As crônicas de Animadria. "Guerras no Norte." escrita por Lord JH


Capítulo 30
Arlot.


Notas iniciais do capítulo

Merania e seus aliados adentram nas ruínas do antigo reino élfico de Arlot.



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 Os grandes e outrora pesados portões de pedra, cristais e madeira que no passado conseguiam arrancar pura admiração do olhar da pequena Merania, agora jaziam caídos dentro da grande caverna que servia de entrada para o antigo reino élfico de Arlot.

Visto pela entrada o lugar aparentava estar completamente abandonado, porém, quando os primeiros predadores adentraram nas profundezas do velho reino em ruinas, não demorou muito para encontrarem os inúmeros vilarejos de ratos, camundongos e morcegos que agora habitavam o que no passado já foi o maior reino de elfos negros daquele continente.

— Este lugar é enorme. — Comentou Trivia ao olhar para as enormes paredes do interior da gigantesca cadeia de montanhas.

— Gostou? — Perguntou Merania com um sorriso de orgulho bastante perceptível. — Bem-vinda ao antigo reino élfico de Arlot, Trivia, cabelos de fogo. Lar dos meus antepassados e responsabilidade de meu antigo pai, o rei Skuro, cabelo de prata. —

Os olhos esverdeados de Trivia então observaram o amplo lugar mais uma vez, mas desta vez a humana prestou atenção no que se tratava ser algumas ruinas de casas feitas de pedra velha agora destruídas pelo passar do tempo.

— Então era aqui que você morava? — Perguntou Kurokuma que entrara acompanhado de Ulrk, Albu e Luciferio vestido com uma capa com um capuz verde que protegia quase todo o seu corpo de qualquer luz solar que entrava pelas antigas e poucas aberturas solares que resistiram aos deslizamentos de pedras e rochas maiores na superfície das montanhas.

— Sim, meu grande amigo urso. Foi neste enorme reino subterrâneo onde eu cresci e aprendi como a vida pode ser cruel. — Respondeu Merania com um tom forte de melancolia e nostalgia na voz.

— Então você também cresceu em uma caverna igual ao nosso povo. — Comentou Ulrk ao examinar cada detalhe de escritura antiga cravado na rocha mais próxima. — A diferença é que essa aqui provavelmente é bem maior e talvez mais confortável que as dos rochedos.  —

Merania apenas sorriu ao ouvir o sincero comentário de seu guerreiro mais forte, e ao se aproximar dos restos do que no passado já fora a antiga boticária de seu reino, falou — Exatamente, meu forte e bravo guerreiro. Este reino ocupa quase todo o subterrâneo das montanhas Arlot, e já foi habitado por anões, elfos negros, toupeiras, ratos, camundongos, trolls, orcs e morcegos. Isto até que os malditos humanos, ciclopes e ogros de Tumagawa declarassem guerra contra o meu pai e resolvessem atacar e roubar as nossas riquezas. —

— Riquezas? — Perguntou Albu confuso com o uso daquele termo.

— Sim, riquezas, meu querido e destemido Albu. Nosso reino era o que mais possuía minas de ouro, diamantes, safiras, rubis, prata e qualquer outro tipo de mineral que vocês puderem imaginar. O trono de prata de meu pai, as estatuas de ouro puro das antigas princesas e rainhas, as tiaras de diamantes feitas pelos melhores joalheiros anões do reino... E meu belo e pequeno vestido de brilhantes. Kimerion de Dubaldor se sentiria envergonhada perante a riqueza de Skuro de Arlot em seus dias de glória pura! — Exclamou e explicou Merania com bastante orgulho de seu passado de gloria.

— Mas se vocês eram tão poderosos assim, por que perderam a batalha? — Perguntou Ulrk ao reparar nos claros sinais de que Arlot com certeza não saíra vencedor da guerra.

Merania então prendeu a respiração por alguns segundos e ao olhar para as agora enferrujadas e quebradas lanças invasoras do reino de Tumagawa, suspirou lentamente e respondeu — Fogo. Fogo foi a nossa perdição. —

— Fogo? — Perguntou Trivia confusa. — Como um simples fogo pode derrotar um reino tão forte? —

Merania então olhou diretamente para os olhos belos e claros da mais jovem e ao perceber que a dúvida de todos ali também era a mesma, a negra elfa respondeu — Os humanos de Tumagawa descobriram uma formula capaz de criar um fogo que demorava horas para se apagar, e que era muito mais quente que o fogo normal também. Então, quando a guerra começou, tudo o que eles tiveram que fazer de trabalhoso foi derrubar os nossos pesados portões; pois depois que adentraram em nossos belos salões as pequenas bolas e flechas de fogo verde e negro deles fizeram todo o resto. —

— E esse tal fogo era tão terrível assim? — Perguntou Kurokuma bastante curioso sobre o conto.

Merania apenas sorriu ao escutar a pergunta do tolo urso, e ao procurar pelo resto de alguma antiga armadura queimada de seu povo, respondeu — O pior que existe sem ser o fogo de um Dragão, Kurokuma. Apenas o calor causado pelo ardor daquelas chamas derretia o metal da armadura de nossos guerreiros, e ao tocar na carne de nosso povo a chama queimava até o osso em questão de segundos...  Foi um verdadeiro massacre. — Sussurrou a líder dos predadores ao finalmente encontrar um velho elmo enferrujado derretido e corroído pela metade. — Meu pai temendo pela minha vida me enviou por uma das várias passagens secretas para que eu fugisse acompanhada por alguns anões até o vale dos elfos mais ao sul; eu até consegui chegar lá a salvo pelo mar e fui bem recebida pelos senhores do reino e adotada pelo rei deles que enviou alguns elfos de volta com os anões que me trouxeram para ajudar na guerra de meu pai; mas de nada adiantou pois eles nunca retornaram e se não fosse pelos pássaros mensageiros eu nunca teria descoberto o terrível destino que sofrera a maior parte de meu povo! — Finalizou Merania ao se enraivecer e atirar o velho pedaço de elmo para longe.

Ulrk, Trivia e todos os outros presentes se comoveram e compartilharam ainda mais da dor da negra elfa que já lhes havia contado o que acontecera no vale dos elfos depois do fim da guerra.

Merania porém já não se lamentava mais pelo seu passado, e ao avistar um leopardo peludo que se aproximava do grupo, perguntou — O que vocês encontraram? —

O peludo leopardo apontou com a cabeça para a direção que levava para as partes mais profundas do reino e respondeu — Várias vilas e cidades raticas, minha senhora. Os camundongos, ratos e morcegos parecem reinar por essas cavernas há muito tempo. —

Merania então se lembrou do tempo em que aquelas pequenas criaturas ainda eram aliadas de seu pai e até mesmo faziam parte de seu povo. Porém agora, tomada por uma apatia e desprezo total pelo seu passado, a negra elfa apenas riu ao se lembra das pequenas ratinhas que comentavam o quão bonito era o seu vestido de cristais brilhantes, e ao olhar profundamente nos olhos negros do grande felino, respondeu — Diga a todos os nossos guerreiros e predadores que matem e expulsem todos eles deste lugar! Eu não quero ver nenhum rato, morcego ou camundongo enquanto nós estivermos por aqui; pois a partir deste momento este será o nosso mais novo lar! — Finalizou Merania ao gritar o mais alto possível para que todos que possuíssem uma audição bastante sensível pudessem ouvir e escutar.

— Como desejar, minha senhora. — Respondeu o felino antes de dar meia volta e partir para contar aos seus companheiros a mais nova atividade.

— Minha senhora. — Chamou Trivia um pouco acanhada. — Posso lhe fazer uma pergunta? —

Merania apenas sorriu novamente e ao se aproximar e acariciar o rosto macio e sardento da jovem humana, falou — Claro que sim, minha querida. Vamos, me diga o que vossa curiosidade deseja saber agora? —

Trivia então corou um pouco com o toque quente e agradável de sua líder e mestra, mas ao controlar um pouco a felicidade em sua voz, perguntou — O que aconteceu com aqueles que invadiram o seu reino depois que a guerra acabou? —

Após todos escutarem a pergunta de Trivia, Merania percebeu que a maioria também ansiava por aquela resposta tão agoniante; então a bela elfa apenas olhou para todos os mais próximos e com sua bela e sedutora voz respondeu — Depois que eles mataram ou expulsaram os últimos de meu povo deste local, Gurt, que era o rei humano de Tumagawa naquela época, saqueou e explorou o máximo que pôde de todos os recursos que Arlot possuía, e assim ele o fez por um bom tempo até que misteriosamente uma terrível doença acometeu alguns humanos, ogros, ciclopes e outras criaturas de seu povo. Até hoje ninguém sabe dizer o que causou aquela estranha moléstia, mas sabemos que os seres que por ela foram acometidos morreram com falta de ar, febre e sem sentir o gosto de comida ou bebida.  —

Todos os seres presentes então ficaram em absoluto silêncio até que Ulrk tossiu e disse — Isso se chama punição, por todos os crimes por eles cometidos. —

Merania gostou bastante da lógica de seu guerreiro mais amado e ao se aproximar do mesmo e acariciar o seu rosto carinhosamente, falou — Eu também pensei exatamente isto, meu amor; mas o que importa é que depois que vários deles morreram, todos os Tumagawanianos restante abandonaram este lugar e espalharam boatos de que este reino era mal assombrado e estava amaldiçoado com uma doença incurável causada por fantasmas e espíritos dos antigos reis elfos que aqui faleceram; o que ajudou a manter a maioria dos invasores longe por todo este tempo, creio eu. —

— Sim, a maioria menos os ratos, morcegos e camundongos. — Comentou Luciferio ao falar alguma coisa pela primeira vez.

— Exato. — Concordou Merania com seus belos lábios arroxeados — Todos menos eles. Mas isto durou apenas até agora, meu esperto e ardil vampiro; pois a partir de hoje apenas nossos sons e sorrisos encherão estes salões há tanto tempo abandonados. — E se virou para olhar uma vez mais para aquilo que fora o seu reino por direito um dia.

 


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Notas finais do capítulo

Continua...



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