O colégio estava um caos, pelo menos para alguns alunos e professores do segundo ano que ficariam uma semana fora para os jogos. Eles embarcariam naquela tarde em direção a Suna.
 O professores que viajariam com os alunos corriam atrás dos últimos preparativos, que podia ser resumido em: lanche.
 Tsunade havia se esquecido de avisar aos integrantes da cozinha que eles precisariam preparar lanches a mais para que os alunos levassem na viagem, e agora alguns professores haviam ido até o mercado da cidade comprar mantimentos.
 Iruka, Kakashi e Jiraiya eram esses professores. Eles seguravam uma lista feita por Kurenai enquanto andavam pelos corredores riscando a lista conforme iam pegando as coisas.
— E então Kakashi, animado para essa viagem? - Jiraiya resolveu quebrar o silêncio, há certo tempo observava o ex aluno e colega de trabalho meio cabisbaixo.
— Na medida do possível. - Kakashi respondeu ao mesmo tempo que Iruka despechava pacotes de bolacha do carrinho e pedia para que riscassem aquilo da lista.
— Sabe... Alguns alunos estão preocupados com você. - O professor de literatura falou e Kakashi o encarou. - Querem saber o que tem de errado com você, mas nem eu sei direito. Apenas tenho minhas desconfianças.
— Que desconfianças? - Kakashi perguntou cansado.
— Tessa. - O professor de física franziu as sobrancelhas ao ouvir o nome. - Lembro dela na época de escola, era louca por literatura, tirava as melhores notas na matéria, mas eu nunca vi ela andando muito com você.
— Ela não andava. - Kakashi explicou. - Ela era, ainda é, a melhor amiga da Rin, e eu do Obito, e quando Obito e Rin começaram a namorar a gente se conheceu, mas eu nunca dei bola pra ela.
— Até a festa da Tsunado ano passado.
 Kakashi arregalou os olhos ao ouvir aquilo.
— Não sei do que está falando.
— Por favor né Kakashi, te conheço há anos. E você se esquece de que um de seus livros preferidos foi escrito por mim. Eu sinto cheiro de romance no ar de longe. Eu vi vocês dois, existe uma química inegável aí. - Jiraiya falou dando uma risada. - Quer me contar o que houve no casamento?
— Não. - Kakashi falou enquanto fazia o carrinho se mover.
— Tudo bem, mas ao menos reflita sobre o que ocorreu e faça alguma coisa para voltar a ser como era antes.
— Eu não queria estar indo nessa viagem. 
 Kakashi falou cansado e na verdade ele não só parecia, mas também estava cansado. Olheiras profundas se formavam abaixo dos olhos, isso era resultado das noites mal dormidas. O cabelo que antes ele passava horas no espelho arrumando, agora vivia jogado para o lado de qualquer jeito. Antes, ele seria um dos primeiros a ser voluntário para ir na viagem, agora não tinha ânimo nem para pensar nisso.
— Eu sei, Tsunade também sabe. Mas ela achou que isso pudesse te animar, você sempre gostou dessas atividades.
 Kakashi revirou os olhos.
— Vamos. Iruka está fazendo sinal para irmos até ele. - Kakashi desviou o assunto e empurrou o carrinho até o outro colega de profissão.
...
 Sakura andava de um lado para o outro no quarto procurando o livro novo que havia comprado e queria ler na viagem, mas não achava em lugar nenhum. Para ajudar ainda estava na TPM, e por isso ficava mais sentimental com relação a tudo, inclusive Ino.
 Queria matar a melhor amiga por ter tido a ideia, não tão brilhante, de montar uma equipe de torcida. Claro que Ino sabia que Sakura nunca a deixaria na mão e por isso toparia entrar para a equipe, mas a Haruno não deixava de se sentir irritada com a melhor amiga.
 Nunca gostou da ideia de ser líder de torcida, e agora teria que dar saltos e piruetas, além de chacoalhar pompons. Nem durante os ensaios havia conseguido fazer a coreografia direito, já estava se preparando para o vexame que provavelmente passaria graças a sua melhor amiga.
 E para ajudar provavelmente sentiria uma cólica desgraçada durante a viagem. Sakura só queria gritar, se atirar no chão e chorar. Em parte, isso se devia a TPM, mas a maior parte desse sentimento vinha de algo muito pior...
 A depressão, Sakura sabia e muito bem que estava com depressão. A menina de cabelos cor de rosa sempre teve uma ansiedade muito forte, mas a depressão ela não se lembrava direito como e nem quando havia começado, apenas desconfiava que havia sido por meados do nono ano quando começou a surtar e se preocupar demais com algumas coisas, pensando em se matar por motivos que nem faziam sentido ter esse tipo de pensamento, como tirar menos de oito em alguma matéria no colégio. Ela se cortava para aliviar a dor e angústia que sentia.
 Esses sentimentos haviam tido uma pequena melhora quando chegou em Konoha High School, mas as vezes ainda aconteciam. As vezes ela pensava que as amigas não ligavam pra ela, que ninguém estava nem aí pra ela, e durante muitas noites ia até o banheiro e cortava os pulsos, passava um certo trabalho nos dias seguintes para conseguir esconder as marcas.
 Até que em um desses dias Sasuke descobriu, conversou com ela e prometeu ajuda-la, mas meses depois daquilo ele fingia que ela nem existia. E com isso os sentimentos começaram a voltar e piores do que antes.
 Ela já havia perdido as contas de há quantas noites já não dormia bem, estava chegando a exaustão. E com a exaustão os pensamentos pioravam, se sentia um lixo e um estorvo. E toda vez que começava a ficar exausta demais acabava dormindo em aula, suas notas estavam caindo, continuavam boas, mas mais baixas do que sempre foram, e isso contribuía para piorar tudo.
 Ficava tão nervosa e angustiada, que a ansiedade juntamente com a depressão não a deixavam comer direito, e assim ela começava a perder peso sem parar. Não sentia mais vontade de tingir o cabelo, então ele ia desbotando cada vez mais e mais.
 Praticamente tudo era motivo pra chorar e querer tirar a própria vida, não era como se as amigas não notassem que havia algo diferente nela, elas notavam, mas achavam que era tudo porque ela ainda era apaixonada por Sasuke, por isso não tocavam no assunto de ela estar diferente. Quando muitas das vezes o que ela mais queria era que perguntassem, que tocassem no assunto, perguntassem se estava tudo bem. Mas elas não perguntavam, elas nunca perguntavam, a Sakura até agradecia por isso, não queria desabar na frente delas e parecer fraca, não queria ser um peso na vida delas.
 Mas Sakura não sabia que as amigas haviam notado sua mudança, para ela elas apenas não ligavam para ela, não gostavam dela, não queriam ela por perto, não precisavam dela.
 A única pessoa que pareceu se importar foi Naruto que durante uma das aulas, há algumas semanas, passou um bilhetinho para a garota perguntando se estava tudo bem. Ela sorriu fraco pra ele e balançou a cabeça em sinal afirmativo enquanto mexia os lábios falando "só cansada". Minutos depois ela pediu para ir ao banheiro e foi chorar.
 Era fácil pra ela dar um sorriso falso e fingir que estava tudo bem. Ela fazia isso desde que as crises começaram, não queria os pais preocupados, nem ninguém dizendo que aquilo era drama, que ela era nova demais para ter esses sentimentos. Ela conseguia passar por tudo aquilo sozinho, pelo menos era o que achava, mas a cada dia que passava se tornava mais difícil fingir que estava tudo bem. Ela vivia uma guerra de pensamentos e não sabia como parar.
 Você é um estorvo, você deveria sumir, deveria se matar. Ninguém liga pra você... Esses eram alguns dos pensamentos que ela tinha, e sem sequer perceber ela já havia parado de procurar o livro e agora chorava compulsivamente em um dos sofás.
...
— Atenção alunos se não ficarem quietos a viagem será suspensa. - Tsunade falou e todos se calaram.
 Haviam cerca de 40 alunos esperando para embarcar, alguns desses participariam de mais de um esporte como era o caso de Tenten e Temari. Outros, um grupo de cinco alunos, participariam dos jogos digitais, a equipe deles recebeu o nome de Vila da Folha. Além deles, haviam os alunos da equipe de torcida, os que só participariam de um esporte e dois alunos para jogar xadrez, Shikamaru era um deles, Neji era o outro, mas o Hyuuga também iria competir no judô.
— Okay. - Tsunade falou vendo que o enorme grupo se encontrava em silêncio. - Não quero nenhuma reclamação dos professores nem de ninguém, caso isso aconteça assim que chegarem de viagem todos ficaram de castigo.
 Algumas vaias foram ouvidas quando ela disse isso, porém o olhar da diretora foi tão mortífero que logo pararam.
— Daqui alguns minutos o professor Iruka fará a chamada e assim vocês irão se acomodar no ônibus, enquanto isso guardem suas malas no bagageiro e se despeçam dos amigos e parentes que estão aqui.
 Assim que Tsunade terminou sua fala a mãe de Tenten, que havia ido se despedir da filha se aproximou.
— Filha, tem certeza que pegou tudo? - Leena perguntou fazendo a filha se surpreender ao ver que estava ali.
— Mãe? - Tenten perguntou franzindo as sobrancelhas.
— Sim, vim me despedir e conferir se pegou tudo.
 Ao lado de Leena se encontrava Yamato de mãos dadas com a mulher, ambos estavam mantendo um relacionamento à distãncia e se visitavam sempre que possível.
— Peguei tudo mãe.
— Me liga assim que chegar lá, e me mantenha atualizada sobre o que está acontecendo. Me manda um... Como é mesmo que as pessoas da sua idade falam? - A mãe de Tenten perguntou e pensou um pouco. - Me manda um zip zap.
— Mãe ninguém mais fala isso. - Tenten sorriu revirando minimamente os olhos, era bom ter conseguido se tornar amiga de sua mãe. - E era zap zap.
— Ah sim, me manda isso aí então, vou estar conectada e torcendo por você. - Leena falou animada.
— Também estarei torcendo por você Tenten. - Yamato falou e Tenten sorriu de lado, era bom a mãe ter achado alguém para lhe fazer companhia.
— Obrigada. - A garota falou.
— Eu trouxe alguns remédio e montei um pequeno kit de primeiros socorros para você. - Yamato falou estendendo uma pequena necessaire que estava inchado devido ao tanto de coisas que fora colocado dentro dela. - Mas qualquer problema pode me ligar, se tiver alguma dúvida quanto a algum remédio...
— Relaxa. - Tenten falou interrompendo Yamato. - Vai dar tudo certo, e obrigada. - Ela falou sincera tanto para o homem quanto para a mãe.
 Ambos abraçaram a garota, se despediram e logo em seguida caminharam um pouco para longe, mas não foram embora, queriam ficar ali até o ônibus partir.
...
 Sai, que era o único dos meninos de seu apartamento que não iria na viagem, havia ido se despedir dos amigos, em especial de Ino.
 Ele havia feito um novo desenho para ela, nele Ino estava deitada sob diversas pétalas de rosa na cor vermelha e haviam algumas espalhadas por seus cabelos, usava um vestido branco e largo e tinha um sorriso sedutor nos lábios assim como o olhar em seus olhos.
 O garoto entregou o desenho para ela enrolado em uma fita e disse que ela só poderia abri-lo quando o ônibus estivesse partido. Ela se mostrou incrivelmente animada e curiosa, mas prometeu fazer o que ele pedia.
 Assim que a chamada começou o garoto se afastou, e viu de longe Sasuke parado entre algumas árvores. Aquele garoto conseguia ser mais estranho que ele.
 Sai nem havia convivido com Sasuke, mas havia ouvido falar e muito dele. Entendia os sentimentos confusos que os amigos sentiam com relação ao antigo companheiro de apartamento, e assim como eles tinha a curiosidade de saber o que havia levado Sasuke a agir daquele jeito.
 Sasuke começou a se afastar e Sai percebeu, iria perder o ônibus partindo, mas queria saber se conseguiria descobrir algo sobre o Uchiha.
 Seguiu o garoto de longe e Sasuke parecia tão certo do que fazia que nem percebeu alguém o seguindo. 
O Uhiha virou em um dos corredores vazios da escola e puxou o celular do bolso. Sai parou a uma distância em que poderia ouvir e ver o que Sasuke fazia, mas o Uchiha não poderia fazer o mesmo.
 Sasuke segurou o celular no ouvido durante alguns segundos até falar:
— Orochimaru, finalmente atendeu. Quando você pretende agir?