sinto os seus dedos frios apertando o meu rosto. 

Às vezes parece que eu vejo um sorriso se formar em seus olhos, outras, eu apenas vejo um vazio sufocante. O tapa que eu levei por ter cuspido na sua cara arde levemente. Ele poderia ter me batido mais forte, e ter me tirado de torpor que aos poucos  nebula a minha mente. 

Meelo está bem! Ele está bem! Todos estão! Ele está mentindo! Eu vou me agarrar a essas palavras. 

— Você duvida muito da minha capacidade.  Sabe, eu quase não o reconheci. Seu cabelo  também está cortado. Em um estilo que pouco me lembra os nômades do ar, acredito, que Meelo, o pai no caso, ficaria decepcionado. Mas, que pena que nem isso ele poderá ver. Dúvida que a União do fogo faça o transporte de corpos para outras nações. 

Meus olhos se arregalaram antes de eu sequer processar o que ele disse.  

Não. Não. 

— Eu vou te matar. -- Eu cochicho.

A raiva nunca foi um sentimento familiar, eu sempre enterrei qualquer sentimento assim dentro de mim. E agora tudo parecia transbordar. 

— Eu não consigo te ouvir.

— Eu vou te matar! -- Eu falei com vontade. 

Eu sinto ele pressionar os meus joelhos. Ele se aproxima e sussurra no meu ouvido.

— E com qual poder?  

Aos poucos eu sinto uma energia estranha se passar pelo meu corpo. É muito parecido com o que eu sentia antes. Antes de vir para esse país. Quando eu consegui dobrar a terra livremente.

Eu não penso muito, a raiva se sobressaiu e eu agarro esse poder com toda a minha força.  Isso faz minha mente clarear por um momento. Antes de tudo ficar escuro e nebuloso. Haru me solta, eu consigo me levantar, só que a raiva foi embora, tudo foi na verdade. Tudo parece estranhamente monótono. Eu olho para ele, e não vejo mais aquele vazio. Na verdade tudo parece finalmente fazer sentido. 

— Isso demorou, mas parece que funcionou.  -- ele diz calmamente. 

— Funcionou?  - O que ele diz não parece fazer sentido. 

— Suni! -- Eu ouço alguém me chamar. Ah, é mesmo aquele garoto. Aquele que me fez vir aqui, e me  afastar dos meus amigos. 

Minhas memórias parecem se afastar. Era isso não era?  É culpa dele. De todas essas pessoas. Desse país. 

— Muito bem Suni! Você parece compreender agora. Qual é o verdadeiro problema deste lugar. -- O que Haru diz faz muito sentido. 

— Sim. Parece que tudo ficou insignificante. 

Eu faço como antes, sinto tudo ao redor com os meus pés. Até mais que antes, eu sinto cada vida, cada corpo. Isso me tira um pouco do torpor, faz as coisas ganharem um pouco de cor.

— Isso é apenas uma amostra. Todo o poder que você ganhou ao me aceitar. 

Eu estalo os meus dedos.  Alongo o meu pescoço. Uau a quantidade de metal desse lugar é absurda. Como eu não tinha sentido isso antes? 

— Que tal acabarmos com isso logo? - Haru sugere. 

— Parece ser o certo. -- Eu digo. 

Eu me viro para todas aquelas pessoas. São inúteis afinal de contas.  Principalmente o garoto.  Ele é pior. 

Há vigas em todos os lugares, é ainda mais fácil fazê-las dobrar a minha vontade.  O metal é frio, mas parece ser mais quente que meu coração agora. Muito melhor que sentir aquela dor de antes.  Por isso, eu jogo toda essa destruição em frente àquelas pessoas. 

— Suni! Não. -- Eu ouço o garoto gritar, antes de uma nuvem de poeira subir.

— Muito bem! - Haru diz e isso me anima. 

Só que alguma coisa aconteceu. O barulho do metal se retorcendo não veio. Quando a poeira finalmente abaixa. Eu vejo um rosto conhecido. Um que há muito tempo eu não via. 

— Eu estou mesmo viva? - Eu digo sozinha.

— Kieran! Que porcaria você está fazendo?-  Haru grita para o fantasma. 

—- Você me deu algumas escolhas, lembra? -- Ele diz em pé de igualdade.

Haru leva a mão à cabeça. 

—  Mas, que escolha idiota.  Por que salvou essas pessoas?  Não importa afinal. Eu já tenho o que eu quero. 

Ele claramente está mais velho, mas sua essência está lá. Ele é Kieran mesmo.

Minhas memórias estão se movimentando cada vez mais rápido. Os sentimentos me sacodem de uma maneira violenta.  Eu lembro de coisas que estavam desvanecendo. O ódio, o medo tudo se choca de uma vez. 

E como se eu pudesse ver a realidade. Eu vejo as linhas, todas elas ligadas ao meu corpo, como se eu fosse uma marionete.


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